CAPÍTULO IV

Pouco depois, na Fortaleza da Solidão

"Como pôde fazer isso comigo?" gritou Clark, desesperado.

"A vida humana é frágil, filho. Você sabia que uma vida seria trocada pela sua" respondeu a graciosa voz de Jor-El, que ecoava pela imensidão da edificação de cristais.

"Não me venha com essa, Jor-El! Não me faça pensar que a culpa é minha porque eu sei que foi você! Se não tivesse usado o corpo do Lionel ele não saberia dos meus poderes e não estaria agora cercando a minha família! Por sua culpa, e somente sua! Agora você tem a obrigação de me deixar consertar isso! Tem que me deixar salvá-lo!"

"Na Terra, seus poderes podem parecer extraordinários, Kal-El. Mas não somos deuses" disse Jor-El.

"Não era o destino dele!" gritou Clark, em resposta. "Você sabe disso!"

"Existe algo que você ainda não experimentou. Mas, devo adverti-lo: a roda do destino nunca pára. Uma vez que você mude o curso dos acontecimentos, o universo vai encontrar o equilíbrio"

Foi então que um cristal se elevou do painel e flutuou em direção a Clark.

"Há um cristal" continuou Jor-El. "Decida com cuidado"

Clark pegou o cristal, e decidido, disse:

"Eu tenho que salvá-lo"

Segundos depois, no Rancho Kent

Clark abriu os olhos e se viu no celeiro, e a primeira coisa que pensou foi correr para encontrar seu pai, quando, de repente, ouviu uma voz:

"Trouxe as luvas e o cachecol como você pediu"

Ele se levantou, surpreso, deixando cair ao chão o pedaço de carvão que segurava, e viu Lana ao topo das escadas do loft.

"Lana?"

Como era possível? pensou ele. O tempo havia voltado desde aquela manhã quando encontrou Lana no celeiro, sendo que a única coisa que ele precisava era voltar em tempo suficiente para salvar seu pai!

Pensativo, Clark então imaginou que aquela era a roda do destino a que Jor-El se referia. E talvez ele estivesse diante de uma nova possibilidade de rever seus conceitos, e mudar tudo. E várias coisas se passaram por sua cabeça. A primeira delas, era a morte de seu pai, depois, a traição de Lana e Lex, os conselhos de Chloe e Jonathan, e as palavras reconfortantes de Lois.

E pela primeira vez na vida, era como se Clark tivesse certeza do que queria na vida. Mas antes de qualquer coisa, tinha que impedir o que estava para acontecer a seu pai.

Confusa, Lana sorriu.

"Vai me dizer que esqueceu 'do dia do qual eu jamais esqueceria'?" indagou ela, perplexa com a reação dele ao vê-la.

"Lana, eu tenho muito o que contar" disse ele, ajuntando a pedra de carvão do chão e guardando-a no bolso. "Mas agora, definitivamente, não é um bom momento -" continuou, caminhando em sua direção e passando por ela para descer as escadas.

Por mais que quisesse definitivamente resolver as coisas entre ele e Lana, naquele momento, sua prioridade era salvar Jonathan, advertindo-o do que estava para acontecer.

Completamente desnorteada com o comportamento indiferente de Clark, ela indagou, furiosa, ao alto das escadas:

"E quando vai ser um bom momento?"

Clark se virou para vê-la:

"Por que desde que você foi baleado, é como se não o conhecesse mais, parece que somos desconhecidos -"

"Você não faz nem idéia -" comentou ele, lembrando da cena em que viu Lana entregando-se à Lex.

"Ah, é?" indagou ela, descendo dois degraus. "Então por que não resolvemos isso de uma vez?"

Clark a encarou. Talvez ela tivesse razão. Talvez fosse mesmo melhor que resolvessem tudo de uma vez. E ele lhe lançou um olhar gelado, como nunca o havia feito antes.

"Lana, eu sei sobre você e Lex" disparou ele.

"Claro que sabe" retrucou ela. "Eu contei que estamos investigando sobre a espaçonave -"

"Não é só isso" interrompeu ele.

Lana arqueou as sobrancelhas.

"Existe toda essa confidencialidade entre vocês que nunca vamos poder ter juntos -"

E ela enrugou a testa, sem entender.

"Como?"

"Porque eu simplesmente não confio mais em você" completou ele.

Lana estava completamente sem ação, e ele continuou:

"Sabe, você é muito boa para cobrar as coisas. Mas quando chega o momento de fazer sua parte, você só pensa em si mesma"

Perplexa, Lana enrugou a testa, e ele continuou:

"Segredos, mentiras. Todos nós temos. Alguns mais do que os outros" disse, encarando-a com firmeza. "Será que você já se perguntou se eu me sinto tão a vontade e preparado para compartilhar as coisas com você quanto você parece se sentir com relação a Lex para falar pelas minhas costas?"

"Clark, eu -"

"Sinto muito, Lana. Mas acabou"

Clark então lhe deu as costas e a deixou, com os olhos cheios de lágrimas, sozinha no celeiro.

Mais tarde, ainda no Rancho Kent

"Essa é a pior piada que eu já escutei!" exclamou Martha para Jonathan, rindo, enquanto estacionavam a caminhonete em frente ao celeiro, de onde Clark vinha.

"Ah, qual é! Você gostou!" retrucou ele, rindo.

"Não mesmo!" disse ela, ainda aos risos.

Clark se aproximou dos pais, e Jonathan se virou para vê-lo:

"Achei que só o encontraria nas urnas!"

"Pai!" exclamou ele, aproximando-se e puxando-o para um abraço.

Confuso, Jonathan retribuiu, sorrindo para Martha, que assim como o marido, sem entender o que estava acontecendo, apenas arqueou as sobrancelhas, interrogativa.

"É tão com vê-lo!" disse ele, desvencilhando-se gentilmente, e encarando-o. Mal podia acreditar que instantes antes tinha-o sem vida em seus braços. E agora, ali estava ele.

"O quê houve, filho?" perguntou Jonathan, sorrindo, ainda confuso.

E Clark ficou sério.

"Temos que conversar" disse ele.

Jonathan e Martha se entreolharam.

Minutos depois, na cozinha

"E foi isso o que aconteceu" concluiu Clark, segurando uma xícara de café, sentado à mesa da cozinha, com Jonathan e Martha, que se entreolhavam, perplexos.

Clark os encarava com apreensão, aguardando a reação de ambos.

Havia dito tudo o que tinha se passado naquele dia que revivia, exceto o fato de que Jonathan morria em seus braços. Advertiu-o apenas que ele não deveria se encontrar com Lionel, após a festa da vitória, pois algo terrível ia acontecer.

"Filho, tem certeza que não foi um sonho ruim?" indagou seu pai.

"Não mesmo" respondeu ele, tirando o pedaço de carvão do bolso e colocando sobre a mesa.

"O quê é isso?" indagou Martha.

"Eu esqueci de dizer, mas eu ia pedir a mão da Lana em casamento hoje pela manhã... quer dizer, da primeira vez que eu vivi esse dia, antes de saber que o nosso relacionamento não passa de uma busca desvairada por algo que não existe e que na verdade ela tem sentimentos por Lex , já que não pensou duas vezes em ficar com ele depois de terminar comigo -"

Jonathan e Martha o encararam, estarrecidos com a revelação, mas antes que pudessem dizer qualquer coisa, Clark disse:

"Claro que isso já não tem mais importância alguma"

Houve um silêncio, e Clark olhou para Jonathan.

"O quê importa agora é que você não vá a esse encontro com o Lionel" completou.

Jonathan suspirou.

"Você ainda não disse porque não devo me encontrar com ele"

Martha olhou apreensiva para Jonathan e depois para Clark.

"Ele provavelmente vai chantageá-lo por causa da vitória, e... e essa coisa ruim vai acontecer" desconversou Clark, evitando olhar para o pai. Não queria mais imaginá-lo naquela cena em frente ao celeiro.

Martha então olhou para Jonathan. E os dois sabiam do que se tratava. Aflita, ela tentou dizer alguma coisa, mas o marido apenas levantou a mão para que ela não o dissesse.

"Filho, como você mesmo disse o que o Jor-El mencionou na Fortaleza... 'a roda do destino não pára' e 'o universo sempre encontra um modo de encontrar o equilíbrio'. Por mais que se trate do Jor-El, isso tudo faz sentido. Não se pode interferir no destino. Então, por que não deixamos as coisas seguirem o seu curso normal?"

"Não!" exclamou Clark, levantando-se e caminhando aflito pela cozinha. "Você não entende! Podemos evitar isso. Sei que podemos!"

"Jonathan!" exclamou Martha. "Clark tem razão! Por favor, não vá a esse encontro com o Lionel!"

"Nem sabemos se foi isso mesmo o que aconteceu, Clark!" retrucou Jonathan. "Não estou defendendo o Lionel, sei que ele é capaz de coisas terríveis, mas são apenas suposições. Você não o viu, certo?"

"Não" concordou Clark.

"Então!"

Clark suspirou, e olhou para sua mãe, que estava confusa, mas muito preocupada com o marido e com todas as coisas que ouviu do filho.

"Agora vamos deixar isso de lado... Temos que nos preparar para a eleição! Ou melhor, para a vitória, não é mesmo?" disse Jonathan, sorrindo.

"Foi você que me contou" disse Clark com o olhar perdido.

Ele não queria mencionar, embora já desconfiassem. E aquela parecia ser a única forma de fazer com que seu pai reconsiderasse.

Jonathan e Martha olharam para o filho, e ele continuou:

"Sobre Lionel. Você o mencionou... ao dizer que ele sabia... enquanto morria em meus braços"

Jonathan suspirou. Martha se levantou. Lágrimas corriam por suas faces.

"Não... Não pode ser..." disse ela, olhando para o marido. "Jonathan... Por favor! Não deixe que isso aconteça! Eu o proibo!"

"Calma, meu bem!" disse ele, puxando-a para um abraço.

Houve um silêncio, e Clark olhava para os pais abraçados. Esperava que daquela vez as coisas fossem diferentes para poder vê-los abraçados muitas outras vezes.

Olhando bem nos olhos de Clark, porém, Jonathan disse:

"Filho, o que eu tiver que fazer para proteger seu segredo, eu o farei, e com muito orgulho!"

Martha se desvencilhou dele, encarou-o nos olhos, perplexa, e tendo a certeza de que ele falava mesmo sério, e que realmente estava disposto a conflitar Lionel e até mesmo morrer, correu aos prantos para o quarto, para chorar.

Enquanto Jonathan ainda o encarava com firmeza, Clark apenas suspirava e, pensativo, com o olhar perdido, acreditava que nada mais podia fazer para convencer seu pai a agir diferente naquela nova realidade.

Continua...