Título: O Ermo - ano 2948
Personagens: Estel, Elladan Elrohir, OCS originais.
Retratações: Os personagens não são meus, nenhum lucro é pretendido, só existe o desejo de contar uma história e demonstrar meu amor aos personagens do Professor Tolkien.
Sumário: Estel está prestes a iniciar sua primeira grande aventura e determinar com isso, o rumo de várias vidas.

Créditos: Agradecimentos eternos ao meu Tolkien Group.

Meus agradecimentos às talentosas Jennifer Lyon e Suzanne Bickerstaffe por haverem criado THE MAGICIAN, minha grande fonte de inspiração e a primeira fic que li, que não era Senhor dos Anéis, mas do adorado Arquivo X.

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O Ermo - ano 2948

Quando as sombras da noite se alongaram pelo caminho e antes que a lua e as estrelas surgissem para iluminar as trevas, os cavaleiros decidiram acampar, em parte devido ao risco oferecido pela escuridão, em parte pelo cansaço de um dia de cavalgada incessante.

Não que Elladan, Elrohir e os outros elfos de sua companhia estivessem cansados. Na realidade poderiam continuar ainda por um bom tempo, mas ambos desconfiavam que o ritmo imposto por eles fosse extenuante para seu jovem irmão. Ele não havia reclamado, mas já há algum tempo sua tagarelice costumeira havia silenciado e ficara completamente calado.

Elladan sorriu ao pensar que ele provavelmente teria desmaiado de exaustão a ter admitido que estivesse cansado. Estavam cavalgando desde antes do amanhecer e este ritmo podia ser muito duro para alguém pouco acostumado a cavalgar por regiões inóspitas.

Assim que encontraram uma clareira de faias para abrigá-los do vento frio que soprava no Ermo e onde poderiam acender uma fogueira, desmontaram para que os cavalos fossem tratados e alimentados.

Estel sentiu um alívio desconcertante ao desmontar. Sentia-se miserável não só pelo cansaço terrível, mas por imaginar que tipo de cavaleiro seria ele, se não pudesse cavalgar por algumas horas sem parecer que ia morrer de exaustão.

Haviam saído de Rivendell a cerca de uma semana, seguindo em direção à cidade de Valle, atendendo o convite do rei Bard.

Após a batalha dos Cinco Exércitos, a relação entre o povo de Bard e os elfos havia se estreitado e o rei havia enviado mensageiros até a casa de Elrond convidando-o para o grande banquete em honra do aniversário de seu reinado. O senhor élfico enviou então seus filhos e uma comitiva para saudar o rei.

Estel sentou-se perto da fogueira bebendo um grande gole de seu cantil, desejando ardentemente que nenhum dos irmãos notasse seu cansaço. Felizmente logo todos estavam o imitando e para grande alívio seu, parecendo inconscientes ao seu desconforto.

Lembrou-se então do dia em que fora chamado até a presença do pai.

"Estel, você já soube da visita dos mensageiros do rei Bard e sobre o convite enviado por ele. Eu decidi enviar uma comitiva de Rivendell e gostaria que você fizesse parte dela."

As palavras lhe fugiram, enquanto mal acreditava no oferecimento do pai. Já vinha fazendo pequenas viagens na companhia dos gêmeos, mas sempre por regiões próximas a Rivendell e desejava imensamente ir além.

"Adar, eu venho esperando por isto há muito tempo!" Custou conter a felicidade e teria abraçado Elrond, como costumava fazer antigamente, se agora não fosse crescido demais para isso e a sala estivesse cheia.

"Verdadeiro irmãozinho. Desde a época em que você sequer tinha idade para distinguir um orc de um elfo."

Todos riram do gracejo de Elrohir, e Estel encabulado com aquela verdade, sentiu o rosto se avermelhar.

"E quando partiremos?" Perguntou ao pai ansiosamente, ignorando os risos.

"Logo que todos os preparativos para a viagem tenham sido feitos." Elrond sorriu-lhe compreensivo. Sempre tivera a capacidade de entender o que se passava no coração daquele filho que o destino lhe dera e agora não era diferente. Entendia a excitação que o menino sentia com a possibilidade de conhecer uma parte daquele vasto mundo que o fascinava. "Acredito que servirá de valioso aprendizado a você, meu filho. E que você será de grande valia a seus irmãos e companheiros..."

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Viu-se desejando ardentemente que o pai tivesse razão, quando a voz de Berdel lhe forçou a voltar ao presente.

"... gostar de conhecer uma cidade de homens! Principalmente uma tão grande e próspera quanto Valle." O elfo dizia.

"É verdade. Eu soube que Bard tem sido um governante justo e por isso é amado por seu povo."

"Após a derrota de Smaug, quando reconstruiu Valle das ruínas, muitos moradores de Esgaroth seguiram para lá com ele. Desde então tem mantido relações comerciais e de amizade com os elfos do rei Thranduil e os anões de Dáin, o rei sob a montanha."

Notando o desprezo com que Berdel se referiu aos anões, arqueou as sobrancelhas.

"Sei que anões e elfos não nutrem simpatias mútuas, mas pensei que esta relação comercial fosse vantajosa?"

"Aceitamos que seja vantajosa..." Foi Elladan quem respondeu. "Mas não se pode nutrir amizade verdadeira por anões."

"Mas eles uniram-se aos elfos e homens na grande batalha!" Estel argumentou, confuso. "Foram grandes aliados."

"Claro que não fugiriam do combate." Berdel concordou. "Anões podem ser adversários ferozes e corajosos, mas ainda assim, almejam a riqueza acima de tudo"

"No entanto..." Elrohir, procurando ser diplomático, interveio. "Aparte o caráter, seu trabalho como artesões não pode ser desprezado."

"E, no entanto, eu não desejo ter com anões, mais que relações comerciais ocasionais." Elladan teimou, pouco disposto a concordar com os irmãos.

"Nos relatos da batalha, eles pareceram agir com bastante presteza." Estel não se conformava com a opinião amarga dos amigos, especialmente depois de conhecer os divertidos companheiros anões de Bilbo.

"Não se pode negar isso." Berdel parecia relutante em sua admissão. "Mas eu não me sentiria seguro tendo um por companheiro. Nunca soube que um anão merecesse confiança."

"Pois se eu tivesse de contar com a coragem e ferocidade de um anão durante uma batalha, não me importaria." Estel afirmou, com a certeza resultante de todos os contos que já ouvira.

"E o que você pode saber de grandes batalhas?" Erudhir arqueou as sobrancelhas com ironia.

"Nada ainda, mas não desprezarei qualquer aliança necessária para vencer uma."

Ao escutar o irmão responder com tamanha confiança, Elrohir sorriu. Já tão cedo, o menino exibia sinais de que era verdadeiramente digno de sua herança. Tal como o pai e o avô, antes deste, não temia mostrar fidelidade às suas convicções.

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Eles tinham estado de pé ao raiar da aurora, com Estel sentindo como se pudesse cavalgar até o fim do mundo. O descanso fizera-lhe muito bem, e depois de cavalgarem por todo o dia estavam chegando às bordas das Montanhas Sombrias e todos procuraram ficar alertas.

Muitas coisas ruins podiam acontecer a viajantes que se aventuravam além do limiar do Ermo, mesmo em épocas mais tranquilas e esperavam que os mensageiros do rei houvessem voltado sem maiores dificuldades, já que não puderam aguardar a comitiva élfica.

Conversavam sobre isso quando os companheiros frearam as montarias e antes que o jovem humano pudesse descobrir o motivo, vários uivos arrepiantes soaram, assustando os cavalos e fazendo com que os elfos preparassem seus arcos e espadas.

Sacou a sua também, com o coração aos pulos, preparando-se para as únicas criaturas que achou serem capazes de emitir tão tenebroso som.

"Wargs!" Disse por entre dentes.

"Exato." Confirmou Elrohir, segurando firmemente as rédeas de seu garanhão. "Fique próximo de mim." Ordenou ao irmão caçula, enquanto também sacava sua espada.

E logo eles surgiram! Grande quantidade das criaturas de Morgoth, muito maiores que os maiores lobos selvagens, de olhos vermelhos cruéis, emitindo rosnados ferozes.

Setas assobiaram, quando os elfos que iam à frente dispararam uma salva de tiros certeiros e então os três irmãos avançaram. Elrohir e Elladan, imagens idênticas de habilidade e destreza, com Estel ao lado deles, lábios apertados em concentração, avançando em seu magnífico corcel negro, a excitação lhe percorrendo o corpo como fogo, pronto para travar sua primeira batalha.

Num movimento ágil, afastou o cavalo das presas de um lobo e manejando a espada com precisão desferiu um golpe mortal, no mesmo instante em que recebia a investida de outra criatura, girando a espada rapidamente, cravando-a certeira na fera hedionda.

Enquanto repelia uma criatura após outra, na periferia de sua atenção percebeu que Varnion estava cercado por dois imensos wargs. O guerreiro élfico teve sucesso em se livrar de um e preparava-se para continuar a ofensiva, quando o inesperado aconteceu. O segundo warg saltou sobre ele, o arrancando do cavalo assustado.

Impotente, Estel observou a cena e desesperado para ir em auxílio do amigo caído, afastou-se de Elrohir sem pensar duas vezes, repelindo com ferocidade os lobos que tentavam atacá-lo no caminho.

Quando chegou há uma distancia que julgou apropriada o bastante, ergueu o arco e cravou uma seta na cabeça enorme do warg, que agora arrastava consigo o elfo inconsciente.

Alcançando-lhe finalmente, pulou para o chão, aliviado de ainda encontrá-lo com vida, mas os dois estavam indefesos naquele momento desesperador, enquanto tentava freneticamente colocá-lo por sobre o dorso de Thargon.

Desistiu rapidamente, quando percebeu a aproximação de mais wargs e ancorando o amigo em um dos braços, puxou a espada com o outro, preparando-se para defender-se e ao companheiro caído.

"Estel!" Um grito chamou sua atenção.

"Elladan!" Ele respondeu aliviado, quando de repente um Warg abriu sua guarda e com uma patada poderosa o lançou ao chão por sobre Varnion, a espada caindo violentamente para fora da sua mão.

Entretanto o lobo não teve tempo de atacar, abatido pelos elfos que surgiram em auxílio à Elladan. Eles começaram rapidamente a rechaçá-los para longe de Estel e Varnion.

O menino alcançou rapidamente sua espada, quando o irmão que também havia desmontado aproximou-se correndo.

"Estel, saia daqui, leve Varnion para um lugar seguro." Elladan gritou, enquanto erguia o guerreiro ferido e o colocava por sobre Thargon.

Ia protestar vigorosamente, dizendo a Elladan que ele mesmo o fizesse, quando o cavalo ameaçou entrar em pânico, o obrigando a montar rapidamente para dominá-lo.

Elladan também montou seu cavalo, deixando de ser um alvo fácil no chão. Galopou para o lado do menino com uma expressão preocupada.

"Eu lhe disse para sair daqui com ele, agora!"

"Não vou abandonar vocês!" Estel replicou, irritado.

"E vai deixar Varnion sem socorro?"

O elfo mal podia manter-se sobre o cavalo, sangrando abundantemente por uma ferida no flanco esquerdo. Isso obrigou Estel a engolir o orgulho. Achava que Elladan queria um motivo para tirá-lo dali, no entanto deu meia volta com a montaria, preparando-se para galopar para longe do combate.

No entanto havia lobos demais, e embora os guerreiros tenham formado uma barreira de proteção à sua retirada, um Warg gigantesco conseguiu passar indo em perseguição ao cavalo élfico.

Estel controlou sua ansiedade o melhor que pôde, ao notar a aproximação do lobo e urgiu o cavalo mais vigorosamente. Tomou uma resolução súbita ao perceber que não podia continuar galopando enquanto o elfo estivesse sangrando tanto, sob o risco de agravar seus ferimentos. Havia a frente um pequeno rio, onde pretendia saltar do cavalo, tendo a possibilidade de se voltar e enfrentar o Warg. Contava com a boa distância que havia entre eles e seu algoz para que houvesse tempo de executar seu plano.

Cerrando os dentes, segurou com firmeza o amigo inconsciente, enquanto galopavam para longe do warg em seu encalço.

Quando alcançou a borda do rio, desceu rapidamente e desembainhando a espada, espalmou o cavalo, ordenando que continuasse a galopar e não permitisse que Varnion fosse arremessado para fora da cela.

Feito isso, se preparou para enfrentar o Warg gigantesco.

E ele se anunciou com um rosnado longo, se aproximando o bastante para medir forças com seu pequeno oponente. Estel atemorizou-se. Ele sabia que se o lobo o derrota-se ou fizesse isso rápido demais, seu companheiro nunca teria chance de salvar-se.

E o temor pela sorte de Varnion lhe imbuiu de uma coragem ímpar. Sua faca flamejou sob a luz tênue da lua e avançando num movimento ousado, furou a barreira das garras cruéis para, num impulso desesperado, acertar o Warg no olho.

A besta ganiu e esquivou-se, o movimento violento arrancando a faca da mão de Estel. O menino mal teve tempo de fugir das arremetidas enlouquecidas, por uma, duas vezes, mas aproveitou-se da fúria descontrolada e atacou novamente, atingindo a fera várias vezes com a espada.

Rugidos hediondos de dor e ira cortaram a noite, mas ainda que ferida, a criatura continuava avançando até que a exaustão fez com que Estel se tornasse lento.

Investindo com ferocidade, o lobo golpeou com uma patada poderosa, atordoando o menino para lançá-lo com violência ao chão, saltando em seguida por sobre ele, rasgando sua pele com as garras afiadas. Sangue gotejava do olho ferido enquanto pairava acima dele.

Por um momento terrível, Estel acreditou que estava perdido, olhando impotente para aquela boca lotada de presas afiadas. No entanto, assim que o lobo cravou os dentes em seu ombro, a dor lancinante lhe deu novamente controle sobre a mente e num esforço supremo, aproveitou-se para libertar a mão presa e golpear com a espada.

A lâmina entrou profundamente na couraça grossa, enlouquecendo o Warg de dor, que afastou-se cambaleante de agonia. Então com um urro estrondoso, atacou novamente.

O menino rolou para longe do salto já lento, escapando por centímetros de ser retalhado pelas garras compridas. Ofuscado desejou saber por quanto tempo conseguiria fugir dos ataques, quando os espasmos da morte começaram a sacudir o lobo agonizante.

O movimento cessou após alguns minutos que pareceram eternos e Estel tentou se erguer, mas o mundo enlouqueceu a sua volta, o obrigando a deitar-se novamente para acalmar a respiração. Havia um silêncio enervante em torno dele. Sequer podia ouvir os ecos da luta que deixou para trás. "E Varnion?"

Tinha que encontrá-lo, mas antes precisava recuperar sua espada e o punhal, a despeito da escuridão absoluta.

O ombro doía tanto que mal podia movê-lo. Tocou o ferimento e com um gemido percebeu que sangrava muito, colando o tecido da roupa sobre a carne ferida. Mas não havia nada que pudesse fazer por agora. Seus ouvidos zumbiam e o mundo oscilava a sua volta.

"Pelo menos nenhum warg seguiu o primeiro..." Tremendo muito, se pôs de pé, indo em direção ao animal caído.

A espada continuava cravada profundamente, e foi retirada com alguma dificuldade, mas desistiu do punhal após um busca infrutífera.

Sobressaltou-se quando pareceu ter ouvido um relincho distante, entretanto no silêncio que se seguiu, escutou apenas a própria respiração. Limpou a umidade do suor que lhe inundava os olhos e tentou uma vez mais enxergar algo, mas havia apenas a profundo negridão da noite. A lua estava encoberta por nuvens espessas, dificultando sua visão.

Tentou decidir em que direção deveria seguir, quando a desorientação tomou conta dele.

"Talvez não tenha me saído tão bem, mas pelo menos Varnion teve a chance de se salvar..."

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Piscando várias vezes, Estel despertou lentamente. Gemendo tentou se lembrar do motivo de tantas dores, mas os pensamentos pareciam desordenados. Assustado, sentiu o coração começar a martelar. O que havia de errado com ele?

"Calma irmãozinho, não há o que temer agora." Disse uma voz macia.

"Elrohir?" Abriu os olhos e viu o rosto do gêmeo pairando acima dele. Tentou se levantar, mas a mão vigorosa do irmão o pressionou para que se deitasse.

"Não ainda. Não há pressa." Ele tocou a fronte de Estel com dedos gentis e o menino sentiu que o toque o acalmava. Sorrindo, o elfo chamou alto, virando-se à procura de alguém.

"Veja Elladan! Venha ver quem retornou ao mundo dos vivos!"

O gêmeo mais velho aproximou-se dos dois e Estel viu um sorriso enorme no rosto marcado pela preocupação.

"Meu pequeno irmão! Alegra-me saber que caminhará novamente sob a luz deste sol." Elladan riu.

Viu que estava deitado em meio a um acampamento, e pode perceber a movimentação dos outros por perto.

"Quanto tempo?" Sentia a garganta seca e engoliu com dificuldade.

"Não muito, desde que o warg..."

Ao ouvir aquele nome sobressaltou-se, recordando o ataque que sofreram.

"O Warg!" Tentou se levantar novamente. "Varnion!"

Uma violenta náusea o atacou, fazendo com que apertasse os dentes e cerrasse os olhos com força, enquanto era contido por Elrohir.

"Eu lhe disse que para ficar quieto." Ele ralhou com impaciência.

"Você não pode fazer nada por Varnion agora. Mas não se preocupe, nos também o encontramos. Aparentemente Thargon teve mais juízo que você e se pôs a salvo do outro lado do riacho." Elladan estava sorrindo para tranquilizá-lo. "E ele manteve Varnion em seu dorso e só permitiu que nos aproximássemos quando teve certeza que também não éramos feras sanguinárias."

Quando teve confiança de que o mundo estava firme novamente, reabriu os olhos e fitou os rostos idênticos dos irmãos.

"O que houve? Eu não pude ouvir nada de onde estava..."

"Nos tentamos impedir que qualquer um deles o perseguisse, mas eu não contava com a ousadia daquele Warg. Foi impossível enviar ajuda, porque naquele momento fomos cercados pela matilha."

Elladan apertou os lábios e então Estel se lembrou com rancor que ele o mandou sair da batalha.

"Você me disse para sair! Eu tive que abandoná-los!" Seu tom era pura acusação e revolta.

"Sinto muito. Mas era a melhor opção no momento. Tinha que tirar Varnion dali onde ferido era um alvo fácil. E você pode controlar Thargon melhor que qualquer um de nós."

"Mas quando não o encontramos, Elladan ficou imaginando se havia sido uma boa ideia. Você haveria de querer enfrentar o Warg a fugir, embora fosse contra todo bom senso." Elrohir continuou explicando.

"Eu ficava pensando nas explicações para Gilraen e nosso adar se o lobo tivesse te alcançado..." Elladan sorriu, para dar um tom leviano a suas palavras.

"Era um Warg bem grande aquele irmãozinho. Foi necessária muita coragem para enfrentá-lo no escuro." Elrohir parecia orgulhoso. "Se você não o houvesse feito, dificilmente teriam conseguido escapar de sua perseguição."

"Eu temia que ele nos alcançasse e eu tivesse que lutar e proteger Varnion ao mesmo tempo, então desci e ordenei a Thargon que continuasse a cavalgar. E esperei que pudesse ao menos atrasá-lo até que chegasse ajuda."

"Foi o que imaginamos." Os gêmeos tinham sorrisos idênticos, antes de Elladan continuar. "Por fim começamos a rechaçar o ataque. Os lobos finalmente compreenderam que não éramos um alvo tão fácil como aldeões ou viajantes descuidados e começaram a dar meia volta."

"Poucos escaparam, então pudemos sair à procura de vocês. Fomos somente nós dois e Berdel, porque havia feridos que necessitavam de cuidados." Foi a vez de Elrohir continuar e Estel teve que sufocar um sorriso à maneira em que os irmãos narravam seu conto, cada um alternando sua parte.

"Primeiro encontramos o Warg morto e por um momento achei que você tinha continuado a cavalgar. Então ouvimos o relinchar de Thargon, mas descobrimos que só Varnion estava com ele."

"Temíamos o pior quando finalmente Berdel o encontrou. Você havia caminhado em direção ao riacho após a luta e perdeu os sentidos perto da margem. Há apenas alguns centímetros longe da água. Você derrotou o lobo, mas esteve a alguns passos de morrer afogado."

"Você estava coberto de sangue e eu temi que o Warg houvesse arrancado suas tripas, mas Elrohir o examinou e disse que estava ferido, mas que metade daquele sangue não era seu." Elladan sentou-se perto dos dois, segurando o cantil de água, que ajudou Estel a beber.

"Nós o trouxemos pra cá e estávamos imaginando quando finalmente acordaria, para que nos contasse sua façanha. Isto foi na noite de ontem e agora o sol subiu ao céu há pouco."

"Sinto muito continuar dormindo quando havia a curiosidade de vocês para satisfazer..." Ele fez graça, contudo uma pontada aguda no ombro transformou o sorriso numa careta de dor. "Meu ombro... O Warg me mordeu..."

"Eu sei. Felizmente seus ferimentos não são extensos e os dentes do lobo apenas dilaceraram a pele de seu ombro, mas a saliva lhe causou um envenenamento." Elrohir tocou a bandagem no ombro do irmão.

"Quando o encontramos estava ardendo em febre. Por isso perdeu os sentidos depois da luta, mas agora está com um aspecto infinitamente melhor." Elladan informou.

"Exatamente." Concordou Elrohir. "E agora vai beber este chá e descansar mais, pois seu corpo ainda está lutando contra o veneno." Enquanto falava, retirou o cantil das mãos dele para que bebesse o chá. O liquido era amargo, mas enviou uma dormência calmante por sobre seu ombro e braço doloridos, causando uma sensação de calor que se espalhou pelo corpo.

Aproveitando que a narrativa acabara, observou o pequeno acampamento. Viu que não era o único ferido entre seus companheiros, mas que nenhum parecia em pior estado que ele.

A maioria se reunira em volta da pequena fogueira, mesmo que fosse um dia luminoso. Eles exibiam curativos feitos com habilidade e pareciam prontos para seguir viagem. Entretanto não notou a presença de Varnion.

"Pensei que houvessem dito que encontraram Varnion com Thargon..."

"Sinto muito Estel, mas ele estava bastante ferido e perdeu muito sangue." Elrohir disse com pesar. "Não podia continuar a viagem, mesmo depois de fazermos o possível para estancar a hemorragia. Não havia mais nada que nossas habilidades pudessem fazer."

"Ele necessitava dos cuidados de nosso adar." Disse Elladan . "Então decidimos mandá-lo de volta. Fizemos uma padiola, o acomodamos da melhor maneira e ele foi levado por uma pequena escolta."

Realmente quatro de seus companheiros estavam ausentes, além de Varnion e desejou fervorosamente que houvesse tempo para que chegassem à presença de seu pai, para o bem do amigo.

Mas uma coisa que disse Elrohir o estava incomodando. Sobre descansar. Ele não pretendia ficar ali deitado, atrasando a viagem. E foi como se o irmão lesse seus pensamentos, porque acabou com seus argumentos mesmo antes de começarem.

"Nem pense nisso Estel. A infecção ainda não passou e com certeza não está pronto para continuar. E estamos todos precisando do descanso."

Não era verdade claro. Sobre eles todos necessitarem de repouso, porque pareciam muito bem, contudo era uma batalha que sequer merecesse ser iniciada, como ele mesmo viu na expressão divertida de Elladan.

Nenhum dos dois conseguia dissuadir Elrohir quando ele tomava uma decisão. Então com o tempo pararam de contrariá-lo com seus argumentos. Só a confiar nele.

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As sombras se alongavam pelo chão quando Estel despertou novamente. Sentia-se melhor e pôde sentar-se com mais facilidade. O acampamento estava silencioso e somente Berdel se encontrava por perto.

"Você está com uma aparência melhor Estel..."

"Estou bem. A dor no ombro diminui bastante." Ele procurou o ferimento com os dedos, encontrando o curativo e o emplastro feito de ervas, e testou os movimentos do braço, podendo executá-los com facilidade. Os outros cortes que recebeu pelo corpo eram apenas um pequeno incomodo no fundo da mente.

"Excetuando-se a fome imensa, sinto que estou curado." Informou ele, procurando vestir a túnica, agora que podia movimentar-se melhor.

Berdel riu do entusiasmo juvenil do companheiro, antes de ficar sério novamente.

"Escute Estel. A maneira como manteve Varnion a salvo e o modo como enfrentou o lobo... foi muito corajoso de sua parte, para alguém que nunca enfrentou um ataque assim antes." Ele falava com respeito sincero. "Foi uma honra estar com você nesta batalha."

O humano jovem sentiu uma pontada de satisfação ao ouvir tal admissão do orgulhoso elfo.

"Obrigado, mas sei que Varnion ou qualquer um de vocês teria feito o mesmo por mim."

O elfo assentiu e a satisfação de Estel aumentou ao compreender que começava a deixar de ser visto como apenas o irmãozinho de Elladan e Elrohir, mas como um guerreiro igual.

"Mas onde estão os outros?" Perguntou, percorrendo o acampamento.

"Eles saíram para examinar as imediações e tentar descobrir se há sinais de orcs por perto. Também pretendiam empilhar as carcaças e atear fogo a elas."

Sentou-se para comer. Havia pão e coelho assado esperando por ele e bebeu de seu cantil com sofreguidão, quando percebeu que estava sedento.

"Agora que estou melhor, quando partiremos?"

"Não hoje, pois não tardará a anoitecer..."

"Então deveremos estar a caminho ao amanhecer..." Enquanto falava ouviu um relincho ansioso e lembrou-se de Thargon. Deu um assovio chamando o cavalo negro, que imediatamente respondeu e cavalgou em sua direção.

"Thargon, meu amigo." O cavalo encostou o focinho no tórax do dono e afagou o pescoço de Estel com sua cabeça sedosa.

"Você portou-se muito bem velho amigo, mantendo Varnion a salvo e não permitindo que ele caísse. Fico satisfeito que não tenha se ferido. Sua coragem me deixa orgulhoso."

O animal pareceu entender, pois resfolegou contente, aceitando o carinho atrás das orelhas e debaixo do focinho, antes de voltar para onde estavam os outros cavalos.

Assim que terminou de comer, Estel disse ao companheiro:

"Uma boa refeição pode transformar um homem." Bem humorado espreguiçou-se. "Creio que nada posso fazer, exceto aguardar a volta dos outros." Lançou um olhar carrancudo ao elfo. "E agora que estou acordado, não é mais necessário que fique por perto me pajeando."

Berdel riu.

"Elladan me mataria se soubesse que eu o deixei sozinho."

Estel suspirou resignado.

"É, eu imagino que mataria sim."

Ele deu uma volta pelas imediações, e observou os picos nevoentos das enormes montanhas que se erguiam acima deles ao longe, sentindo-se cada vez mais inquieto. Então tomou uma decisão. Voltou e encontrou o amigo preparando algumas flechas.

"Eu vou até aquele riacho tomar um banho. Provavelmente estou cheirando como um Warg."

O elfo deu a ele um longo olhar crítico.

"Tenho que confessar que você está mesmo me lembrando um orc."

Estel bufou enquanto resmungava por cima da risada de Berdel, afinal nem todo mundo podia parecer bem como um elfo depois de lutar contra uma matilha de Wargs.

Caminhando em direção ao riacho se felicitou mentalmente, pois a ideia de mergulhar os músculos doloridos na água fresca era excelente. Principalmente ao perceber que a carcaça do Warg já havia sido removida do local.

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Eles partiram antes do amanhecer, em meio à penumbra da madrugada, quando as estrelas ainda pontilhavam o céu com seu brilho frio.

Quando a companhia voltou na noite anterior, Elladan contou a Estel que haviam encontrado restos de fogueiras e outros sinais da passagem de orcs das montanhas por ali.

"Um grupo pequeno a julgar pelos sinais, mas de qualquer maneira devemos partir o quanto antes para não sermos emboscados aqui, em local aberto enquanto ainda nos recuperamos do ataque de ontem."

Eles se preparavam para o merecido descanso antes da partida, quando Elrohir chamou Estel.

"Olhe irmãozinho, eu creio que isto lhe pertence." Estendeu uma fina e afiada faca, que o menino reconheceu imediatamente.

"Meu punhal! Eu o procurei ontem depois que o lobo caiu, mas não pude encontrá-lo." Em sua mente veio o flash de uma recordação antiga. No grande salão de Rivendell, em que o sol desenhava figuras coloridas por entre as janelas altas, e o irmão lhe estendendo a bela e ornamentada peça élfica.

"Eu o encontrei quando levamos a carcaça para ser queimada. O lobo havia caído por cima..."

"Obrigado Elrohir, significa muito para mim."

Era verdade. Sempre valeria para ele tanto quanto um cetro ou uma coroa.

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Continua...

Valle: Cidade às sombras da Montanha Solitária. Foi destruída pelo dragão Smaug e reconstruída após a batalha dos cinco exércitos.

A Batalha dos Cinco Exércitos: Foi uma guerra entre Humanos(da cidade do Lago), Anões(das colinas de ferro), Elfos (da floresta), Orcs e Wargs e mais tarde as Águias (das montanhas sombrias).

Bard: Arqueiro que matou o grande e temido dragão Smaug.

Morgoth: O "Sinistro Inimigo do Mundo", foi o maior dos Ainur e chefe de Sauron.