Mares em Revolta

Capítulo Vinte e Um – O Tempo Se Revolta

Sonora Snape franziu a testa e resistiu ao impulso de jogar o volume pesado à sua frente contra a parede. Mas que droga de coisa estúpida, ela pensou passando uma mão pelas leves mechas de cabeça que haviam se soltado. Ela estivera naquilo fazia tanto tempo, e o feitiço que ela normalmente punha em seu cabelo afinal se desfizera. Tudo pro inferno. Por dois anos, ela estivera tentando adaptar aquela poção. Dois malditos anos.

Finalmente desistindo diante daquela sensação poderosa de frustração, ela agarrou a caneca de vidro que descansava inocentemente sobre sua mesa e atirou-a contra a parede com grande entusiasmo. E a caneca se quebrou com um barulho muito satisfatório, então ela pegou outra. E já tinha conseguido destruir quase metade das canecas envidraçadas quando alguém a segurou por trás.

"Mas o que diabos você está fazendo, mulher?", a voz de seu marido soou em sua orelha. Ela se contorceu um pouco, ainda brava consigo mesma e pronta para quebrar outra. "Você conseguiu destruir umas duas dúzias de canecas!"

"Deixe-me... em paz", ela grunhiu, ainda se esquivando. Hah. Como se houvesse outro modo de sair dos braços dele a não ser que ele a deixasse sair. Ainda assim, foi um protesto válido. "Isso me fez sentir melhor!"

Houve um suspiro atrás dela, com uma rajada de fôlego nos primeiros fios de cabelo de sua nuca. "Sonora", aquela voz profunda, sombria e velada falou lentamente. "Nós encontraremos um modo."

Ela parou de se debater, e suspirou também, se deixando afundar nele. Ela sempre podia contar com Severus para segurá-la quando ela estava enlouquecendo, literal e figurativamente. "Eu sei", ela disse, sentindo-se perigosamente próxima das lágrimas, "mas nós estamos tão perto! E eles vão precisar disso, Severus, já estão precisando."

Ela foi virada com delicadeza e trouxe-a para mais perto. Sonora apertou o queixo contra o ombro dele, contra o tecido ligeiramente tosco das vestes dele. "Nós encontraremos um modo.", ele disse de novo acima dela.

Sonora assentiu sem força, seu coração ainda apertado dentro dela. Harry Potter dissera que a guerra estava vindo. Vindo logo, brevemente, e seria ali. Ela tinha que encontrar um modo... os dois tinham. Se a guerra viesse para Hogwarts, Severus se colocaria na linha de frente, e seria como um alvo pintado diante de todos. Tantos de seus velhos colegas adorariam derrotá-lo... Ela não suportaria perdê-lo. Seus braços se enrolaram na cintura dele quando ela o apertou com mais força.

Os braços dele estavam fortes e protetores e tudo mais que ela precisava, e ainda mais preciosos porque ele guardava aquela imagem apenas para ela. "Eu suspeito que Malfoy apareça logo", ele murmurou no cabelo dela, seus dedos já encontrando o caminho dos fios soltos. O homem tinha um fascinação com aquilo. Ela não entendia muito bem isso, afinal de contas, era apenas cabelo e nem era um cabelo tão incrível assim. Era apenas longo, grosso e escuro.

Ele estava enrolando uma mecha no dedo. "Suponho que eu deva limpar isso", ele resmungou, sem realmente querer se mexer. Ela ficou ali acomodada, a força dele contida. Ela precisava dele tanto quanto ele precisava dela, pensou, não pela primeira vez.

Ele a apertou um pouco mais. "De fato", ele disse. "E arrume seu cabelo outra vez." E havia outra coisa. Aquele homem não gostava de dividir, mesmo algo tão pequeno quanto uma mecha de seu cabelo solto. O que era até bom para ela, já que todo aquele cabelo no pescoço incomodava demais.

Com um suspiro ruidoso, ela se afastou dos braços dele e repôs todos os feitiços e grampos que mantinham seu cabelo intacto. Severus assistiu, os olhos negros e astutos, para depois se virar para os vidros e, com um aceno de varinha, colocá-los em seus lugares, inteiros como novos.

"Pronto", ela grunhiu, a última parte em seu lugar. "De volta à maldita prancheta de desenho."

Ele se inclinou e pressionou os lábios contra os dela. "Nós encontraremos algo", ele disse uma última vez, recuando apenas um pouco.

Ela suspirou pela milionésima vez, parecia, e se ergueu para beijá-lo de novo. "Você está certo", ela disse.

Ao dizer isso, houve uma ligeira batida na porta e Sonora se virou para ver Draco debruçado sobre a porta entreaberta. "Entre", ela disse ao garoto com um sorriso cansado. Ele se enditeitou, assentindo para Severus. Severus claro respondeu com um movimento curto. Sonora resistiu ao impulso familiar de gargalhar. Como eram parecidos, aqueles dois... E então ela pensou em um garoto de olhos verdes. Todos os três. Tão similares, tão certos de que podiam carregar o mundo inteiro nos ombros.

A própria Sonora se esticou. Cabia às mulheres, os amigos próximos deles, amantes e colegas, evitar que os três se matassem para que fossem salvos. "Certo então", ela disse com um sorriso morno para os dois homens de que mais gostava. "Vamos?"

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Harry estava sentado na sala comunal, pronto para queimar o neurônios com aquele dever de Trato das Criaturas Mágicas. Honestamente, Hagrid estava totalmente desequilibrado. Um metro e meio sobre o cuidado e alimentação dos vermes? Um centímetro e meio, tudo bem. Mas metros? Para a turma de N.I.E.M.s?

Do outro lado da mesa, Rony parecia estar ocupado com os mesmos murmúrios que ele. "Maldito maluco... Hagrid não parece estar... droga de burro... Inferno sangrento!", Harry ergueu a cabeça então, para ver que Rony conseguira derrubar todo o vidro de tinta em cima do papel. Harry ergueu uma sobrancelha, surpreso.

"Problema?", ele perguntou.

Rony revirou a bagunça de tinta e pegou uma nota no meio da piscina de tinta. "Scorgifaça" , ele disse distraidamente, apontando a varinha com dedos muito pretos. "Eu fiquei louco por causa disso". Ele estendeu a anotação e enrugou o nariz com a bagunça à sua frente.

Harry olhou-o, curioso. "O que está aí?". Parecia que a tinta estava escorrendo para fora ao invés de ser absorvida. Alguém tinha colocado um Feitiço Repelente ali. Harry começou a desenvolver uma certa suspeita.

Rony desdobrou o papel cuidadosamente, franzindo a testa enquanto mais tinta caía na mesa. Suas sobrancelhas estavam juntas numa única linha vermelha enquanto ele lia, depois fechou a cara. "Bem?", exigiu Harry, louco para saber de estava certo e a Monitora Chefe decidira fazer uma revelação ou duas.

Para sua surpresa, Rony atirou o papel para ele. "Leia", ele disse depressa, tentando voltar ao seu trabalho.

Harry lançou ao seu amigo um olhar zombeteiro, depois pegou o pequeno rabisco.

Rony,

Venha dar uma volta comigo depois da patrulha. Nós precisamos conversar.

H.

Harry franziu a testa. Hein? Aquilo não soava como algo particularmente bom, ele pensou, com um olhar interessado para Rony, que estava muito vermelho. Ele dobrou o papel de novo. "Você vai?", perguntou em voz baixa.

Um canto da boca de Rony se ergueu com certa tristeza, mas ele não ergueu os olhos. A reação de Hermione a suas flores certamente ainda o feria. "Claro que vou", ele falou enrolado. "Desde quando eu não faço o que Hermione me manda?". Ele capturou o olhar de Harry quando ergueu a cabeça. "Ao menos uma vez", ele decidiu.

Harry deixou aquela passar. Mais cedo ou mais tarde, Rony sempre fazia o que Hermione mandava. Ah, claro havia os momentos em que ele convencia seu companheiro Chefe a fazer a cabeça DELA, mas ainda era o turno de Hermione no ciclo.

Harry se recostou e estudou o amigo. Rony ergueu o olhar ao percebê-lo. "O quê?", ele perguntou, soando um pouco irritado.

Harry sacudiu a cabeça. "Quer um conselho?", disse.

Rony bufou. "Certo. Você está saindo com a minha irmã há menos de uma semana e já quer me dar conselhos? Vai se ferrar, Potter."

Harry o ignorou. Naturalmente o cara estava frustrado. Ele estaria em seu lugar, também. "Ela andou pegando você com a guarda baixa com essa coisa toda dos beijos", ele disse, cruzando os braços e esticando as pernas. "Já me parece que você deveria virar a mesa".

Então Rony olhou-o. "Quê?"

Harry deu de ombros e sorriu largamente. "Pense comigo", ele disse. "Você está ligado nela, ela em você... Vocês dois estão deixando um monte de merda entrar no caminho. E sim, isso é algo que eu conheço muito bem", ele disse, interrompendo Rony que já estava abrindo a boca.

Rony fechou a boca e ficou fuzilando-o por um minuto, para depois se recostar. "Então o que você quer dizer? Calá-la do modo divertido?"

Harry fez uma careta. "Eu não precisava da imagem, obrigado", ele disse, tentando não imaginar. "Mas é. Basicamente, vocês dois ficarão felizes, e falando sério agora, cara", ele disse, a expressão e a voz ficando sombrias, "Não há muito tempo para ficar perdendo com bobagens antes que tudo fique realmente mal". E encarou Rony mais uma vez. "Vocês realmente não querem passar esses últimos meses um na garganta do outro?"

Rony fez uma careta para ele, mas pareceu estar pensando. Harry deu de ombros e voltou a atenção a seu papel. Um momento depois, Rony fez o mesmo.

Uma boa hora depois, Harry quase pulou quando uma mão pousou em seu ombro. "Merlin, Hermione", ele grunhiu quando a Monitora Chefe se inclinou sobre seu ombro, lendo o que ele escrevera. "Dê ao idiota aqui algum aviso."

Rony, enquanto isso, começara a juntar suas coisas. "Hora da patrulha?", ele perguntou numa voz neutra.

Hermione ergueu o olho do papel, e Harry mal pode vê-la morder o lábio. "Sim", ela disse. "Pegamos a Torre de Astronomia esta noite."

"Que adorável", Rony resmungou. "Vou congelar. É melhor pegar a minha capa." E ele desapareceu nas escadas.

A mão de Hermione escorregara do ombro de Harry, e ele virou-se para ela quando ela estava fitando o ponto onde Rony sumira. Ela parecia tão confusa, ele pensou. Nada normal para seu cérebro muitas vezes mais rápido que a luz. "Sabe, é realmente muito fácil, Hermione", ele disse baixinho.

Ela piscou e baixou os olhos para ele. "Hã?", ela perguntou, claramente pega de surpresa.

Ele se virou melhor para olhá-la direito. "Não é tão complicado assim", ele disse de novo. "Apenas um caso do coração." Ele deu um sorriso frágil. "Apenas siga direções."

Hermione o encarou, depois piscou. "Desde quando você ficou tão introspectivo assim, Harry?", ela exigiu. "Você, que se negou a dizer uma palavra fora de Quadribol ou aulas nos últimos dois anos?"

Harry deu de ombros, um pouco embaraçado. "Com vocês dois, eu andei guardando isso pro momento certo", ele disse. "Não se preocupe, é tudo que eu posso te dizer. Terei que perguntar à Gina sobre qualquer outra coisa.

Hermione bufou, mas pareceu mirá-lo com um olhar bastante assustado. "Você está sendo legal com a Ginny, certo?", ela perguntou.

Harry arregalou os olhos para ela. "Ela tem seis, conte bem, SEIS irmãos mais velhos", ele disse. "Eu acho que você saberia se eu não estivesse." E claro, Deus o ajudasse se um deles descobrisse o que eles andavam fazendo na Sala Precisa... Harry tentou não enrubescer. Teria que guardar aqueles pensamentos para saborear mais tarde.

Hermione sorriu um pouco a isto, mas qualquer coisa que ela fosse dizer foi cortada pelos passos ruidosos de Rony. "Pense nisso", Harry falou depressa, antes que Rony chegasse a passos largos até eles, a capa enrolada nele.

"Vamos", ele disse. "E eu juro se eu pegar aquele Martin Filburton lá em cima mais uma vez, vou grudar as pernas dele juntas e usá-lo como nova bandeira da Grifinória. Aquele moleque tem mais namoradas do que Harry tem inimigos."

Harry bufou, rindo no fundo, e observou enquanto os dois deixavam a sala comunal juntos. Deu uma olhada nas escadas que davam para os dormitórios femininos. Gina fora direto para lá, alegando estar seriamente cansada, dando-o apenas um beijo curto que o deixara ali, feito um idiota, querendo mais.

Deixou um suspiro escapar. Ele não sabia bem o que estava fazendo com ela. Não fazia só uma semana que estava jurando para si mesmo que não arriscaria a pessoa que mais lhe importava? E mesmo assim, ali estava ele, com a mão subindo sob a camisa dela uma semana depois. Ele enrubesceu depressa, quase sentindo os óculos tremerem ao se lembrar daquele momento particular em que ela soltara aquele gemido amolecido e ele sentira aquela assustadora impressão de amor e poder que o atravessara...

Harry se arrancou de suas memórias e de volta para o mundo real, muito agradecido que houvesse uma mesa há sua frente, tão logo uma série de barulhentos primeiranistas entraram na sala comunal. Suspirou de novo. Ele tinha um ensaio para terminar, depois o treino de quadribol para planejar. Seu primeiro jogo, contra a Corvinal, estava chegando e ele precisava fazer os batedores trabalharem mais duro. Ele precisava de tanto poder de fogo quanto pudesse arrumar. E ainda havia aqueles feitiços nos quais Hermione estava trabalhando... Ele precisava ver se conseguia fazer alguns.

Ele respirou fundo, sentindo a tensão afrouxar e uma bola fria de ansiedade tomar seu lugar. Às vezes ele realmente temia no fundo não ter nenhuma chance. Contra um homem que passara a vida toda no meio das Artes das Trevas? Como ele, um adolescente, poderia ser capaz de destruí-lo? E por que diabos não podia Dumbledore, que deveria ser o bruxo mais poderoso do mundo vivo, apenas destruir Voldemort em pedacinhos?

Um poder que ele não conhece, Harry pensou com frustração. É, bem, Voldemort não era o único que estava no escuro com aquela história. Com certeza, Harry era bem forte com feitiços. Mas ele não tinha ilusões, claro que Voldemort era melhor.

Ele estendeu o braço e pegou sua pena. Era melhor terminar aquele ensaio, ele pensou, voltando ao trabalho. Havia tão pouco tempo para entender tudo aquilo. Ele deu uma olhada no retrato fechado. Tão pouco tempo, para tantas coisas.

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N/T: Olá mais uma vez. Capítulo curto, eu sei, mas não se esqueçam do tamanho do último, por favor! E muito importante: aniversário da tata aqui, nessa segunda! A tradutora está esperando cumprimentos! cara de carente

Carlos Bert: Puxa, obrigada. Espero mesmo que esteja gostando. Traduzir até é bem divertido! Obrigada!

Mimi Granger: Nossa! A fic tá tudo isso mesmo, é? Mas eu sei como é. Estou lendo Ligações Perigosas, da Scila, e apesar de pirar quando vejo que ela atualizou, sempre escolho um momento mais oportuno pra ler. Felizmente minhas provas estão quase no fim, só faltam Física (eu preciso passar de qualquer jeito!) e Filosofia. Foi um mês louco, mas compensa... Meu aniversário, inclusive, é dia 28 agora, depois da Fuvest! Quem merece isso, Merlin? E obrigada por tudo!

Miri: Ah sim, o Draco dessa fic é adorável. Eu tenho certa resistência a P.O.s, mas adorei mesmo a Cara. Gosto mais dela que da Gina, na verdade... Nhá, minha cara ficou horrível! O pior foi tentar encontrar sinônimos mais brandos para as cenas quase-NC, porque no original as palavras não estão tão suaves, e ficaria de mal gosto em português. E obrigada por tudinho.

Mari Madeira: MENINA! Eu simplesmente adoro seus reviews gigantes! Hum, como eu te disse, não li tudo. Mas tenho fortes (fortíssimas) razões para crer que você terá o que quer no capítulo 24! Porque dizem algo como "aquela era a noite deles". E o número 23 acaba aí. Então... Já viu! E puxa, homens lerdos dão um trabalho! A gente nunca sabe se eles querem ou não. Mas não tem como não amá-los. Mas é inegável: dá UMA mão de obra... Adoro você também viu? A gente se esbarra no MSN! Obrigada!

Keitaro: Eu, safada? Eu já te expliquei muito bem os fatores de eu ter acabado traduzindo essa fic. Primeiro veio Intenções Secretas, com o Sevie, e depois Incógnitos, com o Draco. E eu não podia deixar tudo largado... Moral, sabe. Mesmo que eu não seja HG. Mas essas cenas RH valem o esforço Não me bata, é só a verdade! Hehe que bom que a coisa está prestando, e também logo deve acabar essa fic, força de vontade pra mim. E estou esperando seu telefonema na segunda, hein? Não vai fazer o mesmo que eu! Sorry Obrigada pelo review!