Mares em Revolta
Capítulo Vinte e Quatro – Sondando
Harry estava no caminho para o café da manhã, inesperadamente sozinho enquanto Rony já tratara de tirar o traseiro da cama mais cedo. O motivo, Harry não sabia. Chegou ao Salão Principal, olhando em volta buscando seu melhor amigo e encontrando a cabeça vermelha e reluzente diante de um prato de mingau muito largo e um rolo de pergaminho.
Harry se deixou cair de frente para o amigo. "Dia", ele disse, e estendeu a mão para se servir.
Rony lhe lançou um olhar inesperadamente claro, considerando que seu melhor amigo não se forçava para fora da cama até o último minuto. "Você está terrivelmente alegre", ele disse, antes de encher de novo a boca.
Harry deu de ombros. "Apenas não pensando muito", ele falou, adicionando leite e açúcar. Muito açúcar. Que bom que Hermione não estava ali para discursar sobre seus dentes. "Eu tenho que pensar em tudo a cada maldito minuto de cada maldito dia, então estou tomando café e tentando não me importar."
Rony assentiu, voltando-se para seus papéis e para sua tigela cheia pela metade de cereal. Harry se recostou e tentou não pensar. Apenas se concentrou no sabor da comida em sua boca, o som baixo da pena correndo sobre um pergaminho e e o suave murmúrio das outras pessoas que chegavam ao Salão Principal. Ele se deixou vagar mentalmente. Provavelmente estava bem frio lá fora, ele pensou, erguendo os olhos para o céu nublado. Provavelmente um ótimo dia para voar...
"Ei, cara", a voz de Rony o interrompeu. Harry piscou e olhou para o lado. Rony não parecia feliz.
"O quê?", Harry perguntou. E empurrou sua tigela quase terminada ao fazer isso. Ele imaginou que aquele olhar significava que a hora de vagar estava terminada.
Rony fez uma careta. "Desculpe", ele disse, parecendo ter uma boa idéia do que passava pela cabeça de Harry. "Mas eu estive trabalhando nisso por umas duas horas, e você precisa ver."
Harry murmurou algo profano sob a respiração, que fez Rony soltar um sorriso, e estendeu a mão para a folha que o Monitor Chefe segurava. E escaneou-a rapidamente. Havia anotações encolhidas nos cantos e parecia ser uma versão menor do mapa do castelo de Hermione. Harry estudou-o silenciosamente.
Rony aparentemente não queria esperar que Harry decifrasse seus garranchos. "Não vai funcionar", ele disse. "Não com o que nós temos, não com o tempo que nós temos." Ele suspirou e afastou sua tigela também. "E francamente, vamos encarar isso, nós precisamos de poder de fogo. E isso significa envolver os professores."
O humor de Harry foi piorando. "Você sabe que eles vão tentar nos trancar lá em cima", ele disse, derrubando o esboço na mesa. "É o que eles sempre fazem."
Rony bufou. "É, mas isso foi antes de eles descobrirem que você tem que salvar a droga do mundo", ele disse. E fechou a cara diante da expressão de Harry. "Olhe, cara, você vai ter que dizer a eles. Você sabe disso, eu sei disso, e, infelizmente para você, Hermione também. E se você não fizer isso, é melhor saber que ela vai." Harry murmurou qualquer outro impropério e Rony sorriu tristemente. "Ela está com a Gina nisso. Decidida e determinada a salvar você, não importa o que você faça."
Harry encarou-o, depois franziu a testa para a mesa. "Eu estou cheio de ouvir que eu tenho que..."
Rony cortou-o virando os olhos. "É, é, Potter, muito bem, chega disso." Harry perdeu a careta. Rony estava certo.
Suspirou. "Certo", ele murmurou. "Mas você vem comigo."
Os olhos de Rony se alargaram. "O quê? Espere, sem chance, isso é coisa sua, eu não acho que tenho que..."
Agora Harry começou a sorrir. "Há. Você é o homem do plano, Monitor Chefe. Você vai levar o seu traseiro oficial até o escritório de Dumbledore e dizer a ele do que nós precisamos."
"O diretor, que acontece de ser um dos mais poderosos bruxos vivos do mundo, poderia ter algumas idéias para ajudar, você sabe", veio a voz de Hermione, ríspida. Os dois garotos se viraram para dar de frente com duas garotas de aparência muito aborrecida. Oh-oh.
"Dia", Rony tentou.
"Não me venha com 'bom dia', Ronald Weasley", Hermione atirou. "O que diabos você pensa que está fazendo, planejando e ajeitando tudo sem nós?"
"Nós teríamos esperado por vocês", Harry sugeriu, embora sem força. Ele ainda queria proteger as duas garotas que mais importavam. Matem-no por isso...
Aparentemente era justamente isso o que Gina considerava fazer, se for notado o olhar assassino com que ela o fitava. "Claro que teria, Potter", ela disse maliciosamente. "Logo depois do momento em que você começaria a declamar poemas pra mim."
Harry enrubesceu, mas sabiamente fechou a boca. Este era um daqueles momentos impossível-vencer-as-garotas. De narizes empinados, as duas graciosamente se arrumaram ao lado de Harry e Rony e trataram de tomar um café da manhã bem modesto, atirando aos garotos olhares muito assustadores para o caso de estarem cogitando levantarem-se.
Finalmente Hermione limpou os lábios. "Certo, então", ela disse, decidida. "Mostre isso, Ronald". O Monitor Chefe de quase um metro e oitenta humildemente entregou as anotações para sua namorada e observou enquanto ela comprimia os lábios e lia. "Bem", Hermione disse, pensativamente. "Você foi muito completo." E as passou para Gina.
"A única coisa que eu adicionaria", Hermione continuou, "é que nós devemos todos ir até Dumbledore. E apresentar o plano da maneira mais lógica e inteligente possível."
"O que você quer dizer com 'todos'?", Harry exigiu. Ele já não estava muito feliz com a coisa toda, e tinha uma sensação ruim de saber onde aquilo acabaria.
"Nós, Draco, Neville", Gina disse, baixando o plano. "Você sabe, todos os que estavam esquematizando tudo ontem à noite."
Rony fez uma careta e Harry concordou em silêncio. Maldito Malfoy. AQUELE era um motivo para acabar com a guerra, de modo que eles nunca tivessem que andar juntos de novo. "Certo.", ele grunhiu. "Mas você busca o Malfoy, eu não vou fazer isso. Já andei sendo muito legal."
"Garotos", Gina suspirou enquanto se erguia. "Eu faço isso, afinal já vi mais do garoto do que todos aqui." Harry engasgou e o queixo de Rony se espatifou no chão enquanto ela rumava para a mesa da Sonserina, onde Cara estava sentada com seu namorado.
"O quê?", Rony disse, começando a ficar um pouco roxo.
Hermione sorriu larga e maldosamente. Harry estava ainda muito chocado para perceber. "Calma agora, Rony, não saia tirando conclusões", ela disse docemente. "Ela apenas acabou encontrando Cara e Draco em uma posição comprometedora, é tudo." Hermione examinou as unhas. "Ela disse que realmente entendia agora porque Cara estava tão caída por ele, entretanto..."
Rony estava mais do que um pouco roxo agora, e Harry conseguira forçar sua mente a seguir alguma ordem de novo. "Certo", ele disse, sem fôlego. "Vamos... Vamos encontrar o Neville e ir, ok? Antes que tenhamos que ir pra aula."
Rony olhou fixamente na direção do loiro antes de se pôr sobre os pés. Hermione esticou-se e deu tapinhas no peito dele. "Não se preocupe, Roniquinho", ela disse com uma sorriso afetado de consolo. "Você é tão lindo quanto ele."
Rony sorriu, e lançou um olhar sombrio para Harry. "Há. Eu SOU lindo, Potter", ele disse, tentando fazer uma piada.
Harry plastificou um sorriso em seu próprio rosto, tentando parecer animado. "Continue dizendo isso pra si mesmo, Weasley". Seus próprios olhos encontraram os de Ginny, que voltava com um Malfoy de testa franzida. Cara tinha quase a mesma expressão ao segui-los.
"Vamos acabar com isso", Malfoy sibilou ao alcançar os três. "Eu tenho coisas mais importantes a fazer do que andar em companhia de grifinórios demais."
"Aham!", Cara alertou.
Malfoy girou para encará-la. "Nós já discutimos isso", ele replicou.
Ela pôs as mãos na cintura e encarou-o de volta. "Não, VOCÊ discutiu e eu te ignorei." E olhou para Harry por cima do ombro do garoto maior. "Eu também estou isso, Harry. Nem mesmo pense em me tirar."
Harry estudou-a, a mesmo que contivesse captou uma onda de pensamento da garota. "Parece justo", ele disse. E ergueu uma mão. "Guarde o comentário, Malfoy.", ele disse. "Vamos buscar o Neville e acabar logo com isso. Eu também não estou nada ansioso para a coisa toda."
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Draco fitava afetado a parte de trás da cabeça de Potter, seguido por uma roda de grifinórios. Malditos idiotas que só sabiam chamar à atenção e passar por heróis...
"Qual é a droga do problema dele?", murmurou sob a respiração.
Aparentemente o Garoto-Verme, também conhecido por Neville, o ouviu. O que acabou sendo uma vergonha, já que o paspalho diminui para ficar ao lado dele e dizer uma insanidade qualquer, sem dúvida. "Você sabe o que é tentar dizer a verdade por seis anos, e ver que todos no mundo se recusam a escutar?"
"Ele é o Harry Maldito Potter", Malfoy se descobriu sibilando de volta. "Não tente me convencer do quão dramática é a vida dele."
Longbottom parou de súbito e virou-se para fitá-lo. "Sabe do que mais, Malfoy? Você é um pé no saco. E pior, você é um estúpido pé no saco."
O rosto de Draco se congelou e ele se aproximou, muito mesmo, do outro garoto. "Você se importaria de dizer isso de novo, Longbottom?", disse baixinho.
Para sua surpresa, o Garoto-Verme o encarou de volta. "Você não entende, não é? Não é sobre você, é sobre o Harry. É sobre a coisa certa. É sobre defender as pessoas que não podem fazer isso sozinhas. É sobre", ele falou suavemente, bem como Draco fizera um momento antes, seus olhos igualmente incisivos, "É sobre parar com o egoísmo, e perceber que ninguém vai te segurar se você não fizer isso mesmo sozinho, já que você é apenas um pino em uma grande roda." Longbottom recuou. "Além do mais", e foi se reunir aos outros. "Se você soubesse o que Harry tem que fazer, você calaria a droga da sua boca e trataria de se mexer."
Draco o observou por um segundo, depois continuou andando. Malditos grifinórios idiotas.
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Gina estava quase se arrependendo de ter provocado Harry mais cedo com aquele comentário sobre Draco. Ele estivera tão seco e sério desde então... Claro, ela sabia que era porque ele logo teria que falar sobre tudo com aqueles que certamente desejavam trancá-lo lá em cima e tirá-lo da luta, principalmente os que já tinham feito isso antes.
Era algo, ela supôs enquanto eles esperavam que a gárgula do escritório de Dumbledore desse passagem, que Harry e o diretor pareciam ter chegado a um certo acordo de paz. Ela ainda não sabia sobre toda a história por trás do ano passado, mas houvera um definitivo degelo recentemente. Aquilo deveria tornar as coisas mais fáceis, não é?
As escadas apareceram, e Harry guiou-os por elas. Eles estavam todos quietos enquanto subiam os degraus. Cara estava bem em seus calcanhares, ainda bufando por conta de Draco. Ela estivera mais do que um pouco aborrecida ao saber que o namorado a enganara e a fizera perder a reunião. Cara estivera indubitavelmente do lado deles desde o começo, e merecia mesmo estar no planejamento.
Gina não ficou particularmente surpresa de ver Dumbledore esperando por eles no alto das escadas. "Sr. Potter", ele disse calmamente. "Venham, todos vocês. Suspeito que eu saiba porque estão aqui."
"Sorte nossa", ela ouviu Harry murmurar enquanto eles entravam. Gina engoliu em gemido ao ver os Professores McGonagall e Snape-o-Morcego sentados a um canto da sala. Aquela seria uma longa manhã.
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Harry estava de volta à Sala Precisa, tirando a poeira de outro boneco quando a porta se abriu.
"Potter", aquela voz irritantemente gelada veio por trás dele. "Acho que você me deve um duelo."
Fora uma manhã difícil. Ele tivera que lidar com as bufadas e olhares assassinos de Snape e os protestos de McGonagall sobre envolver os alunos, e os olhares de sabe-tudo de Dumbledore seguidas das palavras de sabedoria impossíveis de entender. Honestamente, o diretor deveria ser um dos bruxos mais poderosos do mundo. Ele tinha até seu cartão nos sapos de chocolate. Por que ele não podia falar em inglês claro?
De qualquer modo, foram talvez todas aquelas irritações combinadas com o stress que estivera possuindo-o nos dois últimos anos que levou Harry a deixar que o impulso raivoso do momento tomasse conta dele.
"Certo, Malfoy", ele disse, não se incomodando em virar-se. "Incêndio!", e lá foram eles, ambos. Maldições e azarações e toda a sorte de feitiços complicados. Malfoy era bom, Harry percebeu. Escorregadio e malvado, e que ele morresse se algumas daquelas maldições não fossem ilegais.
Harry se esquivou quando um jato amarelo cruzou o ar perto de sua orelha. Claro, ele ainda não perdera a varinha...
Meia hora depois, a sala estava uma confusão. Partes da parede estavam faltando, a matriz vaporizara havia muito tempo. Eles estavam suados, queimados, sem energia, e Draco estava derrotado. Ele sabia disso, e claramente não ficou feliz. Respirando pesadamente, Harry ergueu uma mão e a apontou para Draco, que estava mancando sobre uma perna, desarmado. "Imobilus", ele sussurrou.
Deixou Draco cair no chão duro e olhou-o por um minuto antes de relaxar e se sentar no chão próximo dele. "Satisfeito?", ele disse em voz baixa. "Você é a...", e contou em silêncio. "Quinta pessoa que descobre até onde eu posso ir. Na verdade, você conseguiu uma exibição maior do que eu costumo fazer." Ele deu de ombros e forçou um sorriso fraco. Aquilo era interessante, falar com alguém que não podia responder. "Você deveria se sentir especial."
E ficou quieto por um momento, pensando. "Você se lembra daquela noite na torre de Astronomia, Malfoy?", ele disse suavemente. "Nós dois ficamos absolutamente malucos com o medo de machucarem nossas garotas." E sorriu, sádico. "Eu me pergunto se teremos whisky de fogo suficiente para nos ajudar a superar tudo que está vindo. Vai ser feio", ele disse, mais para si mesmo. "Merlin, todos que vão morrer... Eu odeio isso. Odeio tanto. E que desgraça, odeio saber que é tudo por causa de uma estúpida profecia."
Ele deu uma olhada na forma rígida do outro garoto e suspirou. "Certo", ele disse, e estalou os dedos. Draco se sentou lentamente, e Harry ao menos conseguiu um pouco de satisfação em saber que batera o outro garoto. Afinal de contas, Draco quase fora um Comensal da Morte, e era um bruxo bem poderoso.
"Você é um vagabundo pior do que qualquer outro que eu tenha conhecido", foi a primeira coisa a sair da boca do loiro. "E quem se importa com uma maldita profecia? Ninguém disse que você tinha que sair correndo para cumpri-la."
Harry ergueu uma sobrancelha. "Ah, eu suponho que você tenha se distraído sendo um panaca malvado", disse em zombaria. "Está lembrado da morena que por acaso você está namorando? Precisa de uma razão melhor?"
"Desgraça", Malfoy murmurou. "Malditas sejam essas garotas estúpidas e o amor e as pessoas boazinhas. A vida é muito mais simples como um bruxo das trevas."
Harry deu de ombros, mas apenas com um deles. "Continue dizendo isso a si mesmo", ele disse. E lentamente ergueu-se de pé e estendeu uma mão. "Agora vamos sair daqui, jantar, e assim poderemos voltar e chutar uns traseiros por aqui essa noite."
Draco olhou-o por um longo momento, então suspirou e pegou a mão do outro. "Mal posso esperar pra poder voltar a odiar você como antes", ele grunhiu.
"Eu também", Harry resmungou, e os dois passaram pela porta.
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N/T:Vejamos... fazendo as contas se este é o capítulo 24... Só faltam cinco capítulos para o final da fic! Decisivamente! Nem acredito que estou acabando... Faz anos que estou nisso! Literalmente! Bem, já que estou aqui é melhor dar o clássico "Feliz Natal" para todo mundo, embora eu tema que esteja sendo meio desanimada. Sabem o que é? Se eu vir mais UM filme natalino, acho que enlouqueço. Não se fala de mais nada!
Mimi Granger: Haaa, o pessoal que esperava a NC caiu do cavalo! Eu mesma achei que ela fosse detalhar, mas pelo jeito deixou quieto... Enfim. Não é minha escolha! Mas a gente se apega mesmo a personagens. Eu e meu luto pelo meu bisavô (Dumbledore) que o digam. É como se eu tivesse convivido com ele! Mas não tenha medo de gostar deles, personagens são mesmo ótimos, fora o fato de não serem reais... Enfim de novo. Obrigada pelo review!
Renata: Hum, se você é maluca eu não sei. Mas que deve ter um Natal bem mais tranqüilo de se livrar do cara chato no seu msn... Já deve ser ótimo. Aqui está seu capítulo e espero que tenha gostado! Obrigada!
Carlos Bert: Como você pode ver... Num tem como ter certeza sobre a ruiva pervertida. De qualquer modo, talvez um dia nós saibamos, não é? Obrigada!
Miri: Às vezes eu tenho a impressão de que a fic toda é pré-épica. Aqui entre nós, eu num agüento mais essa de "vai ser difícil, pessoas vão morrer..." porque é tudo muito óbvio. Estou é com os leitores, esperando a bagunça começar de verdade! E obrigada!
Keitaro: Ah, eu estressei de verdade. Mas se você visse outra tradutora aí, coitada, ela quase pirou com o povo pedindo atualização. Até colocou uma NT reclamando... Pobrezinha, eu sei como é. Ah, e você variou mesmo, elogiando a fic daquele jeito! Você me fez lembrar que depois da fic, ainda tenho que traduzir todos os reviews das três fics e mandar pra autora! Socorro! E obrigada...
Rodrigo Black Potter: É, eu vi como você se empolgou. Você me assusta às vezes! Porque você sabe, é tradução, a coisa já estava pronta antes! E faça sua fic sim, por favor! Você realmente se empolga com essas estratégias. Fiquei assim de ver, olha: OO Hehehe. Obrigada!
