Retratação: Saint Seiya e seus personagens, infelizmente e como sempre, não me pertencem e sim ao maluco do Kurumada. As situações descritas nessa fic não têm o propósito de nada mais do que entreter. Os nomes Dunstan e Kyriacos não são meus, obviamente, mas eu os busquei, portanto, vamos dizer que eles tenham sido "emprestados" de seus donos e origem verdadeiros.
Agradecimentos: serão, ao longo da fic, muitos, assim espero. Mas por enquanto à três pessoinhas que leram e gostaram bastante: Arsínoe, por TUDO e mais um pouco, Faye, pelo incentivo e Juzinha, por, já no sumário ter pedido mais.
Título: Um Fio De Suspeita
Sumário: Kamus e Miro estão em lados opostos. O francês é o melhor promotor da cidade de Nova York, enquanto o grego é um advogado de defesa que nunca perdeu um caso. Entre os dois, existe apenas uma coisa: um assassinato. Yaoi, suspense, romance
Prólogo
O Tribunal do Júri de Nova York, situado no coração da cidade, havia acabado de voltar de seu recesso para o almoço, exatamente às duas horas da tarde. Poucos haviam deixado a corte principal, muitos com receio de perder seus lugares e outros evitando o sol infernal do verão nova-iorquino, que atingia a população naquele início de Julho.
Estagiários, promotores adjuntos, estudantes de Direito, meirinhos, testemunhas de outros casos, curiosos. Todos pareciam interessados na audiência que se realizava naquela sala, tomada em quase toda sua total capacidade. O caso em questão não se tratava de algo polêmico ou envolvia alguma celebridade. Nem ao menos noticiado com ardor pela imprensa ele havia sido quando ocorreu. Mas mesmo assim, todos pareciam não querer perder o "embate épico" que se instaurava em qualquer corte daquele tribunal, todas as vezes que certo promotor e advogado de defesa se encontravam em lados opostos.
O homem, vestido completamente de negro, estava no centro da sala, os cabelos ruivos presos em uma trança promoviam uma visão memorável e hipnotizante aos presentes. Ele se moveu com uma certa elegância somente pertencente aos felinos, caminhando até os membros do júri, olhando-os nos olhos. Dirigiu-se a eles com polidez e firmeza impressionantes, como se aqueles opostos formassem uma mistura homogênea, tal como água e vinho.
— Talvez se o distinto advogado de defesa não tivesse a intenção de aparecer mais que sua cliente, já haveríamos terminado este julgamento e os senhores estariam em suas casas, junto de suas famílias. -ele disse, olhando cada um dos treze jurados nos olhos, não perdendo nenhum segundo da reação deles. Alguns sorriram discretamente em concordância, outros menearam a cabeça para um lado, como se estivessem a analisar o que havia sido dito, porém, dois ou três membros do júri pareciam imunes às suas palavras.
Kamus Dunstan (1) sorriu-lhes, amistoso. Tinha a maioria dos jurados em suas mãos. O mundo é mesmo maravilhoso, pensou.
No mesmo instante, de trás de uma das pesadas mesas de mogno polido, o citado advogado de defesa se levantou. Todos os olhares recaíram sobre ele. Vestia-se no oposto do promotor, seu terno de corte simples e ainda assim elegante era de um tom acinzentado bem claro, o que chamava a atenção para os vistosos cabelos longos e loiros, presos em um rabo de cavalo baixo, porém firme o bastante para que nenhum fio pudesse escapar.
— Protesto, Meritíssima! O promotor está tentando induzir o júri por meio de injúria! Talvez se a Promotoria não omitisse evidências que provem a inocência de minha cliente, este julgamento nem haveria acontecido. -afirmou, com veemência, seus olhos azuis se concentrando nos do promotor, que o analisava, pronto para pular em sua jugular a qualquer momento. Logo em seguida, focou-se nos jurados, que o observavam e percebeu que eles haviam ficado balançados com o que dissera. Quis sorrir, mas controlou-se.
Dúvida plausível, promotor Dunstan. Aprenda com o mestre., Miro Kyriacos (1) pensou, sentindo-se vitorioso.
Ouviram-se então, as três distintas e firmes marteladas da Juíza, uma senhora negra de olhos verdes e aparência extremamente severa. Os presentes no Tribunal já murmuravam coisas que não se podia distinguir.
— Silêncio ou coloco todos para fora! -ela afirmou e, no instante seguinte, uma sepulcral ausência de ruídos tomou o local. — Advogados, aproximem-se.
Promotor e advogado andaram, lado a lado, evitando se olhar. Debruçaram-se sobre o palanque onde a Juíza estava sentada, imponente. Seus cotovelos se tocaram e aquela foi a primeira vez que permitiram-se uma análise rápida e mais próxima um do outro.
— Isso aqui não é um circo! Não vou tolerar este tipo de comportamento na minha corte! -o tom de voz dela era baixo, mas ameaçador e ambos engoliram em seco. — Agora prestem a atenção. Senhor Dunstan, pare de manipular os jurados contra o Senhor Kyriacos. Creio que seu talento e inteligência sejam maiores do que essa tentativa suja de jogar.
— Mas, Mere... -o ruivo começou, mas foi interrompido pela Juíza novamente.
— E Senhor Kyriacos. -e o advogado ficou sério, diferente do prévio sorrisinho de escárnio que estava em seus lábios quando a Juíza falava com o ruivo. — Não interrompa o promotor em suas alegações finais. Sabe que isso não é permitido. Em qual universidade se formou?
— Mas, Mere... -tentou se justificar, tal como o promotor, mas também foi interrompido.
— O que o Senhor Kyriacos afirmou é verdade, Senhor Dunstan?
— A Promotoria não omitiu provas. -respondeu, placidamente.
— Isso é uma grande mentira, Kamus! E você sabe disso! -o loiro explodiu em voz alta e os presentes começaram um novo falatório, alguns até chegando a se levantar de seus lugares para ter uma visão melhor dos acontecimentos.
— Agora já chega! Todos para fora! -a Juíza ordenou e os expectadores foram escoltados, sob protestos, para fora da sala.
Quando restavam apenas os interessados no caso, a Juíza tornou a fitar o Promotor, com uma certa impaciência.
— Senhor Dunstan, o quê tem a me dizer?
Kamus fechou as mãos, punhos cerrados em sinal de incômodo. Suspirou profundamente, seu cérebro analisando rapidamente uma resposta plausível. Não esperava ter que chegar até aquele estágio, mas sabia que quando Miro Kyriacos havia assumido aquele caso, teria problemas. Sempre tivera.
— A investigação foi feita de maneira correta e nenhuma evidência foi omitida ou proibida de verificação por parte da Promotoria para a Defesa. -respondeu, pausadamente, sem fitar o advogado ao seu lado, que, ainda esbarrando em seu braço, deixava emanar uma aura de ódio que crescia com o passar dos segundos.
Miro estava furioso. Seria capaz, naquele momento, de cometer assassinato, tendo a Juíza, sua cliente e o Júricomo suas testemunhas. Como o outro negava a verdade dos fatos tão óbvios, que poderiam ser facilmente provados? Nunca confie em ninguém, especialmente naqueles que oficialmente devem lhes ajudar, afirmara seu professor de Direito Penal, enquanto ainda estava na faculdade.
— Senhor Kyriacos, o Senhor Dunstan disse...
— Se me permite, Meritíssima. -interrompeu. Quando a Juíza levantou uma das sobrancelhas e ficou em silêncio, ele prosseguiu. — As provas recolhidas na cena do crime, como fios de cabelo e fibras de tecido, que inocentam minha cliente, nunca apareceram para avaliação, mesmo tendo sido catalogadas no dia em que foi realizada a perícia.
A Juíza observou os dois homens à sua frente e levou as mãos às têmporas, como se quisesse prevenir a chegada de uma possível dor de cabeça. Os dois eram exemplos perfeitos e opostos da Justiça na cidade, mas não podiam estar juntos. Sempre algo de errado acontecia, um sempre parecia querer ganhar mais atenção que o outro. Era como um maldito reality show de tribunal.
— Senhor Dunstan, a afirmação do Senhor Kyriacos procede?
Kamus olhou para Miro, reparando nas bochechas vermelhas, nos olhos azuis que esperavam com antecipação por sua resposta, na fina camada de suor que lhe cobria a testa, mesmo com a temperatura baixa dentro da sala, graças ao ar-condicionado. Tão belo e tão insuportável, pensou, fitando, então, a Juíza.
— Infelizmente, devo admitir...
— Como ousa fazer isso aqui nessa corte? Você é o melhor promotor da cidade, porém isso não lhe dá o direito de gastar o dinheiro dos contribuintes em um caso sem provas! Não leu o manual? -a Juíza esbravejou, dando um tapa na mesa.
Miro não conseguiu segurar a risada. Havia sido realmente divertido. Porém, a Juíza o repreendia com o olhar. Mas não podia negar que ganhar era maravilhoso e ganhar de Kamus Dunstan era melhor ainda.
— Me desculpe, Meritíssima.
— Voltem aos seus lugares. Já sabem minha decisão. -ela completou e promotor e advogado apenas assentiram, caminhando até suas mesas. Segundos depois, todos se levantaram, em sinal de respeito a Juíza, que se pronunciaria.
— Por um erro da Promotoria, não existem provas suficientes para este Tribunal condenar a Sra. Jennifer Lyris pelo crime a ela imputado. O caso está encerrado e a senhora. é uma cidadã livre. O povo de Nova York expressa sua profunda tristeza por duvidar de sua inocência. -ela bateu com o martelo mais uma vez. — Dou por encerrada esta sessão.
Kamus bateu com o punho na mesa, em total desaprovação diante daquela decisão. Rapidamente recompôs-se, mostrar fraqueza ou irritação diante de um oponente era completamente inadmissível. Passou a mão pela trança, longamente, enquanto analisava o que deveria fazer. Sua atenção logo foi atraída para um soluço abafado vindo do outro lado da sala.
A ré estava abraçada a seu advogado e ele permitiu-se observar os dois por um minuto ou dois. Miro Kyriacos... o maldito advogado contratado pelo escritório Barnes, Taylor & Olsen era realmente bom. Melhor dizendo, o melhor. Finalmente, uma concorrência de peso, pensou. Aquele homem conseguia vencer os casos mais difíceis, mais complicados, com uma maestria tamanha, que, para sua própria surpresa, não havia nada que pudesse fazer a não ser admirá-lo. À distância, que aquilo ficasse bem claro.
Desviou o olhar quando percebeu que estava sendo observado. Procurou juntar os papéis e anotações em cima da mesa. Só lhe faltava aquela, ser pego pelo oponente analisando-o. Rapidamente colocou tudo desajeitadamente dentro da valise preta que carregava e saiu do Tribunal, em passos rápidos.
Já do lado de fora, Kamus permitiu-se observar as pessoas andando apressadamente pelas ruas, sob aquele sol infernal. Mantinha uma relaçao de amor e ódio comNova York. Amava-a no inverno, a pista de patinação do Rockfeller Center pronta para ser usada, o Central Park quase vazio; odiava-a no verão, com todas as crianças tomando sorvete, as lojas cheias e o trânsito que parecia multiplicar-se de maneira fenomenal.
Sentou-se em um dos degraus da enorme escadaria que levava aos salões principais do Tribunal e afrouxou o nó da gravata grafite, tirando o paletó logo em seguida. Deveria ir para casa e passar longas horas dentro da banheira cheia de água gelada, mas preferia estar ali, sob o sol forte, deixando sua pele queimar, tentando digerir uma derrota nada agradável.
A verdade é que odiava perder, como todo mortal. Mas perder para Kyriacos, de alguma maneira, era mais humilhante, mais degradante, mais desagradável. O sorrisinho de vitória do outro, um tanto enviesado, lhe dava vontade de cometer delitos, de estar do lado oposto da lei, pelo menos por cinco minutos. Realmente, ficar aqui nesse sol está fritando meu cérebro, pensou e no instante seguinte, encontrou-se protegido por uma sombra, de formas humanas.
Olhou para cima e encontrou o mesmo sorriso enviesado de Miro Kyriacos em sua direção, a valise dele sobre a própria cabeça, os cabelos loiros que pareciam extensões do próprio sol. Tornou a olhar para baixo, não querendo começar qualquer conversa.
— Esqueceu as boas maneiras em casa, Promotor Dunstan? –Miro perguntou, deliciando-se com a derrota estampada nos olhos do adversário.
— Não sei do que pode estar falando, mas minhas boas maneiras me acompanham aonde vou, Kyriacos. –devolveu, já revoltando-se com a estúpida idéia que tivera de ficar sentado naquela maldita escada, embaixo de um sol escaldante.
— Não me parabenizou pela vitória.
Kamus levantou-se do degrau, sem desviar-se dos olhos azuis de Miro. Ficaram quase no mesmo nível de altura e ambos estudaram-se, o francês, sério e o grego, ainda sorridente. Era uma guerra de nervos para ver quem daria o primeiro passo, lançaria o primeiro dardo mortal contra o outro.
— Sei como gosta de comemorar suas vitórias. –o francês disse e pôde jurar que vira a cor fugir do rosto do advogado de defesapor alguns segundos. Quando não recebeu nenhuma retórica, prosseguiu, no mesmo tom lânguido, que costumava usar quando estava em audiência. — Posso lhe pagar uma tequila?
Aquela frase parecia ter acalmado o agitado coração de Miro e ele soltou o ar lentamente, como se recobrasse os sentidos, ganhasse confiança, estivesse no controle da situação. Aquele era seu terreno, se Kamus havia lhe dado a oportunidade de rebater, ele não iria perder aquela chance. Afinal, guerra era guerra. E Kamus era um adversário adoravelmente maravilhoso e à altura.
— Não acredito que agüentaria meu ritmo, Dunstan. –retrucou, com uma certa malícia e percebeu que Kamus corara. Ele realmente havia aquela frase no sentido que o grego queria. — E, além do mais, não bebo com perdedores. Tenha um bom dia.
Miro desceu as escadarias, colocando o paletó em um dos ombros e seguiu na direção que levava ao estacionamento do Tribunal. Kamus apenas ficou observando, quase em um estado de inconsciência, o outro se afastar. Eram poucos aqueles que conseguiam deixar-lhe sem palavras, sem respostas rápidas. Mais um ponto para Kyriacos e sentiu que o odiava cada vez mais.
— Um dia após o outro, Kyriacos...um dia após o outro... –murmurou para si mesmo, enquanto pegava a valise que estava no chão e fazia o mesmo caminho do grego. Mas, definitivamente, não com o mesmo objetivo alcançado do outro.
Continua...
Nya...eu fiz! Kamus e Miro, eu estava mesmo me devendo uma fic em capítulos com os dois. E aqui está. Esse prólogo só está indo pro ar antes de uma certa promessa porque uma senhorita chamada Arsínoe queria muito que eu publicasse. Então, a demora pelos capítulos deve ser dirigida toda à ela, entenderam bem? Mas eu gosto assim mesmo de você, Arsi-chan! De qualquer maneira, espero que gostem e claro, comentem!
(1) os sobrenomes de Kamus e Miro não me pertencem, mas eu fiquei um tempinho olhando em uns sites alguns que poderiam combinar com o francês. Dunstan significa 'fortaleza' no francês antigo e Kyriacos era o nome de alguém envolvido no acidente de avião que ocorreu na Grécia há umas duas semanas, se não me engano. Não me perguntem quemera o cidadão, culpem minha esclerose!
