Cap 4- Quando a lua brilhar.

-Hum... –Resmungou enquanto abria os olhos lentamente, novamente voltava a sentir todas as dores de seu corpo quebrado.

-Oh! Já acordou! Que bom. –Disse Yura sorrindo cinicamente – Assim você verá a destruição desse reinozinho de Tai... Vou pegar a adaga e finalmente irei poder te matar sem sujar "meu" lindo cabelinho de sangue. –E gargalhou loucamente.

"Com esse corpo sou inútil... Ela vai me matar? Melhor assim. Que seja em poucos golpes, sem dor... Mas será que vou sentir alguma dor assim? Hum... Mas antes disso gostaria de ajudar esse reino, como venho ajudando o meu vilarejo... Kaede-san...".

De repente sentiu que estava flutuando, mas também sentia algo que pareciam facas cortando seus pulsos.

-Vamos olhar mais de perto! –Disse ainda sorrindo, Yura – Quero ver se meu bichinho está fazendo um bom trabalho!

Yura movimentava-se rapidamente. Kagome sentia que era retalhada lentamente, a dor de sua carne sendo cortada era torturante.

-Olhe! Não é uma linda cena?

A palavra não se encaixava à cena, aquilo não era nada bonito, o Shibugarasu comia os soldados, a paisagem estava tingida de vermelho pelo sangue que era derramado. Sentiu-se enjoada e fraca, mas acima de tudo raiva de si mesma, não conseguiria fazer nada.

-Você....! –Disse olhando com raiva para Yura.

-Sim?

-Seu coração é tão frio, que...

Os olhos da oni tornaram-se sérios, parecia que uma vez falaria algo que prestasse.

-Eu não tenho coração mulher. –Falou, mas logo voltou a sorrir –Olhe! Uma sacerdotisa e o rei estão saindo do castelo!

Tentou virar a cabeça e encontrou Kaede. Estava mais velha, seu olhar era profundo, mas ao mesmo tempo horrorizado ao ver cabeças e sangue voando.

Procurou forças. Havia aprendido que se você aceitava as raízes mágicas em seu corpo elas viriam até você, mas duvidava que as forças quisessem vir a um corpo como o dela, pois elas também rejeitavam corpos não merecedores.

Fechou lentamente os olhos. Reuniu todas as energias que conseguiu. Olhou Yura, sentia raiva ao olhá-la. Ela se divertia com o sangue no chão, divertia-se com cabeças voando, com gritos de pavor e sofrimento na paisagem. Sentia que a vontade de derrotá-la ficava cada vez mais forte, mais forte até que a própria dor que sentia. Uma corrente de energia circulava pelo corpo da garota.

Sentia as mãos queimando, isso foi se alastrando para o copo, tudo queimava. Sentiu uma energia esquentando o coração e alma e deu um sorriso.

"-Aiai Kagome... Você não controla bom os elementos, e o único que mal consegue é o fogo... Acho que tem a ver com seu estado de espírito... Não é normal para uma sacerdotisa". Kaede tinha dito isso há anos, agora iria aproveitar.

"Sim Kaede, o fogo...". Pensou "A chama de nossos corações nunca se apagarão... É nisso que tenho que acreditar para dominar o fogo...".

Sentia um arrepio correr pelo corpo novamente, as suas energias iam devagar até os dedos, esses se aqueciam, podia ver surgir pequenas chamas azuis neles.

Sentia seus dedos em chamas, Yura estava distraída. Não estava percebendo nada que acontecia com ela.

Concentrou-se, devagar pode fazer algumas folhas queimarem. Sorriu, poderia estar sem corpo para mover-se, mas nunca, o poder dela iria com o corpo, pois se era merecedora, o poder nunca se afastaria dela.

"O físico é apenas um instrumento... Um instrumento para liberar a força...".

Estava tão concentrada em seus pensamentos que uma névoa embotou seus sentidos. Abriu os olhos, estava fora do corpo novamente. Seu espírito sobrevoava o campo de batalha.

"Kaede-san..." Chamou.

A sacerdotisa não ouvia. Kagome suspirou novamente.

"Acho que... Ela não pode sentir, ou isso tudo é apenas...".

Abriu novamente os olhos. Estava num campo, as flores azuis emanavam perfumes, sorriu, mas logo o sorriso se desfez. A paisagem havia tornado-se negra e fria.

"Eu não permito! Como?!". Disse uma silhueta apontando para ela ferozmente, tinha olhos frios e castanhos, uma pele muito branca e tinha ódio marcado no rosto.

"Quem é você?".

A figura sorriu.

"Eu sou algo muito importante... Você deveria estar matando à todos, não os protegendo. É um desperdício invocar o seu fogo dessa maneira... Para ajudá-los, tola!".

"Não entendo... Mas quem é você?".

"Garota você tem medo de mim?".

Parou por um instante, quem era? Por que teria medo dela?

"Por que teria? Você não existe é só minh...".

"Você devia me temer... Pois estou dentro de sua alma.".

"Esse lugar é minha alma?".

"Sim. E você devia matá-los... Todos, se quer saber".

Era tudo muito confuso, estava em sua alma?! Olhou ao redor e fechou os olhos, desejando com todas as forças acordar novamente.

Mas não acordou, tremeu quando sentiu as mãos geladas da figura segurando seu rosto.

"Garota você esta desmaiada... Mas como usou seu poder, acabou vindo parar dentro de sua alma".

"E por que você esta aqui?! Esta é minha alma!".

"Você devia matá-los, todos... Mas pelo visto, ainda vamos nos encontrar garota, mas de qualquer forma, eu estou sempre com você... Por que eu sou você!".

"Você... mas...".

***

-GAROTA!

Estava insuportavelmente quente. A garota olhou ao redor, tudo pegava fogo, um fogo azul muito vivo. O rosto de Yura se contorcia em fúria.

-POR ALI! –Ouviam gritos.

-Droga... Nos descobriram... Mas... Hum... –Sorriu –Não sabia que com um corpo assim você conseguia invocar o fogo. Além de tudo que irei fazer com você irei absorve-la, assim também acaberei absorvendo todo seu poder! –Falou enquanto olhava os soldados se aproximando -Mas preciso da adaga!

Yura assobiou, o som era agudo e penetrante, porém seco. Kagome olhou para o céu e viu um vulto vindo em sua direção. Era Shinugarasu.

-Vai ser muito interessante! Vou roubar a adaga nesse instante!

-Você.. ahh.. –Respirava com muita dificuldade. Não conseguia falar, mas não podia perder a consciência novamente, esforçava-se ao máximo para ficar acordada.

-Vejo que está sem energia! Natural, mas admito sacerdotisa, não devia ter a subestimado por ser uma criança.

Não podia responder para Yura, não conseguia falar.

-Suba! –Disse pegando Kagome com seus cabelos, como se a garota fosse uma marionete.

Sobrevoaram o fogo e viram as expressões do rosto dos soldados, eles estavam surpresos, mas também desesperados.

-REI TAI!-Gritou Yura enquanto se aproximava dele.

-Afaste-se senhor Tai! –Disse Kaede empurrando o rei para trás –Essa é a oni Yura! Dizem que ela derrotou exércitos inteiros.

-Mais uma sacerdotisa... Hum... Bem informada, mas... –Falou enquanto fazia uma cara de desapontada –Você é velha!

O rosto da velha sacerdotisa avermelhou-se, porém, mesmo irritada, continuou com a postura severa, e com movimentos rápidos pegou amuletos de dentro de suas vestes.

-Amuletos de Gei, velha? –Disse em deboche –Vai usar o Gei parra correr?

-COMO OUSA? –Gritou a senhora.

-Idiota... –Sussurrou enquanto dobrava os joelhos.

Yura saltou, dando um giro rápido no ar, logo em seguida pousou no chão. Fez um movimento com os dedos e Kagome caiu ao seu lado.

Kaede arregalou os olhos. Viu o kimono da aprendiz cheio de sangue, o corpo todo quebrado, feridas por todo o rosto, aquele belo cabelo negro todo desarrumado e os olhos castanhos entreabertos.

-Mas é Ka-Kagome!

-Vou usa-la como escudo, velha. E se não me entregarem o que eu quero... –Mexeu com as mãos mais uma vez, pegou algo no ar e puxou contra o pescoço da garota, como se quisessem arranca-lo, puxou mais um pouco e todos viram um pequeno filete de sangue sair do pescoço da garota –Ela morre. –Disse com cinismo.

-O que quer afinal?! –Gritou Tai se intrometendo na conversa.

-A espada Benigasumi, a espada sagrada oni, senhor Tai.

-Muitos onis já desejaram e desejam a Benigasumi, mas não a daremos!

A oni sem pestanejar, puxou mais as linhas "imaginarias", a garota estremeceu e suas pupilas dilataram-se e lentamente fechou os olhos.

-Ainda não morreu. Me dê a espada!

-Nã... não... A espada é um objeto sagrado... Não devem en-entre-ga.. ga-la. –Disse Kagome com o corpo inteiro tremendo, havia gastado suas ultimas energias, talvez não fosse possível manter-se acordada por muito tempo.

-KAGOME! –Gritou Kaede.

-Cale-se! Eu só quero a espada! Objeto sagrado ou não a garota morre se não me entregarem!

-Senhora Kaede... Acho que... –Gaguejou Tai.

-Senhor Tai, deixe-me cuidar disso!

Yura olhou a senhora pegando seu arco e flecha riu com gosto.

-Vai fazer o que com isso, velhota?! Eu estou usando a garota como escudo!

Por um segundo recuou novamente.

-Nada... Não podemos fazer nada... –Retrucou o rei.

-Agora que descobriram? Agora finalmente vou pod...

Via seu sangue escorrer pelo corpo e olhou sua barriga. Havia garras nela. Rapidamente a mão que havia atravessado seu corpo saiu, ouvia-se uma risada de entusiasmo.

-Ora! Pensei que iria morrer com meu golpe! Mas pelo visto a idiota é resistente.

-QUEM OUSA?! –Gritou a oni virando-se para trás.

-Ousar? Como você ousa entrar nos domínios de Tai assim? –Falou convencido.

-CALE-SE! SHIBUGARASU! –Falou chamando novamente a criatura.

-Já era tempo Inu-Yasha! Mandamos chamá-lo há uma hora! Onde estava?! –Perguntou aflito Tai.

-Bah! O que esta acontecendo aqui?!

A ave foi em direção a Inu-Yasha, este deu um salto evitando o golpe, acabou pousando na frente do pai e da velha sacerdotisa.

-Inu-Yasha não a deixe matar Kagome!

-Quem?

-A garota. –Disse Tai apontando para ela.

-Mas...

-Essa é a Yura. Ela veio roubar a espada sagrada, ninguém esta em condições de lutar contra ela... Ela é perigosa, por favor... Resgate Kagome!

-Um oni... Essa ai vai ser moleza! –Disse sorrindo –Eu vou pegar a garota, mas também vou me divertir um pouco!

-Eu ouvi isso garoto... –Disse Yura – Shibugarasu... Vá!

-Eu, Inu-Yasha, príncipe desse reino, vou derrotar você por ter invadido as terras de Tai! -Disse saltando. Rapidamente retirou uma espada da cintura. Ele girou noventa graus dando um golpe vertical, mirando na cabeça da oponente.

-Você é ignorante! Usar uma espada não vai adiantar! Eu sou uma oni!

-Hump! Pelo menos é mais forte que os humanos fracos.

-Comparando-me com os humanos... Garoto, além de ignorante, também é estúpido.

-Cale essa boca imunda! –Disse avançando mais uma vez –GARRAS RETALHADORAS DE ALMAS!

O ataque de Inu-Yasha havia destruído o braço dela, ele sorriu, vitorioso.

-Idiota! Você é um hanyou, não? Nunca conseguirá me matar... Pouparei sua vida se me der o que quero! Hum... -Disse aproximando-se dele –Mas também vou ficar com seu cabelo, é muito mais bonito do que o desse lixo –Disse enquanto jogava Kagome longe –O cabelo dela está sujo de sangue... E a jóia dela não me interessa! Eu quero você!

-O qu...

Yura deu uma volta ao redor de Inu-Yasha, ele sentia-se preso por algo, não podia mexer-se.

-Apenas com um braço posso controlar minha trama de cabelos perfeitamente. –Disse enquanto apertava- o mais.

-Cabelos?

-Pessoas comuns não conseguem ver. Não me sinto surpresa ao constatar que um ser ignorante como você não consegue ver.

-Droga... Mas como?! Não há sangue saindo de seu braço, nem de seu buraco na barriga...

-Tolo –Disse séria –Você nunca perceberia.

Tai assistia com muita aflição e dor seu filho lutando, Inu-Yasha não racionava enquanto lutava, ele queria ser forte e somente lutar.

-Kaede-san... Inu-Yasha, tem que pará-lo!

-Não posso fazer nada... Ele nunca vai descobrir como destruir Yura! Nem sair dali. Ela o prendeu com seus cabelos.

-Destruí-la... Como?

-Não sei ao certo. Não sinto muitos pontos de vida fluente no corpo dela. Teríamos que pulveriza-la para acabarmos com ela.

-Pulveriza-la? –Tai respirou fundo e deu um passo a frente.

-Senhor que irá fazer?

Não ouve resposta.

-YURA! Quer enfrentar um oponente de verdade?

Ela virou a cabeça e viu lá, o senhor Tai com uma expressão de fúria, seus olhos cintilavam de raiva, a dourada da íris ia, aos poucos, tornando-se avermelhada.

-Ora! O senhor rei! –Disse com um discreto sorriso –Finalmente, vai entregar a espada?

-Não... Largue-os.

-Largar?

-Não se faça de tonta! –Disse enquanto começava a brilhar.

Seu corpo aumentava, uma luz saia de seu corpo, ele tinha olhos vermelhos intensos e a aparência de um cachorro gigantesco. Havia uma meia-lua em sua testa.

-Não pode ser! -Esbravejou Kaede olhando o céu, de repente, começava a escurecer, o sol dava lugar a meia lua. Seu brilho era magnífico, misterioso -A meia lua... SENHOR TAI!!! VOLTE A SI! VOCÊ NÃO PODE LUTAR AGORA! SENHOR TAI!

Ele não ouvia, estava anestesiado pela magia da lua. A meia lua em sua testa brilhava, acompanhando a do céu. O youkai rugiu e caiu um raio com um poder magnífico, esse raio caiu bem em cima de Yura.

Continua....