Mares em Revolta
Capítulo Dezoito – Nobres diálogos
Harry se considerou como sendo um cara inteligente, ao menos alguém não tão grosseirão quanto aquele do seu lado. Bem, normalmente era assim. Francamente ele estava começando a ter algumas dúvidas reais nobre o seu nível de esperteza porque poderia se ferrar por acabar fazendo justamente o que estivera se proibindo por um ano e meio.
Ele coçou a cabeça, ainda encarando o corredor para o dormitório feminino por onde Gina desaparecera. Ele não estava totalmente certo de como chegara àquela situação com ela, mas tinha uma maliciosa suspeita de que fora tudo um plano. Deixou uma mão escorregar da cadeira e tomou o rumo de seu próprio dormitório. Graças a Deus Rony não estava esperando por eles, pelo menos.
Harry calmamente escorregou para dentro do dormitório e dando uma olhada para as camas imóveis e escuras, pegou os pijamas sem olhar para o pé da cama, rumando para o banheiro. Ele trocou de roupa, escovou os dentes e jogou um pouco de água na cara antes de voltar na ponta dos pés para o quarto. Arremessou suas roupas na direção de seu malão e deslizou entre o cortinado de sua cama. Ele estava se esticando para puxar as cobertas quando uma voz parou-o e o fez pular.
"Então", veio do final da cama.
Harry reagiu primeiro e pensou depois, girando e resmungando algo sob a respiração e atirando magia sobre quem quer que tivesse falado. E, para sua sorte, era Rony, agora totalmente congelado mas ainda conseguindo fuzilá-lo com o olhar. Harry deixou um suspiro escapar. Oh ótimo. Aparentemente eles TERIAM uma conversa naquela noite.
"Maldição", ele murmurou antes de agitar um dedo na direção de Rony. "Finite Incantatem". Ele esperou até que Rony tivesse se sentado, parecendo seriamente aborrecido. "Talvez eu devesse ter te avisado, é uma má idéia fazer gracinhas comigo."
"Sem merdas, Potter", Rony disse num sussurro acalorado. "Puts, eu acho que você deslocou alguma coisa no meu baço." E ameaçou-o com outro olhar do tipo se-um-olhar-matasse. "Vou arrancar a vida a socos de você se isso me atrasar no quadribol."
Harry virou os olhos e mexeu nas cobertas, ajeitando-as para um lado e apoiando os cotovelos contra a cabeceira. "Tenho certeza de que o capitão irá te entender.", falou secamente.
Rony apontou para ele e Harry lhe jogou um travesseiro. Rony arremessou-o para suas próprias costas, conta um dos pilares da cama. Seu amigo se inclinou e cruzou os braços acima do peito, as pernas se esticando e ocupando metade da cama. Harry se perguntou bem por cima se a cama dele não seria enfeitiçada para se adequar melhor a ele, depois de focou de novo naquele olhar assassino dele.
"Então", Rony disse de novo. "Quer dizer alguma coisa?"
Harry teve a sensação distinta de que aquilo não era um pedido. Aquele seu pesadelo nem tão desconhecido de seis irmãos Weasley passou diante de seus olhos, e ele teve que resistir ao impulso se engolir em seco. Tentou dar de ombros. "Você realmente quer saber tanto assim?"
Rony pareceu horrorizado. "Diabos, Harry, o que afinal você fez com a minha irmã?", ele disse, sentando-se reto. "Ela é um ano mais jovem do que você, e você tem vantagens sobre ela, e amigo ou não eu vou arrancar cada suspiro de vida de você para depois mandar corujas a todos os outros e avisá-los do que têm que fazer e ainda tem a Mamãe, e você não ia querer MESMO estar por perto quando ela descobrir o que você fez com a garotinha dela, e..."
"Rony", Harry interrompeu. "Cale a boca." Funcionou, mas ainda estava sendo fuzilado com o olhar. Harry suspirou e passou as mãos pelo cabelo. Maldição, aquele estúpido "vou contar tudo o que puder" estava começando a encher o saco. "Gina e eu estamos... juntos", ele finalmente decidiu. "E antes que você me espanque, ela ainda é virgem, sim." E claro que ele enrubesceu depois de dizer aquilo, apenas porque senão não seria ele.
"Oh Merlin, oh Merlin, oh Merlin, eu não acabei de ouvir isso", Rony lamentou, esfregando a cara. "Olhe, Potter, nós somos próximos e tudo, mas mantenha as mãos acima do pescoço dela, ouviu? Eu não quero você fazendo nada com minha irmã. Segure a mão dela, é uma boa idéia. Você pode fazer isso."
Harry tossiu. "Só se essa for a única coisa que você quer fazer com Hermione", ele disse. E houve silêncio mortal.
"Hermione e eu não estamos juntos", veio o murmúrio. E então, mais claro, "Então não conta."
Harry bufou. "Por favor, sua irmã, minha irmã". Eles se encararam por um longo momento antes que os dois suspirassem profundamente. "Que tal isso?", Harry ofereceu. "Eu não conto a você, você não me conta, e nós não fazemos nada que elas não quiserem. Ponto."
Rony pareceu considerar. "Trato.", ele disse, depois suspirou de novo. "Não que isso me faça algum bem", ele murmurou.
"Pelo amor de Merlin", Harry disse, virando os olhos e virando-se para ajeitar o travesseiro, "se você não mexer logo esse traseiro e fazer a vida da Mione deixar de ser aquela miséria, vou trancar vocês dois em um armário e enfeitiçá-lo de modo que ele não deixe vocês saírem até se beijarem." Ele estremeceu. "Não que eu queria ficar imaginando isso."
Rony bufou. "Cara disse que Hermione fica falando sobre como eu fico com o uniforme de quadribol", ele disse, soando um pouco satisfeito demais.
Harry ergueu uma sobrancelha. "Huh. Nunca pensei que ela poderia gostar de panacas suados, sujos e feios em vestes rasgadas." Rony o chutou com um pouco mais de força e Harry reclamou.
"Pare com isso", Rony ordenou. Agora ele podia ouvir o sorriso na voz do Monitor Chefe.
Harry sorriu afetado. "Venha me fazer".
Houve uma bufada. "Duas palavras. 'Gui' e 'Carlinhos'." E houve outra. "Melhor ainda. 'Fred' e 'Jorge'."
Harry grunhiu. "Bem lembrado". Ele disse. "Não que eu não pudesse cuidar deles."
"Você é um maldito idiota arrogante agora, hein?", Rony disse, a voz definitivamente mais leve. "Apenas vá pensando assim. Afinal, você nunca viu a força combinada dos Weasleys."
Harry estremeceu. "Não quero pensar nisso", ele disse. E então decidiu virar a mesa. "E, claro, você sabe que eu posso virar você do avesso, arrancar todas as unhas dos seus pés e fazer picadinho de você para alimentar um gigante se você ficar mexendo com Hermione, não?"
"Vamos chamar isso de hipótese", Rony disse, com a voz enrolada. Harry tinha a sensação de que ele ainda queria jogar todos os Weasley em cima dele. Decidiu então ser muito cuidadoso e não dar razões a ele para voltar a pensar naquilo. Ou isso, ou jogar Gina em cima dele.
"Então", ele disse, se esticando na cama e empurrando as pernas de Rony com as próprias. "Qual é o problema com você, afinal?"
Ele quase podia ver o quarto mais iluminado, tal era a força com que o rubor tomou o rosto do ruivo. "Cara me pegou tentando fazer margaridas", ele disse.
Harry sorriu largamente. "Margaridas?", disse.
"Garotas gostam de flores, certo?", Rony disse, na defensiva. "Cara falou."
Harry tossiu. "Sei lá. Já que eu nunca dei flores". E bem por cima se perguntou se provavelmente não estaria chegando a hora de começar com isso. Garotas esperavam coisas como aquela. Ótimo, simplesmente ótimo.
"De qualquer forma. Então eu fiz margaridas e Cara as colocou na cama de Hermione pra mim", Rony grunhiu.
"O que ela achou?", Harry perguntou.
Rony murmurou qualquer coisa, esfregando a nuca com uma mão. Harry soltou um pequeno "aham" de interrogação. "Eu fingi que estava na cama, ok? Puts, o que você esperava que eu fizesse, ficasse por aí esperando que ela viesse me dizer que eu fiz o feitiço errado ou coisa do tipo?", seu amigo disse, parecendo magoado.
"Hermione disse isso?", Harry quis saber, surpreso. Aquilo não soava como ela, especialmente desde que ela começara a sair beijando Rony sem aviso. Ele preferia pensar que ela ficaria comovida e explodisse em lágrimas, e Rony acabaria tendo uma noite como a dele. Sobre a qual ele NÃO queria pensar.
"Eu não sei o que ela disse", Rony rebateu, impacientemente. "Eu fingi que estava na cama."
Harry sorriu afetado. "Então Cara pôs as flores na cama, Hermione as encontrou, e você está escondido aqui desde então." Ele bufou em desdém. "Perfeito, Romeu."
"Cale a boca", o outro atirou. "Você não tem que fazer isso. Eu tenho. Enche o saco."
Harry deu de ombros, ainda sorrindo. "Hum, me parece que você precisa de um pouco dos seus próprios conselhos", disse. Rony apenas não reagiu. Ele virou os olhos. "Olá? Será que 'conversar' não te soa familiar?"
"É, mas Gina sempre teve uma coisa por você", Rony protestou. Ainda que fracamente. "Hermione é a Monitora Chefe. E muito mais esperta que eu. Sem mencionar que ela poderia ter o cara que quisesse agora mesmo..."
Harry não podia agüentar mais. Arrancou o travesseiro de trás das costas e esmagou-o contra a cara do outro, soltando um grito de frustração. Depois recolocou-o, agora atrás da cabeça. "Olhe, Rony", ele disse, o mais razoavelmente que podia. "Estou feliz que você tenha soltado a verdade e tudo mais, mas você vai acabar me fazendo atirar feitiços do nada por aí se você não tirar logo essa bunda da cama para ir falar com a garota. E se eu tiver que ficar escutando de novo o discurso do quão inútil você é, vou te jogar pela janela sem a sua vassoura."
"Eu gostaria de ver você tentar", Rony murmurou.
Harry sorriu com malícia. "Aposto como seus irmãos me ajudariam."
Houve silêncio. "Bem lembrado."
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Draco estava bem ajeitado em seu lugar costumeiro na sala de Poções, lendo algumas anotações que a Professora Snape o entregara naquela manhã sobre sua última pesquisa, quando seu nome foi murmurado.
"Malfoy", Potter disse próximo dele, em voz baixa. Snape estava bem diante da sala, e olhava na direção deles, franzindo a testa, apenas esperando que o Garoto de Ouro fizesse alguma coisa. Qualquer coisa. Não que sua esposa fosse deixá-lo ir muito longe, longe o suficiente para divertir Draco. Era realmente engraçado vê-lo murmurar sob os comentários politicamente corretos de sua mulher.
Draco ergueu uma fria sobrancelha e olhou para Potter por cima de suas anotações. "Sim?", disse. Idiota aborrecido.
Potter lançou-lhe um olhar sério e rápido. "Eu preciso de uma palavra depois da aula", ele disse brevemente.
"Potter!", veio da frente. Ops, parecia que o Menino-Que-Sobreviveu não estava quieto o bastante. "Dez pontos da Grifinória por falar em aula e perturbar seus colegas."
Ele pode ouvir um pequeno suspiro do outro garoto, e aquilo foi suficiente para dissipar sua irritação com o pedido. Sobre o que diabos ele queria falar? Não era como se eles fossem qualquer tipo de amigos, nem nada. Resistiu ao impulso de se afastar. Um grifinório era tudo que ele podia agüentar numa base regular. Bem, dois, contando com a Professora Snape.
Draco deixou os pensamentos de lado. Não havia problema, afinal ainda faltava uma boa hora de aula, e ele tinha anotações para ler.
No final da aula, ele terminou de guardar suas coisas e trocou um aceno com Snape, e foi quando ele se apressou em alcançar Potter fora da sala. Draco se endireitou e franziu a testa. "O quê?", ele sibilou. Ele não queria conversar, queria apenas seu almoço e sua Cara. Não necessariamente naquela ordem.
Potter sacudiu a cabeça. "Preciso de uma palavrinha", ele disse de novo. Draco foi até um canto vazio do corredor, a contragosto e obrigado. Ele estava fazendo aquilo apenas para que Cara não viesse gritando com ele mais tarde, ele pensou.
E lançou ao grifinório um olhar gelado. "Fale depressa", ordenou.
O rosto de Potter estava vago, as mãos dentro dos bolsos. "Vamos ter uma guerra aberta em alguns meses", ele disse, muito fora do costume. Draco resistiu a um bom engasgo. Bem, o que quer que ele estivesse esperando, não era aquilo. Olhos verdes significativos estavam trancados sobre ele. "Eu preciso saber se você está do nosso lado."
Draco se empertigou mais ainda. "Tudo que você precisa saber é que não estou do lado dele", ele sibilou, e fez menção de ir embora. Aborrecido e não muito certo do motivo.
"Isso não vai funcionar", a outra voz parou-o. Ele girou nos calcanhares para encontrar o mesmo olhar. "Não nesta guerra." Francamente, a certeza e a praticidade na voz do outro estavam começando a dar raiva. "Não vai haver lugar para quem está em cima do muro, sem meio termo. Vai ser apenas morte e destruição e sobrevida de apenas um."
Depressa uma lembrança veio à mente dele, de uma noite bêbada na Torre de Astronomia em companhia de seu conhecido pior inimigo. Algo sobre um único...
"Eu preciso saber se você está do meu lado. Cara diz que está. Mas eu preciso ouvir você dizer." Houve outro olhar significativo, e do nada sua cabeça sentiu uma pontada de dor.
Draco abruptamente se lembrou daquela parte da noite, também. "Dê o fora da minha cabeça", ele sibilou e tentou se lembrar do que lera sobre Oclumência, em seu trabalho de afastar Potter. A dor recuou, mas ele teve a sensação de que foi apenas porque o outro queria.
Potter agora tinha um olhar mais humilde. "Desculpe.", ele disse. Sem soar muito sincero. "Eu faço isso com quase todo mundo."
"E seus preciosos escudeiros?", ele falou, ainda chateado. "Eles gostam que você fique invadindo as mentes deles?"
Potter sacudiu a cabeça. "Eu não fiz isso com eles." Ele disse. "Apenas com aqueles que não me dão certeza." Depois deu de ombros. "De qualquer forma. Você está comigo?"
Draco quis enfeitiçá-lo, mas isso também significaria uma seção de gritos com Cara, e ele queria terminar logo a conversa. Antes que ele acabasse mesmo enfeitiçando o idiota, e mandasse Cara pro inferno. "Sim.", ele disse depressa, e virou-se outra vez.
"Espere", ele foi interrompido de novo. Draco trancou os dentes. Estou fazendo isso por você, Cara, ele pensou silenciosamente. E puxa, você vai me pagar por isso esta noite.
"O quê, agora?", ele exigiu.
"Estamos reformando a AD", o outro garoto disse em voz baixa, voltando a deixar a voz vaga. "As pessoas vão precisar de todas as armas que puderem conseguir." Draco se lembrou de quando dedurara o pequeno clube para Umbridge no quinto ano. Alguma corvinal qualquer ficara o resto do ano com palavras estampadas na pele. Aquilo, ao menos, fora engraçado.
"Eu preciso de você", Potter continuou. E desta vez conseguiu surpreender Draco. "Você tem um plano de fundo que todos nós não temos. Preciso que você venha e me ajude a ensinar o que os outros precisam para se manterem vivos."
Draco abriu a boca. "Morrer é fácil.", ele grunhiu. "Você tem que querer sobreviver." E se ele quisesse fazer isso, seria apenas para contrariar a memória de seu pai e de sua querida prima Bella.
Potter assentiu. "É", o outro garoto disse. "Não podemos ser bonzinhos com eles. Há muito pouco tempo, e coisas demais a caminho". Por um momento, o olhar vago desapareceu e ao invés disso Draco foi contemplado com um rosto sério, rígido, atormentado. "O que está vindo não vai cair com apenas uns socos."
Draco ficou parado e considerou por um longo momento. Potter não estava pedindo para ser seu amigo, estava apenas pedindo que ele mergulhasse de novo em suas piores lembranças e pesadelos. E antes que ele pudesse ir embora como se costume, com um sorrisinho de desdém, aqueles olhos o mantiveram em seu lugar. Talvez Potter realmente tivesse alguma idéia do que estava encarando. Draco nunca acreditara nisso antes, não pelo modo como o Garoto de Ouro era celebrado e idolatrado por cada bruxo vivo. Mas aquele olhar...
Tomou uma decisão. "Quando?", perguntou de repente.
"Esta noite. Oito horas, na Sala Precisa.", foi a resposta. Draco assentiu depressa, depois girou nos calcanhares para começar a ir. "Draco", o outro chamou-o.
"Você está me pedindo para torturar grifinórios", ele replicou por cima do ombro. "Estarei lá". Conforme subia as escadas na direção do Salão Principal, ele podia quase ouvir a risada atrás dele. Maldito Potter.
N/T: É isso! Espero não ter demorado muito... Vamos às respostas!
Miri: Oh, eu fiquei mesmo vermelha, acredite. Imagine alguém sem a mínima experiência no assunto traduzindo NC. Foi forte. Eu vou bem, agora! Em casa as coisas se acertaram, inclusive. Apesar de eu ter tido uma semana horrível (incluindo uma recuperação sofrível de Física!), os próximos finais de semana até que prometem... Obrigada! A gente se fala!
Akiko: hum, sobre mais ação, neste sentido, acho melhor você esperar um pouquinho... Eu mesma não sei bem. Hehe, sério? Você sente muita falta? Quando eu começar minhas viagens pelo mundo (a sonhadora) a Espanha está com certeza nos planos! Rolling Stones? Olha, o pouco que eu conheço eu gosto! Sou tão relapsa com música! Eu ouço mas nunca sei quais são as bandas... É a vida.
