Mares em Revolta

Capítulo Treze – A Proximidade da Noite

Harry não sabia mais que horas eram. Tudo que ele sabia era que a Sala parecia estar se cansando de aparecer com novos bonecos para servirem como válvula de escape para seus excessos de energia, em meio a bolas de fogo que emergiam de sua varinha. Ele andou um pouco enquanto esperava, vagando até a janela para encarar a noite sombria.

Ele flexionou os dedos antes de se inclinar contra o batente. Ele não estava nem mesmo cansado, magicamente falando. Tinha a sensação de que se ele se sentasse imóvel por muito tempo poderia dormir, mas por outro lado, ele sentia que poderia passar a noite atirando feitiços.

Ele quase ouviu o feitiço antes que ele viesse, e sem se virar apontou um dedo. "Flamatus!" Aquele estava se tornando rapidamente o seu favorito. Era mesmo algo com bolas de fogo, ele decidiu. Ouviu o ruído do boneco sendo atingido e o clique do boneco começando a queimar, e então parou.

Harry girou nos calcanhares, e para sua surpresa havia outra pessoa dentro da sala, parada à porta. Ele piscou. "Senhor?", disse, incapaz de pôr qualquer entusiasmo na voz.

O Professor Dumbledore caminhou para fora das sombras. "Olá, Harry", ele disse. "Você está um pouco atrasado, não está?"

Harry segurou a resposta que ele queria atirar, e ao invés disso deu de ombros e encarou a janela. Tinha plena certeza de que Dumbledore não estava apenas passeando e resolvera entrar na Sala Precisa, o que indicava que havia uma razão para ele estar ali. E Harry não estava propenso a sustentar conversinhas inúteis antes de chegar a essa razão.

Ele ouviu o ruído suave das vestes do diretor se arrastando no chão, ouviu-o passando por cima dos restos chamuscados do boneco, mas ainda não olhou-o quando o velho bruxo parou perto dele.

Houve um suspiro suave. "Não importa o quão escuro esteja o mundo, não importa o quão assustadores sejam os acontecimentos do dia, sempre há um certo algo a ser encontrado em Hogwarts", Dumbledore disse suavemente. "É este o motivo da escola ter sido o alvo de bruxos das trevas antes, e será de novo. É também o motivo dela nunca ter caído, e de que nunca cairá." Harry podia ver a barba prateada ondulando pelo canto do olho. "Hogwarts protege a si mesma", ele disse.

Harry não estava bem certo de aonde ele estava querendo chegar com aquilo, mas ele tinha uma pergunta. "Como você sabia que eu estava aqui?", ele perguntou, abruptamente. Se outra pessoa dera a dica ao diretor, aquilo significava que ele teria que encontrar outro ponto seguro para praticar. A última coisa que ele precisava era perder o elemento surpresa.

Dumbledore ficou quieto por um momento. "Hogwarts protege a si mesma", ele finalmente disse de novo, numa voz lenta e pensativa. "O castelo me trouxe até você."

Harry engoliu um bufo de descrédito, mas decidiu interpretar a frase como nenhum aluno tendo denunciado-o. Ele supôs que isso era um alívio.

Houve outro calmo suspiro. "Harry", Dumbledore disse. "Temo que nós precisamos falar sobre o que está lhe atormentando."

AQUILO fez Harry deixar escapar um sorriso afetado. "O que está me atormentando? Eu não sei do que está falando, professor. Eu venho até aqui por pura diversão.", disse, incapaz de conter o sarcasmo de sua voz.

"Você não pode mais esconder suas habilidades, Harry", disse o diretor. "Seus professores perceberam. E não vai demorar muito até que seus colegas estudantes também notem."

"Por que você acha que eu estou nessa droga dessa sala no meio da noite?" Harry demandou, e imediatamente se arrependeu pelo deslize. Mas já que ele começara... "Estarei tão pronto quanto possível, não se preocupe. Farei o meu melhor para matar o seu querido amigo Tom."

A amargura na voz de Harry ficou pendurada no ar, como que ditando o clima. "Eu nunca deveria ter escondido a profecia de você", o velho disse, suando de fato tão velho quanto deveria ser. "Eu nunca deveria ter tentando te defender como eu fiz. Eu deveria ter evitado que minhas afeições me cegassem para o fato de que você já tinha força o suficiente para lidar com isso." Sua tristeza era profunda e parecia atravessar a sala em ondas maciças. "Mas eu estou velho, Harry. Tenho visto estudantes indo e vindo por mais de um século. Eu batalhei contra bruxos das trevas, e eu assisti à morte dos meus amigos enquanto eu continuava vivo. E todos que vinham até mim buscavam respostas, buscavam um guia. E eu me acostumei demais ao fato de minhas decisões serem as únicas."

O estômago de Harry estava rolando, agitando-se. "Eu merecia saber, especialmente depois do Torneio Tribruxo", ele disse entredentes.

"Você merecia", veio a resposta suave.

"Você me abandonou no ano passado. Eu vivi o inferno com aquela Umbridge. Ainda tenho as cicatrizes daquela maldita pena", ele disse, erguendo a mão em questão e então deixando-a cair de novo, ainda encarando a janela. As palavras estavam vindo depressa e com muita raiva agora. "Eu passei os primeiros onze anos da minha vida ouvindo que sou um nada, até você chegar, dizendo que eu realmente era alguma coisa, para depois desaparecer como se nada disso fosse verdade."

"Me desculpe", veio a segunda voz.

"Sim, você pede desculpas", Harry murmurou, finalmente baixando os olhos para encarar o chão. "Estou arrependido, também. Arrependido por tantas pessoas terem se envolvido nas minhas confusões durante esses anos. Mas desculpas não recolhem o leite derramado."

Eles ficaram em silêncio de novo. E desta vez este silêncio não era tão denso e pesado. Harry evitara falar com o diretor desde o final do quinto ano, quando ele quase destruíra o escritório do homem. Algo que, naquele momento, o deixava muito embaraçado. Ele ainda não tinha a controle que agora adquirira, pensou.

"Não podemos voltar no tempo", disse Dumbledore suavemente. "Apenas avançar." Houve um toque leve no braço de Harry, e ele se enrijeceu. "Você vai avançar comigo, Harry? Estou lhe pedindo."

"Não sei se confio em você", Harry resmungou. "Não do mesmo modo como eu não confio em um Comensal da Morte, afinal você não está tentando me matar." Ele fez uma pausa. Bem, ele andava mesmo com um senso de humor negro naqueles dias. "Pelo menos até onde eu sei, de qualquer forma." Houve uma risada a seu lado, e ele se sentiu mais leve. "Eu não sei se confio que você me contará tudo, ao invés de me usar apenas como um instrumento para destruir Voldemort."

Ele viu a barba branca assentindo pelo canto da visão. "Eu sei disso", Dumbledore disse. "Eu peço muito, quando talvez eu não tenha o direito."

Harry encarou a noite mais uma vez e sentiu a escuridão pesada em seus ombros. Imagens giraram em sua mente, vindas dos seis anos anteriores. As vezes em que ele agira sem pensar, as vezes em que tentou fazer a coisa certa. Todas as vezes que ele tentara, maldição.

"Darei-lhe o que puder", ele finalmente disse, sentindo o cansaço tomar conta dele. "Não sei quanto eu ainda tenho, mas vou lhe dar tudo que puder." E afinal virou-se e encarou o diretor, percebendo surpreso que já era alguns centímetros mais alto. "Mas no momento em que você romper minha confiança", ele fez uma pausa. Não sabia se poderia lidar com aquilo.

Dumbledore estava estudando-o, com um brilho nos olhos escondidos atrás dos óculos. "De tantas maneiras você continua me lembrando os seus pais", ele disse suavemente. "A determinação de seu pai. A vontade de sua mãe. E então, você faz algo que me lembra como você é de verdade, sozinho,algo verdadeiramente memorável." O Professor Dumbledore estendeu a mão. "Eu lhe dou a minha palavra, como alguém que sentiu sua falta, Harry, e que não guardarei segredos de você. Não sobre tudo que você estiver envolvido."

Harry olhou demoradamente o diretor, quase tentado a ver se não poderia abrir a porta da mente dele e checar por si mesmo. Mas ele disse que tentaria. Estendeu sua própria mão e apertou a do velho bruxo.

A sala pareceu se iluminar, o peso pareceu desvanecer. Dumbledore sorriu, um flash de dentes brancos no escuro. "Vou para a minha cama agora", ele disse. "Amanhã eu devo chamá-lo, para discutir outros problemas que não precisam ser resolvidos esta noite."Ele ergueu a cabeça, os olhos cintilando para Harry. "Sugiro que faça o mesmo", ele disse. "Você parece ter ficado sem bonecos para praticar."

Harry baixou os olhos para os restos chamuscados do último, e bufou. "É, a Sala está ficando um pouco cansada de mim, eu diria.", ele suspirou. E estava cansado. Seguiu o professor até a porta e até o corredor escurecido. Quase pode ouvir o suspiro de alívio da Sala Precisa quando ele saiu. Mas aquilo devia ter sido mesmo sua imaginação.

"Mais uma coisa, Harry", o diretor disse, virando-se para o outro lado do corredor. Harry olhou-o de novo. "Lucius Malfoy é um bastardo." E então o velho já tinha se ido num ruflar de vestes.

Harry encarou vagamente o corredor vazio. E finalmente soltou o ar. Maldito bruxo velho, ele pensou. E então suspirou, tomando o rumo da Torre da Grifinória.

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Gina estava sentada, encolhida no canto de uma poltrona encarando o buraco do retrato por horas a fio, pensando. Ela estava ali havia séculos, e até mesmo buscara uma coberta no dormitório, ao ver que Harry realmente parecia ter se esquecido que precisava dormir. Ela estava tão sonolenta... e não se levantaria mais por ninguém. Não, nem pelo próprio Senhor Olhos Verdes. Todos os outros podiam deixá-la em paz e esperar até que ela tivesse uma boa noite de sono.

Finalmente, o porta retrato se abriu e a forma alta da pessoa que ela estava esperando atravessou-o. Ele endireitou-se quando a passagem se fechou, cada linha de seu corpo denunciando sua fadiga. E ainda assim ele parecia mais... relaxado do que ela esperara.

Harry não a viu ali e começou a fazer seu caminho até as escadas do dormitório, de modo que ela teve que chamá-lo fracamente, "Harry".

Ele girou nos calcanhares, observando toda a sala deserta, encontrando-a no canto da poltrona.Franziu a testa. "Gina?", ele disse, dando dois passos na direção dela. "O que você está fazendo acordada?"

Em resposta, Gina ergueu uma sobrancelha. "Foi um dia infernal, não é?", ela perguntou, sem esperar uma resposta.

Ele resmungou. "É, pode-se dizer assim."

"Você está realmente cansado", ela disse, estudando-o um pouco mais. E ergueu uma ponta de seu cobertor em convite. "Venha se sentar comigo, só um minuto."

Ele recuou, sem grande surpresa. "Gina, o que eu quis dizer esta tarde foi...", começou. Ela sabia que ele diria aquilo, mas ele não percebia o quanto aquilo doeria. Ela o interrompeu, afinal.

"Harry, apenas cale a boca e se sente, ok? Sou sua amiga, antes e acima de tudo, e posso sim ver quando um amigo meu está cansado e só precisando de alguém pra ficar sentado com ele.", Gina sibilou. Ei, ela também estava cansada. Podia fazer aquilo. Ele não se mexeu, ficou ali como se seus pés estivessem grudados. Ela apelou para o olhar de autoridade de sua mãe. "MEXA-SE, Potter."

Ela imaginou que ele murmurou qualquer coisa sob a respiração, mas não podia ter certeza. Mas, entretanto, ele veio em silêncio até a poltrona onde ela estava e aceitou a oferta do cobertor. Recostou-se com um suspiro de profundo cansaço.

Gina deixou-o se acomodar em frente ao fogo por alguns minutos, sentindo a tensão naquele corpo próximo do dela começar a sumir. Claro, o corpo dela tinha outras idéias, mas ela fez um esforço admirável para esquecê-las.

"Hermione me disse o que estava no pacote do Malfoy", ela finalmente disse. Harry grunhiu. "Acho que é bom que ele já esteja morto."

"Por quê?", a voz de Harry não se flexionara, mas denunciara certa curiosidade.

"Porque se não fosse assim ela e Rony já teriam ido atrás dele", Gina disse simplesmente. Era verdade também.

Harry ergueu uma mão e esfregou os olhos. "É", ele disse. "Mas eu estaria lá primeiro." Gina nunca ouvira tanto ódio escapar dele antes, nem mesmo nos piores momentos, falando de Voldemort.

Ela pegou a mão dele, apertando-a. "Todos nós teríamos ido, você sabe", ela disse a ele. "Porque teria sido a coisa certa a fazer."

Ele ficou imóvel por alguns momentos, e então assentiu, apertando a mão dela de volta. Gina teve uma sensação, um toque de esperança inesperada quando ele não a afastou. Cautelosamente, ela se deixou relaxar, saboreando a sensação da mão forte dele enrolada na dela. "Posso ver os anéis qualquer hora?", ela disse.

Harry assentiu. "Hum-hum", falou com a voz embargada. E de forma quase distraída apertou mais a mão dela, deixando o aperto cair perigosamente perto de suas pernas. Gina sentiu todo o calor passando para ela, e tudo que pode fazer foi segurá-lo mais.

"Gina", ele finalmente disse, virando o rosto para olhá-la à luz do fogo. "Sobre esta tarde..."

Gina balançou a cabeça e interrompeu-o. "Agora não, Harry.", ela disse baixinho. "Eu posso esperar até de manhã."

Ele estudou-a por um longo momento, os olhos verdes ganhando riscos amarelos pelo fogo, e então assentiu de novo. "Ok", ele disse, e para surpresa dela, inclinou-se e depositou um beijo gentil em seus lábios. "Obrigado", ele disse, recostando-se de volta.

Ela apertou os lábios juntos para evitar que tremessem. "De nada", disse em voz baixa. Os dedos dele se entrelaçaram na mão dela, ela se ajeitou e apoiou a cabeça no ombro dele, num lugar que parecia feito para ela. Ele chegou a estremecer um pouco, até que seu braço estava à volta dela, abraçando-a. Gina não ousou pensar naquilo, não naquela noite. Amanhã, ela disse a si mesma. Haveria tempo para tudo aquilo amanhã.

N/T - Certo, eu sei que demorei, e que o capítulo é curto. Mas todos ainda estamos no frenesi do livro 6, não é verdade? Aliás, podem comentar qualquer spoiler pra mim, que eu já li em inglês mesmo...ok?

Miri - É, parece que o Albus concordou com você... O Lucius é mesmo um bastardo idiota.E bem, espero que a conversa HG tenha te satisfeito... Hehe. Obrigada!

Carol Malfoy Potter - Amanda preocupada menina, nem lembro mais do que você esta falando, me desculpe... O que é mesmo? E sobre o livro 6... Nem comento, mas estou ao mesmo tempo muito triste e muito feliz com ele... Obrigada por comentar!

Aninhaaaaaa - Hehehe. Sim, não tem como não amar o Ron! Depois do HBP, então... Sem comentários. RH ruleia, sem dúvida! Obrigada pelo comentário!