Mares em Revolta

Capítulo Vinte e Sete – Gritos Silenciosos

Severus desativou o escuro e o inferno se quebrou sobre eles. Ali estava ele, atirando maldições sobre seus próprios alunos, sua própria Casa. As crianças que ele tentara com tanto afinco manter longe da Marca Negra. Ele se esquivou de um jato laranja muito mal intencionado e devolveu depressa com dois Estuporantes. Ao menos não estava errando seus feitiços.

Seus alunos podiam não ser mais crianças, pensou soturnamente, atirando de novo e acertando Emília Bullstrode com outro feitiço, mas ainda não eram adultos. Não eram Comensais da Morte no auge de seu poder, e ainda eram incapazes de fazer o mesmo estrago que seus pais.

A seu lado, Draco estava fazendo o louvável trabalho de proteger as suas costas e desviar feitiços nada simpáticos direcionados a ele. Feitiços de corte e de paralisia total pareciam ser seus atuais favoritos. Ainda eram apenas dois contra vinte, entretanto, Severus pensou de súbito, o que significava que ainda havia uma boa parte para sair da frente antes que se considerassem salvos. Parkinson, por exemplo, tinha a ânsia por sangue estampada nos olhos.

Ouviu um grito atrás de si e logo soube que Draco deveria ter sido atingido por algo, e a desigualdade aumentou. Maldição, ele prometera a Sonora... Os lábios se Severus se contraíram quando ele tentou lançar um Feitiço Mata-Nervos forte o suficiente para os dois. Feitiço esse que não funcionou.

Parkinson estava se aproximando, com uma dúzia de sexta e setimanistas atrás dela, enquanto Draco coxeava um pouco atrás dele. Oh, o garoto loiro continuava reto e impassível, mas seu braço esquerdo parecia ter perdido o uso.

-Expelliarmus! – vieram gritos gêmeos do outro lado do salão, que pegaram Severus de surpresa. – Mas também pegou os sonserinos de surpresa, quando meia dúzia de varinhas voaram para longe de seus donos. – Estupefaça, Petrificus totalus, Estupefaça, Estupefaça! – e a vantagem pareceu começar a mudar de lado conforme aqueles vestidos inteiramente de preto começavam a tropeçar e cair. Ao lado dele Draco continuava atirando feitiços poderosos como se nada tivesse acontecido.

-Saia e receba o que você merece, Sangue Ruim! – veio o grito agudo de Pansy. Granger, Severus percebeu. Maldição, eles deveriam estar lá na frente com Potter, ele pensou, com a certeza de que Weasley deveria estar ao lado dela.

-Pela última maldita vez, NÃO A CHAME ASSIM! – veio um urro, provando-o certo. Ao menos Weasley seguira aquela afirmação de mais meia dúzia de feitiços bons, derrubando três alunos. Eles já haviam sido rebaixados a três figuras vestidas de preto, além de Pansy, que se tornara surpreendentemente escorregadia e hábil com maldições. Severus tivera dificuldade de se esquivar.

Houve uma rápida sucessão de Feitiços Estuporantes, e então era apenas Pansy, parada e sem varinha. Ela encarou não Severus, mas Draco. – Traidor – ela sibilou, - Traidor apenas por uma vaca grifinória, um estúpido amante de trouxas que só quis saber de f... – E então ela caiu como uma pedra, com sangue escorrendo de um corte na testa.

-Expelliarmus – murmurou a voz de Granger, a Monitora Chefe finalmente se fazendo ver. Ele estava ficando velho demais para aquilo, Severus pensou exausto, fitando os corpos inconscientes que forravam o corredor. – Rony, dê um jeito neles, nós precisamos correr para a frente de tudo. – Por alguma razão, Weasley já estava fazendo aquilo antes de ela falar, e Severus apenas ficou parado observando. A garota girou nos calcanhares para vê-lo e a Draco. – Você está bem, Malfoy? Deixe-me ver esse braço. – ela ordenou. Uma sobrancelha de Severus se ergueu quando Malfoy obedeceu com um resmungo contido. Com alguns acenos e feitiços murmurados Draco já estava flexionando sua mão de novo. – Pronto, Rony? – Granger perguntou, girando mais uma vez.

-Quase – Weasley retorquiu.

-Certo, professor, aqui estão as varinhas – um grande amontoado delas foi jogado nas mãos de Snape. – Venha, Rony, temos que correr para a frente do castelo!

Naquele momento houve um boom distante, seguido de uma chacoalhada que todo o castelo sentiu. – Harry! – Granger gaguejou, e logo ela mais Weasley estavam se apressando para fora, com Draco em seus calcanhares.

Severus observou enquanto eles iam, sentindo-se muito velho e ferido. De várias maneiras, ele pensou pela primeira vez, olhando para as varinhas em suas mãos e as formas inertes jogadas próximas dele, aquela não era a sua guerra. Ela continuara, absorvera outra geração. Ele nunca apreciara aquilo de verdade antes, já que sempre estivera tão profundamente imerso nas Artes das Trevas...

Curvando-se, Severus juntou de novo as varinhas e apontou a sua para elas. – Implodius – ele murmurou e assistiu enquanto o fogo as consumia, em verde brilhante e lilás enquanto as varinhas queimavam. A fumaça ficou diante de seus olhos até que ele passou pelo último corpo caído e sob um feitiço que ele se encarregara de pôr no centro do lugar, tomando depois o rumo das portas frontais ele mesmo.

Talvez aquela não fosse mais a sua guerra, mas ele ainda tinha um papel a cumprir nela, e seu coração para proteger.


A explosão dos portões fizera com que todos estremecessem surpresos, os dedos se apertando de forma dolorosa sobre as varinhas. Cara ficou parada ao lado de Gina e desejou pelo inferno que Draco estivesse por ali. Maldito garoto, ela queria chorar. Ele tinha que ir e salvar a droga de seus colegas e ser uma droga de um herói. Ela nunca o perdoaria se ele acabasse morto.

Poeira e entulho se misturavam onde deveriam estar os portões e então todos o ouviram. A voz de Harry, erguendo-se clara e forte. – Estupefaça – veio de uma só vez, e jatos de luz começaram a chiar pela nuvem de poeira.

-Eu não posso ver – Gina murmurou ansiosamente. – Não consigo ver porcaria nenhuma para acertar nessa bagunça, e eu tenho medo de pegar um dos nossos mesmo que enxergasse. – E a nuvem estava se aproximando e se dissipando, Cara percebeu. Seria aquele mais um dos truques de Voldemort? Houve um grito de dor, e mais um, e eles não conseguiam ver quem era.

A nuvem estava mais perto, talvez a alguns metros. E finalmente Cara viu um, um vulto negro de olhos furiosos. Ela ergueu sua varinha, mas seus colegas foram mais rápidos. Meia dúzia de feitiços acertaram o homem que caiu e sumiu de vista.

E então estavam sobre eles, e eles foram engulfados pela bagunça de poeira e sangue e gritos e feitiços. Cara se descobriu engasgando para respirar, esquivando-se e ondeando e atirando cada feitiço de paralisia em que conseguia pensar. Tire-os de combate, tire-os de combate, sua mente continuava repetindo. Houve um grito agudo de dor perto dela e ela virou-se para ver Gina parada com sangue escorrendo por seu rosto, embora ainda se mantivesse em pé, agitando a varinha furiosamente.

E então Cara girou nos calcanhares para encontrar seu próprio demônio pessoal. Um que ela imaginou estar morto e seco havia muito tempo. Bellatrix.

A mulher de cabelos negros deu uma risada aguda, os olhos selvagens e exultantes. – Eu estava procurando por você – ela ecoou. – A grifinoriazinha de Draco. – E Cara estava quase congelada com o choque quando Bellatrix ergueu a varinha. – Crucio!

Cara recuperou os seus sentidos e se esquivou tarde demais, sabia disso. Cada músculo ficou tenso, antecipando a dor, a insuportável dor de uma Imperdoável. Ao invés disso o jato de luz a acertou e explodiu num brilho azul que envolveu seu corpo. Bellatrix recuou um passo diante da redoma.

-O quê? – ela gritou, mas Cara já se recuperava. Obrigada, professora, ela pensou em silêncio.

-Petrificus Totalus! – ela gritou e fez Bellatrix se esquivar. – Estupefaça! Estupefaça! Estupefaça!


Harry estava com medo. Estava com medo porque tudo estava parecendo fácil demais. Os Comensais da Morte estavam caindo; lentamente, na verdade, e para se honesto dava para ver alguns de seus colegas caindo também. Ele torceu para que nenhum estivesse morto, já que não vira nenhum jato de luz verde cortando o ar.

Mas ainda estava tudo muito fácil e Harry sabia disso, mesmo enquanto sacudia a varinha para atirar cada azaração, cada feitiço, cada encantamento que conhecia, raspando e cortando e petrificando e arrancando o fôlego de um bom número de figuras de preto. Tudo fácil demais.

E então uma dor explodiu em sua cabeça de novo, fazendo-o cair sobre um joelho, sua mão esquerda se apressando em esfregar a testa. E então ele o ouviu. Rindo.

-Potter – a voz rolou triunfantemente pela escuridão daquela nuvem de poeira infernal. – Venha até aqui, Potter. – Ele não podia ver, Harry percebeu num momento de pânico, ele não podia ver mais ninguém por perto. Estava subitamente parado e sozinho no meio daquela névoa de poeira, sem nem mesmo Comensais da Morte por perto. Todos os sons da batalha tinham se afastado e ele não podia ouvir nada além do zumbido em sua cabeça e aquela voz gelada que lentamente se erguia do escuro.

-Não. Agora não e a hora nem o lugar. – Harry se descobriu gritando. Como em seu sonho...

-Eu escolho a hora e o lugar, Potter – veio de novo aquela voz, mais próxima. Sentia como se sua cabeça fosse logo explodir, e Harry teve que se forçar, cambaleando, a ficar de pé. Sentiu um arrepio gelado percorrendo suas costas, como acontecia com os dementadores e quase sem pensar, girou sua varinha no escuro.

-Expecto Patronum! – ele gritou sem força, e uma luz prateada saiu de todos os lados, brevemente iluminando a nuvem e mostrando Neville e Simas, não muito longe dele, trancados num duelo com Comensais da Morte. E então a luz desapareceu, como que procurando a origem daquele arrepio.

-Então você andou aprendendo, não é? – veio aquela voz de novo, bizarramente divertida. – Talvez isso seja mais interessante do que eu pensei.

E então a cabeça de Harry explodia e ele caiu sobre seus joelhos, as mãos agarradas ao chão, pedras cortando suas mãos sem que ele visse qualquer coisa além da agonia em sua mente. Sua varinha rolou no chão, inútil. Não, ele gritou em silêncio, tentando desesperadamente reconstruir suas paredes, aquelas que ele construíra com tanto cuidado durante dois anos.

É inútil, aquela voz disse em sua cabeça. Eu tenho sua mente. Você é meu, meu para pegar, para partir, para destruir. E cenas começaram a passar diante de seus olhos, e Harry gritou de novo em agonia vendo Rony e Hermione sendo torturados, e Gina era violentada mesmo tentando se debater contra seres vestidos em preto, e enquanto Neville, Cara, Dino e Simas caíam um por um no chão, os olhos vidrados e vazios.

Veja o que está por vir, soou dentro de sua mente. Veja o que eu farei, assim que me livrar de você.

E então houve um grito, meio abafado, como se viesse de muito longe. – Crucio! – ele gritou, e de repente Harry se sacudiu, e ele estava livre de novo, em pessoa. Afastou o sangue que tinha nos olhos e aparentemente escorrera por seu rosto, para ver alguém em pé perto dele, a varinha apontada para outra figura, sendo esta alta, sombria e fria.

Neville, Harry percebeu. Neville.

E então Voldemort resmungou qualquer coisa e acenou na direção de seu amigo, fazendo Neville cair para trás. – Você acha que pode me enfeitiçar, moleque? – o Senhor das Trevas sibilou. – Sua tolice não deixará de ter sua punição.

-Não! – Harry tentou gritar enquanto se erguia, tentava se mover, mas era tarde demais.

-Avada Kedavra! – e aquele jorro esverdeado, tão sombriamente familiar a Harry, saiu de Voldemort e Harry engasgou ao ver Neville perder a força e cair inerte ao chão.

-Não! – Harry urrou. – Neville! NEVILLE! – Algo surgira dentro dele, algo profundo e desconhecido que começou a crescer embaixo de seu peito. Seu amigo tentara salvá-lo e agora estava morto.

E Voldemort gargalhou. – Ele se foi, e agora é a sua vez. – disse aquela voz maligna, gelada. Olhos vermelhos brilharam violentamente no escuro, conforme a poeira à volta deles parecia ir abaixando. Os dois estavam num círculo agora, um círculo limpo de escuridão, sendo os dois as únicas coisas visíveis.

Harry estava em chamas, queimando em alguma coisa, algo tão poderoso que ele não entendia. Mas ele sabia como usar essa coisa. – Eu não deixarei que você mate mais! – ele gritou. – Nunca mais, seu projeto patético de bruxo!

Voldemort sibilou e ergueu a varinha. – Estou cansado disso. – ele disse. – Avada Kedav...

E Harry empurrou, com toda sua força. Empurrou toda aquela raiva, aquele poder, aquele amor que emergira dentro dele com a cena de Neville atacando Voldemort. Uma luz branca saiu de suas mãos, para frente, envolvendo os dois. A luz o cegou, o fez tropeçar. Sua cabeça estava explodindo de novo, a dor partindo seu corpo, seus braços, suas pernas, seu peito. Seu coração batia com tanta força que parecia estar prestes a irromper para fora a qualquer momento. E através de tudo ele ouviu dois gritos, sendo um deles dele próprio.


N/T: Será que só eu estou chorando aqui? Esse é com certeza um dos melhores textos que eu já li. Ah, sim, eu tive que usar travessão neste capítulo, porque o meu teclado pirou e eu fiquei sem aspas. Enfim... Vamos aos seus comentários:

Keitaro: Ah, por favor, pare de reclamar... Você sabe que não sou eu quem manda no tamanho dos capítulos. O capítulo veio devagar por causa de duas coisas, e você sabe quais: a fic que eu estou escrevendo e o nosso companheiro chamado terceiro colegial. Mas enfim, obrigada por comentar e ler

Carlos Bert: Pois é... assovia Então né? O que importa é que finalmente está publicado... Obrigada!

Miri: Ai, esse capítulo acabou comigo, me desmanchou... Espero que você também, a autoria ficará satisfeita de nos emocionar assim. Pois é, a HL está meio que criando vida própria, mas já que essa vida própria está sendo apreciada pelo pessoal... Nada contra! Heheh. Obrigada!

Rodrigo Black Potter: Certamente que esta é a batalha final! Pior que isso fica difícil de imaginar. Ah, por isso que você gostou da minha série. Quando se trata de primeira fic, é normal gostar, a gente não compara... Minhas primeiras fics lidas também devem ser ruins, mas eu gosto até hoje! Obrigada!

Zaz: Calma, já publiquei. Aproveite e obrigada!