Mares em Revolta

Capítulo Quinze – Dizer e Mostrar

Gina tinha que assumir, ela estava ficando muito rápida nessa coisa de se vestir. Sem mencionar o silêncio, conseguindo se vestir e encontrar ambos os sapatos sem acordar suas colegas de quarto que ressonavam.

Como resultado, ela ainda podia sentir o gosto da pasta de dentes enquanto descia as escadas, quase tropeçando em seus pés (naquele momento descalços) em sua ânsia de não ser deixada para trás. Não que ela achasse que eles fariam aquilo, mas não estava afim de correr riscos.

E ainda, mesmo sendo rápida como fora, aparentemente Harry conseguira ser mais ainda porque quando ela tropeçou num dedão a três degraus do chão, braços fortes e familiares se esticaram para capturá-la contra um tórax mais do que agradável.

"Tudo bem aí?", disse uma voz acima dela, e Gina tentou afastar o rubor antes de erguer os olhos. E não teve sucesso, claro.

"Erm, é...", ela murmurou enquanto encarava aqueles olhos verdes. Não tinha certeza se estava realmente o vendo, mas eles pareciam... mais profundos. Com a guarda mais baixa. Não que ela achasse que Harry poderia um dia ser o cara que deixava todas as emoções à mostra; não, ela já passara por coisas demais para sonhar com aquilo. Mas talvez, apenas talvez...

Ela enrubesceu de novo ao perceber que ainda estava se segurando a ele e que ele estava observando-a encará-lo. "Hum, então estamos prontos para descer?", ela disse, ainda sem se mexer. Ora, ela podia estar embaraçada, mas não era estúpida. Ela se aproveitaria de cada segundo nos braços dele.

Harry lentamente a ergueu até que ficasse de pé, parecendo talvez um pouco relutante, ela esperou. "Estamos esperando por Hermione", ele disse. Gina olhou por cima do ombro e percebeu que seu irmão estava inclinado sobre a lareira, os braços cruzados, sorrindo afetado como um idiota. Ela lançou-lhe um olhar avisando que uma palavra seria o suficiente para que ele sofresse um pouco de sua varinha, e ele sorriu mais largamente ainda.

Felizmente para a saúde e bem estar de Rony, Hermione escolheu aquele momento para terminar de descer as escadas, sem levar um tropeção igual ao de Gina. Humpf. "Certo", a Monitora Chefe disse, olhando para os três, "Podemos ir?"

Harry assentiu para ela, e os três rumaram até o retrato, Gina ainda um pouco sem fôlego devido a seu súbito e amável encontro. Hermione, como a garota astuta que era, conseguiu agarrar o braço de Gina e puxá-la para trás enquanto desciam as escadas.

"O que foi aquele olhar?", Hermione sussurrou.

"Eu tropecei nas escadas e Harry me segurou", Gina sussurrou de volta. Os garotos estavam a alguns centímetros delas, sem realmente dizer nada. Seus olhos pararam na cabeça bagunçada de cabelos pretos à sua frente.

"Oh, sério?", a voz de Hermione estava cheia de intenções.

Gina sorriu, ainda observando a silhueta de Harry. "É", ela disse suavemente.

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Harry ainda não estava completamente certo de que aquela era a coisa mais esperta a fazer, dizer a Rony, Hermione e Gina sobre... tudo. E de alguma forma, Rony sugara sua vontade própria naquele momento do corujal, e agora ali estava ele, encarando um prato de panquecas, um salão principal quase vazio, e as três pessoas que ele mais queria seguras. Seu velho, ele pensou, e pegou um pouco de panquecas. Ele estava definitivamente faminto.

Hermione provou seu suco de abóbora. "Bem?", ela disse, erguendo uma sobrancelha e lançando-lhe aquele olhar é-melhor-você-começar-a-falar-agora.

Harry suspirou e engoliu em seco, tentando não suspirar. "O que vocês querem saber?", ele perguntou com preguiça.

Hermione contraiu os lábios. "Se nós estamos certos e é mesmo a profecia que te faz vagar de um lado pro outro como um morcego desde o final do quinto ano."

Harry bufou. "Vagar? Estou lisonjeado", ele murmurou entre a boca cheia. Inferno sangrento, aquilo estava bom. O que os elfos domésticos teriam colocado ali? Ele engoliu, depois baixou o garfo. "Dumbledore me mostrou toda a profecia depois que nós saímos do Departamento de Mistérios", ele disse em voz baixa, depois de ter certeza de que não havia ninguém por perto. "Basicamente diz que eu sou o único que pode matar Voldemort."

"Há!", Gina exclamou. "Nós estávamos certos." Ela e Hermione trocaram acenos em concordância.

Rony cutucou Hermione com o cotovelo, seu rosto ainda solene. "Não é tudo que diz nela", seu melhor amigo disse à duas garotas.

Dois pares de olhos castanhos giraram direto para fitá-lo. "O que mais?", Gina exigiu, as sobrancelhas muito juntas.

Harry se descobriu olhando para ela. Engraçado, mas ele estivera fazendo aquilo bastante aquela manhã. Talvez fosse o modo como o cabelo dela estava bagunçado e confuso, já que ela tivera tão pouco tempo para penteá-lo e prendê-lo atrás. Aquilo o fez querer passar os dedos pelas mechas, enrolar os fios que escapavam nos dedos, como se ele fosse capaz de sentir o calor dela em seu cabelo...

"Nenhum pode viver enquanto o outro sobreviver", ele disse abruptamente, quebrando a linha de pensamento. Agora não era hora. Os rostos empalideceram. E lançou a cada um deles um sorriso resignado. "Está certo, eu tenho que matá-lo, ou ele vai me matar. Só teremos um vencedor."

Houve silêncio na mesa enquanto ambas as garotas o fitavam, então se entreolhando. Harry observou enquanto elas pareciam se comunicar, Merlin sabia como, elas eram garotas, afinal. Hermione se inclinou sobre a mesa e apertou a mão de Gina, seus lábios contraídos numa linha fina.

"Então é por isso que você andou tentando nos manter fora de tudo", Hermione finalmente disse, olhando de volta para Harry. Ele assentiu, resistindo ao impulso de começar a comer de novo e ter algo mais para fazer com a boca e as mãos.

"Se eu morrer, é isso", ele disse baixinho. "E eu não quero nenhum de vocês na linha de fogo quando acontecer."

Rony se lançou à conversa. "Puts, Harry, você acha que nós estaríamos seguros em algum lugar se você perder?", ele perguntou, franzindo a testa. Harry olhou-o. "Quero dizer, pense um pouco. Você morre, Dumbledore morre, provavelmente todos os bruxos poderosos do nosso lado estarão mortos. Você não acha que Voldemort vá mandar seus Comensais da Morte atrás do resto de nós que estávamos com você? Inferno, com papai e mamãe na Ordem, acho que Gui e Carlinhos também, todos nós estaremos na lista dele." Ele deu de ombros. "Arriscar ser morto depois de você, ou ser caçado uns tempos depois. Parece uma escolha bem clara pra mim."

Rony recomeçou a comer, enquanto Hermione ainda parecia pálida. Gina estava... ele lançou um olhar pra ela. Ela tinha uma expressão que ele não conseguia decifrar, e que ele queria que ela não tivesse naquele momento.

Hermione pareceu fazer um esforço para se sacudir e despertar. "OK. Então nós sabemos da profecia", ela disse. "Podemos começar a procurar feitiços e coisas assim, encontrar um modo de derrotá-lo..." Suas sobrancelhas juntaram-se firmemente e ela encarou-o quando Harry subitamente riu. "O quê?", ela sibilou.

Harry sorriu para ela, sentindo uma onda de calor, uma afeição por sua amiga fiel e altamente determinada. "Nada", disse a ela, deixando-se debruçar um pouco sobre a mesa para tocar uma das mãos dela. "Apenas... Não mude nunca, Hermione."

De certa forma para sua surpresa, os olhos dela se arregalaram, para depois brilhar com força, anunciando choro. "Oh, Harry...", ela resmungou.

Rony lançou a Harry um olhar de alarme e então, com certa vergonha, ele estendeu um braço e passou-o pelos ombros da Monitora Chefe. "Ei, Hermione, não chore, vamos. Harry arrumou um projeto para você, e é sobre feitiços, você está certa...", ele falou. Harry apenas se recostou e sentiu-se desconfortável.

Hermione fungou e então olhou para Harry. "Por que vocês garotos sempre esperam as coisas ficarem críticas para dizerem coisas emotivas desse jeito?", ela exigiu. Harry imaginou que aquela fosse uma daquelas perguntas sem resposta quando ela respirou fundo e pareceu se acalmar. "Você arrumou feitiços pra mim?", ela perguntou.

Aparentemente ela ouvira Rony, que, Harry ficou interessado em ver, ainda tinha o braço sobre os ombros dela. E ela acabara se inclinar mais para perto, pondo a cabeça no ombro dele. Hmm... Harry limpou a garganta. "É", ele disse. "Eu dei os papéis para o Rony noite passada", e olhou para seu amigo.

"Estão na minha mochila", Rony disse, virando a cabeça para o lado como se eles ainda estivessem no dormitório.

Harry assentiu. "Parte do pacote que Malfoy me deu", ele disse, bastante ciente de uma Gina quase muda observando-o. "era seu pacote de feitiços. Artes das Trevas, claro. Em vários tipos de letras diferentes. Eu fiz uma cópia pra você, e enviei uma para Dumbledore noite passada. Eu pensei que você poderia dar uma olhada nelas e talvez..." Ele deu de ombros. "Eu não sei, conseguir algo novo delas? Eu sei que você não andou produzindo feitiços sozinha, mas você é quem mais poderia descobrir como é o mecanismo da coisa..."

O rosto de Hermione se tornara mais resoluto enquanto Harry falava. Era como se seu cérebro girasse nas engrenagens para soltar um click para depois acelerar o serviço. "Você está com ele lá em cima?", ele perguntou a Rony, que assentiu. O braço ainda envolvendo-a. "Dê-as para mim quando formos pegar as nossas coisas, tenho um período livre hoje e quero começar a examiná-las assim que puder."

"Certo", Rony concordou. Olhou para Harry e ergueu uma sobrancelha. "Não foi tão difícil assim, foi, cara?"

Harry fez uma careta. "Cale a boca", disse, e Rony sorriu.

"Eu ainda tenho uma pergunta", Gina finalmente falou. Harry se virou e olhou para ela. Aquela expressão ainda estava ali, embora com um traço a mais de... força? Que estava começando a se sobrepor.

"O quê?", ele disse, os olhos parando um pouco na curva do lábio inferior dela.

Ele observou-a engolir em seco. "Pra onde você tem ido se esconder?", ela perguntou. "Todas essas vezes que você chega suado e cansado, o que você está fazendo?"

Ele suspirou e afastou os olhos da curva suave do queixo da garota. "Sala Precisa", ele disse, forçando os olhos sobre seu prato e pegando o garfo. Pegou um pedaço e engoliu. "Treinando."

"Faz sentido", Rony concordou, parecendo estar de boca cheia.

"Engula primeiro, Ronald", Hermione ordenou, e então grunhiu. Harry sorriu largamente. Rony aparentemente mostrara o conteúdo semi mastigado para ela.

Harry tomou outro pedaço e se perguntou se devia contar a eles sobre suas habilidades maiores. Provavelmente. Rony o espancaria, entretanto.

"Ei, Harry, eu acho que seria uma boa idéia se nós treinássemos com você", Rony disse. E desta vez ele já tinha engolido. "Quanto melhores nós fomos, mais poderemos te ajudar."

Harry olhou para seu prato vazio e suspirou. Ratos. Aquelas haviam sido panquecas realmente boas. Ele baixou seu garfo e cruzou os braços, inclinando-se na direção deles. "Rony, eu odeio dizer isso, mas eu vou acabar te machucando", disse suavemente.

Os olhos de Rony se estreitaram. "Por quê? Sou quase tão bom quanto você em Defesa, e Hermione já te jogou na parede em Feitiços, provavelmente Gina também..."

Harry estava balançando a cabeça. "Eu...", ele soltou o ar. "Eu acho que seria mais fácil mostrar pra vocês", ele finalmente decidiu. E olhou para o prato terminado de Rony, e os quase intocados das garotas. "Vocês já terminaram?", ele perguntou.

Hermione concordou, os lábios juntos. "Se isso significa que você vai nos contar algo mais, pode acreditar que já terminei", ela murmurou ao se levantar. Aparentemente foi AQUELE o momento que Rony percebeu que estivera com o braço sobre ela o tempo todo, e Harry teve que engolir o risinho. Rony ficou vermelho-beterraba e deixou o braço cair como se tivesse sido atingido por um raio. Há.

"Certo", Harry disse, também se levantando. "A Sala, então."

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Gina seguia a um passo e meio atrás de Rony conforme Harry ao guiava até a Sala. Todos eles ficaram de lado enquanto ele pensava e caminhava em ida e volta pelo corredor, concentrado. Quando a porta se abriu, ele estendeu uma mão, girou a maçaneta e a abriu, gesticulando para eles. "Depois de vocês", ele disse, com um quase sorriso nos lábios.

Quando ela passou por ele, seu braço tocou o peito dele, ainda que muito de leve, e ela pensou tê-lo visto estremecer. Mas aquilo não podia estar certo, podia? E então Gina perdeu sua linha de pensamento ao dar uma boa olhada na sala.

Era um espaço largo e vazio. Havia diversas portas do outro lado, alguma espécie de acolchoamento no chão. Quando ela olhou em volta, uma das portas se abriu e algum tipo de boneco, ela imaginou, saiu e pareceu se posicionar.

Harry suspirou atrás dela, e ela se segurou para não pular. "Certo. Bem, mostrar a vocês é mais fácil", ele disse. Gina se virou a tempo se vê-lo chutando os sapatos na direção da parede, enquanto puxava a capa e o suéter. "Gina, você poderia segurar isso?", ele pediu, parado ali de calças, camiseta e meias.

Ela teve que engolir em seco. Oh, ele crescera tão bem. "Claro", ela disse, estendendo os braços. Ele baixou as vestes em suas mãos, e depois virou-se para Rony e Hermione.

"É melhor vocês ficarem ali, perto das janelas", ele disse. "E ativem um bom feitiço de escudo, por precaução". Hermione ergueu as sobrancelhas, como quem quer perguntar algo, depois puxou a manga de Rony até que ele a seguisse. Gina os seguiu, sem tirar os olhos de Harry, que estava parado com as mãos nos bolsos, parecendo infinitamente desconfortável.

Harry esperou que Hermione conjurasse o Feitiço Escudo, e limpou a garganta. "Certo", ele disse, e virou-se para o boneco. Enquanto Gina observava, ele se tornou uma pessoa diferente, fria, quase imóvel e totalmente concentrada. "Animate", ele disse, as mãos ainda nos bolsos, e o boneco subitamente tomou vida. Um jato de luz amarela foi lançado na direção de Harry, e Gina quase gritou de susto, mas ele não se mexeu. Ao invés disso, ele continuou parado com as mãos nos bolsos e murmurou alguma coisa, ela não conseguiu captar o quê. A luz amarela repentinamente interrompeu seu caminho e virou-se na direção do boneco.

O que se seguiu foi uma exibição entorpecedora de feitiços, a maioria que Gina desconhecia. Harry se movia para todos os lados, às vezes esquivando a cabeça, todo o tempo concentrado no boneco que flutuava pela sala, aparentemente tentando matá-lo. Levou alguns minutos até que Gina entendesse direito o que estava acontecendo.

"Oh, céus", ela suspirou.

"Ele não está usando a varinha", Hermione disse por ela numa voz suave, parecendo impressionada.

"Inferno sangrento", Rony murmurou.

"Olhe a boca, Rony", Hermione disse distraidamente, os olhos ainda estreitos e assistindo o que se passava. "Sou só eu, ou ele está brincando com aquela coisa?"

"Acho que ele está", Gina percebeu, apertando com força demais a capa de Harry e provavelmente amassando-a. "Ele está nos mostrando o que sabe fazer."

Rony bufou. "Merlin, ele demora tudo isso para se abrir, e agora está se exibindo? Ei, Potter", ele chamou, alto o suficiente para Harry ouvir. "Nós já entendemos, pare de brincadeira agora."

Harry deu uma olhada nos três com uma expressão neutra, e assentiu. "Finite Incantatem", ele disse, e o boneco despencou no chão. "Engraçado", ele disse, e a Sala caiu em silêncio. "É o primeiro no qual eu não ponho fogo em um tempão."

Hermione engasgou. "Põe fogo? E exatamente ONDE, Sr. Potter, você aprendeu aqueles feitiços? E há quanto tempo você sabe lançá-los sem a varinha? E POR QUE INFERNOS VOCÊ NÃO NOS CONTOU?"

Rony tossiu. "Uh, Hermione? A última pergunta? Bem idiota", ele disse, e fez uma careta quando ela o fuzilou com o olhar. "Bem, eu quero dizer..."

Harry interrompeu-o tomando o rumo de onde deixara seus sapatos e se abaixou para pegá-los. "Eu comecei há mais ou menos um ano e meio, dois anos, Hermione", disse. "Não tenho certeza. Eu apenas comecei a perceber que as coisas estavam ficando mais fáceis, mais rápidas. E então um dia, quinto ano, depois do Departamento de Mistérios, eu estava aqui em cima e resolvi dar uma andada pra ficar sozinho." Ele deu de ombros e começou a amarrar o sapato. "Eu fiquei doido e por alguma razão tentei amaldiçoar a estante no canto, mas não tinha a varinha na mão. A estante explodiu". E começou a amarrar o outro. "Quanto aos feitiços, eu só andei lendo durante o verão."

Ele se endireitou com um sorriso comedido. "Afinal de contas, eu tenho que estar pronto para o meu maldito destino, não?"

Rony estava estudando o boneco, jogado de qualquer jeito no canto. "Sabe, Harry", disse pensativo. "Eu ainda acho que devemos treinar com você." Ele sacudiu a cabeça quando Harry ergueu uma sobrancelha. "Nah, eu não quero dizer um contra o outro, você nos pulverizaria. Eu entendi isso. Mas já que vamos estar nessa guerra, de um jeito ou de outro, acho que nós devemos nos preparar, também."

"Todos deviam", Gina subitamente disse, e então enrubesceu um pouco quando os outros três se voltaram para ela. Ela olhou para Harry, encontrando os olhos verdes guardados e normais. "A Armada de Dumbledore", ela disse a ele. "Eu sei que nós desistimos no ano passado, porque Bill era um verdadeiro professor de Defesa, mas eu realmente acho que devíamos recomeçar."

O rosto de Harry estava inexpressivo. "Eu não acho que mais alguém deva saber o que posso fazer", ele disse.

Gina sacudiu a cabeça. "Não é disso que estou falando", ela disse. "Estou falando do resto de nós, você precisa de todos nós trabalhando melhor. Neville, Luna, Dino, Cara... Você está pensando que eles não estariam na linha de frente, também? Ou pelo menos na lista de 'a matar' de alguém?" Ela apertou com mais força a capa dele e assentiu, decidida. "É exatamente do que precisamos."

Rony estava coçando o queixo. "Ela está certa", ele disse. "E mesmo que eu morra de ter que dizer isso, Malfoy também precisa vir." Hermione deu um soluço audível. Rony olhou-a e deu de ombros. "O quê, ele não é um Comensal da Morte, e com certeza tem alguém querendo chegar até ele. Também posso apostar que ele conheça alguns feitiços assustadores."

Hermione pareceu ficar com os olhos brilhantes. "Oh, Rony", ela disse, lacrimosa. "Estou tão orgulhosa de você", e então ela se jogou sobre ele, abraçando-o até a morte. Rony apenas estremeceu em reflexo e, ficando muito vermelho, abraçou-a de volta.

Harry estava parado e imóvel como uma estátua, escutando. Gina resistiu ao impulso de se jogar nele também, e disse em sua voz mais persuasiva, "Pense nisso, Harry. Nós começamos isso por uma razão da primeira vez. Essa razão não é muito mais importante agora?"

Os olhos de Harry hesitaram sobre ela, como tochas de luz verde que a tornassem incapaz de se mexer. Sua cabeça começou a doer, embora muito pouco, e então passou. Ela o encarou de volta, tentando enxergar dentro dele, tentando entender o que ele estava pensando. E então ele suspirou. "Talvez", ele disse. "Eu não sei se posso fazer isso, contudo."

Rony finalmente parou de ser abraçado, mas ainda estava com as orelhas muito vermelhas. "Se você não quer mesmo, nós podemos apressar as coisas", ele disse. Seu rosto ficou sério. "Mas as pessoas vão olhar pra você, Harry, goste você ou não. E se eles não te virem liderando a luta, eles podem não levar muito a sério."

Hermione interrompeu então. "Nós teremos que pensar nisso ainda, como vai funcionar, se você quiser fazer isso, não é, Harry?", ela disse. Houve um súbito gritinho agudo e todos eles pularam assustados. "Oh, vamos nos atrasar para Poções", Hermione engasgou, erguendo a manga da blusa e mostrando seu relógio. "Vamos, Rony, temos que pegar nossas mochilas e então você pode me entregar aqueles papéis."

Gina se esquivou enquanto Rony e Hermione se apressavam em sair. "Aqui", ela disse baixinho, estendendo o suéter dele, abotoadura e capa.

A porta bateu e se fechou atrás dos outros dois e ela subitamente percebeu que estava parada numa sala deserta com Harry. E da última vez que aquilo acontecera, a coisa ficara tão quente que fora difícil voltar ao normal depois. Gina enrubesceu.

Harry simplesmente ficou parado estudando-a, sem pegar suas coisas com ela. "Eu não sei o que fazer com você", ele finalmente disse, devagar.

O coração de Gina passou a bater mais depressa. "O que quer dizer?", ela disse, mantendo os olhos nele. Ela tinha medo que se desviasse o olhar, ele desaparecesse. Afinal de contas, aquilo se parecia demais com o começo de todos os seus sonhos.

"Você", ele disse, assentindo com a cabeça e mantendo os olhos nela. "Você está... tornando as coisas difíceis", ele afinal decidiu.

Gina quis esmagar a cabeça, não, a cabeça DELE de pura frustração. "Você sempre teve um jeito com as palavras", ela murmurou. E então enrubesceu. Opa. Ela não pretendera dizer aquilo em voz alta.

Harry não riu, bem como ela esperara. Ao invés disso ele deu dois passos em sua direção, ainda a estudando. "Rony disse que eu também não tomo uma decisão sobre isso.", ele falou, soando como se estivesse pensando em voz alta. Outro par de passos. Gina permaneceu plantada no mesmo lugar. "Que você tornaria impossível para eu te proteger, o que você já fez, na verdade." Ele franziu a testa. "É por isso que é difícil."

Mais dois passos e ele estava a apenas cerca de um metro dela. "O que você quer, Harry?", Gina quase sussurrou. Era como se o tempo tivesse parado, como se o pêndulo jazesse imóvel e esperasse pelo que quer que fosse acontecer.

Ele ainda tinha o cenho franzido. "O que eu quero? Eu quero muitas coisas, mas basicamente a maioria eu não posso ter." Outro passo, e mais outro. Ele estava apenas a trinta centímetros, e Gina mal percebeu que derrubou as coisas dele no chão. "Mas você, você é difícil", ele disse, quase para si mesmo.

Gina teve que respirar fundo. E mais um passo. Ela estava ficando alterada. "Harry", ela disse suavemente. "Você me quer?", e começou a rezar.

Ele parou onde estava, a centímetros dela, e baixou os olhos sobre ela. Havia uma expressão de certa surpresa em seu rosto. "Mas é claro que quero", disse simplesmente. E então ele fez o coração dela parar e seu sangue congelar ao erguer uma mão e estender um dedo para mexer numa mecha do cabelo dela. "Como eu poderia não querer?"

Gina sentiu lágrimas ferverem em seus olhos; era simplesmente demais pra ela. O rosto de Harry rapidamente ficou alarmado. "Não chore", ele disse. "Deus, por favor não chore." Ansiedade preencheu sua voz quando ele soltou a mecha de cabelo. E como que não sabendo o que fazer, passou os braços à volta dela e apertou o rosto dela contra seu peito. "Por favor, não chore."

"Seu babaca", Gina murmurou para a frente da camiseta dele, lágrimas ainda enchendo seus olhos e derramando uma ou duas que desrespeitaram seus esforços. "Você sabe há quantos malditos ANOS eu estou esperando que você diga isso?"

Uma mão quente e forte se fechou sobre seu queixo e ergueu seu rosto. "Bem, então", Harry disse, e beijou-a.

Era isso. Fogos de artifício subiram, pássaros cantaram, estrelas explodiram. Tudo por um inferno de um beijo quente e carinhoso. Gina trancou as mãos na camiseta e se segurou como se daquilo dependesse sua vida. Oh... Nossa... Sua mente mal trabalhava. Ela pensou que já tivera um bom beijo antes, mas aquilo era tão... mais.

A boca dele era firme e suave enquanto saboreava a dela, forçando a dela a se abrir de modo que suas línguas pudessem se misturar e se explorar. O beijo foi ficando mais profundo e mais úmido e ela imaginou tê-lo ouvido gemer, mas estava distraída demais para prestar muita atenção. Ela não estava apenas entorpecida pelo beijo, mas também conseguira enterrar uma mão naquele cabelo maluco dele, mantendo a outra mão na camiseta.

Uma das mãos dele escorregou pelas costas dela, puxando-a mais perto contra si e foi a vez de Gina gemer quando eles ficaram tão intimamente próximos. Oh... Ela pensou, enevoada. Ela já tivera encontros antes, tinha alguma idéia sobre garotos e seus corpos e o que eles gostavam, mas não era como aquilo. Aquilo era mais quente e mais selvagem e muito mais importante do que tudo aquilo. Ela podia senti-lo rígido contra seu umbigo, e quase enlouqueceu de saber que era ela a responsável por aquela reação.

A boca dele deixou a dela e desceu por seu pescoço, fazendo-a engasgar quando ele gentilmente mordeu a base de seu pescoço. "Oh", escapou entre seus lábios enquanto ela estremecia, jogando a cabeça para trás.

Harry pareceu grunhir alguma coisa, e então enterrou o rosto em seu pescoço. "Nós temos aula", ele disse numa voz entrecortada, sem se mexer.

Gina tentou se controlar, sentindo a respiração dele contra sua pele. "É", ela falou numa voz fraca. Sua mão no peito dele abriu-se e ela a estendeu, ainda que com muita lentidão. E ficou absurdamente satisfeita ao notar que era a vez dele de estremecer quando sua mão percorreu alguns daqueles adoráveis músculos.

Ele finalmente respirou fundo e se afastou, mantendo um braço à volta de sua cintura. "Me encontre aqui, depois do jantar", ele disse. Aqueles olhos verdes estavam quase faiscando quando ele finalmente baixou o olhar para ela, e Gina teria naquele momento aceitado qualquer coisa.

"Ok", ela disse, encarando-o de volta. Então ela respirou fundo, mais uma vez, e então ela mesma recuou, a mão dele caindo. "Eu devia ir... Pra aula", ela decidiu.

Ele apenas a observou com aqueles olhos maravilhosos. "É", ele disse.

Ela engoliu com dificuldade. "Eu devia mesmo ir", ela repetiu.

"Vá", ele disse. Ainda observando-a.

Finalmente ela apenas se virou e passou pela porta, forçando-se a correr até a Torre da Grifinória para pegar sua mochila e não se jogar em cima de Harry de novo. Naquela noite... Ela pensou enquanto corria. Oh, Merlin.

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Harry estava se abaixando para pegar suas roupas quando foi atingido. Talvez porque ele estava tão completamente focado em Gina, e aquela distração fora fatal.

Houve uma risada lenta e cruel em sua cabeça, que o fez paralizar. Voldemort, ele pensou, trancando os dentes. Maldito.

Imagens começaram a bombardeá-lo, ma atrás da outra. Passado, presente, futuro... Todos eles corriam juntos e tão depressa e furiosamente que quase o jogaram de joelhos. Ao invés disso, Harry forçou-se a ficar ereto, buscando controle.

Você e eu, ele pensou tão claramente quanto podia. Incerto se atingiria quem ele queria. Nós temos negócios não concluídos.

A resposta veio, tão gelada e clara que o fez perder o fôlego e buscar por ar. Eu escolho a hora e o lugar, Potter, aquela voz sombria e sedosa disse em sua mente. Eu escolho, e você morre.

E então tudo estava acabado. Tudo estava claro de novo, e não havia mais ninguém em sua mente além dele mesmo. Harry se inclinou, respirando com dificuldade.

Voldemort deixara uma imagem para trás para ele. Hogwarts. As torres e torrinhas em colapso, as pedras começando a tremer. Corpos em vestes da escola por todos os lados. E olhos vermelhos, brilhando por cima de tudo.

Mais uma vez, Harry pegou sua abotoadura. Então seria Hogwarts, ele pensou. Muito bem, então.

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N/T: Antes de mais nada, quero noticiar que recebi ameaças para atualizar imediatamente esta fan fic! Calma, gente, eu só precisava de mais dois dias! Puxa vida... Se não fosse Dom Pedro I vocês não teriam esse capítulo hoje!

Virgin Potter: Ai brigada... Quem te recomendou? a curiosa... Estou feliz que você esteja gostando! Quanto ao Harry e a Gina... Até agora só tivemos um aperitivo... Estamos no cap. 15, né? Pois bem, espere só pelo 17... Obrigada por comentar!

Carol Malfoy Potter: Haha, infelizmente eu não posso escolher onde os capítulos páram! Mas não posso dizer nada... Sempre que posso também faço isso! Claro que não esqueci de ti, querida, acho que só recebi seu review tarde demais! Desculpe, não acontece outra vez. Hum, eu não sei se posso aceitar... Porque afinal, essa é minha terceira tradução, e entende, QUERO FÉRIAS depois de tudo isso! Vou escrever fics minhas, mas talvez um dia eu pegue... Que ship é essa NC que você mencionou? Obrigada!

Aninhaaaaa: Você também não aguenta mais AS conversas? Esse Harry é confuso demais... Hum, nunca tinha pensado nisso. MENINAS! O AMOR NÃO TEM OLFATO! Pronto. É melhor avisar todo mundo, né? Obrigada por tudo!

Miri: Ai... Eu sei o que você quer dizer. Mas parece que agora temos avanços, não acha? Quero dizer, até encontro eles marcaram! Só nos resta esperar! Obrigada!

Mimi Granger: Não se preocupe, já estou acostumada com as apressadinhas, porque eu mesma sou uma delas! Já ouviu falar de uma DG, "Da Magia à Ilusão"? Pois então, eu comecei a ler essa fic e terminei lendo "All You Need is Love"... Até hoje não li a tradução do final! Calma, não infarte. Você não vai querer perder o capítulo 17, vai?

OBS especial: Srta Wheezy e Mari Madeira! Estão me cobrando atualização, não é? Querem inclusive me escravizar, não é? Pois muito bem, moças! Pelo menos comentem! olha que interesseira! Hehe ´serio, muito legal vocês mostrarem que estão gostando, mas por favor... Colaborem! Heheh... Se fizerem isso prometo acelerar o capítulo 16 pra gente ir logo pro 17...

Que tradutora mais perva eu sou! Pelamor! Chega! Até o próximo capítulo!