Cap 10- Coração da pedra

(03/11/03)

Ela gemeu arrastando-se para a parede, logo estaria encurralada. Tremia loucamente enquanto seus olhos mostravam claramente o pânico que sentia e o nó em sua garganta aumentava junto com a agonia. O sorriso sinistro dele aumentava seu desespero, estava paralisada, não por danos físicos, mas pelo medo que agora havia conseguido paralisa-la, o medo havia tornado-a inútil e covarde, não que medo seja sinal de covardia, mas quando nos deixamos levar pelo medo sem enfrenta-lo acabamos sendo consumidos por este sentimento tão horrível que nos faz desistir sem lutar.

Tentou desviar dos olhos dele, mas era impossível, algo a prendia a aquele olhar, , olhou mais profundamente como se mergulhasse lá.

"Socorro" Ouviu em sua mente como um murmúrio distante.

Balançou a cabeça e voltou a olhar para frente, viu a garota e tentou se mover para salva-la, mas não conseguia. Então o espelho transformou-se numa lança afiada, sua lamina refletia a pouca luminosidade que existia lá. Com um só golpe a garota foi cortada em dois rapidamente.

Kagome arregalou os olhos levando as mãos a boca sentindo o liquido rubro hipnótico que banhava a barra de suas roupas e mão apoiada no chão que trazia aquele cheiro forte e enjoativo. Abraçou-se contendo o choro enquanto o sangue manchava sua roupa.

Tentou levantar-se, mas caiu dando lugar a uma agonizante risada do assassino.

-Você é patética! –Disse Isamachii.

Arrastou-se para a parede, tinha as mãos tremulas e frias, escondia os olhos lacrimejantes abaixando a cabeça resignada, realmente era patética, não conseguia mover um dedo, tinha entregado-se totalmente ao medo.

"Força garota!" Falou uma voz dentro de sua cabeça.

Balançou a cabeça fechando os olhos, era como se acordasse de um sonho ruim, então abriu os olhos recuperando a consciência sem mais os sentimentos penosos que tinha de si mesma. Fitou tudo ao seu redor sentindo o odor de sangue, porém tentou ignorar o pequeno incomodo olhando para o youkai que a observava, estava numa grande enrascada.

-Interessante... Está mais lúcida?

Grunhiu, estava numa grande encrenca, mas não podia perder o controle novamente, suas mãos tocaram levemente pedra que tinha ganhado da rainha e então sentiu uma sensação maravilhosa, a pedra era quente, sua textura não era lisa ou áspera e sim macia como a pele de alguém, tinha a estranha impressão de sentir poros da suposta pele, mas o que mais a surpreendeu é que a pedra parecia pulsar, era como se ela tivesse vida e aquele calor era parecido com o que Inu-Yasha emanava.

Inu-Yasha... Quando pensou nele seu coração bateu mais forte e seu rosto ficou levemente vermelho, porém seus olhos brilhavam intensamente como se estivessem e chamas. Essa chama a incentivou a continuar, se não continuava por ela tinha que fazer pelos outros, mesmo com as pernas dormentes conseguiu se reerguer dignamente com a determinação faiscando em seus olhos castanhos.

As chances de sobrevivência eram muito curtas se ficasse parada, mas ele parecia rápido e ágil, então fugir também não seria uma idéia muito boa já que corridas não eram o seu forte.

Apertou mais a pequena pedra procurando proteção, depois de sentir o calor reconfortante voltou a raciocinar, tinha que confiar em si mesma e em seus instintos de sacerdotisa.

"Muito bom garota... Agora deixe comigo" A voz em sua cabeça sussurrou novamente, sentiu os músculos relaxarem e um perfume envolver o ambiente, então fechou os olhos e quando os abriu novamente o olhar era outro.

O sorriso novamente dominou a face do youkai, já esperava por aquilo, com certeza a "outra" viria ajudar a garota. Agora que as coisas ficariam mais interessantes e melhores.

-Então veio ao socorro da garota... Kikyou?

-Acho que você que vai precisar implorar por socorro. –Disse sinistra.

***

-Droga... –Grunhiu.

Revirou os olhos olhando para o arroz que agora parecia tão pouco convidativo e voltou seu olhar novamente pelo corredor que a garota tinha acabado de passar.

Suas mãos estavam tremulas, olhou para os lados tentando se acalmar. E quem disse que conseguia? Estava preocupado com ela, era estranho, já que eles viviam discutiam, mas ela tinha uma luz, algo que aproximava as pessoas dela ao contrário dele que sempre estava recluso. Olhou novamente para o arroz e suspirou, seu apetite havia ido embora quando ela partiu.

As rugas começavam a se formar em sua testa, era irônico imaginar-se assim, poderia até rir se a situação fosse engraçada, mas não era o caso.

De repente ouviu um estrondo vindo de fora do estabelecimento e arregalou os olhos quando viu fragmentos de uma janela e dois corpos caindo no chão.

-Kagome...? –Sussurrou quando viu ela se levantando depois da queda.

Não, não era Kagome.

O olhar era diferente, o cheiro era levemente diferente e aquele modo de lutar não era dela.

Todos do estabelecimento corriam para fora assustados, especialmente a dona que estava em pânico.

-Idiotas... –Rosnou o youkai.

Ele se levantou com o rosto em fúria, quem era aquela sacerdotisa para derruba-lo? Colocou a mão na cabeça tentando aliviar a dor latejante e olhou furioso para aquela garota e da sua mão novamente estava uma lança. Deu um pequeno sorriso e virou-se rapidamente.

-Velha! –Disse para a dona do estabelecimento–Você é a próxima a morrer... Não disse para não deixar NINGUÉM entrar lá?

-Ma-mas senhor... A garota que foi tola! Eu avisei...

-E não tinha que impedir os tolos também sua idiota? –Ele sorriu docemente –Mas como sou bonzinho vou lhe presentear com um fim rápido... Um minuto sacerdotisa!

Apenas com um pequeno impulso ele voou para a dona do estabelecimento a cortando em duas partes.

Sentiu uma energia estranha, então olhou para o dono dos olhos dourados que tanto o encaravam e sorriu novamente mostrando todo o seus sadismo e sarcasmo.

-Você vai ficar quietinho ai! Depois eu acabo com você... Mas sei que você não tem paciência hanyou...

Olhou dentro dos olhos de Inu-Yasha jogando para ele toda a intensidade de seus olhar fazendo o hanyou tremer levemente enquanto seus olhos perdiam o brilho lentamente. Fechou-os e tentou dar um passo, porém não conseguiu, o maldito tinha o paralisado, sendo que até piscar era uma tarefa árdua.

-Ma... Maldito... –Grunhiu.

-Poupe sua energia... Aconselho a não falar. Assista a luta sem interferir, certo? Afinal não tem nada a ver com você hanyou.

-K... Ka...

-Oh não... Não vou matar a "Kagome"! Ela é de muita boa qualidade para ser desperdiçada.

"Desgraçado" Pensou enquanto fazia um esforço sobre-humano para se livrar daquele encanto, Kagome iria ser morta e ele não poderia fazer nada... Apesar de que não era ela, mas o corpo era o mesmo como já tinha presenciado ela se feria quando a "outra" se feria além de terem a mesma aparência.

-Agora sim! –Disse esfregando as mãos –Vamos poder lutar em paz! Só não brinque comigo sacerdotisa.

Ela não respondeu, somente o fitou com desprezo.

-Idiota. –Respondeu enquanto uma aura azul a envolvia.

Kikyou levitou alguns centímetros enquanto uma corrente de vento brotava do chão abaixo de seus pés. A corrente foi aumentando formando uma espécie de tornado em volta de seu corpo. Podia ver-se somente a silhueta dela, os olhos do Isamachii arregalaram-se em espanto quando a corrente cessou e a viu com algumas tatuagens em um azul brilhante de formas irregulares como se fossem pingos de tinta espalhados em um papel.

-Por que você não brinca com eles? Já que disse que não quer brincar comigo...–Falou sarcástica enquanto na sua frente se materializavam cobras.

Estalou o dedo e de repente todos as cobras estavam indo a direção ao youkai assustado, então elas abriram a boca mostrando as venenosas presas.

Ele repeliu algumas com sua lança junto a movimentos verticais.

-VOCÊ ESTÁ BRINCANDO DE QUE?! –Ele exclamou furioso enquanto surgia uma expressão pacata no rosto da outra.

-Acabar com o que me incomoda e com os "traidores", não é guardião? Sua lança não vai me ferir, afinal a relíquia não me fere, certo? –Falou tranqüilamente enquanto uma cobra o mordia.

Ele estremeceu sentindo mordida fatal do réptil, as presas entraram vagarosamente em seu braço rompendo sua carne enquanto traziam a dor latejante e penetrante, a tortura ficava mais intensa a cada instante já que o animal o penetrava lentamente deixando todo o seu veneno para ser inoculado nas profundezas da carne. Gemia de dor a cada segundo, normalmente isso não lhe causaria muito prejuízo, mas eram as cobras de Kikyou. Sentiu arder por dentro quando a primeira gota do veneno entrou em contato com seus músculos, era como se houvesse fogo o queimando de dentro para fora, a essa altura já estava tremulo e suando arduamente não sentia estranho se estivesse ardendo em febre já que seus olhos já estavam saindo de foco e sua respiração era mais lenta.

Tentou concentrar todas as suas forças em seu braço livre, Kikyou nunca suspeitaria da sua cartada final.

Era irônico, de certa forma era um guardião dela, porém havia de a traído. Não que se importasse com isso, somente sentia ódio de tudo que se referia aos guardiões, sabia que todo esse sentimento não tinha motivo para existir e se tivesse não lembraria, pois todas as suas memórias do passado foram apagadas completamente, somente sabia que Kuru era seu irmão e Naraku seu mestre.

Com a mão livre estrangulou a cobra que estava envenenando-o e deu um sorriso sinistro para Kikyou.

-Acha que já terminei?! Está muito enganada! –Falou enquanto cambaleava.

Pegou um pequeno vidro nas vestes e bebeu tudo que tinha no frasco em um gole só. Triturou com as mãos o vidro fazendo voar os cacos pelo local, Naraku tinha dado-lhe dois daqueles para uma emergência, era incrível, parecia que ele previa o futuro, sempre tinha um palpite ou conselho e raramente falhava. Ele não tinha mais o sorriso no rosto, a expressão era fúria pura, seus olhos demonstravam seus sentimentos com tamanha intensidade que chegavam a faiscar.

Ele desapareceu no ar deixando Kikyou confusa, depois de tanto tempo era cansativo usar aquele tipo de poder não estava tão boa quanto antes, já havia sido muitíssimo mais habilidosa que aquilo, porém não lhe sobrou tempo para lamentos idiotas, havia sido golpeada na nuca.

Seu corpo desabou no chão enquanto ele atravessava a barriga dela com a mãos.

Inu-Yasha olhava aquilo perplexo, a cena passava lentamente em sua mente, cada gota de sangue que saia do corpo dela, cada centímetro de seu corpo sendo penetrado e finalmente a queda dela no chão enquanto o liquido rubro alimentava a terra.

Seu corpo entrava em chamas, uma força começou a surgir de seu coração, então quebrou o encanto que o paralisava como se ele nunca tivesse existido, então conseguiu correr como bala para acudir a garota inconsciente.

Isamachii levantou os olhos e fitou o hanyou em sua frente e levantou-se com dignidade respondendo seco:

-Ela não morreu tolo... Mas será bem feito se morrer.

-Desgraçado... Maldito... COMO FEZ ISSO COM ELA?! –Falou avançando com suas garras.

-Ei... Calma! –Respondeu enquanto se desviava do golpe.

O coração do príncipe batia fortemente, seu olhar era feroz e ameaçador como o de um animal selvagem. O seu peito estava apertado com um turbilhão de emoções que tinham um único objetivo; proteger Kagome.

-CALMA?! Ela NÃO vai morrer! EU VOU PROTEGÊ-LA!

A pedra que Kagome tinha no pescoço brilhou intensamente enquanto levitava indo para perto de Inu-Yasha, dentro da pedra brilhava a palavra "Mamo" (n/a: mamo = proteger) em dourado.

A tentação de tocar aquilo dominava o hanyou, então pegou a pequena pedra ficando extremamente surpreso... O pequeno mineral que se encontrava preso entre seus dedos pulsava como um coração. A expressão "coração de pedra" era literalmente o que o mineral tinha, porém foi maior sua surpresa quando sentiu que aquilo pulsava ao mesmo tempo em que ele, as batidas dos "corações" eram da mesma intensidade e tempo.

"Isso é o meu coração..." Pensou sereno "Você também quer proteger Kagome?".

No lugar da pedra surgiu uma bainha contendo uma espada, arregalou os olhos assustado, a pedra havia dado uma espada a ele?

Prendeu a respiração enquanto sacava a arma, mas era somente uma espada enferrujada, o que isso poderia ajudar?!

-Vai me derrotar com um lixo destes? –Perguntou o youkai.

-Cale a boca!

Se era isso que seu coração tinha lhe dado, era isso que iria usar, com um impulso avançou contra o inimigo e então lança e espada se chocaram.

A terra tremeu levemente com o choque dos dois elementos fazendo que uma luz ofuscante surgisse como resultado do golpe, mas então Inu-Yasha viu que a "velharia" tinha se transformado numa gigante presa.

-Mas o que...? –Então sorriu ao ver o abobado Isamachii o fitando –Não vou te derrotar com uma espada velha então...

Lutava com uma habilidade que nunca tinha usufruído, os seus movimentos eram leves e rápidos como uma dança, porém o impacto era extremamente forte, a combinação dos movimentos era perfeita, era se como ele e a arma fossem um só enquanto lutava.

Preparou-se para aplicar outro golpe, então com extrema habilidade investiu contra o outro o ferindo seriamente. Ele caiu ajoelhado no chão apertando o peito com a dor estampada na face. O sangue começou a escorrer de seu corpo pelo ferimento e seus lábios enquanto ele se entregava.

Inu-Yasha não deu tanta importância e correu para Kagome, sua pele não tinha mais as tatuagens, agora era branca como giz destacando o filete de sangue que saia de seu braço frágil e o ferimento na barriga.

Inu-Yasha a tomou nos braços sussurrando o seu nome, será que não poderia fazer absolutamente nada para ajudá-la? Não sabia muito de medicina, por isso não podia fazer muita coisa a não ser estancar o sangue.

-Vamos garota... Seja forte...

E então viu algo brilhando na testa dela, rapidamente as cobras que haviam sido invocadas anteriormente estavam regenerando o ferimento para a surpresa do hanyou.

Suspirou aliviado enquanto viu os olhos castanhos se abrindo lentamente e sorrindo.

-Bom-dia, Inu-Yasha.

Arrepiou-se ao ouvir a voz leve e doce dela, não resistiu e acariciou seu rosto suavemente respondendo-lhe:

-Olá...

Porém ela parou e olhou para trás saindo dos braços de seu protetor e encontrou os olhos negros de Isamachii a fitando com raiva, porém não conseguia enxergar aquela escuridão e sim uma luz, um mar azul reluzente que se escondia naqueles olhos intensos.

-Ora seu... –Começou o meio-youkai.

-Espere! –Ela disse enquanto ia de encontro a ele.

Kagome andou calmamente até o youkai, ajoelhando-se em frente a ele, algo a avisava dentro de seu coração que não precisava teme-lo, ele escondia algo dentro daquele corpo.

-Quem você esconde ai dentro? –Sussurrou –Eu posso ver olhos azuis... De quem são esses olhos azuis que vivem dentro de você?

Acariciou o rosto dele afetuosamente para a surpresa dele e do príncipe, então reuniu seu ki em sua boca formando uma pequena esfera rosada, sentia que não era mais sua mente que agia, eram somente seus instintos e então se aproximou dele beijando-o deixando aquela energia passar para Isamachii.

Inu-Yasha ficou estático, não sabia se ria ou chorava. Quem poderia prever que ela faria aquilo? Por que ela faria aquilo?

Sentiu a raiva percorrer todo o seu corpo... Ele tinha quase a matado e ela ainda o beijava?! Seu sangue fervia junto com seu olhar em chamas, um estranho sentimento começava a brotar em seu peito, queria agarrá-la e triturar aquele youkai maldito. A sua vontade assassina era imensa, tremia e dava um pequeno sorriso ao pensar na tortura que poderia aplicar naquele atrevido.

Ela sentiu um calor percorrer pelo seu corpo enquanto seu coração disparava ao mesmo tempo em que um pequeno sentimento de culpa começava a se formar, lentamente se afastou dele vendo a aura rosada o contornar e então a transformação ocorreu.

De repente a pele clara se tornou morena e corada, o cabelo dourado começou a tornar-se negro, eram mais curtos, porém ainda caiam-lhe pelos ombros. Ele tornou-se mais encorpado e alto, o ferimento que ele tinha havia desaparecido por completo. Para surpresa da garota o azul predominava naqueles olhos que antes eram tão negros.

A expressão que ele tinha no rosto era de pura confusão, tinha acordado de um sono profundo e pesado, havia uma nova energia correndo por seu corpo, somente não sabia de onde ela vinha. Mas afinal, onde estava? Não se lembrava de ter estado naquele lugar, na verdade não se lembrava de nada, era como se tivessem feito uma lavagem cerebral permanente nele.

Por alguns segundos tudo o que ocupava a sua mente era uma imagem distorcida rodeada por uma espessa bruma, então gemeu sentindo uma enorme dor latejante em sua cabeça. Fechou os olhos e permaneceu deitado com a respiração acelerada tentando aliviar o que sentia, logo a respiração acalmou e então teve alguns pequenos flashs de memória. Imagens passavam lentamente em sua cabeça, podia visualizar toda a sua vida em pequenos segundos, estava começando a se lembrar de algumas coisas.

Podia ver muitos lobos correndo à sua volta uivando para a lua cheia e brilhante no céu, seu corpo se movia de forma harmoniosa permitindo que ele conseguisse correr muito rapidamente. Então a cena deu lugar a uma paisagem realmente bela, a grama verde cobria o terreno somente tornando-se escassa na beira da lagoa, dentes de leão e flores sortidas coloriam a paisagem junto ao seu límpido céu e ao sol com todo o seu esplendor e vivacidade. A paisagem mudou novamente, dessa vez era uma caverna úmida e fria, somente a fogueira aquecia aquele ambiente tão gélido, porém não estava só, haviam alguns homens distribuídos irregularmente pelo ambiente, eles riam, bebiam e comiam o farto banquete depois de uma maravilhosa caçada.

A cena mudou mais uma vez, porém ao contrário das outras visões que teve não esta lhe agradou muito, estava em frente a uma árvore frondosa e sentado em um galho baixo estava um sujeito escondido atrás da pele de babuino, essa imagem o fez tremer de ódio e raiva então abriu os olhos encontrando uma garota com uma expressão serena.

-Você...

Ela fechou os olhos respirando profundamente antes de abri-los de novo.

-Você é o que?

Ele a fitou confuso então se ajoelhou na frente dela com uma das mãos na cabeça e respondeu:

-Você me salvou? –Ele perguntou antes de tudo.

-De certa forma... Agora, quem é você?

Suspirando resignado respondeu sem resistência.

-Não há nada do seu interesse em mim.

Kagome andou em direção oposta a do sujeito e pegou a lança que se encontrava no chão, ao toca-la a arma transformou-se em uma pedra vermelha como o sangue, não precisava da caixa para saber que aquilo era uma das relíquias e que o seu dono era um guardião.

-Você é um guardião. –Ela respondeu se impressionando com o próprio tom de voz, já que estava com um pouco de medo e receio, mas algo a fazia continuar firme –É claro que saber quem é você me interessa, e além de tudo estava corrompido.

Todos os músculos de seu corpo tornaram-se rígidos novamente, como aquela simples garota sabia de tudo aquilo? Então a fitou, ela não era uma simples garota, vestia-se como uma sacerdotisa... Então riu, porém não havia alegria nenhuma em seu e riso e respondeu:

-Vou ser executado ou algo parecido?

-Não. Somente queria saber quem é.

-Meu nome é Kouga, youkai lobo das montanhas. Cresci como um príncipe lobo, mas depois desci aqui para perto do litoral para descobrir o mundo e fugir do meu dever.

A jovem franziu as sobrancelhas e perguntou:

-Fugir...?

-Por que acha que eu estava corrompido? –Ele sorriu –Me meti com o canalha do Naraku e acabei me tornando um servo, ele limpou minha memória... Quando vou ser julgado?

-Julgado? Eu sou uma guardiã, não posso julga-lo.

Kouga riu mais uma vez.

-Você? Somente uma guardiã? Não é possível, da forma como lutou... Nenhum guardião luta assim...

Kagome sentiu um calafrio correr-lhe a espinha, sabia do que ele estava falando, será aquela coisa tinha dominado-a novamente?

-EI! Estão esquecendo de mim? –Gritou Inu-Yasha indo a direção a eles.

-Naraku? –Perguntou a garota.

Ele fez uma carranca, porém respondeu.

-Ele quer a jóia... Não sabia?

-EI!!!

-Mas então... –Ela tremeu novamente.

-KAGOME!

Finalmente virou-se encontrando um Inu-Yasha furioso a sua espreita.

-Quem é esse? AH... Um guardião –Falou Kouga vendo a espada do hanyou –Então a profecia está se cumprindo... Vocês estão se reunindo... Mas é um hanyou...

O sangue do meio-youkai ferveu ao ouvir a palavra "hanyou", estremeceu levemente com uma incrível vontade assassina de partir para cima daquele idiota.

-Acho que devemos conversar lá dentro. –Disse Kagome com uma calma incrível–Está cheio de gente aqui...

***

-Não!

-Inu-Yasha... Se acalme!

-Eu NÃO vou aceitar que ele seja um de nós.

-Deixe de ser idiota...

Ele levantou-se emburrado batendo o pé.

-Eu não vou aceitar!

Kagome revirou os olhos apoiando-se no batente da janela.

-Está parecendo uma criança...

-CALE-SE!

Um brilho maroto surgiu em seus olhos enquanto virava-se encontrando o hanyou vermelho de raiva com o rosto em fúria.

-Mas não passa de um príncipe mimado...

-Ora sua... E você que o beijou? Não tinha que manter seus sagrados votos de castidade?

-Eu não o beijei! –Falou começando a se irritar –Por que isso incomoda tanto você?! Eu salvei a vida dele... E não reneguei meus votos.

-Claro... –Revirou os olhos –Que forma mais exótica de salvar a vida de alguém...

-Eu faria o mesmo com você!

Ele corou o que deixou seu rosto mais vermelho do que já estava. Olhou para a sacerdotisa que tinha o semblante mais plácido, o que ela queria dizer com aquilo? Então gaguejou tentando falar com ela.

-V-Você...

-Eu também salvaria a sua vida se fosse preciso. –Respondeu naturalmente.

Inu-Yasha abriu a boca, porém suspirou e tornou a ficar quieto, por fim respondeu:

-Bah! Não dá para discutir com você...

-Eu não estava discutindo com você... Era o senhor que estava implicando comigo!

-Bah! Que seja...

Kagome somente sorriu divertida, não adiantava dar continuidade para as brigas que tinha com o hanyou, afinal nunca chegavam a lugar algum e sempre saia exausta, pois ele era um cabeça dura orgulhoso e sempre achava argumentos para continuar.

Então Kouga entrou apressado no quarto com um aspecto nervoso, a sua cabeleira negra não lhe caia mais pelos ombros, agora estavam presa em um rabo de cavalo alto e em sua testa havia uma faixa. Vestia um tipo de roupa de couro não curtido presa por uma pequena faixa na cintura e ia até o meio de suas coxas, a parte de cima não tinha mangas e a pedra que continha sua relíquia estava pendurada em seu pescoço. Carregava uma espécie de bolsa indicando que partiria logo.

-Você vai embora? –Perguntou a confusa garota.

-Não posso perder muito tempo aqui... Consultei algumas pessoas conhecidas na região que me informaram coisas muito ruins.

-Mas...

-Kagome –Ele falou sério –Eu vou indo à frente, quero me certificar de uma coisa... Mas eu voltarei... Serei eternamente grato a você! –Sorriu novamente –Por isso irei voltar.

A carranca de Inu-Yasha aumentava a cada minuto, aquele lobo atrevido... Suas orelhas mexiam-se freneticamente demonstrando nervosismo, odiava quando aquele idiota estava por perto. Ele era metido, atrevido, orgulho e principalmente; fedia a lobo sarnento e molhado.

-Claro. –Ela disse sem graça –Afinal precisamos de todos os guardiões reun...

Mas foi interrompida por um beijo do youkai lobo, arregalou os olhos estufando o peito enquanto sentia os seus lábios encostando nos dele, suas bochechas coraram furiosamente enquanto sentia o braço dele a puxando pela cintura para mais perto. Se não estivesse em estado de choque teria o empurrado para longe, mas tinha sido pega de surpresa.

Inu-Yasha ficou vermelho até as orelhas enquanto seus olhos dourados estavam arregalados, estava estupefato... Como ele tinha a coragem de tocar nela? Se não estivesse tão surpreso teria o assassinado.

Ele se afastou dela com uma expressão calma.

-Você será minha. –Falou decidido – Mas agora realmente tenho que ir... –E saltou pela janela.

Kagome continuou ali chocada, o que estava acontecendo? Seu coração batia forte, mas não havia sentido nada positivo com aquele ato dele.

Inu-Yasha virou o rosto bufando, pisava duro no chão, então bateu a porta do quarto e saiu deixando a garota sozinha.

***

A sombra da árvore era deliciosa, mas não combinava com o seu estado de espírito, estava nervoso e perturbado e as coisas misturavam-se em sua cabeça o deixando confuso e irritado, não era para estar assim... Nem sabia direito o motivo de estar tão abatido, pura mentira... Na verdade sabia, porém o seu orgulho impedia de revelar a causa.

Seu coração estava extremamente confuso, por que aquele lobo tinha o deixado tão nervoso? Não devia importar-se tanto com aquela garota, e temia muito o novo sentimento que estava se formando, afinal não era para estar assim por uma garota, não queria se importar tanto, tudo o que ela fazia ou deixava de fazer era problema exclusivamente dela e não era da conta de ninguém, mas sofria tanto com a lembrança daquele lobo ridículo pressionando os seus lábios contra os dela o que não era lógico.

Balançou a cabeça, isso não era coisa dele, nunca havia se importado muito com as ações dos outros... Ma o que sentia... Seria ciúme? Logo ele que repudiava esses sentimentos idiotas e sem fundamento.

-Ei... Inu-Yasha...

Nem precisou se mover para saber quem era, somente fechou os olhos voltando para a posição de "Buda" e perguntou secamente:

-O que é?

Sentiu que ela tinha fraquejado, então ouviu seus passos e finalmente sentiu o cheiro dela muito próximo, quando abriu os olhos viu que ela o encarava.

-Baka! Eu não quis aquilo...

-E quem disse que eu me importo?! –Respondeu grosseiramente enquanto virava o rosto.

-Se não se importassem, baka, não estaria assim.

-O que você veio fazer aqui garota?

Kagome revirou os olhos suspirando, então continuou:

-Eu NÃO gosto dele.

-Por que está dizendo isso para mim? Diga para ele...

Ela balançou a cabeça enquanto levantava tirando a grama de suas vestes.

-Baka... Bom, vamos arrumando nossas coisas? Quero ir embora...

-Para encontrar com o lobo fedido mais rápido? Que lindo romance... –Completou sarcasticamente.

-Não. Para terminar com tudo isso mais rápido...

-Bah... Faça como quiser.

Dando um ultimo olhar para ele partiu lentamente.

A vigiou enquanto andava até o final, seu olhar era triste, o que estava acontecendo com ele? Pousou a mão na nova espada como se buscasse forças, podia sentir a fraca pulsação da arma apesar de não tão forte era do mesmo ritmo da dele.

Levantou-se novamente, iria até o quarto arrumar suas coisas, não adiantava perguntar coisas que não sabia e não queria descobrir agora, a única coisa que queria colocar na mente era salvar o seu pai, mas era impossível, pois agora outra coisa, ou melhor, pessoa domina seu pensamento.

Continua...

N/a: Olá à todos!

*Kiki mais animada* Espero que tenham gostado do capítulo, ufa... Estou até meio cansada, esse (apesar de não parecer) deu trabalho! Mas valeu a pena (espero... ^^')... Eu estava ansiosa para escrever esse capítulo, pois finamente temos inicio a um pouco de romance, porém não irá ser sempre assim...

O próximo cap sai logo! Já que (pela primeira vez!) já o tenho todo visualizado na cabeça...

A história está ficando cada vez mais legal de se escrever, eu estou fazendo alguns pequenos fics para descontrair, mas nada que atrapalhe esse, que é meu grande projeto.

E claro... desculpem pelos erros... ¬¬ É que eu só revisei uma vez (Kiki afobada...)

Riho Tatsuhikp Y, K-chan e Laine-Moraes obrigada pelos reviews!!! E ele terá um desfecho feliz sim (se as minha idéias não forem tão longe...) e que bom que estão gostando...

Por favor, não deixem de mandar reviews, eu preciso muito delas para continuar, cada um precioso para mim... Muito precioso! Podem acreditar...

Espero reviews... Por favor!!!!

Ja ne

Kiki-chan