Cap 22- Entre as chamas da alma

A jóia estava lá no alto. Resplandeceste, com seu tom rosado brilhante.

-Temos que pegar! –Exclamou Kagome olhando para a montanha de pedras – Mas... Isso vai desabar.

Inu-Yasha suspirou e olhou para o alto. A garota tinha razão. Tudo aquilo desmoronaria se ousassem escalar, porém teriam que pegar a jóia. Não tinham passado tudo aquilo para sair de mãos abanando. Olhou novamente para Kagome e teve uma idéia. Ajoelhou-se no chão e colocou as mãos para trás.

-Suba!

Ela olhou-o de esguelha, curiosa, mas ao ver o ele que tinha em mente, a cor de sua pele desapareceu completamente. Deu alguns passos para trás e engoliu seco enquanto cerrava os punhos no peito. Olhou com desespero para aquelas mãos a esperando, não... Não iria fazer aquilo.

-I-Isso não... –Tremeu – Vamos achar outro jeito...

-Deixe de ser medrosa! Provavelmente só você pode tirar a jóia de lá, já que foi você a primeira a se libertar da ilusão.

-M-mas... – Gaguejou, apontando para as pernas flexionadas do Hanyou –Eu vou, mas não deste modo!

-Eu não vou fazer que nem da outra vez... A não se que você queira –Sorriu malicioso –Vamos logo!

Ela respirou profundamente e se aproximou devagar. Subiu nas costas do hanyou temerosa e fechou os olhos com força, esperando o salto. Desde pequena tinha medo de altura. Aquele pânico começou quando estava aprendendo a andar a cavalo, e, sem querer, o conduziu para a beira de um precipício. Se não fosse a Miko mais experiente tê-la salvo, estaria morta, assim como a podre égua que caíra no desfiladeiro. Podia até hoje ouvir os relinchos estridentes do animal ecoando por todo lugar, enquanto os braços da Miko a envolviam. Eram esses sons pavorosos que ouvia quando ia para um lugar muito alto.

E exatamente como naquele dia, quando estava longe do chão, suas mãos ficavam geladas, seus lábios tremiam e seu estomago dava milhares de voltas. Seu coração disparava, a respiração ficava acelerada e tinha que fazer um enorme esforço para qualquer parte do seu corpo mexer.

Então, Inu-Yasha saltou. , não havia tido tempo para gritar e já estavam no alto do monte de pedras. Ainda com os olhos fechados, estendeu a mão e agarrou a jóia fortemente, fazendo um pequeno corte na palma. Para seu alívio, não demorou a estar em terra firme novamente. Afastou-se do companheiro um pouco tonta, ainda apertando o shikon entre os dedos.

Entretanto, um brilho tomou conta do ambiente, permitindo que Kagome abraçasse Inu-Yasha novamente, enterrando a cabeça em seu peito. Então, sentiu-o mexer nos seus cabelos e sussurrar:

-Olhe agora, Kagome. Está tudo bem.

Estavam fora da ilusão.

aaaa

Rin cantarolava qualquer coisa enquanto observava as conchas que tinha acabado de pegar. Seus pés estavam sujos de areia e a barra de seu quimono molhada. Mas não se importava. Na verdade, o ato de ir para a praia de manhã cedo e coletar conchas e pedras já era uma pequena liturgia. Afinal, este era o único momento do dia que realmente se sentia livre.

Espreguiçou-se e colocou sua bolsa no colo. Revirou-a com cuidado, pegando uma grande concha. Tirou o pó que a encobria e começou a soprar dentro de uma de suas extremidades. No começo o som foi desafinado e fraco. Logo depois, aquele deu lugar à uma melodia agradável. De repente, parou enquanto lágrimas solitárias deslizavam sobre seu rosto. Quem fizera aquele instrumento fora sua avó... Uma das únicas pessoas que realmente havia amado, que tomara conta dela direito, importara-se com o que sentia.

Enxugou o rosto, jogando os cabelos para trás. Guardou rapidamente tudo que havia coletado na bolsa e se levantou, pulando das pedras para a areia branca e fofa. Mordeu o lábio inferior ao sentir os pés arderem, o chão estava um forno! Correu pela praia, evitando se queimar, até pisar na grama fresca.

Suspirou aliviada e iniciou a caminhada de volta ao castelo. Mais um dia para odiar e comemorar. Era um dia a mais, em que trabalharia, enxeria suas mãos de calos, apesar da benevolência de todos perante sua pessoa. Mas... Menos tempo para viver seus sonhos... Engraçado, sempre desejara residir em um castelo, porém não daquele modo. Sendo uma simples serva, sem nenhum príncipe encantado para dar luz em sua tediosa existência.

Antes de ir morar com os pais (que haviam vendido-na como escrava), vivia junto à avó. Todas as manhãs, sentava-se ao pé da cadeira dela e com um sorriso no rosto, ouvia todas as histórias de castelos, príncipes... Era um tempo maravilhoso, em que gargalhava por qualquer motivo, com qualquer pessoa, até sua avó falecer.

Quantos dias havia se isolado? Não lembrava. Só sabia que durante todos eles chorara rios de lágrimas, sentira uma dor insuportável. Era como se alguém a chutasse no peito continuamente. Depois que aquilo amenizou, saiu para o mundo, com a face pálida e olheiras contornando seus olhos. Negras, pavorosas, mostrando todo seu sofrimento e cansaço. Não comia ou dormia há dias. Os aldeões foram muito caridosos, até sua mãe chegar...

Uma mulher alta, com cabelos longos presos em um coque. Como não tinha dinheiro nem para sustentar a si, deixou a filha com a mãe. Rin viu que aquela moça era muito parecida com sua avó fisicamente, porém, os olhos... Não eram aqueles doces e gentis de sempre, apesar de terem o mesmo contorno arredondado. E foi nesses olhos que seu pesadelo começou...

Mas não queria se lembrar de seu passado! Apressou o passo e entrou pelos fundos no castelo de Bankotsu. Foi para um lago privado e se lavou rapidamente, tirando todo o sal do corpo. O dia estava bonito demais para ficar triste. Pegou um quimono que sempre deixava entre as pedras e se trocou.

-Rin-chan! –Gritou.

A garota pulou de susto, iria cair na água, se Jakotsu não tivesse segurado-a.

-YA! Você me assustou!

Ele sorriu, ajudando-a a sair do meio das pedras.

-Rin-chan que estava distraída... E bem feito, não arranjou NINGUÉM para mim.

-Alguém seria louco o suficiente para sair com você? –Perguntou enquanto passava os dedos pelo cabelo.

-Você é TÃO cruel! –Choramingou e olho-a magoado, encolhendo-se com os olhos lacrimejantes.

Ela mostrou a língua a ele e riu, postando-se ao seu lado. Enlaçou seu braço no dele e o puxou para voltarem ao castelo.

-N-nani? O que está fazendo?

-Jakotsu-san é idiota demais para sair com alguém... Mas não é tão besta ao ponto de não gostar dele ou não considerá-lo minha família. –Sorriu.

-Rin-chan... –Murmurou e balançou a cabeça, risonho –Peste! Mas não o bastante para não ser da família também, pirralha.

-Baka! –Riu enquanto entravam pela cozinha –O que estava fazendo perto do lago? Pelo que sei os homens não tomam banho lá...

-Infelizmente... Seria tão mais fácil observar os corpos perfeitos... Os abdomens musculosos...–Suspirou, sonhador –É que estava com fome e nenhuma das servas começou o serviço aqui. Estranho né? Por isso vim te chamar.

-Oh sim... Obrigada pela consideração. –Ironizou –O que quer?

-Qualquer coisa gostosa.

Rin deu uma risada maliciosa balançando a cabeça, enquanto Jakotsu corava.

-Não é desse dipo de comida que estou falando!

-Hai... –Gargalhou enquanto começava a juntar as coisas para cozinhar –Hum... – Murmurou olhando para o armário. – Vou pegar mais farinha da dispensa. Já volto. – E saiu correndo.

-CUIDADO! –Gritou Jankotsu a acompanhando com o olhar até sumir das duas vistas.

A garota desceu as escadas rapidamente, mas quanto mais descia, mais quente ficava o ambiente. Começou a abanar-se com as mãos enquanto enxugava o suor da testa. Realmente, estava um calor insuportável. Muito estranho, normalmente o ambiente costumava ser muito úmido e fresco.

Logo chegou à dispensa. Procurou no bolso do avental a chave, colocou-a na fechadura, girando-a algumas vezes. Não demorou para a porta de pedras se abrir, entretanto um grito de espanto não pode ser detido. Recuou alguns passos, enquanto tinha a visão das chamas dominando o local.

-Kuso! Como isso aqui foi queimar?!

Aos tropeços, subiu os primeiros degraus da escadaria, mas parou ao ver uma mulher no topo, conjurando fogo. Então era isso! Uma mulher incendiava o castelo. Franziu o cenho, não poderia deixar algo assim acontecer. Apressou o passo, mas a moça desapareceu num instante. Surpresa, parou. Apenas voltou à realidade quando viu que estava cercada pelas chamas. Seus olhos se arregalaram, mostrando todo seu pânico.

Começou a descer os degraus novamente, enquanto tentava fugir desesperadamente. Tentou fugir, voltando a descer os degraus com desespero.

-Iie... – Murmurou –IIE! ALGUÉM! – Berrou.

Mas ninguém a ouvia. , a brasa impedia que sua voz ecoasse pelo recinto. Ajoelhou-se desesperada, precisava sair dali, avisar alguém, impedir que uma tragédia acontecesse.

Sem perceber, duas pequenas lágrimas molharam o assoalho. Estava perdida, assim como o castelo.

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Tudo girava rapidamente, até que pôde abrir os olhos e se viu na entrada da gruta. Kagome olhou para os lados, assustada, até que avistou todos sãos e salvos ao seu lado. Então era só pegar a jóia e tudo se resolveria...

- Graças a deus! – Exclamou indo ver Miroku e Sango ainda pálidos –Nani?

-KAGOMEEEEE-CHANNNN! – Choramingou Shippou, correndo para seus braços – Diga que está tudo bem... Você não vai mais me machucar, certo? E-eu não fiz nada...

-Do que está falando? – Murmurou, abraçando a raposinha.

-O que foi... Aquilo? –Sussurrou Miroku fitando as próprias mãos.

Sango contentou-se em permanecer calada. Engoliu seco, olhando para todos com um certo temor. Então tudo fora apenas um sonho ruim? Difícil de acreditar... Tudo... Tudo era tão real! Parecia que Kohaku voltara a vida.

-Bah... Acho melhor esquecermos dessa caverna. – Falou Inu-Yasha –Vamos procurar aquele reizinho estúpido, já que encontramos a jóia.

Kagome cerrou os olhos na direção do hanyou. Todos estavam pálidos, temerosos. Não era bem assim, tudo que deviam ter passado não deveria ser tão fácil de esquecer.Segurou a manga do quimono do príncipe, que virou-se, surpreso. A confusão em seus olhos foi evidente ao fitar os orbes castanhos fuzilantes.

- Insensível... Espere até melhorarem!

- O que quer dizer?

- Não está vendo o estado que eles estão? Todos sofreram com a ilusão, Inu-Yasha. Bankotsu disse que nos esperaria aqui, então vamos aguardar que ele chegue.

-Podemos ficar aqui a tarde toda! Aquele rei idiota pode demorar décadas!

-Cale a boca e espere! Estúpido!

-Sua miko dos infernos! ITAI! –Berrou ao senti-la puxar uma de suas orelhas –O-QUE-VOCÊ-PENSA-QUE-ESTÁ-FAZENDO-GAROTA?!

-ESTOU FAZENDO O CERTO, SEU MIMADO!

-Queime no inf- ITAI! SUA IDIOTA! NÃO TOQUE NAS MINHAS ORELHAS!

-Fique CALADO! Mimado... Egocêntrico... É tudo que você é!

-Bah! Você que é emotiva demais e...

O Hanyou arregalou os olhos e parou ao ver que ela chorava. Mesmo com seu rosto estando baixo, conseguia enxergar as lágrimas rolando sobre as faces coradas. Tentou se aproximar, mas ela ergueu a mão, o impedindo.

-Não chegue perto de mim, seu grande idiota!

-K-kagome... Eu...

-O que está acontecendo? –Ressoou a voz de Bankotsu –Graças aos deuses que estão ai! Temos que voltar agora!

-Nani? –Perguntou Sango se recuperando.

O rei suspirou pesadamente, olhando aflito para a estrada.

-Kagome, sabe que as aves-yokai daqui são treinadas para enviar recados, não é?

-Claro.

-Bom... Acabei de receber um... Dizem que detectaram vários focos de incêndio no castelo. Precisamos voltar imediatamente!

-Entendo... –Falou Miroku se recompondo –É melhor irmos.

Bankotsu somente confirmou com a cabeça, enquanto saia na frente. Estava extremamente aflito, todos estavam no castelo! Seus irmãos, as pessoas influentes no reino... Se tudo fosse queimado, seu território estaria em perigo. As pessoas sofreriam, como acontecera há alguns anos atrás na fronteira sul...

Fronteira sul... A maldição.

Era de conhecimento de todos que não era um ser humano comum, por isso fora escolhido para governar. No entanto, o poder subiu-lhe a cabeça, dominando a ele e seus irmãos. Estes, cegos, almejaram cada vez mais. Porém seu reino tinha uma parte rebelde na fronteira sul, pessoas que eram contra a sua posse e a servidão não remunerada. Aquilo era um empecilho que o impedia de crescer, afinal, quem investiria num lugar cheio de revoltas?

Então tomou uma decisão drástica e imatura, mas foi a que lhe pareceu mais plausível na época.

Mandou incendiar tudo, daria um fim naquelas pessoas estúpidas e de fato conseguiu isso. Após três dias, as chamas consumiram tudo, não deixando ninguém vivo. Seus problemas estariam acabados, se uma das feiticeiras do lugar não tivesse sobrevivido. Com toda sua ira, ela lançou uma maldição, que impediria sua alma de sair do corpo, mesmo que estivesse morto, até que aprendessem o que era a verdadeira vontade de "proteger".

Não ligou muito, até que fora ferido mortalmente em uma batalha. Qualquer pessoa teria morrido, mas ele continuou. Sentiu toda dor na sua forma mais intensa, não poderia falecer em paz! Iria continuar, até aprender o que era "proteger".

E era assim que ele e seus irmãos tinham vivido por todos aqueles anos... Buscando um meio de quebrar a maldição.

aaaa

Jakotsu olhou para a janela pela milésima vez. Seu estomago roncava cada vez mais. Onde diabos aquela garota teria se metido?! Já fazia mais de vinte minutos...

-Kuso... –Suspirou levantando-se para olhar o lago e procurar se distrair. No entanto à medida que andava, sentia um estranho cheiro de queimado extremamente desagradável. Torceu o nariz, fez uma careta e tampou o rosto com a manga do quimono.

Caminhou um pouco mais até que pôde ver uma enorme fumaça negra e espessa saindo da torre oeste. Cerrou os olhos, iria averiguar, mas uma mão tocou seu ombro com força. Virou-se e encontrou um rapaz tremulo, apoiando-se nos joelhos para respirar. Parecia ter vindo de uma longa corrida. Seus cabelos negros estavam caídos, cobrindo os olhos fechados.

-Adorável... Extremamente delicioso... – Murmurou Jakotsu sorrindo maliciosamente – O que quer, querido?

-Se-Senhor... Tudo... Fogo...

-Como?

-Tudo está queimando na parte oeste e-!

Outra funcionária vinha correndo.

-A dispensa está pegando fogo!

Dispensa, fogo, essas duas palavras chamaram a atenção do homem imediatamente. Olhou para a serva com os trajes sujos por fuligem assim como seu rosto apavorado. Engoliu seco. Rin estava lá... Por sua causa.

-Salvem quem e o que puderem! – Falou com energia. – Vamos! Não podemos ficar simplesmente parados!

-H-hai! – Disseram os dois juntos e saíram correndo.

Jakotsu respirou fundo e correu em direção à dispensa. Sem demora, alcançou os corredores de pedra.

Tragédia, tragédia, tragédia… Essa era a única palavra em sua mente. Cerrou os punhos e continuou andando. Sua culpa! Tolo! Não deveria der deixado-a ir. Deveria ter suposto que havia algo errado em nenhum servo estar trabalhando.

Mas para seu "alivio", estava chegando. Abriu mais uma porta, logo viu o fogo ardendo, refletindo um brilho amarelado em sua face. Tampou o nariz e se emprenhou entre as brasas.

Faltava pouco para chegar ao lugar onde ela estava. Mesmo estando um forno ou tudo ao seu redor estar sendo consumido pelas chamas, não se importava. Continuou firme, afinal, não era um humano comum. Poderia ganhar de muitos youkais poderosos usando somente uma das mãos. Desde cedo fora treinado para proteger aquele reino, mas não queria proteger aquela imensidão e sim a garota que considerava uma irmãzinha.

"Mais um pouco" Acrescentou mentalmente enquanto tirava uma tora de madeira do caminho.

Correu até as escadarias e pôde ver entre as chamas uma pequena silhueta largada no chão. Seus olhos brilharam, só poderia ser Rin! Sem se importar com o fogo roçando em sua pele, continuou até chegar ao corpo. Sim, era ela. Seus olhos estavam semi-abertos, porém sua aparência não era das melhores. A roupa estava parcialmente queimada, seu rosto, pés e braços estavam vermelhos e com alguns ferimentos, o cabelo estava queimado nas pontas e seu rosto sujo.

-Rin... – Sorriu aliviado quando a pegou no colo e sentiu sua respiração –Rin?

Ela se mexeu um pouco, agora era só voltar, mas... Estavam cercados. O fogo crepitava por todos os lados. A fumaça enchia o ambiente, tornando quase impossível respirar. Jakotsu teria que tomar uma séria decisão. Olhou para a garota em seus braços e em seguida para o incêndio. Suspirou profundamente e sussurrou no ouvido dela:

-Rin... Me ouça... Preciso que abra os olhos.

-Nani? – Gemeu.

-Escute, vou te salvar daqui Rin, mas precisa estar com os dois olhos bem abertos e quando eu falar para correr, corra.

-Doshite?

-Não faça perguntas, apenas prometa que irá fazer isso.

-Eu... –Tossiu –Gomen...

-Seja forte, por favor! Prometa para mim!

Ela não entendeu muito bem as intenções do rapaz, então abriu os olhos com um tremendo esforço e confirmou com a cabeça.

-Tenho sua palavra, certo?

-Hai...

-"timo. – E a espremeu contra seu peito, começando a se arrastar por aqueles corredores em chamas.

Rin não podia enxergar nada. A fumaça fazia seus olhos arderem fortemente e estava tão colada no peito de Jakotsu, que não conseguia de enxergar muita coisa. Era estranho não sentir nada, talvez porque sua pele tivesse se tornado insensível a qualquer coisa.

De repente, uma brisa leve invadiu o ambiente. Mas, não estavam no meio de um incêndio? Abriu os orbes, mirando a figura de Jakotsu, sorrindo ternamente. Entretanto levou um susto ao ver que ele estava todo queimado e coberto de sangue, mas sorria, ainda a abraçando.

-Eu te tirei de lá, por um buraco... na parede. Estamos perto de um rio... Ouça... –Tossiu – Argh... Isso arde! Mas... Agora... Você vai correr... E se jogar no rio, logo... o fogo estará... estará... aqui.

-Demo... E você?

-Ficarei bem, prometo.

Ela balançou a cabeça, com lágrimas formando-se em seus olhos.

-Não! Vem comigo! Não vou te deixar aqui.

Ele entrelaçou seus dedos entre os dela e começou;

-Eu sei que minhas mãos estão ásperas... Deve estar com nojo, tudo bem, eu fic-

-IIE! –Ela gritou, segurando a mão com força –Nunca! Nunca!

Jakotsu riu laconicamente e acariciou a cabeça da menina.

-Agora é que ninguém vai querer sair comigo mesmo... – Brincou, mas olhou para trás em seguida – Corra Rin! Logo o fogo vai chegar aqui!

-Não! Por que não vem comigo?

-Não posso. – Balançou a cabeça –Tenho que ficar...

-IIE! Doshite? – Chorou –Não vou deixá-lo!

-Escute... Sabe que eu só sou um... Cadáver... Tenho aprender a "proteger", já que no passado causei muitos problemas... Só assim minha alma descansará em paz.

-Eu não ligo! Por favo-

-SUA IDIOTA! Vá logo!

Não tinha outra saída. Ele a pegou pela cintura e se arrastou até o rio. O fogo consumiria tudo e ela não iria morrer queimada!

-Pule!

-Pare com isso! – Gemeu, segurando os pulsos dele – Eu quero ficar com você... A única pessoa que me tratou bem... A única pessoa que me fez sentir-se em família... – Murmurou soluçando.

Jakotsu fechou os olhos e a abraçou apertado contra o peito. Podia sentir um estranho sentimento de perda instalar-se incomodamente em seu peito e arder, engoliu seco. Queria a espremer mais contra si, ficar assim para sempre, mas sabia que isso só a condenaria a morte. Afastou-a gentilmente e pegou-a pelos ombros.

-Você também... Minha única família, Rin-chan. Adeus – E a empurrou no rio.

-Não! – Ela berrou enquanto caia.

Água... Era tudo que via a sua volta. Reunindo toda a força que tinha nadou até a superfície, porém somente conseguiu ver Jakotsu parado, pois a correnteza a levava para longe, obrigando a desistir.

E só viu água... E depois mais nada. Aquele líquido entrava por seus pulmões, adormecendo seus sentidos...

Escuridão...

aaaa

-Então Kagura, como foi? –Perguntou o vulto saindo de trás de uma árvore.

A mulher abriu o leque e começou a abanar-se. Jogou uma mecha de cabelo para o lado e falou.

-Tudo como planejado... O fogo se dissipou por todo lugar, como queria, mestre. Garanto que isso deixará muitas cicatrizes e com isso, alcançará seu objetivo.

Naraku sorriu, revelando seu rosto por trás do capuz de babuino. Estalou os dedos e fios surgiram no ar, puxando algo. Logo, esse "algo" chegou sendo arrastado pelo chão. Mãos e pés atados, com a boca envolta por um grosso pano branco. Seus olhos azuis faiscavam raivosamente enquanto se debatia.

-O que esse traste está fazendo aqui? – Perguntou Kagura, com desdém.

-Não fale mal do meu mais fiel servo...

-Como assim?! Esse idiota é-

Naraku ergueu a mão, gesticulando para que ficasse em silêncio. Ela torceu o nariz, mas não contestou. O seu mestre ajoelhou-se diante do prisioneiro, tirando-lhe o pano que o impedia de falar.

-SEU CRETINO! –Berrou.

-É bom falar de novo, não é Kouga? Mas controle as palavras...

-Vai te catar, seu... seu...

-Eu disse... – Estreitou os olhos – Cuidado com as palavras!

Kouga engoliu seco, sentindo um pequeno aperto na garganta.

-Ora... – Sorriu Kagura – Quer dizer que...

-Sim, está sob meu controle.

-Bastardo... – Murmurou.

A youkai ergueu uma sobrancelha e ajoelhou-se, tocando com seu leque a ponta do nariz de Kouga.

-O mestre disse para ser educado... Ou não aprendeu isso? – Sussurrou movendo o leque para o pescoço do rapaz, fazendo com suas lâminas um pequeno corte e se virou para o seu senhor – Mas, Naraku-sama, para que vamos usá-lo?

-Verá. Agora Kouga – Estalou os dedos mais uma vez, libertando o prisioneiro – Vá correr atrás dos seus amiguinhos.

-Idiota! – Gritou – Eu vou contar tudo para ela... Seu pior pesadelo! E vou contar aquilo para ele também...

-Conte Kouga. Entretanto, para ele, a informação será inútil... – Falou enquanto tirava um amuleto de dentro da capa – Isso não te diz algo?

-Desgraçado! – Estremeceu e avançou para Naraku.

O youkai facilmente desviou-se do punho do lobo, segurando-o.

-Se fosse mais forte que eu, não teria sido capturado por mim... – Sorriu sarcástico – Vá falar tudo para a sua amiga. Já pensou se eu resolvo invadir esse reino enquanto está em chamas?

-Kagome é inteligente! Não vai cair na sua armadilha. Mesmo que esteja me usando, ela vai perceber.

-Veremos, porém quando o coração humano é guiado pelos sentimentos, os olhos se fecham. Tornam-se inúteis, meu caro.

-Eu vou ser a sua razão! Bastardo! – E saiu.

-Vai deixá-lo ir? – Perguntou Kagura.

Naraku suspirou e olhou para o céu. Havia capturado Kouga enquanto este tentava avisar os seus companheiros de sua volta. O colocou sob seu controle por um feitiço antigo. Entretanto, o lobo descobrira muito de seus segredos, mas não se importaria se contasse alguns deles... Afinal, essa era a intenção. No final, aquele guardião tornaria tudo mais fácil. Iria atrair todos para sua fortaleza.

-Sim. Esse era o papel dele... –Encolheu-se rapidamente perto de uma árvore, apertando o peito –O tempo está se esgotando.

Kagura cerrou os olhos, examinando bem a figura tão vulnerável do youkai apoiado na árvore.

-Quem é você na verdade, Naraku? Não acredito que seja simplesmente um "vilão".

-Eu não sou vilão... –Sorriu –Sou a outra extremidade.

-Como assim?

O demônio fechou os olhos, plácido e balançou a cabeça.

-É cedo demais para saber... No final, todos vão entender...

aaaa

-Kami-sama... –Murmurou Kagome ao colocar os pés em terra firme, em frente ao castelo.

Tudo estava um perfeito caos. O castelo estava em chamas, várias pessoas corriam, tentando escapar do fogo que tragava tudo. Desde a mais cara peça a os míseros pertences dos empregados. Gritos podiam ser ouvidos de todos os cantos junto aos soluços desesperados de quem perdera alguém lá dentro ou tentava entrar, pois acreditava que o ente querido estava vivo. Sangue pelo chão, gente morta, agonizante. Vários corpos queimados começavam a formar uma pequena pilha.

A miko prendeu a respiração enquanto via grupos de pessoas reunidas, dividindo um cobertor, bacia de água, abraços, carinho. Todos desesperados e feridos pela perda, em estado lastimável. , não havia um ser que não trouxesse uma expressão abatida. E o fogo consumia tudo.

Destruição. Caos. A perfeita combinação para acabar com uma população inteira. O elemento mais poderoso, que deixava a todos desnorteados, prontos para receberem o golpe final, a extinção.

Bankotsu estava em choque. Assim que saíra do cavalo, ajoelhara-se na terra, sem forças para nada. Observou a sua volta com medo, desespero, dor.

-Horrível... –Falou a garota, enquanto sentia a mão de Inu-Yasha em seu ombro –Quem fez isso?!

-Nós vamos descobrir. –Falou Inu-Yasha, abaixando a cabeça.

O hanyou começou a se lembrar. Aquilo era muito parecido com o que havia acontecido em seu reino há séculos. Tudo fora destruído, então Kikyou chegou furiosa e matou o rei...

-Será...? –Murmurou.

-SENHOR! – Gritou um dos soldados para Bankotsu –Senhor, achamos Jakotsu-sama!

O rei levantou os olhos, esperançoso.

-Meu irmão... Onde ele está?

-Nós estamos o trazendo! Ah! Já está na barraca! Por aqui! –E seguiu até uma cabana improvisada.

Ele tentou levantar sozinho, mas não conseguia. Todas suas forças haviam se esvaído pelo ar, junto às chamas da destruição. Então, sentiu braços passando por seus ombros, o ajudando a se reerguer. Olhou para um lado, era a amiga de sua noiva, com o rosto sério, porém o olhar doce. E do outro lado, era Kagome, sorrindo-lhe ternamente.

-Não se esforce tanto agora... Precisa poupar energias. – Falaram enquanto ajudava a carregá-lo.

-Obrigado. –Sussurrou.

Rapidamente, entraram na barraca. Lá estava Jankotsu deitado, sorrindo, enquanto olhava os visitantes se aproximarem.

-Meu irmão... –Disse ajoelhando-se, mas o outro balançou a cabeça.

-Não é preciso que fique assim, não vou me demorar aqui, mais... –Sorriu.

-O que quer dizer?

Ele fechou os olhos.

-Eu aprendi a proteger, Bankotsu. Proteger de verdade, querer dar a sua vida sem arrependimento... E a salvei.

Suas mãos se ergueram no ar. Para o espanto de todos, as mãos de Jakotsu estavam transparentes, sumindo cada vez mais. Porém ele parecia extremamente contente com aquilo. Logo seu braço começou a desaparecer, seguido dos ombros.

-Eu sinceramente espero que você aprenda também... Todos vocês, ter "alguém" para proteger é um motivo para continuar... E quando essa pessoa fica segura, não tem mais motivo de você existir, pelo menos no meu caso.

-Você se libertou... –Falou o rei, abaixando a cabeça.

-Hai! Ah sim... Se Rin-chan aparecer por aqui, diga que quero que ela seja muito feliz!

-Rin-chan? –Sussurrou Kagome desconfiada –Ela…

-Ela está bem. Não tem um corpo como o meu, que não morre... Por isso, a joguei no rio. E-argh –Tossiu –Mas... Não desista, Bankotsu. Você ainda tem um reino para proteger, não é?

Então, uma luz invadiu o ambiente, deixando a voz de Jakotsu ecoando no ar.

"Não é, meu irmão?".

-Ele... –Murmurou o monge.

-Morreu. Foi o melhor para ele... Isso é o melhor para nós... Que não podemos morrer. –Terminou Bankotsu – Não podemos ficar aqui parados. Kagome... –Virou-se para ela –Peço que conjure chuva para apagar isso daqui.

-Hai! –Ela sorriu.

Logo, água caia do céu, apagando aos poucos o fogo. A Miko, cansada, desabou no chão, deixando que a água molhasse seu corpo. Mesmo assim, algo lhe dizia que o pior não havia começado.

Sentiu ser pega por braços fortes e ser embalada junto a um peito. Agarrou-se naquele corpo com todas as suas energias e deixou que o sono a dominasse.

aaaa

Sentia-se um pouco tonta e várias dores no corpo, mas não queria pensar naquilo agora. Estava cansada e mesmo estando em uma posição desconfortável, desejava continuar ali. Queria que a correnteza a levasse novamente.

Um formigamento surgiu em seu peito e começou a tossir violentamente, tirando toda a água de seus pulmões e nariz, dando espaço para o almejado oxigênio. Estava agarrada na borda, com o corpo parcialmente mergulhado na água. Precisava sair de lá. Com um grande esforço, arrastou-se mais um pouco, até sair do rio. Tentou aspirar o ar, porém tossiu mais um pouco.

Finalmente, conseguiu respirar. Com alivio, teve todo o ar que pôde, soltando-o logo em seguida. Era bom ter seus pulmões funcionando novamente.

Sem abrir os olhos, começou a mexer levemente cada parte do seu corpo, para ver se ainda tinha a capacidade de fazer isso. Mesmo com vários pontos latejando, continuou. Pelo menos não devia ter quebrado nada, podia fazer movimentos leves em todos os lugares. Virou-se de barriga para cima e sentiu sua pele sensível arder, junto às queimaduras. Gemeu e abriu os olhos.

Hesitou a primeiro momento. Seus orbes lacrimejavam com tanta claridade. Piscou algumas vezes, até que conseguiu ver algo. Mesmo tudo estando turvo e embaraçado era um avanço, agora só restava lembrar do que acontecera... Jakotsu jogando-a no rio, o incêndio, as palavras, seus gritos e a água. Era tudo que recordava. Cerrou os punhos sentindo lágrimas se formarem. Não podia chorar agora!

Levantou-se cambaleante. A visão se ajeitava aos poucos, fazendo com que pudesse dar pequenos passos com seus pés doloridos.

Estava com fome.

Olhou para as próprias roupas. Não poderia ir a uma vila ou lugar parecido. Só sobrara trapos em seu corpo, que cobriam-lhe parcialmente os seios e da cintura ao meio da coxa. Era perigoso andar assim, mas que se danassem! Respirou fundo. Se tivesse sorte, não cruzaria com nenhum mal-intencionado. Continuou caminhando lentamente, com as pálpebras teimando em fechar. Precisava encontrar comida, depois, descansaria.

Entrou na mata. Aos tropeços desviava-se das raízes e árvores. Mas logo a paisagem se abria, dando lugar a árvores caídas por todos os lados. Apertou os olhos. O que ocorrera ali?! Um gemido chamou sua atenção. ,Escalou com muita dificuldade aquela pilha de destroços e encontrou entre eles um youkai prateado agonizante.

-O que...?

Continua... (logo, espero XD)

N/a:

- os aaaa separam as cenas apartir de hoje

- Essa pequena anedota de fazer a Rin maliciar "qualquer coisa gostosa" foi inspirada num comentário de minha revisora (lally-sama) XD

Oi... kiki olha pra os lados, com medo

Oh minna... GOMEN NANSAIIIIIIIIIIIIII eu sei que demorei demais, mas... Bom, problemas a parte, eu estava muito bloqueada u.u, mas o próximo cap sai logo, eu deixo vocês baterem em mim

Bom, esse cap está meio meloso e ruim, eu sei... Mas bom, pelo menos ele encaminha todo mundo (quase) para um final '''' Dando menos trabalho para a autora aqui! preguiça '

Ah sim! Alguém foi na friends/con? Eu fui sábado e domingo na friends e domingo na con o/ Só que domingo (na friends, que confusão ) não consegui entrar, como muita gente '

Não vou responder as reviews dessa vez ''' Gomen minna, mas se quiserem que eu realmente responda, peça, ai eu mando um e-mail o/

Agradeço a Lally-sama por ter revisado o cap (mesmo que o rosa tenha me deixado )

Bom, é isso ' deixem reviews para essa autora num desanimar de vez!

Kissu e até o próximo cap!

Kiki