Nota inicial: Há muito, MUITO tempo mesmo, mais ou menos entre 2002 e 2003, eu publicava uma história InuKag chamada Um Lugar no Coração no falecido Fanfiction Brasil. Após o fechamento do site numa confusão com ordem judicial (porque tinha gente postando a tradução de um livro que nem havia chegado ao Brasil), trouxe para cá. Foi acho que a primeira história ever que escrevi. Ela já TINHA SessRin como coadjuvantes no enredo, e eu lembro que abandonei porque tinha mais ideias para SessRin do que InuKag, dedicando-me a escrever outras histórias. Eu parei de escrever mais ou menos no capítulo 12, justamente numa parte envolvendo um funeral de um familiar da Rin.

Daí eu, no início do ano, encontrei essa história InuKag nos capítulos, dei uma rápida lida. Era uma história daquelas beeeeem românticas entre patrão e secretária (como muitas outras que podem existir por aí), e eu resolvi reescrevê-la focando apenas em SessRin para presentear a Kuchiki Rin em outubro deste ano. Começo de onde parei em ULnC (no funeral do irmão da Rin). A versão dela é completa e ilustrada, eu tive que cortar algumas partes aqui :)

Se gostarem, leiam a nota final e me ajudem a decidir se devo continuar ou não :)

NOTA: Korobokkuru: Criaturas extremamente pequenas do folclore japonês.


Shiawase ni narou ne

Vamos ser felizes

One-shot

Para Kuchiki Rin (no aniversário de 2021)

Taisho Sesshoumaru desceu do carro e ficou em pé na frente de um grande portão de ferro de uma casa simples de um bairro classe média de Tokyo. O portão estava aberto, convidativamente, e ele entendia o motivo.

Havia um funeral acontecendo lá dentro.

— Volte em duas horas, Jaken. – ele avisou pelo vidro aberto ao motorista, um pequeno homem de imensos olhos verdes, vendo o carro afastar-se segundos depois na rua de mão única.

Imponente como era, ele atraiu os olhares ao entrar de vários presentes, mas pouco se importou. Ele já estava acostumado com aquilo. Alto, de cabelos brancos, olhos dourados... ele, o pai e o irmão mais novo chamavam a atenção de várias maneiras, seja através de negócios bem sucedidos, seja por causa algum escândalo, principalmente o irmão – este em um relacionamento um tanto quanto conturbado com uma mulher mais velha.

Mas, ao contrário do mais novo, Sesshoumaru gostava de manter esse lado de relacionamentos mais discretamente.

Na sala de estar, com um pequeno altar budista e um retrato de um jovem rapaz, imediatamente encontrou a pessoa que queria.

Em pé, ao lado do altar, conversando calmamente com outra pessoa, estava uma jovem de longos cabelos negros, pequena e magra. Usava roupas pretas e mãos discretamente unidas em frente ao corpo. Cumprimentava a todos e parecia extremamente abatida.

Como se sentisse a presença de Sesshoumaru, ela virou o rosto na direção onde ele estava – dois enormes olhos negros piscaram ao vê-lo ali.

— Com licença, Ayame-chan... – ela pediu à garota com quem conversava e afastou-se.

Com passos curtos, ela aproximou-se de Sesshoumaru e deu uma discreta e respeitosa reverência:

— Sesshoumaru-sama, não o esperava por aqui. – a voz dela era suave e o sorriso, discreto, não correspondia nem um pouco ao que ele percebia através dos olhos.

— Rin, eu sinto muito por sua perda. – ele não fez reverência, mas o rosto estava voltado para baixo para não desencontrar o olhar dela.

A jovem nada respondeu e olhou para trás, mais especificamente para o retrato do rapaz no altar.

Percebendo que ela não queria comentar nada, ele afastou-se para sentar-se em algum lugar antes da cerimônia.

Notou o quanto ela parecia perdida ali: apenas depois ela lembrou-se de que estava conversando com alguém, não o ignorando propositalmente. A garota virou-se e o procurou pela sala, as feições suavizando a preocupação depois de encontrar o olhar dele.

A pessoa que falecera era irmão dela. Perdera a vida em um acidente de trânsito no dia anterior. Ela recebera a notícia no meio de uma reunião com ele e outros executivos e saiu praticamente correndo. Só entendeu o que havia acontecido quando ele a alcançou no meio do caminho e ela explicou com voz embargada.

Agora, ele não sabia quando ela voltaria ao trabalho novamente para vê-la.


Três dias depois, quando Sesshoumaru chegou à empresa, ele não deixou de ficar um pouco... surpreso por encontrar Rin finalmente à mesa. Apesar de estar bem vestida, como era de costume, o rosto continuava abatido e os olhos cansados como se tivesse chorado a noite toda.

— Nozomu... – ele a chamou – Bom dia.

— Taisho-sama. – ela deu uma curta reverência – Bom dia.

— Você voltou. – ele murmurou quase como se não acreditasse que ela estivesse ali – Podia ter usado mais dias de licença.

Rin forçou um sorriso.

Pigarreando, ele ficou mais sério. Talvez ela quisesse aquilo – afundar-se no trabalho para esquecer a perda recente. Muita gente fazia aquilo.

— Preciso ver a agenda de hoje. – ele passou direto por ela e entrou na sala.

— Em um minuto. – ela confirmou eficientemente, voltando a digitar a senha do computador.

Sesshoumaru observou a figura dela de costas para ele por alguns minutos antes de entrar na sala dele, indo direto à mesa. Sentou-se, apoiou os cotovelos na mesa e uniu as mãos em frente ao rosto, fechando os olhos.

Minutos depois, Rin batia à porta apenas para avisar que estava entrando.

Mantendo a porta aberta, ela, com um ipad em mãos, deu início à agenda do dia e o que ia fazer para adiantar algumas coisas, tudo em uma voz quase automática.

Sesshoumaru levantou-se e deu a volta na mesa, usando-a como apoio para sentar-se na ponta, cruzando os braços.

— Feche a porta.

Rin deu uma pausa, disfarçou um suspiro cansado e fez o que ele solicitou, trancando também a porta.

Depois que se virou, viu-o com a mão convidativamente estendida para ela.

— Venha.

Com passos tímidos, ela aproximou-se e foi puxada para os braços dele, sentindo o queixo dele apoiado no topo da cabeça.

— Como você está?

Levou um tempo para ela responder.

— Cansada.

— O que fez nesses três dias?

— Arrumei as coisas dele, a casa... Acho que vou vendê-la. Prefiro continuar no meu apartamento do que ficar ali. – ela piscou e afundou mais ainda o rosto contra o peito dele – Não estou dormindo direito e achei melhor vir trabalhar.

Ficaram em silêncio por alguns minutos.

— Quer ir para meu apartamento depois? – ele perguntou suavemente – Eu também não tenho dormido direito sem você.

— Hmm... pode ser...

Sesshoumaru estreitou o olhar para ela. Era o tipo de pessoa que não gostava daquelas respostas ambíguas e ele já tinha falado várias vezes para ela não agir daquela forma – que simplesmente ela dissesse o que queria ou pensava.

— Sim, eu quero ficar com você hoje. – ela se corrigiu.

Depois olhou timidamente para a porta e tentou afastar-se gentilmente

— Preciso voltar.

Sesshoumaru ergueu o rosto dela o suficiente para que ele pudesse beijá-la, sentindo-a tensa no começo e depois relaxando, colocando delicadamente as mãos no ombro dele como suporte para responder melhor ao que ele provocava nela.

Ao separarem os rostos, ele esperou que ela abrisse os olhos.

— Você não precisava ter voltado hoje. – ele começou – Se não estiver bem, avise para autorizar sua saída mais cedo.

— Está tudo bem. – ela forçou um sorriso – Eu sinto que preciso trabalhar pra melhorar.

O rapaz a soltou e ela pegou o ipad antes de dar as costas para ele e ir embora, colocando a mão na maçaneta.

— Rin. – ele a parou.

A jovem virou o rosto para olhá-lo por cima do ombro.

— Precisamos conversar sobre sua saída daqui.

— Ah, sim... – ela deu um suspiro cansado, abraçando o ipad – Eu não tive como procurar outro trabalhos nos últimos dias e...

— Eu sei. – ele a interrompeu ainda mantendo o tom calmo – Vamos conversar em casa, certo?

Rin deu um último suspiro e destrancou a porta, arregalando os olhos ao dar de encontro com Taisho Tōga, dono da empresa e pai de Sesshoumaru.

Sesshoumaru era extremamente parecido com o genitor, com a diferença que Tōga tinha uma tez mais morena, como se tivesse nascido em Okinawa, e tinha um rosto sempre sorridente. O filho, nesse aspecto, era muito mais sério.

— Pai. – o tom de voz de Sesshoumaru estava entre a calma e a surpresa.

— Bom dia, Sesshoumaru... e Nozomu-san. – ele franziu a testa para a expressão surpresa e nervosa dela, notando o rosto corado – Está tudo bem com você?

— Ah... sim. Com licença. – ela deu uma reverência, depois passou por ele para se dirigir à mesa, deixando os dois sozinhos.

O homem a observava com o rosto virado, olhando por cima do ombro para o modo como ela, apressada e nervosa, corria para a mesa dela e religava o computador, abria gavetas, anotava coisas na agenda.

— O que faz aqui? – o filho perguntou ao voltar para a cadeira.

Tōga fechou a porta e apontou para fora, na direção onde Rin estava.

— O que ela tem?

Sesshoumaru permitiu-se dar um suspiro meio cansado antes de explicar:

— O irmão dela faleceu e ela apareceu hoje depois de apenas três dias. Falei que poderia voltar para casa se não estivesse se sentindo bem.

— Que triste. Eu não sabia. – ele franziu a testa e olhou para a porta como se pudesse vê-la ainda – Ela podia mesmo ter tirado mais dias de afastamento.

Os dois ficaram em silêncio até Sesshoumaru pigarrear para chamar a atenção do próprio pai.

— Nozomu não me falou que viria aqui me ver. Aconteceu alguma coisa?

— Oh, eu pensei em fazer uma rápida reunião com você e Nozomu-san sobre aquela empresa em Kyoto. Mas como ela não está bem, pode ficar pra outro dia.

— Outro dia, então. Não quero sobrecarregá-la hoje.

Novamente, Tōga olhou por cima dos ombros.

— Entendo.


Mais tarde, Sesshoumaru estava terminando de encher a banheira no instante em que ouviu o interfone tocar.

Deu rapidamente uma olhada ao redor. Água quente, toalhas limpas, os produtos que Rin costumava usar... tudo parecia em ordem. A roupa de dormir dela, limpa e cuidadosamente dobrada, estava em cima da cama, no quarto que ela dizia que cabia o apartamento dela, chamado por ele de toca de korobokkuru, em homenagem às casas das pequeninas criaturas do folclore japonês.

Provavelmente ela ia preferir jantar, tomar banho e dormir. Parecia que estava há vários meses sem fechar os olhos, pelo tamanho das olheiras dela.

— Sim? – ele falou ao atender.

Sou eu. – era Rin falando apressadamente – Esqueci o código. Pode abrir pra mim?

Sesshoumaru abriu o portão pelo interfone e, minutos depois, ela aparecia na porta do apartamento.

— Boa noite... – ela murmurou num tom suave e cansado ao mesmo tempo.

Sesshoumaru não respondeu imediatamente, preferindo observá-la tirar os sapatos e as peças de inverno e colocá-los no genkan: o casaco num cabide, assim como as luvas e o chapéu de inverno, e os calçados ao lado dos dele.

Há quase oito meses estavam naquele relacionamento que não poderia vir à público por conta das políticas da empresa comandada pelo pai de Sesshoumaru: nada de relacionamento entre colegas. Pior ainda se fosse entre alguém com posição superior, como era o caso deles. Mantinham as coisas tão discretas que nem trocavam mensagens ou telefonemas, mantendo apenas um tratamento cordial e profissional na frente dos outros na empresa.

Às vezes se encontraram no apartamento dele, outras vezes no pequeno apartamento dela. Era melhor daquele jeito até Rin encontrar outro emprego e eles poderem assumir o relacionamento na frente dos outros, inclusive da família dele.

Quando ela terminou de guardar o casaco, cachecol e um pequeno chapéu, finalmente ficou na frente dele e o abraçou, inspirando profundamente contra o pescoço dele.

— Desculpe o atraso. Seu pai me chamou depois que você saiu pra ajudar numa coisa. – ela explicou primeiro, afundando o rosto no vão entre o ombro e o pescoço.

— Eu preparei a banheira. – ele murmurou, deslizando a mão suavemente pelas costas dela – Estava esperando você chegar para jantar e tomar banho juntos.

Rin ergueu o rosto deu um fraco sorriso.

— Jantar então. Depois banho. – ela falou.


O som irritante do toque do telefone despertou Sesshoumaru muito antes do horário que havia se programado.

Gemendo em frustração, ele acordou e viu primeiro o rosto adormecido e tranquilo de Rin, antes de os olhos buscarem o objeto responsável por interromper o sono de ambos. Esticou o braço por cima dela e pegou o aparelho tocando na mesinha ao lado da cama, ouvindo também um murmúrio de reclamação da mulher que estava com ele.

Ao ver o nome no aparelho, ele franziu a testa e atendeu.

— Pai. – ele falou com certa urgência. Esperava que não fosse nada sério.

Estou aqui na porta da frente. Você não atendeu o interfone.

Sesshoumaru arregalou de leve os olhos.

— Eu... Eu estava dormindo. – ele olhou para Rin ainda em sono aparentemente profundo. O pai não podia saber que ela estava ali – Um momento, estou indo aí.

Desligou e imediatamente sacodiu Rin de leve pelos ombros para despertá-la.

Hmmm... – ela esfregou os olhos depois de alguns segundos – O que houve?

— Meu pai está aí.

Rin sentou-se na cama assustada, o pijama com os botões quase totalmente abertos deixando os seios à mostra, e o viu levantar-se para pegar um roupão de seda azul escuro, amarrando na cintura a faixa da mesma cor.

— O que ele veio fazer aqui? – ela perguntou num sussurro assustado enquanto fechava todos os botões.

— Vou descobrir agora. – ele se aproximou e a beijou rápido nos lábios – Por favor, não saia do quarto.

Apressado, Sesshoumaru fechou a porta do quarto, andou pelo corredor do enorme apartamento e deu um suspiro cansado ao chegar ao genkan.

Abriu uma pequena fresta e deu de cara com o rosto sorridente do pai, em roupas esportivas. Ele e o filho costumavam sair para correr naquele horário, um pouco antes do amanhecer, mas há tempos que Sesshoumaru não aceitava mais os convites do pai.

— Não sabia que tinha sono pesado agora. Liguei muito antes. – ele alongava os braços enquanto falava – Quer dar uma corrida daqui ao centro e voltar?

Aquele tipo de trajeto, de cerca de uma hora, ele costumava percorrer antes de Rin começar a frequentar o apartamento. Mas agora evitava as corridas matinais quando ela passava a noite ali.

Sesshoumaru abriu totalmente a porta, mas não deixou o pai entrar. Simplesmente apoiou os dois braços na batente e balançou a cabeça.

— Eu não vou correr hoje. Tinha que ter me falado ontem ou teria me programado.

— Ah, que pena. Ontem fiquei até tarde com Nozomu-san e esqueci de pedir pra ela avisar.

— Você não precisa pedir para ela fazer isso. Podia ter me avisado e não chegar assim, do nada. – Sesshoumaru tinha o tom usualmente sério. Seria também o cúmulo Rin começar a organizar a agenda pessoal do pai, deixando-a com mais trabalho quando o que ele queria era tirar aquele peso dela.

— Ah, deixe disso, rapaz. – o pai tentou passar pela barreira que o próprio filho criou com o corpo, dando leve tapas no ombro dele – Eu espero você se arrumar.

Sesshoumaru continuou bloqueando e não cedeu nem um milímetro.

— Eu não vou hoje. – ele repetiu com mais firmeza.

— Ué, e por que não... Ahhhhhh...!

Os olhos de Tōga estavam fixos num belo par de saltos pretos de tamanho médio arrumados no genkan. Sesshoumaru seguiu o olhar do pai e fechou o rosto em irritação.

— Eu estou com uma pessoa aqui. – ele finalmente explicou.

— Oh... – o pai se afastou, os olhos arregalados e um pouco constrangido – Deveria ter falado logo. Não sabia que estava com alguém. Eu a conheço?

— Não é hora de falar sobre isso. Eu explico mais tarde. – Sesshoumaru fez menção de fechar novamente a porta – Da próxima vez, marque com antecedência.

Tōga ergueu as mãos defensivamente e afastou-se com cautela.

— Entendido. Até mais tarde, então.

Segundos depois, ele se virava e saía correndo pelos corredores, já se aquecendo antes de ganhar as ruas para mais um momento de exercício matinal.

Balançando a cabeça, ele fechou a porta. Havia uma bagunça na mesa de jantar, com pratos e copos da noite anterior ainda à espera de alguém para tirá-los e lavá-los. Naturalmente que ele não deixou Rin fazer aquilo. Mais tarde Jaken tomaria providências.

Ao voltar para o quarto, viu Rin ainda sentada na cama, em seiza, com o semblante preocupado como se aguardasse uma notícia muito ruim.

— É a primeira vez que ele aparece aqui assim em meses... – ela murmurou – E logo depois do que aconteceu ontem, ainda por cima.

— Ele não sabe... – ele deitou-se novamente, puxando-a para deitar também – Veio me chamar para correr.

Rin ainda parecia extremamente preocupada, mas tentou esquecer aqueles sentimentos negativos abraçando-o também.


Rin havia chegado cedo naquele dia. Quando dormia no apartamento de Sesshoumaru, normalmente eles acordavam cedo para ela poder voltar para o minúsculo apartamento dela para poder se arrumar e ir para o trabalho, chegando em horários diferenciados. No escritório aquecido, usava uma blusa rosa de mangas compridas e saia lápis azul, o rosto levemente maquiado apenas para disfarçar as olheiras.

Já estava instalada à mesa dela na empresa quando ouviu a voz de Tōga perto demais.

— Bom dia, Nozomu-san. Como está hoje? – ele falou quase ao ouvido dela.

Rin ficou rígida por um momento, depois disfarçar dando um sorriso. Ele tinha aquelas brincadeiras, mas não considerava flerte. Era só uma forma que ele tentava de conseguir a simpatia de todos.

— Está tudo bem, Taisho-sama. Obrigada por perguntar.

— É, você está com uma aparência melhor que ontem.

Rin arregalou os olhos e depois piscou, atordoada. O comentário era mais inapropriado que qualquer outro que já tivesse ouvido por parte dele.

— Não, não! Perdão! – ele balançou as mãos como se fossem uma borracha para retirar o que dissera – Fiquei muito preocupado com o que aconteceu com você. Não é de forma alguma...

— Está tudo bem, eu entendi. – ela falou gentilmente forçando um sorriso – Hoje me sinto um pouco melhor.

— Sesshoumaru me contou o que aconteceu. Era o seu irmão mais velho?

— Sim. – ela baixou o rosto e logo assumiu uma expressão mais melancólica – Éramos gêmeos.

Rin ficou repentinamente calada e pensativa, franzindo a testa de vez em quando por longos segundos de silêncio. Era como se tivesse esquecido que havia uma pessoa conversando com ela.

— Nozomu? – ele tentou.

A gentil voz do dono da empresa a despertou.

— Perdão, Taisho-sama! – ela corou em sinal de constrangimento – Eu estava pensando no meu irmão.

— Ah, tudo bem... eu compreendo. Sinto mesmo por sua perda.

Rin forçou novamente um sorriso e virou-se para o computador já ligado, querendo encerrar de vez a conversa.

Tōga, porém, ainda não havia se afastado. Ele parecia na verdade ainda mais próximo, sentando-se na ponta do mesa para curvar-se e sussurrar:

— Diga-me, Nozomu... – ele começou suavemente – Você sabe quem é essa namorada de Sesshoumaru?

Rin sentiu o sangue correr frio da cabeça aos pés, tentando recuperar a postura profissional ao piscar suavemente. Com muito esforço, negou com a cabeça.

— Eu soube apenas hoje. – ele continuou a explicar – Ele quase não acreditei que ele não me contou isso. É Asano Sara? Ou aquela outra moça... Kagura alguma coisa?

— Taisho-sama... – ela começou timidamente – Isso é altamente inapropriado. Isso é algo que diz respeito apenas a Sesshoumaru-sama.

— Ele nem ao menos pede pra você encomendar flores ou fazer reservas em restaurantes?

Rin apenas encolheu os ombros timidamente. Era óbvio que Sesshoumaru nunca havia feito aquilo para não chamar a atenção dos outros, tampouco exigia para não trazer problemas para si mesma ou para ele.

— Que coisa... Achei que tinha ensinado bem aos meus filhos. – ele coçou a cabeça meio sem jeito – Primeiro Inuyasha e Kikyo... Agora Sesshoumaru e essa namorada misteriosa.

Rin deu uma risada sem graça, coçando sem jeito um lado do rosto.

Tōga abriu a boca para falar algo, mas alguém o interrompeu:

— O que está fazendo aqui? – Sesshoumaru, que havia acabado de chegar à empresa, perguntou.

— Ah, eu vim falar com você. – Tōga levantou-se da mesa da secretária e indicou a porta do escritório – Vamos conversar.

Sesshoumaru permaneceu parado olhando seriamente para o pai, depois desviou a atenção para Rin:

— Você não precisava ter vindo hoje.

A mulher apenas fez sim com a cabeça, mas nem ao menos ela sabia por que fez aquele movimento: "sim" o quê, mesmo?

Sesshoumaru travou o maxilar. Ele havia falado várias vezes que ela poderia tirar o dia de folga. Ela tinha direito a sete dias de luto e havia usado apenas três.

— Bem, já que está aqui... Pode levar minha agenda. – Sesshoumaru deu as costas para entrar no escritório, falando por cima do ombro para o pai – Vamos.

Ao entrarem, Sesshoumaru foi direto para a mesa, sentando-se na poltrona.

— Você não tem uma empresa para controlar? Um secretário para arrumar sua agenda? – o filho mais velho estava irritado – Não sabe que não pode aparecer assim, sem avisar? O que quer agora comigo, afinal?

Tōga ergueu novamente as mãos defensivamente.

— Calma, calma. Sabe que eu gosto de conversar sobre minhas ideias com você. – o homem sentou-se na ponta da mesa assim como tinha feito na mesa de Rin – Eu estou muito animado sobre essa ideia de expansão para Kyoto. Eu meio que queria acelerar isso e achava que você poderia estar à frente da empresa na outra cidade.

Se aquilo tinha sido uma surpresa, Sesshoumaru não demonstrou. De fato, a resposta veio segundos depois.

— Eu me recuso. Coloque Inuyasha para trabalhar. Poderia separá-lo desse jeito de Kikyo e causar menos vergonha para a família nas páginas de escândalos dos jornais.

— É claro que não. Você é perfeito para isso.

Sesshoumaru estreitou o olhar para o pai. Tivera tanto tempo para oferecer aquela oportunidade e apenas agora, quando tinha já feito planos com Rin, Tōga queria afastá-lo da cidade e para longe dela. Muito provavelmente ela não seria transferida.

Por outro lado, talvez Rin pudesse arranjar algo em Kyoto...

— Bem, vou precisar pensar.

— Mas o que há para pensar? – Tōga parecia confuso.

Depois de um momento de silêncio, com Sesshoumaru olhando fixamente com uma sobrancelha erguida, a expressão do pai iluminou-se.

Aaaaahhh... Entendi. – ele parecia satisfeito com a explicação – A sua namorada.

— Sim. – o filho fechou os olhos por um instante – Preciso conversar com ela antes.

— Entendo. Claro. – o pai gesticulava para apaziguar qualquer desentendimento entre eles – Gostaria só que tivesse me falado sobre isso antes. Até perguntei pra sua secretária e ela se recusou a comentar qualquer coisa.

Sesshoumaru olhou para a porta como se pudesse ver Rin através dela. Tentou imaginá-la sem jeito ou absurdamente corada com as perguntas do pai a respeito do relacionamento entre eles.

Uma batida na porta chamou a atenção dos dois. Em seguida, a cabeça de Rin apareceu por uma fresta.

— Sesshoumaru-sama... Desculpe interromper, mas preciso passar a sua agenda. Há uma reunião daqui a pouco.

— Pode entrar.

— Sim, pode entrar, já estou de saída. – o pai parecia ainda muito bem humorado, quase o sinônimo da boa disposição, mas não levantou-se da ponta da mesa – Pense com carinho na proposta do seu querido pai.

— Hunf. – o outro bufou para desmerecer o "querido".

Rin sentou-se na cadeira em frente à Sesshoumaru e cruzou as pernas, discretamente puxando a barra da saia lápis para cobrir mais os joelhos e apoiar o ipad sobre um deles.

Tōga continuava sentado na beirada da mesa de Sesshoumaru, olhando para alguma coisa que chamara a atenção dele: um par de saltos médios na cor preta.

Finalmente, depois de segundos, ele falou:

— Bonito sapato.

Rin piscou para ele sem entender. Sesshoumaru arregalou de leve o olhar. Houve um momento de silêncio constrangedor.

Lentamente, Sesshoumaru levantou-se, mais sério que de costume, e deu a volta na mesa para ficar em frente à Tōga.

Rin continuou tentando entender o que havia acontecido entre eles, até perceber que poderia ser algo que o pai de Sesshoumaru descobriu antes da hora.

O dono da empresa pigarreou e levantou-se da ponta da mesa, andando até a porta. Antes de sair, olhou por cima do ombro e viu Sesshoumaru com um rosto sombrio, protetoramente atrás de uma receosa Rin.

— Vou pedir para meu secretário agendar um horário para conversarmos.

E foi embora, fechando a porta e deixando o casal sozinho.

Rin soltou a respiração que nem sabia que estava presa na garganta.

— Ele sabe? – ela perguntou assustada.

Sesshoumaru tinha os olhos fixos na porta fechada.

Agora ele sabe.


A reação de Tōga veio naquele mesmo dia, à tarde. Rin estava à mesa dela, tentando se concentrar depois do que havia acontecido pela manhã, quando viu o secretário de Tōga, um homem esquisito chamado Shishinki, entrar na área dela e estender um papel.

Rin ergueu a mão para pegar o documento, mas Sesshoumaru, surgido por trás de Shishinki, interceptou a ação, não permitindo que ela tocasse o papel.

— O que é isso? – ele quis saber.

— A demissão da senhorita Nozomu. – ele falou simplesmente.

Depois curvou-se em uma reverência e foi embora, ignorando Rin atordoada com a notícia e o olhar duro de Sesshoumaru na direção da saída dele.

— Sess... Sesshoumaru... – ela levou a mão à boca como se quisesse abafar a própria voz de choro. Era a primeira vez que ela o chamava daquele jeito na empresa.

— Fique aqui. Não saia. – ele ordenou e, pisando duro, foi procurar o pai na empresa.

Pelos corredores, todos deram passagem ou se encostavam na parede para que homem que parecia marchar para atacar um inimigo pudesse entrar o escritório do pai.

Ao chegar, ele nem cumprimentou ou pediu licença: foi direto à sala e abriu a porta sem bater.

Tōga estava com uma pasta de documentos e ergueu uma sobrancelha ao vê-lo.

— Ela ia pedir demissão depois de conseguir um emprego... – a expressão no rosto era indiferente, mas a voz estava carregada de raiva – Como ela vai conseguir outro se colocar na carta de demissão que ela quebrou um dos protocolos da empresa?

O pai devolveu o olhar duro e falou:

— Que você também pensasse nisso antes de começar qualquer coisa que tenha agora com essa moça.

Os dois se encararam.

— Você vai se arrepender de ter feito isso. – ele amassou o papel na frente do pai e marchou para fora da sala.

Antes de alcançar o elevador, Sesshoumaru tirou o celular do bolso e procurou um contato em específico.

No terceiro toque, um amigo dele atendeu:

Ohh... Há quanto tempo. Sangozinha perguntou sobre você há alguns dias.

— Eu preciso de um favor seu e de Hakudoushi. – ele falou.


Sesshoumaru voltou para a sala quase uma hora depois e encontrou Rin terminando de arrumar uma caixa cheia de pertences e um guarda que estava encarregada de acompanhá-la até a saída. Ela parecia em prantos, com o rosto vermelho, mais angustiada do que no funeral do irmão, ocorrido há menos de uma semana.

— Saia. – ele ordenou com o mão num gesto elegante para afastar o guarda – Saia daqui.

O homem nem se moveu.

— SAIA LOGO! – ele elevou mais a voz para ser obedecido, assustando até mesmo Rin.

Quando o outro foi embora, ele encontrou o olhar dela e indicou com a cabeça o escritório.

— Vamos conversar.

— Mas... – ela olhou para a caixa e para a porta por onde o guarda se retirara.

— Venha, Rin. – ele estendeu a mão para ela, permitindo-se ter, pela primeira vez ali, um gesto de intimidade fora do escritório dele, sem se importar se alguém mais entrasse de repente e os visse juntos.

Rin olhou para a mão dele, para o rosto sério, depois para a mão de novo, aceitando-a finalmente.

Ao entrarem, no escritório, ele trancou a porta e, segundos depois, abraçou-a de forma que ela se sentisse confortável e mais confiante nele.

— Não era mesmo pra ter vindo hoje... – ela tinha a voz abafada contra o peito dele, as lágrimas escorrendo mais livremente pelo canto dos olhos – Que semana horrível...

Sesshoumaru ergueu o rosto dela.

— Vá para casa e descanse. – ele murmurou contra o cabelo dela – Eu passo a noite com você lá.

Rin franziu a testa em dúvida.

— Consegui uma coisa para nós dois. – ele completou.

A mulher nos braços dele piscou e tentou limpar as lágrimas com as mãos, falhando em deixar o rosto mais apresentável.

— O... o q-quê?

— Eu conto depois. Vá descansar em casa. – ele repetiu, afastando o cabelo da testa apenas para encostar os lábios ali – Vou pedir para Jaken levá-la.

Sesshoumaru viu dúvidas nos olhos dela por um momento, até que os viu fechar. Uma lágrima escorreu pela última vez pelo lado direito e uma confirmação de cabeça.


Sesshoumaru desceu do carro e olhou para o prédio com apartamentos minúsculos de luxo, típico de moradores que gostavam de funcionalidade ou minimalismo, o que ele considerava absurdo de todas as formas possíveis. Era lá que Rin havia escolhido morar desde que começara a trabalhar na empresa, ignorando os comentários dele sobre o tamanho do local.

Abotoou o blazer e ajeitou o punho da camisa social, avisando a Jaken pelo vidro aberto:

— Vou passar a noite aqui de novo.

— Certo. – o motorista deu a partida e o deixou sozinho ali.

Sesshoumaru olhou mais uma vez para o prédio. Uma janela do terceiro andar estava aberta no inverno, o que significava que Rin estava arejando o ambiente depois de deixá-lo fechado por dias.

Tocou o interfone e imediatamente o portão abriu, subindo até o andar de Rin pelo elevador. A porta já estava entreaberta para ele.

Na entrada, extremamente pequena, havia um genkan para apenas dois pares de sapato. O armário na parede permitia que pelo menos três casacos de alguém do tamanho de Rin ficassem pendurados ali, mas espaço poderia diminuir caso Sesshoumaru tivesse que deixar o dele ali.

O interior seguia o padrão de casas construídas para serem apenas funcionais para pessoas que gostavam de conforto, mas não queriam trabalho para limpar – a pessoa tirava o sapato no genkan e já estava no corredor do apartamento, que também era a cozinha. Dando mais três passos, o banheiro e o toalete, devidamente separados, ficavam ali também.

Rin estava no corredor mais exatamente na cozinha a preparar um jantar para dois, já de pijamas e descalça, e deu um sorriso triste quando o viu ali. Parecia que o jantar seria frango apimentado, salada, misoshiro e arroz.

— Acho que seu apartamento diminuiu de tamanho neste inverno. – ele comentou.

— Se eu não conseguir um emprego, vou mudar pro seu. – ela avisou num sussurro triste – Para a sua alegria, vai ser a primeira coisa que terei que me livrar agora.

O maxilar dele travou e o olhar ficou duro.

— Eu queria que você mudasse, mas não nessas circunstâncias. Eu sei que queria preservar sua independência.

Rin parou por um instante de mexer a panela na qual temperava o frango e trocou um olhar triste com ele.

— Eu sei. Desculpe.

Segundos depois, ele a abraçava por trás para confortá-la.

— Vamos conversar depois do jantar? – perguntou num sussurro.

Viu-a dar um pequeno sorriso, concordando. Desligou o fogão, deixando apenas a centrífuga agir por mais alguns minutos. Soltou-a para que ela pudesse pegar hashi e tigelas e preparar as duas refeições, ajudando-a a levar a bandeja para o quarto.


— Arranjei um emprego para você. – ele comentou com ela nos braços dele já sentados confortavelmente na cama. Haviam terminado de jantar e a pequena mesa com as tigelas e talheres numa pilha suja estava num canto do quarto e ele não a soltava de forma alguma para deixá-la arrumar aquilo.

Rin se remexeu no colo para virar o rosto e encontrar o olhar dele. A expressão ainda era de dúvida e não conseguia evitar franzir a testa.

— Onde? Nenhuma empresa está contratando.

— Não aqui em Tokyo. – ele fechou os olhos – Aquele meu amigo... Houshi Miroku falou com a esposa dele. Você vai ser a assistente principal dela em Osaka. Ela é diretora geral da Mizuno lá.

Rin arregalou os olhos:

— Mizuno? Sério? – ela sentou-se de frente a ele, segurando o rosto dele com as duas mãos – E ela vai me contratar mesmo com aquela observação nas referências?

— Você vai ter uma entrevista e ela vai aceitar uma carta minha. Eles sabem sobre você, Rin. Foi a forma que eu encontrei para não deixá-la nessa situação depois do que meu pai fez.

Sentiu as pequenas mãos dela deslizarem para os ombros dele e apertá-los.

— Ele quis seguir as regras. Não estava errado, sabe? – ela falou num tom triste – Ele só está protegendo a própria empresa e a sua reputação aqui. Você também é rosto da empresa.

Viu-o travar o maxilar e ficar mais sério e decidido:

— Eu vou ficar com você em Osaka.

Rin arregalou os olhos.

— Eu não vou continuar mais aqui. Vou cumprir o mês, fazer o que tenho que fazer nas próximas semanas na empresa, pedir demissão e ir para Osaka. Falei com Hakudoushi e vou trabalhar com ele.

— Sess... o seu pai... – ela tentou fazê-lo esquecer aquela opção – Você não vai conversar com ele? Apesar do que ele fez comigo, ele estava pensando em você.

— Ele não vai ouvir. Também começou a jogar toda a responsabilidade para cima de mim enquanto Inuyasha continua um inútil para a empresa. Eu praticamente trabalho por dois.

— Vou então antes? – ela piscou com os olhos marejados.

— Sim... – ele fechou os olhos – Sango quer que vá o mais rápido possível porque precisa de mais uma pessoa para trabalhar com ela na empresa. Eles acabaram de ter filhas.

— Oh... – ela sentou-se em seiza na cama. O rosto estava tão pensativo quanto na primeira vez que ele a viu no escritório, e ele, por um momento, se questionou se ela duvidava daquele plano.

— Você gostou da ideia de mudar de cidade comigo ou prefere continuar nessa toca de korobokkuru em Tokyo?

Rin ficou então extremamente emocionada, abraçando-o com força.

— É claro que vou. – ela murmurou – Obrigada pelo que está fazendo por nós.

Depois estufou as bochechas em irritação, exclamando:

— Não é uma toca!

Sesshoumaru espetou uma das bochechas com a ponta dos dedos para desinflar.

Depois que ela terminou de arrumar a cozinha, eles dormiram mais uma vez abraçados, como fizeram na noite anterior. No dia seguinte, ela teria que começar a arrumar as coisas para a mudança para Osaka.


Uma semana depois:

O inverno em Osaka era tão ruim quanto o de Tokyo para Rin. Se ela pudesse escolher, diria que Osaka era mais frio ainda.

Estava há quatro dias na cidade, ainda tentando se acostumar com a rápida mudança que teve. Primeiro perdeu o irmão, depois o emprego, agora estava em Osaka abrindo e arrumando caixas, fazendo compras de móveis e abastecendo a geladeira.

Caminhando com duas sacolas em mãos no novo trajeto entre o supermercado e a casa que havia alugado, ainda tentando se acostumar com a rota, ela pensava em Sesshoumaru, de quem não teve mais notícias.

Há três dias ele não atendia os telefonemas dela ou mandava mensagens. O contato cessou como que por encanto.

Esperava que aquilo não significasse o término de um relacionamento. Ela tivera um namorado assim – ele simplesmente parou de ligar ou de atender telefonemas e ela ficou extremamente magoada por mais de um ano, até que passou a trabalhar na firma de Taisho Tōga e conheceu Sesshoumaru.

Deu um suspiro cansado. Ele não faria algo parecido. Mas não podia deixar de ficar preocupada pensando se havia acontecido alguma coisa grave. Ele teria perdido o celular? Ou tinha ficado doente?

Agora ela tinha essas preocupações com ele e outras pessoas desde que o irmão morrera. Se ele continuasse mais uma noite sem notícias, tentaria contato por outra pessoa. Será que Hakudoushi, com quem Sesshoumaru passaria a trabalhar em breve, poderia ajudá-la nisso? Que tipo de pessoa seria ele? Será que estavam em contato?

Havia conhecido Sango e as duas lindas meninas dela e de Miroku e começado a trabalhar no dia anterior. Até aquele momento, o ambiente era bom e os colegas simpáticos e educados... Mas não tinha tido tempo de falar com mais alguém com um monte de caixa de mudança ainda para terminar de arrumar na nova casa.

Parou em frente ao portão da casa que serviria temporariamente para ambos até Sesshoumaru chegar e tiverem que procurar um lugar juntos à medida que iam se acostumando com a nova cidade. Era simples – um quarto, sala, cozinha pequena, banheiro separado de toalete, pequeno jardim. Já era parcialmente mobiliada e Rin havia comprado mais alguns móveis e objetos de cozinha nos primeiros dias.

Deu outro suspiro cansado ao colocar o peso das sacolas em uma única mão e procurar a chave no bolso do casaco.

— Espero que não seja uma outra casa para korobokkuru. – alguém falou atrás dela.

Arregalando os olhos, a mão segurando a chave congelou no portão.

Depois virou o rosto lentamente e viu, por cima do ombro esquerdo, a fonte daquela voz.

Sesshoumaru, com um pesado casaco preto e totalmente protegido para o inverno, estava parado com uma sacola de viagem às costas e uma pequena mala de quatro rodas do outro lado da calçada. Ela estava tão concentrada que não tinha olhado para os lados ao chegar. Provavelmente ele a viu desde o início da rua e esperou que ela o notasse ali.

Rin. – ele falou.

Rin largou as sacolas e correu para abraçá-lo, ignorando o chapéu de inverno que caiu da cabeça durante a corrida.

Ao abraçá-lo, ela murmurou contra o peito dele:

— Bem-vindo...


Tokyo – um mês depois:

Taisho Tōga deu outro suspiro cansado ao jogar uma pasta em cima da mesa depois da leitura.

Há um pouco mais de um mês tivera uma briga séria com o filho mais velho, resultando numa demissão que ele tentou de toda forma evitar e num telefone quebrado. Ele parecia tão envolvido com aquela jovem... E Tōga, sendo muito sincero, gostava muito do trabalho de Rin. A saída dela da empresa foi por conta unicamente da quebra de um dos protocolos mais importantes – o de relacionamento entre funcionários. E Sesshoumaru era chefe dela... Será que ele não percebia que só queria protegê-lo?

E ele dizer depois que queria tirá-la de lá para poder tornar público aquele romance... O que ele tinha na cabeça? Nenhuma empresa a deixaria trabalhar no momento que aquilo fosse notícia de jornal. A moça não teria mais paz.

Rin era tão competente... Tōga pensou em todas as variáveis daquela situação até optar por demiti-la, pensando primeiramente na imagem da empresa, claro. Nos dias que se seguiram ao ocorrido, o filho não aceitou nenhum novo candidato ao cargo de assistente pessoal e continuava com um humor dez vezes pior.

O pai já tinha problemas sérios com o filho mais novo. Entendia que Inuyasha, por ser jovem, era mais influenciável e fazia o possível para que ele entrasse nos trilhos e se afastasse daquela mulher com quem só vivia brigando por conta do ciúme que ambos sentiam... Mas nunca tinha tido problemas com Sesshoumaru. O mais velho era mais responsável e sabia sobre todos os deveres que deveria cumprir.

Agora ia integrar uma nova empresa em outra cidade... Uma decisão lastimável. Queria que o filho percebesse que demoraria um tempo, talvez anos, para conseguir os mesmos ganhos que tinha ali. Mas Sesshoumaru fizera questão de entregar o cargo, as ações, vendera até o apartamento. Abandonou tudo o que tinha construído ali na capital para ter outra vida em Osaka.

Esperava que ele voltasse a entrar em contato em breve para terem mais uma conversa. Não para convencê-lo a voltar, porque ele já estava bastante decidido, mas sim porque queria continuar o relacionamento pai-filho.

— Mande entrar o próximo, Shishinki. – ele avisou pelo interfone ao secretário.

— É "próxima". – o outro o corrigiu.

— Que seja. – o chefe desligou meio impaciente e deu mais um suspiro.

Shishinki apareceu na porta acompanhado de uma jovem – provavelmente da mesma idade de Rin. Cabelos longos e castanhos, parecia bem humorada, simpática e havia escolhido roupas elegantes para a apresentação.

— Por favor, sente-se. – ele indicou num gesto elegante a cadeira.

A jovem obedeceu com um agradecimento.

— Bem... Por que você se interessou pelo cargo... Senhorita Higurashi Kagome?

A jovem deu um sorriso confiante e se preparou para começar a falar.

FIM


Nota final: Bem, o que acharam? Eu acabei tendo outras ideias para continuar isso aqui, contando ou o começou ou o que acontece depois que os dois mudam de cidade para tentar ser felizes (como diz o título), longe de tudo o que os impedia de ficar juntos na capital. Também pode ter antes e depois dos eventos daqui, claro, com cenas completas do que todo mundo gosta de ler deles :D Ajudem a decidir nos comentários... Se é que vocês gostaram e acham que ficou digno de um.

Beijinhos pra todos (e não esqueçam os comentários!) :*

Shampoo-chan.