Cap 23- Reflexos de sonhos (24/09/04)
AVISO: devido a certas confusões no , esse fic passará a ter classificação R a partir da semana que vem (dia 01/10)
-O que...?
Rin abriu e fechou a boca várias vezes, tentando emitir algum som. Cerrou os olhos com força, esfregando-os violentamente, tentando se certificar de que aquilo era verdade. Um youkai seriamente ferido estava no meio dos destroços. Seu cabelo liso, longo e prateado adornava seus ombros largos e machucados. Demonstrava uma expressão de dor, mas não deixava de ter um rosto suave. Seu peito tinha um enorme corte horizontal, por onde jorrava o sangue que cobria seu corpo.
A garota aproximou-se temerosa enquanto engolia seco. A respiração dele estava tão debilitada... Mordeu o lábio inferior, pensava que era impossível, mas o demônio estava bem pior que ela. Então todo aquela destruição houvera sido causada por ele? Era por isso que estava naquele estado lastimável? As perguntas corriam por sua mente sem cessar, permitindo que chegasse mais perto, pousando sua mão no rosto contorcido pelo sofrimento. Pôde sentir a pele fria, porém tão macia quanto a sua. Um pouco hesitante, mexeu os dedos levemente, numa pequena caricia.
De repente, ele começou a tossir. Então, Rin se afastou abruptamente com os olhos arregalados. Estava próxima de um youkai! Pior, o quê provavelmente destruíra tudo! Ele era um... monstro. Monstros não mereciam compaixão, mas não conseguia simplesmente se virar e ir embora. Algo mais forte a impedia. Mirou aquele rosto mais uma vez, ele vomitava sangue. Sentiu um horrível aperto no peito, não iria deixá-lo, tinha que fazer alguma coisa... Qualquer coisa.
Suspirou, reunindo todas as forças que tinha. Precisava retirá-lo de lá primeiro. Passou seus braços por seus ombros e o arrastou para fora dali. Desceu os destroços com muita dificuldade, tento que se apoiar em uma árvore para manter o equilíbrio.
-Vamos... Só mais um pouco... –Sussurrou enquanto o levava para beira do rio.
Sorriu aliviada ao ouvir o barulho d'água. Estavam muito próximos. Parou um pouco e enxugou o suor que se acumulava na fronte, então logo viu o líquido corrente passando entre as árvores. Seus olhos brilharam e, eufórica, correu para a margem, deixando o youkai encostado em um tronco.
Fez uma concha com as mãos e jogou a essência gelada no rosto. Olhou para o demônio prateado e mordeu o lábio inferior. Ele ainda sangrava e gemia levemente. Aproximou-se devagar, jogando um pouco de água em seu ferimento. Abriu um pouco seu quimono para que pudesse examiná-lo melhor e cerrou os olhos. Aquilo precisaria ser lavado melhor.
Ergueu os dedos trêmulos, tocando no corte com suavidade. O arrastou o mais gentilmente que pôde até a margem para que pudesse limpar o machucado.
Jogou um pouco de água em seu peito, tirando a crosta de sangue seco e sujeira. Rasgou um pedaço do quimono do Youkai, usando o para fazer um curativo. Suspirou resignada enquanto o carragava para a sombra de uma árvore novamente.
"Por que estou cuidando de um Youkai afinal?" Repetia a pergunta incontáveis vezes em sua mente. "Devia me preocupar mais comigo...".
Olhou o lado oposto da correnteza e cerrou os punhos com força. Jakotsu havia salvado sua vida... Só não sabia por quanto tempo. Com suas roupas daquele jeito mais o cair da noite não tinha certeza de nada.
Flexionou os joelhos em frente à margem. Podia ver sua imagem refletida na água, como um espelho. Ergueu a mão para tocar a superfície, deixando sua imagem torta. Não sabia o que fazer, por onde começar e talvez quando o outro acordasse, poderia ser morta. Sorriu tristemente, as coisas não poderiam estar piores.
Jogou as madeixas castanhas para trás. Precisava de comida. Tinha a impressão de que devoraria qualquer coisa em sua frente se não se alimentasse logo. Apertou os olhos procurando algo. Embrenhou-se cautelosa entre as folhagens enquanto recolhia tudo que lhe parecia apetitoso. Lavou a comida no rio e apoiou-se na árvore em frente ao demônio. Fez sua pequena refeição enquanto o observava melhor.
-Preciso de uma fogueira. –Concluiu ao limpar os lábios adocicados pela fruta.
Recolheu alguns gravetos e pedras pelo caminho. Amontoou tudo em um canto. Só havia feito uma fogueira três vezes na vida, sempre com a ajuda de alguém. Afinal, uma simples serva doméstica ficava dentro da casa, não lançando fogo pelos cantos. Enterrou a cabeça nas mãos. Não devia ser tão difícil. Pegou duas pedras e começou a raspar por um longo tempo, sem resultado.
-K'so! –Gritou irada –Sou uma inútil!
Bufando, jogou as pedras para o lado e pôs-se a observar o curioso youkai.
A noite caia aos poucos, tornando o ambiente frio demais. Os dentes de Rin começaram a bater. Com a roupa inteira alguém já congelaria ali.
Seus olhos miraram a cauda felpuda do demônio. Mordeu os lábios roxos, tentada a se enrolar na superfície quente macia. Não sabia o que o youkai poderia fazer com ela se a encontrasse enrolada em sua gostosa cauda... Porém, naquele momento parecia que todos os neurônios haviam congelado e qualquer divagação coerente fora jogada para o ar.
Decidida, esfregou as mãos encostando-se na superfície suave e se permitiu sorrir. Logo, se aconchegou fechando os olhos. Cada parte do seu corpo aquecia-se lentamente, deixando que pendesse a cabeça para o lado, tamanho era seu torpor.
Com um suspiro satisfeito, adormeceu.
/o/o
-Entre, Kikyou. –Disse uma voz grave ecoando pelo recinto.
A sacerdotisa olhou insegura para o quarto, encontrando a imponente figura de longos cabelos presos no alto da cabeça. Seus dedos hábeis se ocupavam de escrever uma carta enquanto bebia goles de chá.
-Com licença. –Ela sussurrou, fazendo uma reverência –Quer que eu deixe a porta aberta? Aqui está muito escuro.
Seus olhos dourados se voltaram para a moça e sorriu gentilmente, gesticulando para que ela fechasse a porta. Espremeu-se um pouco contra a janela para deixá-la sentar-se ao seu lado. Um pouco hesitante, ela caminhou lentamente, respirou fundo e sentou-se colocando as mãos no joelho em nervosismo.
-Quer algo em especial? –Ele perguntou calmamente
Ela molhou os lábios com a língua enquanto tomava coragem para falar. Que estupidez estar daquele modo, totalmente descontrolada com o coração descompassado, como se fosse uma adolescente tola. Queria falar tudo, mas algo fazia sua voz não sair, deixando-a presa em sua garganta como se as palavras não devessem ser proferidas. Ela sabia que não deviam mesmo. As palavras no futuro iriam matar aos dois.
Uma maldição cruel e silenciosa.
-Eu... Sobre o que o senhor disse...
-Não precisa responder enquanto não estiver pronta. –Ele interferiu rapidamente enquanto aumentava a luz do lampião.
-NÃO! Não é isso... Por favor... –Mais uma vez aquela bola em sua garganta. Desde que começara a conversar com o rei essa horrível sensação era comum.
-O que é... Kikyou? –Sussurrou virando-se de supetão, fazendo com que ela tentasse se afastar –Me olhe nos olhos –Disse enquanto erguia seu rosto com o indicador.
Os orbes começaram a ficar cheios de água. Os lábios vermelhos se abriram e fecharam sem emitir nenhum som. Seus dedos vagarosamente envolveram a cintura do youkai e então o abraçou.
-Não é justo... Não é justo... –Gemia.
-O que não é justo, Kikyou? –Ele perguntou enquanto pousava seu queixo no alto da cabeça da miko.
-Eu sei o que vai acontecer! Isso é injusto! –Berrou agarrando as vestes do outro –Como você acha que vou dormir, com medo desses sonhos estúpidos?! Como acha que me sinto sabendo tudo o que vai acontecer?! Por que... Por que eu não posso simplesmente ficar alheia a tudo? EU ODEIO ISSO! Odeio as sacerdotisas... Odeio...
-Pare com isso. –Ele murmurou, apertando-a contra si –Não deixe isso estragar seus sonhos.
-Quero... Mas não posso... Se eu escolher isso, vai acontecer uma tragédia... Milhares de soldados irão morrer... Eu vou amaldiçoar várias vidas no futuro..
O youkai estreitou os olhos, afagando as madeixas negras e deslizando os dedos pelas costas para acalmá-la. Procurou apenas aspirar o perfume inebriante. Sabia que ela sofreria quando contasse seus sentimentos e o fez. Egoísta? Sim, era o maior deles. Não fora capaz de simplesmente guardar aquelas emoções e viver em uma falsa tranqüilidade.
Sorriu ironicamente. Todos falavam que ele era um rei bondoso e eficiente, quando na verdade a única filosofia que seguia fervorosamente era "Viver cada momento intensamente, tristeza ou alegria". Podiam taxá-lo de cruel e sem escrúpulos, mas não ligava realmente. Tudo o que queria era desfrutar daquilo que estava em seus braços, daquilo que ela lhe oferecia.
Sinceros. Era isso que precisavam ser. Nada de felicidade hipócrita.
-Por que você está assim, Kikyou?
-Não quero que uma desgraça aconteça... É minha função... É...
-E o que VOCÊ quer? Kikyou, a mulher, não a miko. Se contar, a dor vai aliviar –Sussurrou colocando a mão de leve no peito dela, no lugar onde ficava o coração.
-Eu quero... você. –E se afastou dos braços dele –Todavia... Não é isso que me causa dor.
-Como assim? –Ele perguntou confuso.
-Oo duro não é isso... –Ela sorriu tristemente –O duro é ficar com você, sabendo que vai me trair.
Kagome abriu os olhos de repente. Diferente das outras vezes em que sonhara, não estava ofegante ou nervosa. Só sentia uma imensa tristeza, não tão real para chorar, mas também não tão distante para deixar de sentir. Respirou profundamente, tentando recuperar as energias perdidas e sentiu uma colossal dor de cabeça.
Gemeu em descontentamento, repousando a cabeça no travesseiro macio. O familiar cheiro de lavanda inundou sua mente, ainda estava no reino de Bankotsu. A tranqüilidade voltou a fluir em seu peito e conseguiu abrir os olhos. Estava em seu quarto. Aquela parte do castelo ficara milagrosamente inteira. Queria saber onde estariam os outros, mas era melhor deixar as demais curiosidades para depois. A única palavra coerente que surgia em sua mente era 'dormir'. Entretanto alguém bateu na porta.
-Kagome-sama? –Perguntou uma voz aguda que quase fez sua cabeça explodir. Gemeu um pouco mais alto, tampando os ouvidos com as mãos trêmulas. –Kagome-sama? O que a senhora tem?! –Mais uma vez aquela voz aguda perfurando seus ouvidos, mordeu o lábio inferior, porém não pode conter um pequeno grito –KAGOME-SAMA?
-Oh céus... –Murmurou. Era tudo que precisava para começar o dia –Vá... Chamar... os ... outros. –Foi tudo que conseguiu dizer.
-Claro! –Exclamou fazendo a garota se encolher na cama.
Suspirou aliviada, apreciando o silêncio momentâneo que dominou o quarto. Era disso que precisava. Todavia, nada dura para sempre, inclusive a paz.
Ela ouviu o som de passos se aproximando muito antes de que conseguiria ouvir em estado normal.
Rolou entre os lençóis, mergulhando a cabeça no travesseiro. Eles estavam chegando.
-Kagome? –Perguntou Inu-Yasha preocupado.
Seus músculos relaxaram um pouco. A voz de Inu-Yasha não era tão fina, portando era tolerável. Conseguia captar as palavras só sentindo uma fraca pontada, nada de dores avassaladoras.
-O que você tem? –Ele continuou sentando-se ao seu lado.
-Cabeça... Dói... Vozes agudas... não.
O hanyou ergueu uma sobrancelha juntando os fragmentos da frase e fez um gesto para a empregada sair do cômodo.
-Sinto muito. Não sabíamos que iria acordar assim.
-Tudo bem... –Ela disse com a voz fraca –Só falem... baixo.
Inu-Yasha virou-se para Miroku e chamou-o com um sinal. O monge andou o mais silenciosamente possível, sentando-se no leito também.
-O que aconteceu? –Falou baixinho.
-Ela diz que tem dor de cabeça.
-Oh... –Ele disse em tom de compreensão –Deve ter sido porque ela usou muita energia para fazer chover. Vou pedir para prepararem algo. Mais alguma coisa?
O meio-youkai pensou por alguns segundos e de repente arregalou os olhos como se tivesse lembrado de alguma coisa.
-Ah sim! Acho melhor afastar Shippou a todas as custas daqui. Não creio que Kagome irá suportar aquela fala, que já é terrivelmente irritante para ouvidos normais.
Miroku sorriu divertido, assentindo.
-Claro. Vou passar o dia todo junto dele e de Sango para não atrapalharmos Kagome-san.
Inu-Yasha balançou a cabeça e disse para o amigo antes dele levantar.
-Só não a faça gritar muito alto, por favor.
Os olhos do houshi brilharam maliciosos. Fez uma reverência a menina encolhida entre as roupas de cama e acenou com a mão para Inu-Yasha, que ficou ali, zelando pela garota.
As horas se arrastavam pesada e lentamente durante o resto daquela manhã. O hanyou podia ver pela fresta da janela várias pessoas trabalhando para reconstituir o que fora perdido. Debaixo do sol escaldante, nenhum deles parava para descansar ou coisa similar. Imaginou que era porque Bankotsu desejava ver tudo pronto o mais breve possível.
"Aquele metido quer um milagre..." Pensou debochado.
Respirou profundamente e se sentou no leito outra vez. A garota tinha conseguido dormir com muito custo e paciência de sua parte. Podia ser extremamente agradável ficar ao lado da menina, entretanto, os últimos dias tinham sido tão agitados que estava um pouco esgotado. Só agora que parara um pouco, conseguiu perceber o quanto estava desgastado. Massageou a testa, procurando energias. Realmente precisava repousar um pouco.
Puxou uma cadeira a postando em frente à cama e acomodou-se. Ficou entretido durante uma infinidade de minutos ao ver o peito de Kagome subir e descer, seu rosto relaxado e os fios escuros que se espalhavam pela superfície fofa. Não demorou a suas pálpebras ficarem pesadas e adormecesse também.
Porém, o decorrer da tarde não foi tão tranqüilo assim. Kagome teve espasmos, calafrios e muita febre. Apesar de tomar a poção para amenizar os sintomas, seu corpo não dava sinais de melhora.
Um pouco depois do almoço, os delírios começaram. Os gritos preenchiam todo o quarto enquanto a sacerdotisa arfava na cama. Em alguns momentos, quando ficava lúcida o suficiente para assimilar a situação, começava a chorar e soluçar, voltando a loucura em poucos minutos.
-Ela vai vomitar! –Anunciou Inu-Yasha nervoso correndo atrás de uma serva.
Ele a pegou pela cintura fina, tirando-a dos lençóis molhados pelo suor, a carregando até perto de uma bacia. Fê-la ajoelhar-se com dificuldade e segurou seus ombros com força a inclinando para frente enquanto parecia que seu estomago era vomitado também. Ficaram nessa posição por alguns minutos, até seu corpo amolecer.
O hanyou a levou para cama novamente, algo estava errado. Ela já havia despertado muito mais poder do que para liberar chuva e nunca tinha passado tão mal. Retirou os fios de cabelo da face doentia e suspirou. Apesar de todos os esforços, a garota continuava mal. O monge dizia que ela poderia ter usado energia demais quando não tinha o suficiente, mas não acreditava nisso. Ainda havia a miko dentro dela.
E essa era a razão para a sua preocupação.
Foi tirado de suas divagações por um apelo fraco da garota. Seus olhos semi-abertos olhavam diretamente para ele.
-Inu... Yasha... Fique comigo. –Sussurrou indo para a ponta da cama, num convite mudo.
-C-claro. –Ele gaguejou indo para seu lado.
Ela passou os braços pelos ombros dele e chorou baixinho.
-Eu quero dormir... Mas eu sei que vou sonhar de novo com ela.
O meio-youkai encarou-a desconfiado.
-Sonhar com quem?
Ela aconchegou-se mais no peito do rapaz. Balançou a cabeça e começou a falar novamente.
-Ele está vindo... Acorde-me quando ele chegar –E dormiu.
Inu-Yasha franziu o cenho observando a respiração dela normalizar. Pousou a mão em sua fronte. Ainda tinha febre, deveria estar delirando quando dissera que alguém vinha.
-Inu-Yasha-sama... –Bateu uma serva na porta, mas ao vê-lo estendido ao lado da garota no leito arregalou os olhos e corou –M-Me Perdoe!
O príncipe girou os olhos, levantando-se avermelhado e encarou a serva ameaçadoramente. Humanos idiotas que sempre tiravam conclusões precipitadas sobre tudo. Sentou-se numa das cadeiras, mandando-a entrar com a voz fraca. Massageou as temporas e suspirou, olhando a empregada novamente.
-Não era NADA do que a senhorita estava pensando –Começou –Por isso não fique com essa cara. –Resmungou, cruzando os braços em frente ao tórax –O que aconteceu?
-Bom... –Ela começou, olhando para os próprios pés enquanto torcia um pano sujo nas mãos –O senhor Monge captou uma presença se aproximando daqui rapidamente. Ele disse que provavelmente era outro guardião.
As sobrancelhas do hanyou se arquearam longamente. Um outro guardião? Seu olhar caiu sobre o corpo inerte de Kagome. Seria essa pessoa que tinha dito que chegava? Não era possível... Ela devia estar tão mal que nem conseguiria sentir uma presença, por mais poderosa que fosse. Entretanto, não era sensato descartar todas as possibilidades logo.
Sorriu levemente, desde quanto era sensato?
Levantou-se, tentando alisar um pouco suas vestes e se virou para a serva tensa.
-Peça para outra pessoa ficar com ela. De preferência alguma mulher que tenha uma voz mais grave. Leve-me até aquele monge idiota.
-Claro. –Ela fez uma longa reverência e o esperou na porta. Logo em seguida fechou-a e os olhos de Kagome se abriram, porém a expressão madura que dominou a face pálida não era da menina de quinze anos.
Ergueu-se, deixando os lençóis de lado sem fazer muito alvoroço. Silenciosamente, andou até a porta e a abriu de leve, deixando uma fresta estreita, mas o suficientemente espaçosa para poder olhar o corredor. Vazio, concluiu com alívio. Todavia, tinha muito pouco tempo. Ajoelhou-se em frente à lareira, procurando um recipiente que tivesse um pó azulado. Sorriu em contentamento quando o achou e jogou na lenha, fazendo um fogo esverdeado arder.
-Muito bem Kagome. –Sorriu Kikyou, ajeitando um pequeno espelho entre as chamas, de modo que pudesse ver o fogo por ele enquanto estivesse sentada extremidade da cama –Você é bem resistente, não é garota? Lutou contra minha mente até o ponto de ficar doente desse jeito...
Um rosto surgiu na superfície das chamas, era um leve reflexo, porém podia distinguir a clara expressão de desagrado.
-Agora que tenho absoluta certeza que sabe quem sou, garota... –Começou, encarando aqueles olhos castanhos que brilhavam entre o fogo –Podemos conversar sem cerimônias, certo?
-Nós sempre pudemos. –Ecoou uma voz pelo quarto. –Me deixe voltar.
O sorriso da mulher murchou, tornando-se numa rapidez incrível uma linha indefinida. Os orbes frios como gelo e levemente arrogantes não mostravam absolutamente nada, só indiferença e aborrecimento.
-Não posso fazer isso, foi longe demais no passado.
-Por que não quer que eu descubra?! –Exclamou com raiva –Por SUA causa fiquei debilitada! Por que tenta bloquear os sonhos que me farão descobrir tudo?
-É muito cedo. Com seu atual temperamento, vai julgar ao invés de analisar o que tem nas mãos. Assim como fez com sua mãe.
Os olhos se arregalaram, parecendo ofendidos. Kikyou pôde ver um semblante de pura revolta se formando no rosto jovem. Tola. Uma criança tola, só isso. Achava que sabia de absolutamente tudo e que seu julgamento era o mais correto.
-Não vou responder suas provocações! Só me fale uma coisa! Por que deixou o rei a trair se sabia de tudo?! Poderia ter evitado uma tragédia.
A mulher suspirou, mergulhando os dedos entre os cabelos. Deitou-se de lado no leito, apoiando a cabeça no cotovelo com a expressão impassível enquanto analisava o rosto confuso da menina. Deixou um longo suspiro de cansaço escapar por entre os lábios semicerrados. Não era hora... ainda.
-Nada é o que parece, Kagome. Eu fui a primeira traidora.
-O q-
-Agora já é o momento de voltar para o seu corpo. –Sorriu debochada enquanto pegava o espelhinho e o jogava nas chamas –Isso era só um aviso para não se afobar.
Foi até a cama, postando-se entre os travesseiros macios e se cobriu com o lençol fresco. A porta foi aberta, deveria ser a serva que tinham mandado chamar para ficar de sentinela. Virou-se para o lado, com o intuito de que ela não percebesse que estava desperta.
A primeira traidora...
Sim, ela fora traidora do próprio sangue. Trouxera desgraça e sofrimento devido ao seu egoísmo. Condenara inúmeras gerações pelo seu ego. Era uma mentira desgraçada quando diziam que não se podia mudar o futuro quando sabia dele. Isto não passava de uma desculpa para não agir. Poderia ter mudado se assim desejasse e isso não seria um pecado, e sim uma das tantas escolhas para trilhar seu caminho.
No entanto, desejara ficar alheia a tudo. O pior era que não retia nenhum arrependimento. Mesmo com a culpa nas costas, achava o que tinha feito certo.
-Eu sou mesmo um monstro. –Sussurrou.
Era melhor deixar a garota sem sonhos por enquanto... Iria descobrir rápido demais.
Iria escolher rápido demais. Riu.
A menina escolheria ser a boa samaritana, aquela que pagaria por seus erros ou... Seria mais uma traidora, aquela que seguiria sua emoção?
/o/o
Rin virou-se preguiçosamente na superfície confortável. Agarrou o travesseiro esperando aspirar a profunda fragrância de jasmim. Entretanto o que sentia ers somente um cheiro levemente adocicado e acolhedor, nada parecido com o perfume forte que a despertava toda manhã. Era tão leve e gostosa de cheirar que teve a mínima vontade de levantar.
Alguém a sacudiu fracamente. Virou-se para o outro lado, ignorando o chamado, que se tornava cada vez mais impaciente e insistente. Suspirou, não queria deixar o seu leito tão morno.
-Acorde, garota! –Exclamou uma voz rouca.
Abriu os olhos irritada, porém ao ver onde e com quem estava, toda a cor sumiu de seu rosto.
O youkai olhava-a por cima dos ombros displicentemente, deixando-a assustada. Rapidamente saiu do abrigo da cauda dele, dando vários passos para trás até se apoiar em uma árvore. Sentia-se totalmente a mercê daqueles olhos dourados estreitos e intensos. Começou a tremer. E se ele resolve-se eliminá-la?
Abaixou a cabeça, cortando a guerra de olhares e mordeu o lábio inferior. Devia ter pensado naquela hipótese, mas fora burra o bastante para não deduzir qual seria a reação dele quando acordasse.
Sesshoumaru se levantou sem rodeios, olhando para o próprio corpo. Poderia afirmar que houvera uma melhora quase total daquele seu estado lastimável. Há! Até uma ameba estaria melhor que ele. Tinha absoluta certeza que iria morrer, mas havia acordado com a força fluindo em suas veias e a sensação revigorante de sempre. Claro, não estava no auge de seu poder, mas pelo menos conseguia levantar e andar.
No entanto sentira algo diferente ao despertar. Era um cheiro impregnado em si. Ao examinar o ambiente constatou que era o cheiro da menina que estava enrolada em sua cauda. O cheiro dela estava em todo lugar. Seu cabelo, mãos, roupas... Era como se ela tivesse passado um período razoável em contato com ele, no entanto, não se lembrava de nada. Existia uma grande falha em suas lembranças, a única coisa que podia recordar era do golpe de Kagura, depois era um enorme espaço de dor.
Averiguou-a dos pés até a cabeça. A julgar pelas vestes, devia ser uma espécie de camponesa... Mas nem uma camponesa teria as roupas tão rasgadas quanto ela. Uma pequena prostituta talvez? Não... Costumavam andar mais arrumadas e não havia o odor nem resquícios de maquiagem em sua face.
-Quem é você? –Perguntou com a voz calma, como se tentasse tranqüilizar a garota.
Ela ergueu os olhos, esperançosa. Talvez ele não fosse retalhá-la com aquelas garras afiadas.
-Rin... –Respondeu num fio de voz.
Ele bufou, controlando-se para não se irritar muito.
-Perguntei quem você é, não seu nome. –Falou girando os olhos
A menina levou uma das mãos ao peito. Não poderia se desesperar agora... Definitivamente não!
-Uma serva... De um castelo... No litoral.
-O que aconteceu com você para estar nesse... estado?
A garota ruborizou furiosamente, olhando para o que trajava. Certamente aquilo não poderia ser chamado mais de quimono. Deveria estar parecendo uma mendiga cheia de trapos rasgados.
-Minha casa... Foi destruída. –Terminou com muito esforço –E eu vim parar aqui, fugindo do desastre.
-Entendo... –Ele suspirou.
-Desculpe ter dormido na sua... –Ela apontou para o longo rabo felpudo.
Sesshoumaru balançou a cabeça laconicamente, a mirando nos olhos.
-Foi você quem me trouxe para cá?
-M-me desculpe! –Começou de novo em pânico –Mas não podia deix-
O youkai simplesmente deu as costas a ela, deixando-a estática prensada contra a árvore. Sua respiração estava ofegante e seus joelhos quase não suportavam o peso de seu corpo, tamanho era o nervosismo. Foi caindo no chão devagar, ele estava indo embora. Não era exatamente o que esperava, mas era muito melhor do que ser morta ali mesmo... ou não?
-Você que cuidou de mim, não é humana? –Parou novamente, sem fitá-la.
-Sim.
Então ele parou, parecendo muito entretido em mirar as nuvens no céu límpido. Era estranho. Não conseguia decifrar qualquer ação nele, porém era hipnótica a suavidade com que andava e o modo que falava, fazendo aquela voz grave penetrar em cada parte de seu corpo.
Sentia-se simplesmente segura, mesmo ele não dando razões para isso. Era uma energia própria dele que não podia explicar. Parecia muito com a de Inu-Yasha, entretanto era ligeiramente diferente, uma sensação impar.
-Estou devendo um favor. –Ele começou a andar novamente –Irei arranjar roupas decentes para você e depois veremos o que vamos fazer. –E desapareceu entre a vegetação, com sua voz ainda ecoando nos ouvidos da garota.
-Quem é, afinal? –Sussurrou para o vento, intrigada.
/o/o
-ABRA ESSA PORTA! –Urrou Kouga socando os portões do castelo.
A chuva torrencial já caia há mais ou menos uma hora. No entanto, o lobo não se deixava abater. Sua força de vontade era tão grande que não sentia as grossas e geladas gotas d'água caírem sobre sua pele bronzeada. Só naquele momento em que parou diante das grandes portas de madeira do reino de Bankotsu, sentiu todo o frio e o cansaço. Estava um pouco febril e ofegante, mas não podia perecer.
-ABRA! –Insistiu, chutando furiosamente aquela grossa placa de madeira.
Preparou-se para investir contra aquilo com o cotovelo, porém deu de encontro com a cara nada amigável de Inu-Yasha.
-Sabia que é crime fazer isso com a propriedade dos outros, lobo fedido? –Perguntou desdenhoso enquanto segurava o cotovelo do outro com uma das mãos.
-Cale-se cão estúpido! Em primeiro lugar, o que faz aqui?! Eu vim ver a Kagome, não você, vira-lata idiota!
O hanyou estreitou os olhos, cerrando os punhos. Não estava com humor para agüentar gracinhas de ninguém, principalmente daquele ser em sua frente. Não tinha dormido direito, muito menos descansado. Todo o stress dos problemas gerados pelo incêndio começaram a aflorar, fazendo com que tivesse uma infinita vontade de socar aquela imitação de youkai até ele vomitar as tripas.
-Para sua informação, eu estou acompanhando a Kagome! Ao contrário de um guardião estúpido como você, que fica fugindo.
O rosto de Kouga avermelhou-se rapidamente enquanto trincava os dentes. Fitou o seu provocador com um olhar mortal. Ele não sabia o que tinha passado, muito menos o que tinha feito. Não iria deixar um qualquer desvalorizar seu esforço. Fechou o punho e partiu para cima do Hanyou o mais rápido que conseguia.
Inu-Yasha sorriu divertido. Desviou-se do lobo agachando-se, não demorando a dar uma rasteira. Entretanto, por sorte ou não, Kouga era mais rápido do que imaginou. Pulou rapidamente, acertando o estômago do príncipe com um chute. Recuou alguns passos, postando-se na posição de batalha. Inu-Yasha levantou os orbes dourados faiscantes e rosnou.
-O que foi, cachorrinho? Não era eu o guardião estúpido? –Debochou o demônio de olhos azuis.
-Cale a boca! –Grunhiu, preparando suas garras para cortar qualquer coisa em seu caminho.
-PAREM COM ISSO! –Gritou Sango seguida de Shippou e Miroku –Kagome não gostaria de vê-lo brigando, Inu-Yasha.
O meio-demônio virou-se com uma expressão de pura fúria para quem tinha ousado interromper sua luta. Porém, o rosto de Sango estava impassível. Afinal não tinha sido uma caçadora de Youkais todo aquele tempo para temê-los. Andou decidida até o meio dos dois, lançando um olhar frio para cada um.
-Kagome está doente, pensei que pelo menos isso você pudesse respeitar.
-Quem é você, humana? –Perguntou Kouga com desdém.
A ex-caçadora girou os olhos, colocando as mãos nos quadris. Ergueu levemente a cabeça, fazendo com que tivesse um ar imponente. Aquela mulher exalava força e determinação.
-Meu nome é Sango, sou uma caçadora de youkais. –Sorriu ameaçadoramente –Parei com a profissão, mas... Serei obrigada a voltar a atividade se não se acalmarem, agora. –Pediu suave, mas ainda sim havia um perigo implícito em seu tom de voz.
Eles se encararam mais uma vez, mas acabaram por ceder e somente olharam para o outro lado. Miroku somente balançou a cabeça contendo um riso enquanto Shippou mirava a mulher, admirado.
-Que tal... entrarmos? –Sugeriu o Monge, um pouco inseguro.
-Bah! –Exclamou Inu-Yasha e deu as costas a todos, caminhando rapidamente até o castelo –Não acredito que ela sentiu sua presença... –Murmurou enquanto abria as portas.
O príncipe entrou no castelo dando um suspiro cansado. Veria se conseguiria tomar alguma coisa que o acalmasse, porém viu a serva que tinham mandado para o quarto de Kagome sair correndo em direção a um dos corredores. Franziu o cenho. Em hipótese alguma a miko deveria ser deixada sozinha naquele estado. Iria correr atrás dela, mas a empregada voltou, dessa vez carregando um balde de água. Estranho.
O hanyou a seguiu e segurou seu braço, fazendo-a pular de susto e quase derrubar todo o líquido no chão. Ela arregalou os olhos, segurando a respiração enquanto mexas negras do rabo de cavalo caiam em seu rosto.
-O que está fazendo aqui? –Ele perguntou, reunindo a pouca paciência que lhe restava.
-A senhorita K-Kagome... –Gaguejou –Pediu para que eu trouxesse água...
O semblante do príncipe escureceu.
-Ela está pior?
-N-Não! Está agitada, com... raiva. Jogou todos os lençóis para o alto e pediu que eu trouxesse água o mais rápido possível. –Fez uma pequena reverência –Desculpe deixá-la, mas foram suas ordens.
O hanyou assentiu com a cabeça, pedindo educadamente para carregar o balde pela serva e foi rapidamente ao quarto. Deu um pequeno pontapé na porta, encontrando Kagome furiosa socando os travesseiros do recinto, fazendo chover penas. Seus olhos flamejavam e seu rosto estava levemente rubro. Não por febre, mas sim pelo ódio que ardia em seu peito. Apertou o travesseiro nas mãos, jogando-o com força na cama. Debruçou-se sobre ele e deixou escapar um sonoro "DROGA!".
Inu-Yasha estranhou o comportamento descontrolado e enérgico. Aquela garota tinha estado muito mal nas últimas horas! Como poderia ter uma melhora tão rápida e relevante? Embrenhou os dedos entre os fios prateados, nunca iria conseguir entendê-la.
Bateu na porta de leve, anunciando sua presença. Ela virou a cabeça assustada. Presumia que a empregada iria demorar um pouco mais para voltar, entretanto... Era Inu-Yasha que estava ali! Mordeu o lábio inferior, deixando o travesseiro de lado. Sentou-se na cama de joelhos, deixando escapar um suspiro. Ergueu a mão e pediu.
-A água.
O príncipe deu os ombros, dando o balde para a menina.
-Está pesado... Você está doente.
-Estou muito bem! –Fez um gesto impaciente com a mão, pegando o objeto –Aquilo não foi nada.
-Não, é? –Ele ergueu uma sobrancelha, encostando na parede do quarto. Cruzou os braços e pôs-se a observá-la.
Kagome ajoelhou-se em frente à lareira, colocando o conteúdo cheio do líquido precioso em sua frente. Uniu os dedos polegares e os indicadores. Murmurou algumas palavras em uma língua incompreensível a ouvidos não treinados e começou a surgir um símbolo roxo em sua testa. Fechou os olhos, mergulhando as mãos na água enquanto recitava o último verso do feitiço e uma luz cor de lavanda invadiu o ambiente.
Uma fina neblina envolvia a sacerdotisa. Pegou um punhal, cortando o próprio pulso e deixou gotejar seu sangue no balde até que a coloração do líquido fosse levemente rosada.
Pegou o recipiente e levantou-se, mantendo uma postura ereta. Jogou toda a água na lareira, que ainda abrigava as chamas verdes. O fogo não demorou a se extinguir, então a garota localizou o pequeno espelho que Kikyou tinha jogado lá dentro. Enquanto uma aura rosada envolvia sua mão, pegou o objeto, manuseando-o com cuidado. Maldita! Estava todo chamuscado. Limpou-o nas vestes como pôde até que as letras na moldura circular pudessem ser vistas.
Estreitou os olhos, tentando ler o que estava escrito. Com muito esforço, conseguiu decifrar a mensagem, deixando escapar um grunhido de raiva. Ela tinha tentado acabar com seus sonhos!
Yume no Kimitsu... Esse era o nome do espelho. Quando prendia alguma mente ali e jogava o objeto num fogo especialmente preparado para o ritual, poderia acabar com os sonhos de uma pessoa dependendo de quanto o utensílio queimasse na brincadeira. Apertou o espelho contra o peito, não deixando de se sentir aliviada. Ela quase tinha levado seus sonhos embora por um bom tempo... Mesmo que não gostasse deles, eram sua referência, os sonhos a guiavam.
-Estúpida! –Disse virando-se para um Inu-Yasha curioso –Preciso de mais água. –Pediu indo até ele com o balde na mão.
-Tudo bem.
Ela olhou-o bem e perguntou.
-Ele chegou não é?
O hanyou suspirou. Devia saber que não poderia esconder muita coisa dela.
-Sim, você estava certa...
Ela sorriu satisfeita. Passando os dedos pela face dele delicadamente.
-Eu sei. Chame-o aqui, por favor... Na verdade... Chame todos. –Ela afastou-se com um ar cansado, andando de um lado para o outro –Ele deve ter algo muito importante para dizer.
-É mesmo? Como sabe?
Kagome deu os ombros, girando o espelho nas mãos. Não tinha resposta, simplesmente sentira algo estranho na presença dele, uma suplicia desesperada, como se quisesse fazer uma confidência. Sentou-se cansada no leito, pegando uma das várias penas espalhadas pelo colchão e a mirou atentamente enquanto começava a falar.
-Só venha aqui com os outros, as perguntas ficam para depois.
-Certo. –O hanyou concordou, saindo do recinto.
Assim que ouviu o som da porta sendo encostada, a miko permitiu que seus olhos transbordassem em grossas lágrimas. Encolheu-se, agarrando o lençol. Kikyou era uma perfeita mentirosa, dominava essa arte como ninguém. Ao contrário do que pensava, a lendária sacerdotisa não queria impedir que tivesse sonhos com o passado e sim com o futuro. Depois que limpara o espelho, pôde ver claramente...
-Eu te odeio, Kikyou... –Murmurou –Esse karma foi passado para mim, certo?
Mirou seu reflexo cerrando os olhos.
-Tenho escolhas... Como você... Mas... Gosto demais deles para sacrificá-los, eles não merecem ser bonequinhos de novo!
Ao ouvir o som de passos no corredor, endireitou-se e limpou os olhos.
-Então é esse meu destino... Será que vou ter que pagar por seus pecados?–Sussurrou ouvindo batidas na porta –Entrem!
O grupo entrou silenciosamente, observando a garota sentada na cama com preocupação.
-Ouvimos soluços lá fora, Kagome-san. –Falou Miroku –Tudo bem?
Ela sorriu, assentindo.
-Querem se acomodar? –Perguntou ainda sorrindo falsamente –Se não me engano... Kouga tem algo para falar para nós e... A propósito, bem vindo de volta.
-Obrigado. –O youkai de olhos azuis fez uma reverência enquanto respirava profundamente tomando coragem para falar.
Todos se sentaram na extremidade da cama da garota, enquanto ela ficava encostada ao pé da lareira, ora olhando as cinzas, ora sorrindo, encorajando o lobo a continuar.
-Desculpe... –Ele começou desajeitado –Eu sabia do incêndio... Foi Naraku quem planejou tudo isso.
Kagome mordeu o lábio inferior enquanto o ódio começava a tomá-la novamente. Cerrou os punhos e acenou com a cabeça para que ele prosseguisse.
-Kagome... Naraku... Ele sabe de tudo que está acontecendo! Não só o que nossos olhos podem ver, ele tem conhecimento de muito mais... Todas as lendas do mundo, toda a atividade espiritual... Inclusive a localização de todos os fragmentos da jóia.
-Como assim? –Começou Miroku –Se ele sabe, por que não vai simplesmente juntar tudo?!
-Ele tem mais razões... Tudo vai muito mais além do que podem imaginar. –Suspirou –Naraku é muito poderoso, com seu próprio poder, fez youkais. E ele tem a capacidade de aprisionar corações... Como fez com o meu, basta ele apertar um pouco mais, ou simplesmente retalhá-lo, e eu morro.
-Mas... O seu coração não está ai? –Sango questionou um pouco temerosa apontando para o peito do lobo.
-É uma réplica para bombear o sangue do meu corpo. –Suspirou –Mas o que eu vim falar, Kagome... Não é nada disso... São só meros detalhes... A verdade é que ele em breve vai invadir o Reino de Tai. Naraku não tem limites, já tentou destruir Sesshoumaru... O tempo está acabando, Kagome.
A garota fechou os olhos abaixando a cabeça. Ela tinha plena consciência de o quanto o tempo era curto. Mirou profundamente aqueles orbes azuis desesperados, não podia falar muita coisa, já que Naraku estaria ouvindo tudo.
-Por que Naraku o deixou vir contar, Kouga? –Perguntou a miko calmamente.
-Eu... Não sei, diz que tem planos maiores.
A sacerdotisa estremeceu... Aquele maldito sabia de seu destino também?
-Por favor, vamos acabar com isso!
-Como? –Perguntou Inu-Yasha –Ele não sabe de tudo por acaso?
-Sim, mas... Eu sei onde é que ele fica e se o derrotarmos, tudo ficará bem.
Miroku levantou-se de supetão, falando o mais controlado que podia.
-Acho que não devemos fazer isso, se Naraku sabe de tudo, deve ser uma armadilha.
-O monge tem razão. –Ergueu-se Sango também.
Kagome os fitou com os olhos tristes. Não, ninguém sabia de nada. Tão vivos... Tão cheios de energia, simplesmente não podia... Observou o espelho mais uma vez e respondeu em uma voz firme e decidida.
-Nós vamos.
Continua...
N/a: Bom... Depois de dois meses, eu volto para a infelicidade de vocês XD
Eu sei que demorou, nem vou ficar dando justificativas, na verdade eu faço os capítulos rapidinho, tanto que fiz esse em uns dois ou três dias. É que eu não me sentia ligada ao bastante a história... Isso só aconteceu realmente no meio do cap... Acho que deve ser por causa do cansaço e do desanimo... Mas estou me esforçando para melhorar o/
Obrigada para quem está me apoiando T T, sem vocês, eu não seria nada!
Não me sinto no pique para responder reviews, mas eu faço isso no próximo cap (espero), perdoem essa serva '
Como puderam ver, os últimos mistérios de faces estão sendo revelados... É, está acabando... Apesar de querer terminar a fic, também não quero XD Ela é minha queridinha.. Acho que meu inconsciente faz q eu demore com os caps por causa disso (desculpas esfarrapadas /o/). Bom... Uma nota pequena dessa vez XD
Não tenho previsão para o próximo cap, mas reviews ajudam BASTANTE o/
Agora... Antes de ir, os agradecimentos: Thnks Lally, que revisou esse cap rapidinhoo/, e claro... Esse cap de certa forma é um presente para a Akemi XD Agora pode falar quanto mágico você quiser!
Obrigada mais uma vez o
Kisu e até o próximo cap...
Kiki