Título: Thranduil - ano 2948
Personagens: Estel, Elladan Elrohir, OCS originais.
Retratações: Os personagens não são meus, nenhum lucro é pretendido, só existe o desejo de contar uma história e demonstrar meu amor aos personagens do Professor Tolkien.
Sumário: Como em toda boa lição é tempo de aprender a forjar novas alianças.
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Thranduil - ano 2948
Eles partiram naquela mesma tarde. Estel alternava longos períodos de delírio com esparsos de lucidez. A consciência indo e vindo em meio à febre e a dor. Durante um destes breves momentos perguntou a Elladan se o havia ferido.
"Ferido a mim?" Elladan não escondeu a surpresa. Como o irmãozinho poderia fazê-lo, doente como estava?
"Eu... te ataquei... não foi? Eu te... feri?"
"Você não me feriu irmãozinho. Não precisa se preocupar com isso, concentre-se em melhorar."
E assim o menino havia sido erguido e envolto em várias capas para ser acomodado nos braços de Elladan, enquanto os outros iam à frente.
Cavalgaram por todo aquele dia, correndo contra o tempo, mas quando a luz do sol minguou, foram obrigados a parar. Encontrar o reino de Thranduil estava se tornando uma tarefa mais complicada do que qualquer um gostaria de admitir. Era como se a floresta estivesse tentando os iludir.
"Eu sinto muito irmãozinho." Elladan disse, bastante desanimado. "Mas teremos que parar. Você tem que descansar durante algum tempo. E essa clareira parece um bom lugar."
"Averiguem o local..." disse Elrohir a Calion e Arlan. "Montaremos acampamento aqui. Você Berdel, acenda uma fogueira enquanto ajudo Elladan a acomodar Estel. Não podemos ser pegos desprevenidos por qualquer outra criatura perversa."
Colocaram Estel junto ao fogo e ele abriu os olhos nublados pela febre, recomeçando a gemer.
"Elrohir... frio... frio..."
"Shh... Já acendemos uma fogueira e logo você ficará aquecido." Elrohir empurrou o cabelo úmido de sua testa com carinho.
"Frio..." Ele repetiu, passando a língua pelos lábios ressequidos. "Sede..."
Elrohir ergueu seu cantil e permitiu que ele bebesse um pequeno gole, que lhe escorreu pelo canto da boca.
"Mais... sede... sede..."
"Não deve irmãozinho. Um pouco de cada vez."
O menino tornou a fechar os olhos injetados e pareceu adormecer. Terminavam de montar acampamento quando ele acordou sobressaltado.
"Elrohir... aqui. Estão aqui..."
E a floresta iluminou-se. Tão rápido que mal ouve tempo de pegarem arcos e espadas. Como se aproximaram sem que nenhum deles fosse alertado era um assombro, que deixou todos muito perturbados, mas o certo era que estavam completamente cercados por arqueiros usando túnicas e capuzes escuros.
Um deles se aproximou para dentro do circulo de tochas.
"Quem são vocês que invadem armados os domínios do rei Thranduil?" Devia ser o capitão daquela tropa extraordinária. Um elfo muito alto, de feições severas.
"Le suilannon." Disse Elladan se adiantando e guardando a espada. "Não pretendíamos invadir seu reino, mas estamos desesperados, pois um dos nossos está ferido devido um grave ferimento que recebeu na floresta."
"Um de vocês?" O elfo ergueu as sobrancelhas, voltando o olhar para Estel. "Mas vejo que aquele a quem diz ferido é um homem..."
"É um homem..." Elladan confirmou, com gravidade. "E pertence a esta comitiva e é um de nós."
O elfo não pareceu impressionado. "Isso não responde quem são e o que desejam invadindo nosso reino." As flechas continuavam apontadas, embora Elladan houvesse ordenado aos companheiros que guardassem suas armas.
"Sou Elladan Elrondion, de Imladris." Apontou aos companheiros. "Os outros são membros da comitiva enviada por meu pai para saudar o rei Bard em seu aniversário de reinado. Aquele é meu irmão Elrohir e o jovem que se encontra ferido é Estel, filho adotivo de lorde Elrond."
"Se vêem de Imladris deveriam saber que o rei de Mirkwood não permite que sejam ultrapassados os limites de seu reino sem sua permissão."
"Temos bastante consciência desse fato e não pretendíamos desafiar as ordens de seu rei, mas meu irmão foi ferido por uma aranha gigante, que também matou seu cavalo. Precisamos de ajuda, pois o envenenamento avança rápido."
Ainda assim o elfo não deu ordens para que os arcos fossem baixados e Elrohir, que assistia impaciente a cena, resistia em interferir, porém Estel começou a gemer novamente, a pele ardendo como fogo.
Levantou-se, pouco se importando com protocolos.
"Você e sua tropa já vinham nos seguindo desde que entramos neste trecho da floresta, e sem dúvida são o motivo da dificuldade que temos em encontrar seu reino. E já nós observaram o bastante para saber que não oferecemos perigo. Pode nos ajudar ou não?"
Pôde ouvir o suspiro resignado de Elladan, mas não tentou controlar a impaciência. A vida do irmão dependia da urgência com que recebesse socorro e todo aquele palavreado só atrasava o socorro de que necessitava.
"Só diga se pode nos ajudar ou nos deixe falar com o rei Thranduil."
Quando o silêncio se estendeu, ele deu um passo em direção ao capitão, o que fez com que todos
os arcos fossem apontados para ele, obrigando Elladan a barrar-lhe o caminho.
"Meu irmão está dominado pela preocupação, mas ele diz a verdade quando fala que não dispomos de muito tempo, precisamos com urgência de ajuda!"
Ainda em silêncio, o elfo avançou pelo acampamento ignorando Elrohir e se aproximando de Estel, examinando-o por um momento.
"Diz que foi ferido por uma aranha?"
"A quase três luas." Confirmou Elladan, ainda contendo Elrohir.
"Por que saíram da segurança da trilha?"
"Não saímos da trilha. A criatura estava de tocaia perto dela." Elrohir respondeu irritado.
"Está me dizendo que a aranha os atacou na trilha feita por meu povo?" Voltou o olhar surpreso a Elladan.
"É exatamente o que estamos dizendo." O gêmeo mais velho confirmou. "Ela estava na trilha, onde atacou meu irmão e onde também foi morta por ele."
O elfo sustentou o olhar de Elladan por vários segundos, como o ousasse a manter sua história, então num movimento sutil dos olhos, finalmente fez com que todos os arcos fossem baixados.
Elrohir suspirou aliviado e libertando-se de Elladan, foi para junto do irmão caçula, onde o elfo da floresta já havia se abaixado, jogando para trás o capuz e revelando cabelos negros como a noite.
Tocou na testa ardente de Estel e observou suas pupilas. Outro elfo também havia se aproximado e abaixado perto deles.
Juntos examinaram com eficiência o menino, sob a vigilância cuidadosa de Elrohir.
"Como era a aranha que o atacou?" Indagou o recém-chegado, ocupado em seu exame.
"Vermelha como fogo." Respondeu Elrohir. "Pernas longas e peludas e tão grande quanto um cavalo."
Os dois elfos da floresta se entreolharam e o que viera por último sacudiu a cabeça, deixando Elrohir apreensivo.
"Pode me mostrar onde ela o feriu?" Pediu a ele.
"Bem aqui no peito." Elrohir descobriu o ferimento que estava coberto por emplastros, assim que se agachou ao lado dos outros.
"Quais foram os sintomas?" Tocou com cuidado a pele inflamada por baixo do emplastro.
"Delírios, febre alta e dor. Seus olhos estão dilatados. Nunca vi nada como isso." A voz lhe saiu um pouco trêmula, como se todo o controle que mantivera até então, estivesse por fim lhe escapulindo.
O elfo, retirando o capuz e as luvas, virou-se e ordenou que um dos soldados se aproximasse com sua tocha.
"Ele está envenenado há muito tempo, o que é muito ruim." Esperou que a chama iluminasse melhor o doente e retirou o emplastro. Trazia atada em sua cintura uma bolsa de couro de onde retirou ervas secas, desconhecidas para Elrohir. "Estas são ervas especiais, usadas contra picadas venenosas... serão necessárias com água quente."
Imediatamente Elladan e Berdel foram providenciar a água na pequena fogueira do acampamento.
O elfo observou as outras marcas espalhados pelo tórax de Estel e viu que eram recentes.
"Parece que sua comitiva vem enfrentado outras dificuldades em sua marcha, além dos perigos da floresta escura."
"Tivemos um encontro com uma matilha de Wargs, no limiar do ermo." Respondeu Elrohir sem tirar os olhos do que o elfo fazia. "Deram-nos trabalho..."
"Seu jovem irmão parece ter lutado muito de perto com um deles."
"Ele foi perseguido por um lobo e obrigado a enfrentá-lo no escuro, enquanto defendia um de nossos companheiros caído..."
"Então se trata de um jovem corajoso. Gostarei de ouvir o conto desta batalha numa hora apropriada..."
Elladan voltou com a água e o elfo de Mirkwood macerou as ervas, colocando a mistura em um pedaço de pano fumegante que aplicou em seguida no peito de Estel, sobre a lesão que chiou. Ele gemeu alto e se agitou, mas após alguns minutos suspirou profundamente, caindo num sono quieto.
Arrancando uma tira da túnica do menino, o elfo que provavelmente era um curandeiro, improvisou uma faixa em volta do ferimento, depois foi até a fogueira e começou a preparar uma beberagem, com outras ervas de sua bolsa.
"Vocês nos interrogam sobre o ataque que sofremos e parecem desconhecer que as aranhas estavam invadindo a trilha. Como isso é possível?" Elrohir finalmente desviou o olhar do irmão adormecido. "Sua patrulha nunca encontrou uma delas tão próximo?"
"Sabemos que aranhas têm estado aqui há muito tempo..." Elladan também falou. "Por que essa em particular causa tanta apreensão?"
"Existem todos os tipo de seres sombrios nesta floresta e apesar disso meu tio manteve nosso reino seguro, longe de tais ameaças..." O elfo, que obviamente era o capitão da tropa, respondeu. "Mas não é bom que nós nos esqueçamos de algumas regras de cortesia, apesar da situação. Eu sou Tharlian, filho de Artaner e capitão da guarda do rei..." Indicou em seguida o elfo das ervas. "Este é Eruónel, meu tenente."
"Nós somos Elladan e Elrohir, filhos de Elrond e este que vocês socorrem é nosso irmão caçula Estel." Elladan os apresentou, embora já o houvesse feito antes.
"A aranha que o envenenou não é como suas irmãs que habitam as profundezas da floresta. Elas surgiram sorrateiramente, conquistando território das outras e agora pelo que disseram, se aproximando cada vez mais de nosso reino, ousando até mesmo invadir nossa trilha." Continuou o capitão, parecendo preocupado.
"As aranhas têm medo de tudo que seja élfico." Disse Eruónel ajoelhando-se novamente ao lado de Estel. "Mas estas são mais audaciosas e não menos malignas." Ele ergueu a cabeça do menino, procurando fazer com que acordasse para beber o chá. "Vamos meu jovem amigo, você precisa beber isso. O gosto é ruim, mas fará com que se sinta melhor."
Depois de conseguir com que ele engolisse pequenos goles, o cobriu novamente com as capas e se levantou.
"Seu veneno é especialmente poderoso. As outras gostam de atordoar as vítimas com uma pequena quantidade antes de aprisioná-las na teia, mas este pode ser mortífero, se elas assim o desejam." Continuou Eruónel. "Foi assim que matou seu cavalo e teria acontecido o mesmo com seu irmão, se ela inoculasse mais veneno."
"Ainda assim é espantoso que venha sobrevivendo até agora." Tharlian afirmou, observando o sono agitado de Estel. "E ele a matou?"
"Lutou com ela sozinho e conseguiu atingi-la mortalmente." Respondeu Elrohir com orgulho.
"É mesmo um jovem extraordinário." Disse o capitão com respeito óbvio. "E um dúnadan do norte também."
"Isso explica parte de sua resistência." Eruónel guardou seu material. "Eu fiz o que pude por ele. O veneno foi contido por enquanto. Suas ervas também ajudaram, entretanto suas forças estão diminuindo. Em nosso reino poderá receber maior auxilio e um tratamento melhor do que aqui em meio ao frio e umidade."
"Não poderíamos dimensionar nossa gratidão." Garantiu Elladan. "Minha casa será sua devedora..."
"Se ele é um jovem tão valoroso como dizem, ficaríamos honrados em ajudar." O curador afirmou.
"Ele é." Assegurou Elrohir. "Um jovem muito estimado por meu pai e de grande valor para os seus."
"Então não devemos nos demorar, pois temos um caminho longo a percorrer."
Começaram a se preparar para partir quando Estel gemeu alto e acordou novamente.
"Estou aqui mesmo irmãozinho." Elladan aproximou-se dele rapidamente, abaixando-se e correndo a mão carinhosamente por seus cabelos.
Pela primeira vez tinha os olhos serenos e livres do delírio, embora ainda falasse num sussurro rouco.
"Elladan... estas... pessoas... eu não..."
"Não precisa temer ou se preocupar com nada. São elfos da floresta e vamos até seu reino onde você receberá cuidados apropriados."
"Mas...nós... não íamos..."
"Tem razão, eu disse que não íamos." Sorriu ao irmão. "Mas agora vamos fazer um pequeno passeio e você deve ficar quietinho para poupar suas forças."
Estel queria dizer que já fora poupado demais, mas um cansaço imenso pesava sua mente e ele mal podia enxergar o irmão em meio à bruma que voltava a lhe cobrir os olhos.
"Não pode me atrasar." Elladan o ergueu nos braços. "Você resistiu até agora e lhe ordeno que aguente um pouco mais, pois temos uma longa viagem até o reino de Thranduil." Ele e Elrohir o acomodaram no cavalo e quando terminaram todos os outros já estavam prontos.
"Nós vamos percorrer um caminho secreto mais curto, conhecido apenas pelos súditos do rei. Eruónel me disse que o estado de seu irmão é grave, por isso precisamos nos apressar, então enviarei batedores para que sejam prevenidos de nossa chegada e os preparativos sejam feitos." Informou o sobrinho do rei.
Elrohir concordou com ele e após um sinal de seu capitão, alguns soldados iniciaram a marcha, enquanto o restante mesclou-se novamente ao verde da mata, para reiniciar sua patrulha.
Aliviado, não olhou para trás.
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A diferença que existia entre aquela parte da floresta e a que deixaram para trás era imensa.
Ali o ar era fresco e o vento soprava suave por entre os galhos iluminados pela luz da lua cheia que dominava o céu.
A marcha se tornou agradável como há muito não acontecia e Elladan notou que a respiração do irmão parecia mais fácil assim que penetraram naquele trecho da mata e aquele fato o encheu de um novo ânimo.
Ele havia acordado algumas vezes para pedir água, mas tão logo bebia caia novamente em seu sono inquieto.
"Meu senhor Thranduil tem lutado para manter nosso vale livre do mal." Tharlian conversava animado, completamente diferente do soldado austero que os abordara na clareira . "Mas isso tem se tornado difícil nos últimos tempos, mesmo agora quando ainda é decorrido tão pouco tempo da batalha dos cinco exércitos."
"As coisas também estiveram tranquilas em nossas viagens pelo Ermo nos últimos anos." Confirmou Elrohir. "O ataque dos Wargs foi o primeiro em muito tempo. E havia orcs das montanhas envolvidos."
"Mesmo aqui eles raramente se atrevem a entrar. Embora sua atividade tenha aumentado, causando dificuldades aos homens da borda da floresta e aos viajantes que se arriscam a percorrer o Ermo." Tharlian disse.
"Mithrandir tem pedido nossa colaboração para informar sobre toda e qualquer atividade estranha no ermo e na floresta." Disse Eruónel, que caminhava ao lado do cavalo de Elladan. "Ele não disse o motivo, mas pareceu bastante preocupado a última vez em que esteve aqui..."
"Ele tem se mantido ocupado, pois quase nunca é visto num mesmo lugar por muito tempo." Observou Arlan, que caminhava ao lado de Elrohir.
"Se as coisas continuarem caminhando neste ritmo, em pouco tempo haverá raros lugares em que seja seguro viver." Eruónel comentou, embrulhando-se com formeza em sua capa.
"Por isso temos redobrado a guarda no limiar de nossa fronteira, sendo cautelosos ao extremo, pois a feitiçaria pode encantar os sentidos e nublar a visão para o mal." Tharlian explicou, antes de apontar para o fluxo alguns metros à frente. "Vejam lá está o rio da floresta."
Eles estavam saindo do meio de um grande bosque de carvalhos e faias, quando se viram diante do rio ruidoso, que descia ligeiro das alturas da floresta.
"Venham, há uma ponte mais ao norte. O rio oferece passagem num de seus pontos mais rasos, mas sua água é gelada nesta época do ano, pois corre dos picos gelados das Montanhas Cinzentas."
Um corredor de faias iniciava-se ali e seguia até a margem onde estava fincada a ponte de madeira vermelha, que eles atravessaram lentamente.
Quando se viram do outro lado, às portas da grande caverna que era o palácio de Thranduil, a madrugada estava acabando e a claridade da aurora fria enchia o céu com seus tons dourados.
Elladan ainda montado em seu cavalo com Estel nos braços observou a grande caverna incrustada na montanha íngreme, com sua orla coberta de faias que desciam até o rio.
Era tão grandiosa que de onde estavam, era impossível determinar onde terminava, e bem ao centro estava o portão de ferro, de grades grossas, entalhadas por mãos habilidosas.
Por toda à volta, os bosques abrigavam em seus galhos e no chão, várias cabanas e casas feitas de madeira, construídas com grande destreza.
Dali podia-se perceber que as atividades do dia já haviam sido iniciadas em algumas delas, embora a manhã mal houvesse surgido.
Os batedores pareceram cumprir bem sua função, pois um contingente do belo povo de Thranduil encontrava-se na entrada da caverna, a espera de seus visitantes.
Elladan recebeu a ajuda de Eruónel para descer Estel do cavalo e as montarias foram entregues a um dos guardas, que se dirigiu aos estábulos.
Elrohir olhou pra cima, vendo a grande abobada rochosa da caverna assomar sobre eles enquanto penetravam nas raízes da montanha. Ficou imaginando se dentro daqueles corredores não fossem sentir-se tão sufocados quanto na floresta. Mas uma vez lá dentro percebeu que o ar era limpo e fresco e as tochas nas paredes mantinham tudo iluminado e morno, em contraste com o frio da madrugada do lado de fora.
Depois de andar por um tempo, chegaram a um pátio comprido de onde os servos do rei correram para receber os cavalheiros.
"Está tudo preparado para receber seu irmão." Informou Tharlian, aproximando-se de Elladan após conversar com um dos elfos. "Você deve entregá-lo aos cuidados de Cardhir."
Um elfo feições amáveis vinha com ele.
"Ele é o curador do rei e suas habilidades são prodigiosas. Juntos, ele e Eruónel farão o que puderem por seu irmão."
"Eu soube que ele foi ferido por uma das aranhas de fogo há três dias e tem resistido bravamente. Mas não podemos esperar mais." Disse o curador, fazendo sinal aos servos que se aproximaram e tomaram Estel dos braços de Elladan, para seguirem em direção há uma das várias portas que circundavam o pátio.
Quase que instantaneamente ele foi despertado pela agitação e começou a gemer novamente, tremendo como se o frio voltasse a consumi-lo.
"Nós gostaríamos de ir com vocês." Pediu Elrohir a Cardhir, falando por ele e Elladan. "Não queremos nos separar dele."
"Será mesmo bom que ele veja rostos conhecidos quando despertar da febre." O elfo concordou com um sorriso amável.
Escutaram a voz fraca e torturada do menino, chamando baixinho.
"Elladan... as aranhas... as aranhas..."
Elladan segurou-lhe a mão com firmeza.
"Não é preciso temer irmãozinho, aqui está seguro. Todos nós estamos."
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"É o maior quarto que já vi." Pensou Elladan, encarando o fogo que crepitava baixo na lareira. "Poderia acomodar uma tropa inteira aqui."
Cavernas eram moradias estranhas para elfos acostumados ao ar puro dos bosques. Entretanto, mesmo estando entranhada dentro da montanha não havia qualquer sinal de abafamento ou escuridão em seus longos corredores e salões.
Não que ele mesmo pudera conhecer muitos deles.
Da cadeira em que se sentava olhou para a enorme cama onde se encontrava o irmão.
Cardhir tinha estado continuamente com eles, tratando o envenenamento que avançava. Agora fazia três dias que foram recebidos no palácio real e praticamente não abandonara o leito do menino.
O curador e Eruónel eram habilidosos, entretanto por um período angustiante julgou impossível que um homem pudesse aguentar a tortura a que Estel estava sendo submetido e quando os companheiros apareciam para receber notícias, não podia lhes dizer palavras de conforto.
Cardhir havia se retirado há alguns minutos, após ter insistido que ele saísse para comer algo e descansar. Havia dito:
"Fizemos tudo o que era possível por hora, meu amigo. Essa batalha agora depende dele."
Mas não podia abandonar o leito do irmão, embora houvesse obrigado o gêmeo a sair para comer algo.
Não podia deixar de se sentir responsável. Afinal ele fora confiado a ele e Elrohir em sua primeira grande viagem, um jovem deslumbrado pelo mundo que o cercava, e sabia que deveria ter-lhe protegido melhor.
Como encarar seu pai se o pior acontecesse? Ele que amava a criança humana tanto quanto a seus três filhos legítimos. E a bela e solene Gilraen, que sorria encantada na presença do filho?
Além do mais sabia o que ele representava para o pai, que o abrigara em Imladris longe dos perigos do mundo e do Inimigo para cumprir o destino que o aguardava.
Estava perdido nesses pensamentos, mal notando que Cardhir havia acabado de retornar quando ouviram um leve barulho vindo do leito e viram que ele parecia estar despertando.
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A primeira sensação foi de dor. Afiada, intensa, e se recusou a lhe deixar continuar em esquecimento. O warg! Ele pensou, com um gemido longo. Talvez o warg resolveu terminar o que havia começado!
Então, quando lhe pareceu que a fera não continuaria tentando arrancar sua carne e sentiu-se seguro de que abrir os olhos não seria uma agonia indescritível, viu-se fitando um aposento estranho.
"Então finalmente acordou..." Um desconhecido disse, com voz amável.
Tentou responder em vão, a garganta ressecada demais, então o elfo o ergueu, segurando um copo gentilmente contra sua boca.
"Beba. Vai ajudar."
Bebeu pequenos goles da água fresca e finalmente conseguiu falar.
"Eu... não me... recordo..."
"Não há o que temer meu jovem. Tudo será respondido no tempo certo. Por hora não deve se preocupar com nada."
Viu que outra figura surgia em seu campo de visão, esta muito conhecida.
"Elly?"
"É bom ter você de volta irmãozinho." Ele segurou sua mão suavemente e lhe sorriu com carinho.
"Sinto-me... fraco."
"Eu sei. Tente descansar mais um pouco. Vou estar aqui quando você acordar."
Concordou com um aceno cansado de cabeça, fechando os olhos e adormecendo imediatamente.
"Contra todas as probabilidades ele venceu a batalha." Disse Cardhir, com bastante admiração.
"Você que dizer...?" Elladan ainda parecia temeroso.
"É isso mesmo. Ele ainda está muito fraco, mas a febre está cedendo e logo sumirá por completo." Sorriu ao ver a alegria e o alívio nas feições do jovem elfo.
"Eu lhe agradeço mestre Cardhir. Nunca teríamos conseguido sozinhos e lhe seremos eternamente gratos."
"É este o papel de alguém que se envereda pelas artes da cura, meu jovem, ajudar a quem necessita de meus dons. Mas o rapaz foi muito bravo e posso ver que não se trata de um homem comum."
"Você está certo. Ele é uma pessoa muito especial." Elladan ainda segurava entre as suas, as mãos do irmão adormecido. "É também muito amado."
Cardhir concordou com um sorriso e lhe disse para sair e dar as boas novas a todos os outros enquanto ele continuaria ali com Estel.
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"Não se cansa de me pajear nunca?" A voz surgiu no quarto silencioso tão repentinamente que fez Elrohir se sobressaltar. Erguendo-se da poltrona e olhando para o irmão no leito, aproximou-se rapidamente.
"Irmãozinho! Como se sente?" Seu sorriso era caloroso e radiante.
"Como se tivesse lutado sozinho contra uma matilha de Wargs e perdido..." Ele gemeu, o corpo doendo incomodamente. "Você e Elladan estão sempre por aqui. Será que não dormem?" Perguntou com implicância, pensando em como era maravilhoso poder fazer isso novamente sem que milhares de agulhas infernais estivessem perfurando seu crânio.
Elrohir achou graça. Como se Estel estivesse estado consciente o suficiente nos últimos dias para saber o que qualquer um pudesse estar fazendo.
"Eu deveria te perguntar isso. Cardhir me disse que você provavelmente dormiria por todo esse dia."
"Provavelmente dormir é a única coisa que tenho feito ultimamente..."
"Você não tinha forças para nada diferente, além de lutar contra o veneno... Mas talvez esteja com fome após tantos dias de enfermidade?"
"Ainda não, embora esteja com uma sede terrível. Será que poderia me trazer um pouco d'água?"
"Claro, é para isso que estou aqui, vigiando seu sono." Ele sorriu, antes de despejar água da jarra depositada na mesa próxima da cama e levar-lhe o copo, ajudando com que bebesse.
"Elrohir, tudo está tão confuso em minha mente." Ele enrugou as sobrancelhas, odiando que não pudesse se lembrar de nada do que havia acontecido. "Este quarto, o elfo que aqui estava quando acordei..."
"É uma longa história e não sei se devo cansá-lo demais..."
"Eu estou me sentindo bem e prometo avisar quando me sentir cansado, por favor." Fez sua expressão mais suplicante e o irmão suspirou, pouco capaz de negar-lhe o que fosse, depois do temor em que viveram nos últimos dias.
"Está bem." Elrohir se acomodou no banco ao lado da cama iniciando a narrativa sobre aqueles turbulentos dias, parando de quando em quando para responder algumas perguntas.
"Então atravessamos o território dos elfos para chegar aqui e eu não vi?" Concluiu chateado. "Você conheceu o rei?"
"Claro que sim, e ele aguarda para conhecer alguém tão afamado quanto você."
"Afamado? Eu?" Desejou saber onde havia arranjado tempo para construir uma fama, mas a entrada intempestiva de Elladan, que vinha seguido de um séquito muito original, desviou seus questionamentos.
"Elladan!" Exclamou Elrohir. "Onde conseguiu seus amigos?"
"Eu tive a infeliz ideia de lhes dar um pedaço de pão e desde então se devotaram a mim." Respondeu irritado.
"Não tão devotos, pois parece que acabaram de te trocar." Elrohir mostrou, rindo muito.
O trio turbulento de cães parecia ter achado Estel muito curioso, pois estavam lhe dando trabalho, enquanto este tentava empurrá-los para fora da cama e de cima dele.
"Será que não respeitam um pobre doente?" Irritou-se, pois os enormes cães estavam decididos em compartilhar a cama com ele. "Será que podiam tirá-los daqui?"
"Quanta ingratidão..." Elrohir zombou, não movendo um dedo para fazer o que pedira. "Eles estão apenas lhe dando boas vindas."
Obviamente os dois estavam se divertindo muito às suas custas.
"Foi amor à primeira vista." Elladan afirmou com a expressão séria. "E embora parta meu coração, os entrego a você irmãozinho."
Desistiu dos cães, quando percebeu que não ia receber ajuda dos irmãos para expulsá-los. Elladan inclusive parecia muito satisfeito em se livrar deles.
"Tudo neste lugar tem que ser tão grande?" Perguntou mal-humorado, empurrando uma pata gigantesca de cima do rosto.
"Talvez você não seja grande o suficiente." Elrohir respondeu distraidamente, retirando uma maçã de uma das cestas colocadas na mesa perto do leito.
"Eu posso não ser alto como você, mas pretendo crescer muito." Olhou para a cesta e achou que as frutas pareciam saborosas. "E o que você quis dizer com fama?"
"Elrohir! Já deu com a língua nos dentes?" Repreendeu Elladan. "Essas frutas parecem boas." Caminhou em direção à cesta, retirando uma delas.
"Ele descobrirá mais cedo ou mais tarde!" Elrohir se defendeu. "Não podemos impedir."
"É, mas pode imaginar como ficará o orgulho dele depois disso? Este vinho da Cidade do Lago é mesmo excelente, o que acha?" Elladan encheu uma taça e passou ao irmão.
"Vocês dois!" Estel estava indignado. "Parem de agir como se eu não estivesse aqui!"
"Claro que está. É impossível esquecer com você gritando desse jeito. Na verdade está se exaltando muito. Talvez devêssemos deixar com que descanse. Vamos embora Elladan."
"Vocês não se arredaram daqui durante todo o tempo em que estive doente e agora vão sair quando peço respostas?" Empurrou um enorme cão vermelho que insistia em lambê-lo.
"Estel..." Disse Elladan pacientemente. "Você lutou sozinho contra uma aranha monstruosa e resistiu por dias a seu veneno que mataria inclusive um elfo. Ele matou Thargon, mas você sobreviveu e isto é um feito impressionante por aqui."
À menção do nome de seu amigo, o rosto de Estel se entristeceu.
"Pobre Thargon, gostaria que tivessem podido ajudá-lo também."
"Eu sei... e realmente sinto muito por ele, mas você deve se preocupar em recuperar as forças para participar do banquete que logo será dado em sua honra." Elrohir informou, desejando espantar a tristeza no semblante do menino.
"Banquete? Honra? Então eu me tornei realmente ilustre?" Olhou para os irmãos com um sorrisinho presunçoso. "É apenas minha primeira visita a essa floresta e já estou recebendo honras."
"Não lhe disse Elrohir? Agora já está achando que é um grande guerreiro..."
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Olhando para os cães que haviam tomado posse do quarto, Estel decidiu que deveria se livrar deles ao menos para participar do banquete.
Mal podia acreditar que finalmente recebera permissão de Cardhir para sair. Acabaria enlouquecendo trancado naquele quarto e vinha dizendo desde ontem que estava bem. Não que lhe escutariam, é claro.
Com um suspiro terminou de vestir a túnica azul. Depois calçou as botas e saiu pé ante pé, conseguindo ludibriar seus amigos caninos. Entrou num longo corredor iluminado por archotes, de onde havia portas por toda parede. Desejou que um dos irmãos o houvesse aguardado, imaginando que levaria bastante tempo para encontrar o salão.
Continuou andando por um tempo até ouvir o som de vozes e o tinir das canecas.
"Meu jovem! O rei o aguarda!" Cardhir abriu duas grandes portas de madeira e veio rapidamente em sua direção. "Vamos, venha comigo por aqui."
O elfo o conduziu para dentro do salão que estava cheio de mesas compridas, lotadas de elfos risonhos, taças de vinho e bandejas enchidas de comida. Houve um silêncio súbito, quando todas as faces voltaram-se para ele com curiosidade amistosa.
No centro da sala encontrava-se o trono real e sobre ele, um elfo magnífico, de porte altivo.
"Meu senhor Thranduil." Anunciou Cardhir. "Seu convidado."
Ficou sem saber o que fazer, afinal nunca fora convidado de honra antes e muito menos apresentado a um rei, por isso levou um discreto empurrão do curador.
Afinal se lembrou dos bons modos e fez uma grande mesura.
"Meu Senhor, é uma grande honra estar aqui em seu belo reino."
Thranduil acenou formalmente para que o menino encabulado à sua frente se aproximasse.
Estel, a despeito de viver entre elfos por toda sua vida achou que ele era impressionante. Possuía cabelos dourados como o sol, encimados pela coroa de mithril adornada de flores silvestres e sua rica túnica branca era enfeitada de bordados de ouro nas mangas e na gola.
"Então você é o jovem filho de Elrond Peredhel." Disse-lhe o rei. "Há muito ansiava por conhecê-lo, pois seu feito de coragem é muito comentado em meu reino."
"Meu senhor, eu agradeço sua hospitalidade e peço desculpas por só agora o fazê-lo. E não mereço a honra de tamanha fama, especialmente vinda de seus corajosos súditos."
O rei sorriu com agrado, aparentemente satisfeito com os modos e a cortesia do menino.
"Você se engana jovem Estel. Derrotar a aranha de fogo e sobreviver a seu veneno é um feito enorme entre meu povo e deve se orgulhar dele. Cardhir me diz que ainda necessita de repouso para se recuperar plenamente do mal que o afligiu. Peço que aproveite o banquete, mas não se exceda." Ele acautelou.
Agradecendo as palavras do soberano, fez outra mesura profunda e pedindo permissão se afastou a procura dos amigos.
Eles estavam sentados em uma das pontas da mesa de banquetes e foi para lá que se dirigiu, sentindo uma pontada de fome ao observar as cestas de pães e frutas, recordando-se das beberagens de gosto amargo e os dos caldos insossos que fora obrigado a ingerir por dias.
Ao lado dos irmãos encontrou Eruónel e Tharlian. Havia conhecido os dois quando foram visitá-lo em seu quarto de doente e gostara imediatamente de ambos. Contudo, ao se aproximar da mesa, foi pego de surpresa ao notar a presença encantadora de uma elfa entre eles.
Ela usava um vestido verde de tecido sedoso. O cabelo preso no alto da cabeça caia em cachos negros, que ondulavam ao redor do rosto.
Pareceu-lhe tão bela, que ficou com os olhos presos nela, até perceber que havia parado a meio caminho da mesa e todos estavam olhando para ele. Com a vermelhidão colorindo sua face, aproximou-se finalmente.
"Estel." Chamou Tharlian. "Estávamos lhe esperando. Venha banquetear-se conosco." Ele virou-se para a bela elfa. "Esta é minha irmã, lady Arien".
"Senhora." Disse ele se curvando em reverência. " É uma honra."
"Sente-se irmãozinho, parece que está necessitando de mais que alimento para os olhos." Disse Elrohir, sem disfarçar o divertimento.
Fuzilou o irmão com um olhar e se sentou de frente para Arien, notando encabulado que todos ainda o observavam.
Resolveu beber vinho para disfarçar o embaraço. E percebeu que era o assunto da conversa, para sua vergonha maior.
"Estel..." Dizia Eruónel. "Soube de sua aventura no ermo com os Wargs. Pelo visto tem estado muito ocupado desde que saiu de casa."
"Eu garanto que foi tudo menos extraordinário do que parece..." Ele começou a se explicar. "Eu mal participei da luta."
"Deixe de lado a modéstia irmão, afinal você lutou contra a fera à noite e sozinho, portanto tenho certeza que todos gostariam de saber como foi."
Teria matado Elladan com prazer absoluto por fazê-lo se encabular daquela forma na frente da elfa, quando elevou os olhos e viu Arien olhando diretamente para ele.
"Não deve se preocupar em me assustar com sua historia Estel. Meu irmão e meu primo vivem me entretendo com seus feitos corajosos."
Sabia que ela estava sendo apenas gentil, mas sentiu-se incapaz de negar o que quer que fosse àquela voz doce, então engoliu em seco e bebeu mais vinho, gaguejando terrivelmente ao narrar sua luta contra o lobo. Quando terminou, ela ainda o observava com um sorriso suave.
"Foi muito corajoso o que fez para salvar seu amigo. Foi sorte ter estado lá com ele."
Estel agradeceu encabulado, forçando-se a tirar os olhos dela enquanto procurava algo para comer, notando que agora estavam falando sobre as aranhas da floresta.
"Assim que a patrulha voltar, saberemos quantas estavam se aventurando perto da trilha..." Tharlian dizia.
Lembrou-se de Elrohir comentar sobre a caçada empreendida às aranhas invasoras. Haviam partido quando ainda estava se recuperando. Seus companheiros de Imladris estavam juntos pelo que soubera.
"Então Lorde Thranduil possui um filho?"
"Sim. Legolas é seu nome." Disse Arien, sorrindo para ele e o encabulando novamente. "Ele queria participar de seu banquete, mas era necessário solucionar o problema das aranhas o quanto antes..."
Estel garantiu que entendia a urgência da situação e logo perdeu parte de seu acanhamento, enquanto ela lhe contava histórias da floresta. Começou a se divertir bastante, porém sentiu grande cansaço à medida que o banquete seguiu noite adentro. Notando que deixara de ser o centro das atenções, deu uma desculpa e foi para seu quarto, pensando no quanto desejava encontrar novamente sua grande e confortável cama.
É claro que seus amigos caninos estariam esperando por ele, instalados confortavelmente em seu leito.
Desistiu de expulsá-los e na verdade pouco se importou, dormindo imediatamente. E por toda noite a bela Arien povoou seus sonhos.
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Os dias que se seguiram foram cruciais para sua recuperação, pois teve febre por diversas vezes e se cansava com facilidade.
Estando impossibilitado de sair para longe se dedicou a conhecer o castelo, seus moradores e o hospitaleiro povo do bosque. Andou atrás de Cardhir incansavelmente, instigado por seus conhecimentos sobre ervas e unguentos e por toda a flora singular da Floresta Verde.
Naquela tarde, estava próximo ao rio em companhia dos irmãos, observando a movimentação da cidade enquanto decidiam a data da partida.
Argumentava com energia, mas Elladan estava irredutível.
"Eu estou bem, pergunte a Cardhir." Ele afirmou novamente, frustrado. " Ele me disse que estou recuperado."
"Não me parece bem o suficiente." Elladan o observou, sem parecer convencido com suas garantias.
"Pois se engana. Sou muito resistente como você mesmo viu. Não vou me quebrar por causa de uma febre."
Elladan se comportava com se estivesse argumentando com uma criança teimosa, o que frustrava bastante Estel.
"Talvez devesse se ocupar de por carne novamente sobre seus ossos antes de sair atrás de aventuras."
"Mas não é justo! Não posso ficar trancafiado como uma donzela esperando a volta de vocês." Olhou para o outro irmão. "Elrohir, por favor!" Não se envergonhava de implorar, se necessário fosse.
"Estel, talvez devesse escutar Elladan. Ainda ontem teve febre e foi necessário que ficasse de repouso..."
"Eu sei. Mas já passou e me sinto ótimo. Além do mais, cedo ou tarde deveremos partir. Já estamos atrasados o suficiente!"
Era um argumento válido e a hesitação de Elrohir lhe deu esperanças.
"Você sabe o que penso." Disse Elladan ao gêmeo. "O incidente com a aranha já foi lamentável o bastante para que nos arrisquemos novamente."
"Eu sei." Respondeu Elrohir. "Mas não deve se esquecer de qual foi o objetivo de trazê-lo conosco. Foi isso que ada pediu-nos... deixar com que adquira experiência..."
"Mas isso não significa que devamos permitir com que corra riscos desnecessários."
"Adar disse que já era tempo de eu conhecer o mundo..." Aproveitou-se da brecha no argumento dos irmãos.
"E ele ainda está muito pálido... Terá energia o suficiente para cavalgar conosco?"
"Por que eu mesmo não posso decidir?" Interrompeu novamente, irritado. "Se posso enfrentar Wargs e aranhas gigantes, posso tomar conta de mim mesmo."
Elladan cruzou os braços e o olhou para o jovem com severidade.
"É corajoso o suficiente para isso, mas enquanto eu for o responsável por você, eu decidirei os riscos que pode correr ou não."
"Vocês não podem me deixar pra trás, não é justo! Tudo que passei terá sido em vão, se pretendem partir sem mim!"
Sustentou desafiante o olhar de Elladan, que por fim e para sua surpresa, suspirou vencido.
"Está bem. Só vamos aguardar a retorno dos outros. Mas..." E agora havia uma advertência em seu tom. "Se neste meio tempo se sentir mal novamente é aqui que vai ficar quer queira ou não."
Estel sorriu triunfante. Foi mais fácil do que imaginara.
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Dois dias depois os caçadores retornaram de sua empreitada heroica, sendo recebidos com festa pelo povo do bosque.
Seus companheiros de Imladris estavam entre eles e soube que encontraram várias das temíveis aranhas que vinham construindo ninhos por toda extensão da trilha. Foram perseguidas e destruídas antes que pudessem se esconder nas entranhas da floresta.
Conheceu o filho do rei. Legolas era esguio, tinha a pele pálida, os cabelos louros e seus olhos claros brilhavam como um lago de águas plácidas.
Assim que foram apresentados, descobriram que havia grande afinidade entre eles, e passaram a conversar com grande animação. Soube que ele estivera na guerra dos cinco exércitos defendendo as hostes do pai e animado, o crivou de perguntas. A única versão que conhecia fora àquela narrada pelo pequeno Bilbo em Imladris, quando era criança, e duvidada que o hobbit lhe houvesse contado os detalhes mais excitantes.
Estavam compartilhando contos e aventuras quando o rei se ergueu, propondo um brinde para saudar o retorno triunfante dos caçadores e lamentando a partida breve dos novos amigos do reino.
Elladan agradeceu a hospitalidade em nome de todos e reiterou sua eterna dívida pela recuperação do irmão caçula. Ficaram sabendo por Tharlian que ele e Eruónel seriam os representantes do rei em Valle e que partiriam com a comitiva dos filhos de Elrond, assim que todos os arranjos estivessem prontos.
Aliviado em saber que não teria que permanecer contra sua vontade, Estel garantiu a Legolas que voltaria assim que pudesse. Gostaria de conhecer a floresta, quando estivesse lúcido o bastante para apreciar seus mistérios. Mirkwood ainda lhe era, um reino fascinante.
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Continua...
Notas:
Dúnedain: (singular: Dúnadan, "homem do oeste") é uma raça de Homens descendentes dos Númenoreanos que sobreviveram ao afundamento do reino ilha deles, Númenor, e chegaram à Terra-Média conduzidos por Elendil e seus filhos, Isildur e Anárion. Eles descendem de Elros, irmão humano de Elrond.
