Cap 9- O espelho
A fina garoa caia havia mais de duas horas, os dois viajantes trêmulos de frio e cansaço irritavam-se profundamente com as condições do tempo. Estavam em péssimas condições, olheiras contornavam seus olhos e a palidez tomava conta de suas peles enquanto a chuva misturava-se com o suor. Apesar de tudo carregavam expressões ansiosas, mas ainda sim demonstravam irritação, principalmente por parte de Inu-Yasha.
-Tem certeza que é por aqui garota?
-Claro! –Respondeu nervosa –Eu tenho absoluta certeza!
-Foi o que disse anteontem –Respondeu ironicamente.
-Feche essa boca Inu-Yasha! Errar é humano!
-E quem disse que eu sou humano?
-Metade de você é! E ainda por cima erra por nós dois!
-O que voc...
-Cale-se! Precisamos descansar –Falou ofegante –Nem os animais agüentam mais...
-Bah! Humanos fracos!
-Vou considerar esse "bah" como um "tudo bem". –Respondeu com um meio sorriso nos lábios.
Os dois após amarrar os animais avistaram uma árvore, contente Kagome foi rapidamente relaxar sentada debaixo da árvore se apoiando no tronco. Inu-Yasha olhou discretamente e pulou em um galho e lá repousou sua cabeça fechando os olhos.
A sacerdotisa cruzou os braços e foi escorregando lentamente, até sentar abraçada aos joelhos para espantar o frio. Podia ouvir o som da garoa chocando-se com a folhagem misturado ao doce aroma de terra molhada, isso a relaxava e fazia sentir-se em paz.
Guiada por um instinto tocou a pedra que a mãe de Inu-Yasha havia dado para ela, apesar do clima a pedra era quente como fogo, sentia uma vida pulsando lá dentro, era como se ouvisse um coração batendo.
-Coração... –Suspirou apertando a pedra cada vez mais forte entre seus dedos.
Sentia-se segura, como se aquilo a protegesse, era uma sensação estranha, porém sentia-se bem ao toca-la, olha-la a tranqüilizava, era como se alguém afagasse sua cabeça sussurrando que tudo iria acabar bem.
A água continuava a cair quando adormeceu, o cansaço havia a vencido. Todos os pensamentos haviam dissipado-se de sua cabeça e as preocupações não existiam mais na longínqua e tranqüila terra dos sonhos, a terra onde sua felicidade seria eterna. Logo sua respiração tornou-se lenta e pesada apesar do belo sorriso em seus lábios enquanto a ponta de seus finos e delicados dedos tocava a pedra.
-Ei garota!
Ela abriu os olhos mau-humorada o fuzilando com o olhar.
-O que é Inu-Yasha? –Respondeu num tom nada amigável.
-Não durma ainda! –Disse pulando –Olhe! –Apontou para o céu –Já ouvi falar neles...
Ela olhou para o céu tentando localizar aquilo que havia atrapalhado seu sono, era uma mancha negra que se aproximava, olhou mais atentamente tentando identificar aquilo forçando sua vista, então arregalou os olhos levantando-se apressada.
-São youkais... Espectros da morte. Vamos embora! Temos que desaparecer até eles chegarem!
-Maldição! –Rosnou.
Ela olhou-o seriamente, não tinham tempo para discutir. Os espectros levavam a morte todas as almas que não estavam protegidas por algum tipo de feitiço, lacradas ou pessoas, hanyous e youkais que não tinham medo da morte, ou estavam preparadas para enfrentar o que fosse.
-Tem uma pequena trilha ali. –Apontou Inu-Yasha contrariado.
-Ótimo! Mas temos que correr. –Falou preocupada.
-Você não é uma Miko? Não pode enfrenta-los?
-Eu poderia salvar a minha alma... Mas a sua não tenho certeza.
Ele a olhou surpreso, claro que esperava que a garota não gostasse dele, mas se recusar a salvar sua alma era um absurdo, afinal antes de tudo ela tinha deveres religiosos.
-Por que?
-Você não deixaria... Teria coragem de entregar sua alma, seu coração e suas emoções para mim, mesmo que rapidamente?
Virou-se montando no cavalo, tinha conseguido deixar o jovem príncipe confuso mesmo sem perceber.
"Teria coragem de entregar sua alma, seu coração e suas emoções para mim, mesmo que rapidamente?". Aquelas palavras ecoavam em sua mente perturbando seu coração.
Subiu em seu cavalo também e cavalgou ao lado de Kagome. Não sabia a resposta para aquela pergunta complicada e de certa forma profunda, nunca tinha feito isso, entregar sua alma para outra pessoa, não confiava nela o suficiente... Mas falando a verdade não confiava nem em si mesmo, não confiava em algumas de suas decisões, muito menos em seu coração.
A floresta tornava-se mais densa e a trilha mais estreita a cada centímetro, o terreno ia tornando-se muito irregular e pedregoso. A vegetação rasteira era maior à medida que avançavam, os animais tornavam-se mais temperamentais, insistindo em parar ou regredir. As árvores tornavam-se mais escuras e o ar umedecia, espinhos e galhos afiados começaram a tornarem-se constantes, até que avistaram uma pequena clareira.
-Fim da linha. –Comentou Inu-Yasha ao avistar o fim da trilha.
Kagome suspirou de desgosto, estavam encrencados... Agora não tinha mais jeito, era voltar e orar para ter outro caminho livre dos espectros ou ficar e esperar a morte.
-E agora? –Perguntou examinando o local com um pouco de medo dominando sua voz.
Inu-Yasha olhou-a pensativo, de repente as maças de seu rosto adquiriram um tom rosado, atraindo a atenção da companheira.
-O que foi? –Perguntou confusa.
-Há um jeito...
Encabulado, o Hanyou virou-se e se ajoelhou enquanto colocava as mãos nas costas.
-Suba! –Disse contrariado.
Ela não entendeu muito bem a principio, olhava o príncipe como se ele estivesse fazendo algo incompreensível ou estivesse com problemas mentais, até que percebeu o que significava aquela posição, então corou arregalando os olhos:
-Não mesmo! Não vou sair daqui assim!
Ele a olhou de lado emburrado.
-Olha aqui garota! Ou sobe ou vou deixar você aqui!
-Mas e os animais? –Falou apontando para os dois cavalos.
-Bah! O que é mais importante? Vamos logo!
Ela tremeu levemente de raiva, cerrou os punhos e andou até ele.
-Minha vida é mais importante que isso. –Falou engolindo seco.
-Bah! Para que esse medo todo garota? Eu não vou te violar ou algo parecido.
Assim que subiu nas costas do parceiro foi surpreendida por um salto rápido. Tremia levemente e tinha os olhos fechados, o apertava com mais força que o normal, definitivamente não gostava desse modo de se locomover.
Inu-Yasha olhou com uma certa desconfiança, não era comum esse tipo de reação nela, normalmente era firme, sua postura ereta e seus olhos bem abertos...
-Será...? –Sussurrou divertido de modo que ela não conseguiria ouvir.
-I-Inu... Inu-Yasha... Você poderia saltar um pouco mais devagar e não ficar planando tão alto?
Ele sorriu maléficamente.
-Então a implacável sacerdotisa Kagome tem medo de altura?
-Claro que não! –Negou furiosamente.
Chegando ao solo para pegar impulso saltou mais rapidamente, planando mais alto, fazendo com que ela sentisse um solavanco propositalmente.
-Não! –Gritou com uma voz aguda enquanto o apertava mais.
O meio youkai riu, sim, ela tinha medo de altura.
-Quem não tem medo de altura aqui? –Perguntou.
-Cale... AH! –Exclamou enquanto ia para o ar novamente, porém dessa vez quase o estrangulou.
-Solte! –Mandou –Se eu morrer aqui no alto você cai!
Ela o olhou num misto de raiva e pânico, ele não tinha o direito de humilha-la daquela maneira. Mesmo sendo uma miko tinha seus medos, o de altura era um deles, na verdade o pior. Poucos sabiam dele, e a pessoa que menos gostaria que soubesse caçoava dela.
-Quando estivermos no chão... –Falou ameaçando-o.
-Quando estivermos, ainda não estamos! –Riu.
Ele pulou mais alto para provoca-la, sabia que quando fazia isso (apesar da dor causada pelas mãos dela) ficava nervosa, eram nesses momentos que a via como uma garota normal, sem poderes ou missões extraordinárias. Isso o fazia sentir-se bem, eram nesses momentos que podia esquecer da sua imagem imponente e de seus problemas, de certa forma apreciava a companhia dela quando era sincera e não algo forçado, como essa missão. Tinha quase certeza de que se ela pudesse estaria junto a Kaede e seu clã de mikos.
-Pare com isso Inu-Yasha! Não é justo!
Dessa vez alem do salto deu um loop fazendo-a tremer.
-O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?!
-Saltando –Respondeu inocente.
-Pare com isso! –Falou puxando suas orelhas.
-AI! –Gemeu enquanto pousava –Sua louca!
-O que foi? –Respondeu sarcástica –O principezinho não gosta que toquem nas suas orelhinhas?
Ele somente rosnou continuando o caminho. Teria vingança, depois de pegar o impulso suficiente deu um giro de cento e oitenta graus tirando dela um grito e pavor.
-Está gostando do passeio? –Perguntou irônico.
-Espere até pousar engraçadinho... –Disse enquanto o abraçava mais forte.
-Esperarei implacável sacerdotisa Kagome. –Respondeu sarcástico.
-Então você sabe... –Comentou enquanto permitia que um sorriso moldasse seus lábios.
-Hã?
-Meu nome. Pensei que não sabia... Já que sempre me chamou de "garota", "você"...
-Bah! Pare de falar besteiras garo...
Num ato inesperado ela tocou levemente os lábios dele com as pontas dos dedos selando-os, fazendo o rosto dele enrubescer.
-É Kagome, Ka-go-me.
Ele sorriu levemente, sua franja cobria seus olhos dourados não permitindo ver o quanto expressivos estavam, então repetiu num sussurro:
-Kagome.
***
O pequeno lago brilhava intensamente, entretanto existiam correntes do vento frio e cortante. Um youkai de cabelo dourado e olhos negros penetrantes fitava a superfície da água com paciência.
-Isamachii? –Perguntou Naraku saindo das sombras.
-Olá Naraku-sama. –Cumprimentou virando-se rapidamente.
O homem que trajava a pele de babuino se aproximou do lago, tocando levemente as águas.
-Com previ está fazendo um ótimo serviço. –Falou orgulhoso –Mas quando ficará pronto?
A face de Isamachii adquiriu uma expressão de preocupação.
-Não sei... O senhor sabe que minha fonte de energia está acabando, mandei o Kuru arrumar outra, mas esse... –Deu um longo suspiro de lamento antes de continuar –Deve estar se engraçando com alguma moça por ai... E cada vez estou perdendo mais energias, além do mais minha fonte está com o espelho.
-Entendo... –Pegando um frasco no meio das veste estendeu para ele –Tome isso... É energia branca pura... Essência da energia, não vai encontrar muita coisa mais pura que isso.
-Muito obrigado mestre! Nem sei como agradecer! –Falou sorrindo.
-Então vá atrás da sua fonte, quero que a mate e claro... Pegue o espelho. Acho que um pouco depois que tomar a essência vai acabar com a espada oni num piscar de olhos –Falou estalando os dedos.
***
-Você me paga Inu-Yasha! –Disse enquanto colocava seus pés em terra firme, ainda tremia um pouco, mas nada que não conseguisse recuperar.
Ele olhou-a divertido, mesmo que não admitisse começava a aceita-la.
-Você ainda vai perder esse medo bobo.
Ela olhou-o por um segundo com carinho, afinal de contas tinha sido de certa maneira divertido.
Estavam bem longe dos espectros, mas mesmo assim aceleraram o passo, a estrada ia se alargando e as árvores não forneciam mais a sombra de tão poucas. Logo entraram na rota de comércio cheia de seres humanos que olhavam desconfiados para o hanyou, estranhando o fato dele estar ao lado de uma sacerdotisa.
Inu-Yasha estava odiando a estrada. Era esse o motivo de pegarem um caminho mais afastado para sair dos domínios do castelo, não gostava sentir o olhar dos humanos nele, de certa forma os pensamentos deles o estraçalhavam como mil espadas. Ouvia os cochichos, sentia o ódio deles em sua pele.
Kagome também podia sentir os olhares sobre eles, afinal não era comum verem uma miko e um hanyou andando juntos numa estrada movimentada.
-Inu-Yasha. –Parou-o Kagome repousando sua mão no ombro dele.
-Hã?
-Sinto uma energia estranha vindo de você... Eu entendo.
As pessoas passavam por eles, porém não se moviam. Inu-Yasha escondia um leve rubor na sua face.
Ele olhou diretamente nos olhos dela, tinha uma expressão triste, porém sorria melancolicamente.
-É pena...? O que você sente é pena? –Perguntou inexpressivo.
-Não! Pena é um sentimento que você não merece... Entre as várias emoções que sinto por você posso te garantir que pena não é uma delas.
-...
-Eu não me importo. –Disse firme –Hanyou, Youkai, Humano... Não importo com o que você seja, você se importa?
Ele arregalou os olhos dourados por poucos segundos, balançando negativamente sua cabeça sentindo o olhar dela o fitando.
-Que bom! –Sorriu –O que importa não é o que está aqui. –Disse tocando levemente o rosto dele –É o que está aqui –Disse apontando para o coração dele –Vamos! Levante esse rosto!
Ele estava confuso, o que ela queria com tudo aquilo? Ela estava sendo tão doce...
-Vamos Inu-Yasha! –Disse enquanto estendia sua mão para ele –Afinal você não esta mais sozinho para enfrentar as coisas!
Ele a olhou nos olhos, estava sendo sincera ao tentar anima-lo, os olhares dos outros aumentavam, mas realmente não ligava.
-Vamos... –Respondeu com um meio sorriso.
-Não pense que eu te perdoei! –Disse piscando um olho em forma de brincadeira.
"Apesar de tudo ele tem um coração... Frio, mas é um coração" Pensou Kagome.
-Conhece o feudo? –Perguntou enquanto entravam num vilarejo.
-Não. –Respondeu o Hanyou –Estamos indo a direção do litoral, eu nunca segui esse caminho.
Os olhos da garota brilharam, ela sorriu por pura felicidade e ansiedade. Litoral... Como gostava de lá, foi a parte que mais havia apreciado de seu treinamento, o contato com a espuma branca das ondas, a água azul esverdeada com seu gosto salgado similar as lágrimas. A brisa leve e refrescante que o mar trazia e o luar prateado que mais parecia um véu havia cobrindo a região. O pôr-do-sol dourado parecia chamas dançando sobre a água junto a areia; um grande tapete de fogo.
-Certo. –Respondeu reconpondo-se.
Caminhavam pela pequena vila por algum tempo, os aldeões os olhavam receosos, porém mantinham a cabeça baixa e olhar submisso.
-Que estranho... –Disse enquanto observava a cidade –Está na rota de comércio... Mas não tem muita coisa.
-Deve ter alguma hospedaria... –Ele resmungou –Aquele prédio lá não parece uma?
-Talvez... –Disse insegura –Eu tenho um pouco de dinheiro, (N/a: não sei se no Japão feudal havia dinheiro... Mas como é um fanfic passa a ter... Desculpe, mas eu ainda não estudei história oriental muito bem ^^'''') mas muito pouco.
-Eu trouxe –Disse encolhendo os ombros.
Ela o olhou com reprovação.
-E se fossemos assaltados?!
-Eu não vou ser vencido por humanos garota!
-Existem youkais ladrões também hanyou.
-Ora sua... –Rosnou irritado –Você...
Ela suspirou jogando o cabelo para trás.
-Vamos logo Inu-Yasha, o que está feito está feito.
Assim que entraram na hospedaria a miko sentiu um intenso calafrio correr-lhe a espinha junto ao familiar aperto no peito. Fitou todo o ambiente a procura da sinistra energia que captava. Estava começando a sentir tontura e enjôo, era como se tudo girasse a sua volta. A energia era nova e estranha fazendo Kagome ficar naquele estado, pois nunca havia sentido isso na pele.
-Kagome?! –Inu-Yasha exclamou, pegando-a.
A voz dele era distante, com as mãos tremulas agarrou os ombros do rapaz, apoiando sua cabeça no peito quente do hanyou.
-Ela está bem?! –Perguntou uma voz feminina assustada.
-Que pergunta idiota! É claro que ela não está bem, não consegue ver?!
-Desculpe-me senhor... Irei conseguir um quarto para vocês.
Inu-Yasha grunhiu baixinho quando ela apertou mais o ombro levemente ferido fazendo suas orelhas eriçarem. Com esforço retirou as mãos dela de seus ombros a colocando no colo.
-Eu vou leva-los até um quarto... –Disse receosa –Er... Senhor esta mulher é uma miko?
Ele olhou para a garota desconfiado, o que ela queria?
-Por que?
-Por... Por nada... Eu só queria pedir aos senhores não entrarem da ala sul... Er... Estamos em reformas.
-Certo... Mas por que o interesse de saber se ela é miko ou não?
A garota tremeu.
-Bom senhor, tem água e ervas no quarto para cuidar dela... –Tenha uma boa estadia. –E correu.
-Garota estranha. –Disse entrando no quarto.
***
Ela ria enquanto corria livremente pelo campo embaixo do céu estralado, até que parou cirando-se pelos calcanhares desabando no chão coberto por uma vegetação rasteira.
-Você não vai acordar Kagome?
Ela virou a cabeça encontrando uma bela mulher a fitando.
-Você de novo?
A mulher suspirou.
-Sim, mas parece que não esta com medo de mim, não é mesmo?
Kagome riu tirando uma das mechas de seu rosto, voltando a observar o céu.
-Eu sou você não é mesmo? Mesmo sendo você que possuiu meu corpo daquela vez.
A mulher arregalou os olhos, mas acabou sorrindo também.
-Você tem que ir... O verdadeiro inimigo se aproxima. –Disse séria.
Kagome ficou séria também e respondeu fechando os olhos.
-Eu sei... Aquela presença foi um aviso, não é?
-Sim.
A garota voltou a sorrir, virou-se de brusso apoiando-se pelos cotovelos, olhando a noite balançando os pés graciosamente.
-Eu já vou... É que a noite está linda.
-Você está dentro da sua alma. –Respondeu seca.
-E daí? –Disse ficando emburrada, similar a uma criança -A noite esta linda do mesmo jeito... Mas você ainda não me disse quem é?
-Ainda não pode saber... –Disse enquanto desaparecia.
-É –Disse se espreguiçando –Já está na hora de voltar... Mas a lua está tão linda...
Seu olhar tornou-se melancólico, mas ainda carregava um sorriso.
-Inu-Yasha... –Murmurou.
***
Acordou preguiçosamente em um futon iluminada apenas pela luz de uma vela, tentou levantar-se, mas sentiu um peso em seu colo. Era Inu-Yasha dormindo profundamente em cima de seu corpo, parecia cansado, olhou para mão dele e viu que estava agarrando um pequeno pedaço de pano, como o que havia em sua testa.
"Eu estive tão mal assim?" Pensou preocupada "Quanto tempo será que dormi?".
O hanyou balançou levemente as orelhas abrindo os olhos dourados. Percebendo que ela o fitava levantou-se rapidamente se recompondo.
-Está melhor?
Ela afirmou com a cabeça sentando-se.
-Quanto tempo dormi?
-Uma hora ou duas... Não sei te dizer direito.
Deu um suspiro de alivio, enquanto penteava o cabelo com os dedos, alisando-o.
-Essa hospedaria é estranha... Tem uma energia estranha.
-Você é paranóica. –Concluiu o hanyou enquanto lavava o rosto numa bacia.
Fuzilando o companheiro com o olhar continuou.
-Eu não sou paranóica... Até "ela" sentiu.
-Ela?
Corou virando o rosto.
-Esqueça...
-Eu disse. É paranóica.
-Paranóico é o seu nariz –Sussurrou para si mesma –Tem algo para comer? Estou com fome... –Disse massageando a barriga.
-Bah... Era só o que me faltava... Uma miko-esfomeada.
-Eu não como faz muito tempo! –Defendeu-se.
-Só não abuse... Não esqueça que sou EU que estou pagando tudo.
-Desde quando?
-Desde quando eu tenho o dinheiro e você não.
-Egoísta.
-Esfomeada.
Ela suspirou mostrando impaciência.
-Tem algum espelho? Preciso me arrumar direito.
-Já melhorou é? Estava com febr...
-O espelho. –Disse cortando a fala dele.
-Está aqui. –Entregou –De nada –Falou emburrado.
Quando ela tocou os dedos do espelho sentiu um estranho choque, era como se alguém tivesse tirando algo dela. As pedras azuis brilhavam enquanto o espelho refletia sua face com inúmeras cicatrizes e hematomas. Sentiu um enorme aperto e suas mãos começaram a queimar num fogo negro e quente, soltou um grito de dor, até que sentiu estar sendo chacoalhada.
-KAGOME!
Ela piscou por alguns segundos olhando as mãos novamente, estavam intactas, mexeu-as lentamente e olhou-se no espelho, seu rosto estava normal, fora as pequenas olheiras e alguns fios de cabelo fora do lugar, não existiam pedras azuis na borda, só um bambu bem trabalhado. Não havia nada de errado..
-O que foi agora? –Perguntou Inu-Yasha.
-Nada... –Disse terminando de se arrumar.
"Será que ele tem razão? Eu estou paranóica?" Pensou.
O hanyou levantou-se primeiro indo até a porta.
-Você não vem? –Perguntou impaciente.
-Você vai? –Perguntou desconfiada indo até ele.
-Vou. Também tenho fome... Ou pensa que não tenho necessidade de comer?
Ela balançou os ombros andando para a recepção, não ligava, afinal não era ela que pagava mesmo.
De repente Kagome parou no meio do caminho. Olhou a sua direita, era um corredor frio e escuro.
-A moça da hospedaria disse para não ir por ai Kagome. –Advertiu Inu-Yasha ao ver o olhar da companheira focado no corredor.
Uma energia de padrões anormais vinha daquele corredor.
-Mas...
-Vamos!
Ela suspirou seguindo-o, já que não tinha muita opção. Continuaram andando para a recepção, podia-se notar que a diferença desses e dos outros corredores era iminente, todos eram bem arejados e iluminados. E principalmente; nenhum deles emanava aquela misteriosa energia.
Sentiu como seu estomago girasse, era a aquela sensação que a energia causava nela, cerrando os punhos controlou-se, se fosse ficar assim toda vez diante de uma energia estranha não ia conseguir cumprir sua missão, e principalmente, salvar o pai de Inu-Yasha. Não sabia ao certo se o hanyou ainda pensava no pai ou nela como culpada de tudo, mas relembrar de um dos objetivos a fez sentir-se mais sobrecarregada, talvez porque de certa forma era culpa dela que o pai de Inu-Yasha estava naquele estado.
Culpa. Será que Inu-Yasha ainda a odiava como via em seus olhos quando estava no castelo de Tai? Talvez sim, talvez não, mas pelo menos ela a chamava pelo seu nome.
Um novo arrepio correu sua espinha, mas dessa vez era bom. Surpreendentemente ela gostava de ouvir seu nome pronunciado da boca dele, ouvir a voz dele junto a seu nome era gostoso e agradável.
-Kagome! –Disse ele irritado como sempre.
-Sim?
-Que droga de garota... Faz um século que eu estou chamando sua atenção.
-Exagerado. –Sussurrou.
-Você quer o seu arroz com carne de porco ou peixe?
-Peixe. –Disse amavelmente ao ver a garotinha assustada que provavelmente estava recolhendo os pedidos, ao ouvir o novo tom de voz da sacerdotisa a pequena sorriu.
-Certo... –Ela disse –Já volto!
-Bom mesmo –Rosnou o Hanyou, não gostava de lidar com humanos.
-Inu-Yasha! –Repreendeu.
Ele estava com aquela cara de emburrado sempre, era incrível como uma pessoa podia estar de mau-humor a maior parte do tempo e tinha a capacidade de estourar tão rápido.
-Bobo! –Riu.
Brincou com os dedos por alguns minutos, até que de repente sentiu como se algo a cortasse, ou perfurasse seu peito.
Vinha da ala sul.
Num baque levantou-se deixando o Meio-youkai confuso.
-Já volto! –Disse simplesmente.
-Onde você...
Mas ela não ia responder, tinha corrido para a ala sul, aquela sensação a incomodava profundamente, agora tinha certeza... Aquela energia era realmente diferente.
Virou a esquerda e subiu as escadas, era como se um alarme no seu cérebro apitasse em tom agudo a avisando que ali havia lago errado.
Sim... Algo estava muito errado.
***
Com violência pegou uma das tochas no corredor anterior a ala sul, mesmo sendo uma miko ainda não conseguia enxergar no escuro, certamente tropeçaria ou entraria em algum lugar errado.
O corredor era frio, mas não era por causa do tempo, era pela energia macabra. Algo extremamente negativo que "sugava" suas energias como um grande buraco negro, o que realmente parecia, já que mesmo com a tocha parecia estar num enorme breu.
A parede parecia que ia se desintegrar a qualquer momento. A madeira estava podre e haviam fungos por todos os lugares, seus passos iam em direção a misteriosa energia, mas parecia que aquele corredor não acabava nunca. Olhava disfarçadamente para os lados, estava começando a se assustar de verdade, seu coração batia cada vez mais forte, parecia que a qualquer momento rasgaria seu peito. Entretanto era burrice e ignorância sentir medo naquele momento, já que como aparentemente ninguém habitava aquele trecho, estava muito vulnerável.
Mas o corredor acabou com uma porta. Era o fim, era dali que vinha toda a energia maligna e pesada. Colocou sua mão na frente do rosto, era muita energia, uniu os dedos fazendo com que uma aura rosada contornasse seu corpo, assim a porte abriu-se automaticamente como se um vento extremamente forte a empurrasse.
-O que!? –Exclamou.
Tamanha foi sua surpresa quando encontrou deitada no chão uma garota. Cabelos negros até cintura e a pela pálida, levou as mãos à boca para impedir que um grito escapasse.
-Então era isso que escondiam... Mas por que? –Falou ainda em estado de choque.
Examinou melhor o cômodo, tremia levemente, porém literalmente parou quando viu o que a ponta dos dedos da garota tocava.
A mesma borda com pedras azuis e o brilho sinistro, era aquele espelho que tinha "queimado" suas mãos no quarto, mas por que aquela garota estaria segurando um objeto como aquele? Rapidamente correu até ela ajoelhando-se na sua frente, seus olhos estavam fechados e os lábios semi-abertos, pegou o pulso dela, estava viva.
Suspirou aliviada, mas a garota estava gelada e sem forças, porém continuou examinado-a, os músculos estavam dormentes, isso significava que a garota estava deitada por muito tempo, então não podia estar cansada por ter feito algum esforço físico.
-Algo está sugando a energia dela... –Sussurrou.
Se surpreendeu com suas próprias palavras, imediatamente olhou para o espelho, sim, era ele que sugava a energia da pobre garota, ela estava por um fio, tinha que cortar esse ligamento entre ela e o espelho.
***
-Louca... –Murmurou o hanyou enquanto ainda olhava para o corredor perplexo.
-Aqui esta a comida senhor. –Disse a garota –Espero que goste.
-Claro... –Respondeu.
-E a senhorita que o acompanhava?
-Hum... Garota, para onde vai aquele corredor à direita?
-Para os quartos e... –Engoliu seco –Para a ala sul.
Inu-Yasha examinou o caminho feito por ela. O que ela poderia ter ido fazer no quarto? Absolutamente nada... Mas tinha a segunda opção... A ala sul.
-Não acredito... –Grunhiu.
-Senhor...?
-Pode ir garota!
-C-certo!
Ele comeu um pedaço da carne de porco rapidamente... O que passava na cabeça dela para ir a ala sul? Tinha sido avisada... Mas sentia como se tivessem pisando em seu peito, fitou a travessa de arroz e gemeu, pensava nela novamente.
"Se ela não voltar em dez minutos eu vou atrás dela... Algo está muito errado" Pensou, mas logo em seguida balançou a cabeça, enfiando outra fatia da carne na boca "Estou passando muito tempo com ela... Estou ficando paranóico também".
***
"O que eu faço?" Pensou quase se rendendo ao desespero "Como eu corto essa ligação entre ela e o espelho?!".
Olhou em volta, não havia nada que pudesse ajudar, apagou a tocha, isso a atrapalhava. Então notou que havia uma janela no quarto, pelo menos alguma luz. Não estava tão mau assim...
"Claro! É só quebrar o espelho!". Refletiu satisfeita, o único problema é que não havia nada em volta que pudesse ajudar a destruir o artefato.
Olhou para a janela novamente... Poderia arremessar, mas um objeto mágico ele não se quebraria com facilidade. Tentou aproximar-se, mas a energia era forte demais, protegeu seu rosto pegando um amuleto, a aura rosa contornava seu corpo novamente, o espelho começou a brilhar também. Respirou profundamente pegando o espelho, então o arremessou pela janela.
Voltou a olhar para garota, a qualquer momento sua energia pararia de ser sugada, pegou outro amuleto, pois o impacto com o chão poderia causar problemas devido a grande magia do objeto, então deveria estar preparada.
Porém nada acontecia.
Depois de algum tempo ouviu uma risada junto a palmas, estremeceu, então olhou para trás e viu uma figura com o espelho na mão, o balançando como se fosse um brinquedo.
-Ora ora... O que temos aqui? –Disse sádico –Muito bom sacerdotisa, mas receio que aqui é o fim.
Não precisava ser inteligente para perceber que aquilo significava perigo e uma grande enrascada.
Continua...
DESCULPAS!!!!!!
Demorou? Sim, eu sei, mas eu estava bloqueada e escrever tudo de novo é horrível (eu conheço casos em que o autor abandonou a fic quando isso aconteceu... Até pensei em fazer isso *o.O* mas num fiz... ta vendo como sou boazinha? ^__^
Agradeço as reviews Spooky e Aline! E pra compensar a sacanagem que eu fiz com vocês (sim... ao meu critério foi sacanagem o que eu fiz com vocês) esse cap tem 17 pags do Word, letra Times New Roman tamanho 12 e hum... 22.633 caracteres (acho q é isso ^^'''), acho que é o mais comprido da série, né?
Well.... Bom aqui está, né? Eu demoro, mas não abandono. E por favor, mandem reviews... Me cobrem.... Se não a "coisa" não anda... Bom, no próximo cap uma surpresa... O próximo guardião aparece... ^^ Esse vai ser mais rápido (já que vou ficar segunda sem fazer nada...) e talvez na semana que vem??? Quem sabe ^.~?
E claro, não revisei direito... Apenas minha revisão relâmpago XD
Reviews!!!!!!!! *apelando* sem elas eu realmente desanimo (apesar de não responder todas elas são importantes... E se realmente quiser um resposta minha coloque isso, sim?)
Bjão e boa noite (agora são 12:30pm)
Kiki
