Mares em Revolta
Capítulo Um – Bem vindo de volta
Severus Snape franziu a testa asperamente para seu próprio reflexo. "É uma droga de Festa de Boas Vindas, não uma reunião de Comensais da Morte", ele murmurou para si mesmo. "O que eu sou, um grifinório?"
"Ei, essa me ofendeu", uma voz feminina replicou alegremente para ele do outro cômodo.
Ele bufou e resistiu ao impulso de murmurar qualquer coisa sob a respiração. Sonora de alguma forma desenvolvera tanto os ouvidos que o impediam de resmungar qualquer afronta infantil sem que ela escutasse. Ao invés disso ele vestiu seus robes negros e tratou de sair do banheiro, passando para seu quarto.
Sua mulher sorriu para ele de onde estava, sentada sobre a cama, prendendo o último grampo que juntava sua capa por cima das vestes professorais. "Vamos, vamos, Severus", ela ralhou. "Você age como se estivesse indo ao seu funeral. São apenas alunos."
Ele olhou-a, afetado. "Alunos que me odeiam e te amam, e adorariam me transformar num ingrediente para qualquer das minhas próprias poções", ele murmurou. A luz das tochas encantadas na parede refletiu sobre o grampo na mão dela, conforme ela erguia os braços para prender o longo cabelo. Severus se descobriu assistindo-a com grande satisfação.
Pondo de lado todos os seus protestos e resmungos, ele nunca se sentira tão cegamente, bem, feliz como se sentira do dia em que colocara aquele anel no dedo dela. O anel da família Snape era uma peça delicada, uma onda de opalas e esmeraldas envolvida em ouro que se adequava a ela mais do que qualquer outra coisa que ele pudesse ter pensado.
Era mesmo muito bom, ele pensou, tê-la completamente daquele jeito. Sem mais ter que esconder dos alunos, sem mais ter que defendê-la do nada, como se não fosse nada sua. Não, Sonora agora era verdadeiramente sua.
Seus lábios se curvaram à este pensamento, e ele não pode resistir a baixar a vista para sua própria mão. E ela se entregara a ele tão livremente, simplesmente o informara de que ele também pertencia a ela. Seu sorriso se alargou. E que noite fora aquela...
"Severus, querido?", a voz dela cortou-o docemente. "Se você já terminou de fantasiar, nós temos uma festa para ir."
Severus baixou bem a vista até sua esposa, algo bastante fácil de fazer, considerando que ela tinha bem uns trinta centímetros a menos que ele de altura. "Pensei que fosse eu quem estava te esperando", lembrou-a antes de oferecer a ela um braço. "Agora que você está pronta...", tentou-a.
Sonora cerrou os lábios para ele. "Oh, e quem é que estava acovardado no banheiro, conversando com o espelho?", ela disse, sorrindo largamente, para depois ficar na ponta dos pés e dá-lo um beijo doce e tenro. Ele saboreou-a por um momento antes de gentilmente colocá-la de volta sobre seus próprios pés, tendo certeza de que ela segurava a bengala.
"Bem, vamos acabar logo com isso", ele disse com um suspiro. "Estou certo de que Dumbledore pretende se esforçar ao máximo para tornar esta noite o mais apavorante possível."
Sonora riu enquanto eles saíam da sala de aula. "Certo, certo", ela disse, claramente rindo dele e mais claramente ainda se divertindo à beça com isso. "Ele é apenas um velho gentil e adorável." Riu de novo ao ver Severus bufando. Inferno sangrento, aquela seria uma noite quase impossível de suportar.
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Harry Potter esticou os pés sob a mesa e vistoriou o Salão Principal com satisfação. Inferno sangrento, era bom estar de volta. Não importaria o que acontecesse durante o ano letivo, não importava o quão ruim ficasse, tudo que era necessário era um verão com os Dursley para se lembrar de como era ótimo ser um bruxo.
Sorriu para si mesmo enquanto Rony murmurava alguma coisa sobre haver um inferno inteiro só de primeiranistas, e que não fora tão demorado assim com eles, e se McGonagall não podia simplesmente fazer a droga do favor de se apressar, afinal havia gente faminta ali. Claro, o verão se tornara muito mais interessante desde que ele completara dezessete anos. Seu aniversário fora lembrado por um ataque violento de corujas incluindo um adorável pacote vindo de Fred e Jorge Weasley. Eles o informaram de que como seu parceiro silencioso agora-maior-de-idade, era sua tarefa testar algumas novas invenções e reportar sobre seu funcionamento. Eles não achavam que qualquer dos efeitos pudesse ser permanente, acrescentaram, mas seria melhor tentar os vermelhos naquele seu primo gordo, apenas por segurança.
Duda passou o resto do verão apavorado demais ao comer qualquer coisa, e conseqüentemente perdera um pouquinho de peso. Coisa essa que não o impediu de oscilar entre diversos tons de carmesim, brotar asas pela parte de trás de sua cabeça, crescer um nariz de três metros e meio e falar em babilônio antigo por cerca de uma semana. Tia Petúnia estivera histérica por semanas, Tio Valter berrara e ameaçara, também perdendo um pouco de peso. Fora o melhor verão de sua vida.
Finalmente, ele se cansou da doce vingança que estava arrancando de seus parentes, e os informou uma semana antes de ir embora que pararia com as armadilhas se simplesmente o deixassem em paz. Eles usaram tal atitude como vingança, sem nem mesmo cruzar os olhares com ele por qualquer corredor da casa.
O Chapéu Seletor estava em "P", agora, e Hermione estava sibilando para que Rony ficasse quieto e não arruinasse seu primeiro dia como Monitor Chefe. Francamente, Harry não ficara surpreso ao ver seus amigos nomeados para as maiores honras. Hermione fora sempre a favorita, e Rony, bem, não havia ninguém melhor para juntar as pessoas e guiá-las do que ele. Seu amigo discutira com ele ao ouvir isso, alegando que Harry deveria ter conseguido o distintivo, mas Harry o endireitara. Seu trabalho era lutar, não liderar.
Amanda Tuttle acabara de ser selecionada para a Corvinal, e Harry olhou em volta, curioso para ver se alguém teria mudado durante o verão. Malfoy estava espalhado elegantemente na mesa da Sonserina, observando os procedimentos com olhos estreitos e frios. Seus colegas de Casa pareciam mais sombrios e severos do que antes, se possível. Sentiu uma pena momentânea pelos primeiranistas selecionados para lá. Não seria fácil.
A Lufa-Lufa e a Corvinal, ele ficou feliz em ver, não estavam com ninguém faltando. Nenhum aluno morrera durante aquele verão, algo sobre o qual ele estava se certa forma muito impressionado. Então, novamente, aquilo não foi mais uma surpresa completa. Ele tinha a sensação de que Voldemort estava esperando, esperando por ele.
E ali na Grifinória... Lançou olhares afetuosos por seus colegas. Os irmãos Creevey, Simas e Dino, Lilá e Parvati, Neville. Todos rostos familiares, sorridentes e felizes por estarem de volta. Rony e Hermione, sentados um de frente para o outro e discutindo de novo aos sussurros, e Gina e Cara murmurando sobre qualquer coisa por trás das mãos. Tudo parecia bom.
Ergueu os olhos para a mesa dos professores e estudou os rostos ali. Gui estava de volta como professor de Defesa, um pequeno milagre. Hagrid estava sólido e acomodado a um canto da mesa, Flitwick e Sprout estavam sussurrando, e descendo para o outros extremo da mesa, Snape e a Professora Stone estavam assistindo a Seleção.
Os olhos de Harry captaram um traço de algo diferente ali, entretanto, e seus olhos se estreitaram. Seria aquilo... Por um breve segundo, foi uma brisa fria cruzando sua mente, e seus olhos se arregalaram. Oh, inferno, o velho bastardo fizera.
Harry cutucou Rony com o cotovelo, interrompendo a briga. "Oi", Rony murmurou para ele, aborrecido. "Se importa?"
"Olhe para Snape", ele disse de volta, olhando para Hermione e apontando com cuidado para a mesa. "Está vendo?"
Rony examinou a mesa principal. "Vendo o quê? Inferno sangrento, cara, você está começando a ficar esquisito com essa coisa de ver e saber tudo.", seu melhor amigo grunhiu.
Hermione tinha as sobrancelhas juntas ao tentar decifrar a mensagem de Harry. "Do que você está falando, Harry, eu não vejo coisa alguma."
Ele sorriu e se inclinou sobre Gina e Cara. "Vocês duas estão vendo?", ele perguntou, cauteloso para manter sua voz casual e comum, sem mais emoção que o comum. Ele aprendera algumas coisas aquele verão, sobre como se manter sólido e impenetrável. "Olhem para Snape."
Neville também ouvira, e agora havia um pedaço inteiro da mesa da Grifinória examinando cuidadosamente o Mestre de Poções. Este, em retorno, percebeu que estava sendo encarado e retribuiu os olhares.
"Eu não vejo...", Gina começou, franzindo a testa. Logo em seguida, a Professora Stone percebeu o que estava acontecendo e sorriu. Um sorriso grande, satisfeito e divertido. Ela disse algo para Snape que o fez fechar mais o rosto e ficar mais sombrio do que nunca, e então ergueu uma mão, acenando para eles. Sua mão esquerda. Com um brilho.
Hermione engasgou, bem como Gina e Cara. "Oh, meu Deus", sua amiga sussurrou, antes de olhar para Harry e sorrir radiante. "Ele não fez isso."
Harry sorriu malicioso. "Acho que estamos prestes a ouvir um discurso de Dumbledore sobre como ele realmente fez."
Gina gargalhou. "Oh, Snape vai odiar isso", ela disse, com certa alegria. O Mestre Poções até podia não ser tão malvado quanto fora no passado, mas ainda não era o professor favorito de ninguém. Bem, talvez ninguém com a exceção de Draco, e seria mesmo uma competição dura com a Professora Stone ainda assim.
Rony parecia vago, Neville perplexo, e as outras pessoas começavam a sussurrar. "Eu não entendi", Neville disse. "Do que vocês estão falando?"
Gina riu e passou um braço pelos ombros de Neville, sentado ao lado dela. "Neville, velho amigo, velho colega, você é um garoto e conseqüentemente dono de poderes inferiores de percepção", ela o informou. Harry sentiu a onda fria em seu estômago, e teve que parar um segundo para controlar-se. Ele gastara tempo e esforço demais naquele verão para falhar agora que estava de volta a Hogwarts. Hermione e Cara sorriram afetadas enquanto Rony chiava, como sempre fazia quando estava insultado.
"Foi Harry quem apontou o que quer que seja para vocês", Rony disse, soando na defensiva para todos que ouviam.
Gina sorriu mais. "Harry é especial", disse. Harry inclinou-se para trás e assistiu enquanto todos se posicionavam em sua luta garotos x garotas, enquanto outros pensamentos se desenhavam em sua mente. Era uma coisa perigosa, aquela que Snape fizera. Francamente, Harry não entendera como ele conseguira, se realmente se importava. Claro, a Professora Stone não podia subir muito mais nas prioridades de Voldemort, já provavelmente entre os dez primeiros desde os eventos de dois anos atrás; talvez Snape achasse que não poderia piorar as coisas mais ainda do que já estavam.
Enquanto isso, a Seleção terminara e McGonagall levara o chapéu. Dumbledore estava agora em pé, prestes a começar seu discurso.
"Bem vindos de volta para outro ano em Hogwarts", o diretor disse, olhando em volta com um sorriso. Harry o observou, lembrando-se do quanto fora intimidado por aquele velho em seu primeiro ano. Pensara que Dumbledore sabia tudo. "Serei breve, já que suspeito que muitos de vocês estão mais do que ansiosos para começar o verdadeiro negócio desta noite." Aqueles olhos azuis cintilaram. "Em primeiro lugar, eu gostaria de dar mais boas vindas ao Professor Weasley que aqui continua, que passará mais um ano com as aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas." Harry se juntou a seus colegas de Casa, e de fato à maioria da escola, nos aplausos a Gui. Francamente, eles estavam todos gratos por ele não ter morrido nem chegado perto. Seus professores de Defesa tinham sempre a tendência de sumir da face da Terra.
"Em segundo lugar, eu gostaria de parabenizar o Monitor e a Monitora Chefe, ambos vindos da Grifinória este ano. Ronald Weasley e Hermione Granger." Harry aplaudiu mais do que qualquer um, enquanto seus amigos ali estavam, Rony da cor de um tijolo e, Hermione, serena e sorridente.
"Finalmente", Dumbledore anunciou assim que os dois se sentaram mais uma vez, Harry incapaz de resistir a cutucar Rony, divertido. "Tenho um anúncio muito agradável." Harry sorriu afetado e observou Snape, que parecia querer escorregar por sua cadeira e ficar invisível. Oh, sim. Isso seria bom.
"Sou o mais satisfeito em cumprimentar de volta os Mestres de Poções, depois de um verão muito agitado", Dumbledore disse. Snape continuava tentando desaparecer. "Este verão, tive o grande privilégio de estar presente à ocasião mais alegre, um momento de profunda emoção e sentimentos sinceros." Snape não conseguira afundar mais, a Professora Stone o segurara pelo braço. "Eu falo, claro, do casamento de nossos queridos Professor Snape e Professora Stone, que será agora conhecida pelo nome de seu marido. Estou certo de que a escola irá querer se juntar a mim nos desejos de felicidade para o casal."
Houve um silêncio mortal no salão enquanto cada queixo caía e cada par de olhos estava fixo incredulamente em Snape. Harry quis rir, mas se controlou ao ver o silêncio em todo o salão.
Então Draco Malfoy se levantou graciosamente e, em pé e só, começou a aplaudir. Harry se pôs sobre seus próprios pés e se juntou a ele, certo de que era o suficiente, aplaudir. Apenas para ver o olhar de Snape.
Numa onda, então, o resto dos alunos começou a se levantar e aplaudir, conforme voltas de gritos de aprovação enchiam o salão. A Professora Stone, ou melhor, a Professora Snape riu satisfeita, e para profunda diversão dos alunos, inclinou-se e deu um beijo rápido no Mestre de Poções, rígido e contido. Assovios e gritos acompanharam o gesto, apenas para ficarem mais altos quando Snape franziu a testa e beijou-a depressa também.
Levou quase dez minutos para que Dumbledore conseguisse controlar os alunos, para dizer as palavras que disse iniciarem a festa, 'Nimble, mimble, munbus". A mesas quase rangeram sobre o peso da comida surgindo de repente sobre os pratos, e mão começaram a se estender sobre esta.
Harry endireitou-se e observou, enchendo seu prato. Sorriu. Ah, sim. Era bom estar de volta.
