Título: Elrohir - ano 2948
Personagens: Estel, Elladan, Elrohir, OCS originais.
Retratações: Os personagens não são meus, nenhum lucro é pretendido, só existe o desejo de contar uma história e demonstrar meu amor aos personagens do Professor Tolkien.
Sumário: Elrohir contrai uma dívida de gratidão e Ivy recebe um presente.

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Elrohir - ano 2948

Elladan segurava seu gêmeo, mais calmo, mas ainda atento da respiração frágil dele. Mesmo sabendo que o pior havia passado, não conseguia afastá-lo de si. Estel estava ao seu lado em silêncio e silêncio cercava todo seu grupo.

O menino soltou um suspiro e correu os dedos pelos cabelos encharcados de Elrohir, acompanhando os tremores que percorriam seu corpo. Olhando para Elladan, pretendia dizer que deviam tirá-lo dali, quando percebeu que a túnica do irmão mais velho estava manchada de sangue.

Voltou-se assustado para Eruónel, notando manchas de sangue também na túnica do elfo da floresta, mas o amigo já havia visto e se aproximado rápido, tocando a cabeça de Elrohir para retirar os dedos cobertos de sangue.

"Elladan, vamos levá-lo para perto da fogueira!"

Ele não esperou que fosse dito duas vezes e ergueu com cuidado o irmão, indo em direção da carroça, onde os outros já começavam rapidamente acender a fogueira.

Elladan o colocou perto dela para que Eruónel examinasse a parte de trás de sua cabeça. Havia um grande corte em meio aos cabelos que ainda sangrava profusamente. O curador pareceu preocupado ao apertar levemente o local.

"Precisamos estancar o sangramento." Começou a limpar o corte, procurando ser o mais suave possível para não agravar a condição do amigo. Franziu as sobrancelhas quando verificou a extensão do ferimento. "Ele vai ter um hematoma bem grande..." Apertou os lábios quando Elrohir gemeu assim que tentou movê-lo. "Aquele tronco pode ter ferido suas costas... Precisamos tirá-lo dessas roupas para eu descobrir a extensão dos danos... "

Estel concordou ansiosamente e ele e Elladan começaram a retirar rapidamente a roupa encharcada do irmão. Sua pele estava gelada e os dois o envolveram nos cobertores e capas secas que foram trazidas pelos companheiros.

Quando finalmente terminaram, o menino sentou novamente ao seu lado, voltando a alisar seus cabelos negros. Desejava ardentemente que abrisse os olhos.

"Elrohir..." Chamou suavemente, mas quando não recebeu resposta, olhou angustiado para Eruónel.

"Ele está muito cansado Estel... precisamos mantê-lo aquecido e confortável para lhe dar tempo de se recuperar." Estava com pena da aflição dos irmãos e, inclusive ele mesmo estava bastante preocupado. Apalpou cuidadosamente as costelas e ombros de Elrohir. "Não me parece que ele quebrou qualquer osso, embora provavelmente tenha trincado algumas costelas... vou ter uma ideia melhor quando ele acordar..." Voltou ao curativo da cabeça, que terminou com eficiência. "Eu vou preparar uma chá para ele, que ajudará com a dor." Levantou-se e foi em direção à carroça buscar o material que necessitava.

Os dois irmãos estavam com a atenção preocupada voltada para Elrohir, então Estel ergueu os olhos e viu que Ivy estava ali, se lembrando de que ela provavelmente bebera bastante água ao tentar salvar seu irmão. Sentiu-se envergonhado ao perceber que havia esquecido completamente dela.

Ela ficou calada por um momento, mordendo os lábios insegura, olhando de um para o outro.

"Eu posso me sentar aqui?" Perguntou por fim.

Elladan imediatamente se ergueu. Pelo visto também havia se esquecido da menina humana.

"Ivy, talvez você devesse ir descansar..."

Ela deu um suspiro macio.

"Não se preocupe, estou me sentindo bem..." Olhou para a figura embrulhada de Elrohir e estremeceu. "Eu... ele tentou me proteger dos troncos... então se afogou..."

"Eruónel está cuidando dele." Estel lhe assegurou. "Ele é um grande curador."

Viu que ela estava embrulhada em um cobertor e havia vestido roupas secas, mas seus cabelos negros ainda caiam úmidos por suas costas, chegando à cintura fina. Parecia pequena e triste.

Elladan concordou, segurando gentilmente em seu braço.

"Claro que você pode sentar-se conosco." Ele a dirigiu para onde ele mesmo estivera sentado antes, ao lado do gêmeo e sentou do outro lado, perto de Estel.

Ela acomodou-se, empurrando uma mecha de cabelo escuro de sobre os olhos e olhou para Elrohir por um longo tempo. O elfo continuava quieto, embrulhado firmemente nas mantas e lembrando-se dos sorrisos dele para ela antes de entrarem no rio, quis tocá-lo. Olhou para Estel e Elladan, sérios em sua vigília e imaginou que eles não se importariam. Abaixou-se próximo a ele.

"Não se preocupe, eu estou bem... e lhe agradeço por cuidar de mim..." Disse isso enquanto acariciava seu rosto frio, os dedos um tanto trêmulos... era assustador saber que Elrohir estivera tão próximo da morte. Enquanto fazia isso, aos seus olhos, os leves tremores que até então pareciam atormentar o corpo dele se aquietaram. Erguendo-se satisfeita, viu que Estel a encarava, então se ruborizou.

"Nós estávamos no rio e ele estava me protegendo, então achei que ele gostaria de saber que estou bem..."

"Você não tem que se explicar..." Disse Elladan, sorrindo. "Eu e Estel lhe agradecemos..." Olhou ao irmão caçula e o sorriso sumiu. "Você está encharcado!" Só agora pareceu tomar consciência do fato.

"Você também!" Respondeu o menino. Não pretendia sair de perto de Elrohir só para vestir uma túnica seca. No entanto, surpreendentemente, Elladan não discutiu, o que o fez sentir culpa. "Lá está ele, abalado pela condição de Elrohir e eu o sujeitando a preocupações adicionais." Repreendeu-se mentalmente. "Eu vou me trocar, mas só se você fizer o mesmo."

O elfo ia discordar, então suspirou ante a expressão decidida de Estel, que esperava sua resposta para se erguer.

"Quando você voltar eu irei..." Nenhum dos dois estava disposto a abandonar Elrohir.

"É trabalhoso ser o irmão mais velho, não é?" Ivy perguntou sem disfarçar o sorriso, assim que Estel se afastou.

"Você não pode imaginar..." Ele também sorriu. "Você tem irmãos Ivy?"

Com um suspiro, ela voltou seus olhos para o elfo adormecido, alisando algumas pregas da manta que o cobria.

"Não. Mas ia gostar de ter um que cuidasse de mim, como você parece cuidar dos seus..."

Elladan concordou, com um aceno de cabeça.

"Eu não sou seu irmão, mas você ajudou o meu e por isso vou tomar a liberdade de agir como se o fosse. Vá pedir a Eruónel alguma bebida quente... vai precisar já que parece disposta a fazer parte de nossa vigília."

Ivy curvou-se à verdade das palavras dele e foi até onde estavam os outros, atrás da bebida.

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Elrohir despertou com um estremecimento. Com a consciência, veio uma noção aguda de que tudo doía. Nunca era bom sinal acordar dolorido assim, e ficando tão quieto quanto possível, fez um inventário confuso, trêmulo de todas as suas dores, enquanto tentava se lembrar de como tinha acabado assim e onde estava.

Primeiramente notou que estava deitado sobre o estômago, o rosto comprimido em meio às cobertas. Sentindo-se confuso, virou a cabeça ligeiramente, piscando um pouco quando percebeu que havia uma figura sentada ao seu lado contra a luz da lua.

Eles se observaram em silêncio por alguns instantes, então tentou se erguer e imediatamente lembrou-se de que era difícil respirar, suas costelas doíam horrivelmente e uma dor aguda na cabeça estava deixando sua visão borrada. Levou a mão até lá, entretanto foi detido pelo irmão que segurou seu pulso firmemente.

"Há um corte grande em sua cabeça. Não deve tocá-lo ou vai voltar a sangrar."

Seus olhos se arregalaram, assustados.

"Está tudo bem." Tranquilizou o irmão mais velho, enquanto o ajudava a virar-se parcialmente, apoiando suas costas com cuidado para não prejudicar o lado ferido, atento de que Elrohir apertava os lábios com força para evitar gemer. "Você esteve adormecido por algumas horas. Ficamos preocupados com a pancada que levou na cabeça e embora Eruónel temesse que você tivesse sofrido algum trauma interno, não pudemos mantê-lo desperto por muito tempo. Você vagueou dentro e fora de consciência nas últimas horas..." Engoliu em seco e Elrohir achou que ele parecia pálido.

"Eu não me lembro..." Ele falou num sussurro fraco, porque falar e respirar ao mesmo tempo era complicado. "A última coisa de que me recordo é seguir com Ivy no rio e então a correnteza aumentou..." Ele parou sentindo-se subitamente preocupado. Tentando ignorar as dores que se faziam presentes, começou a se erguer, mas foi parado novamente pelo irmão, que o ralhou.

"O que pensa que está fazendo? Você bebeu metade do rio e quase quebrou sua cabeça dura. Não deve se mover!"

"Elladan, por favor..."

"Ivy está bem e você pode se erguer um pouco com a minha ajuda e somente por que Eruónel vai dar uma olhada em você..."

Elladan o ergueu cuidadosamente, fazendo com que se apoiasse nele e o gêmeo pôde observar onde estavam.

Seus companheiros se encontravam por perto e os sorrisos nos rostos quando se aproximaram lhe disseram que todos estavam aliviados ao verem-no acordado.

Eruónel estava se aproximando com algo nas mãos, afastando os amigos que haviam se aglomerado em torno dele, o crivando de perguntas sobre seu estado.

"Há um pouco de guisado que eu aqueci para você... deve comer assim que pararem de importuná-lo." Entregou o guisado a Arlan, enquanto se ajoelhava ao lado do amigo ferido, observando atento, a maneira como ele respirava.

"Estou com fome." Admitiu Elrohir com um sorriso encabulado, submetendo-se obedientemente ao escrutínio do elfo da floresta.

"Como está sentindo-se agora... alguma náusea, dor?"

"Estou me sentindo bem..." Ele ofegou quando as mãos do curador apertaram com mais firmeza um ponto tenro em suas costelas.

Ignorando o clarão de morte que recebeu, Erúonel continuou seu exame. Aparentemente estava acostumado com pacientes teimosos.

"Vai refazer sua resposta?"

Ganhando um empurrão suave de Elladan, Elrohir suspirou.

"Minhas costas doem..."

"E...?" O curador incitou, imperturbável e Elrohir fez carranca. Todo mundo no acampamento tinha os olhos grudados nele.

"Dói!" Disse com irritação. "Doem minhas costas, minha cabeça dói e dói respirar!" Terminou o rompante sem fôlego e Elladan mexeu-se preocupado, mas Erúonel finalmente sorriu.

"Foi exatamente o que imaginei..." Retirando a tigela de guisado das mãos de Arlan, entregou a Elrohir. "Coma um pouco, antes de voltar a descansar..."

Elrohir se acomodou nos braços do irmão, para comer, enquanto o curador lhe dava seu diagnóstico.

"Seus pulmões estão molhados, mas a boa notícia é que não quebrou qualquer costela, embora tenha contundido pelo menos duas..."

Elrohir concordou e à primeira colherada do guisado substancial, suspirou admirado e ergueu os olhos para o amigo.

"Isto está muito bom! Quem foi que preparou?"

"Eu não fui, porque estava de olho em você..." O elfo da floresta respondeu, aproveitando-se para lhe examinar a cabeça.

Elladan riu suavemente, ajeitando-se melhor para que o irmão apoiado nele ficasse mais confortável e ao mesmo tempo não atrapalhasse o exame do curador.

"Estávamos todos em volta de você, desnorteados e mal vimos à noite se aproximar, então nossa pequena Ivy disse que era necessário providenciar comida quente para você, quando acordasse, entretanto informou que cram era a última coisa em que pensava fazê-lo comer..."

Eruónel também riu.

"Ela disse que ia procurar algo para cozinhar e eu pensei que fosse caçar."

"Todos pensamos, porque Tharlian disse que não podia caçar sozinha no escuro, mas ela afirmou que podia fazer isso muito bem. E para nossa surpresa, nosso irmãozinho se ofereceu para acompanhá-la."

"Estel?" Elrohir parou de comer, olhando assombrado para Elladan. "E eles não arrancaram a garganta um do outro?"

"Não!" Elladan riu. "Eu teria me preocupado, mas estava ocupado com você, então eles foram sozinhos." Sacudiu a cabeça. "Quando voltaram, traziam bagas e cogumelos e ervas e Estel estava todo animado, dizendo que ela o havia ensinado mais sobre bagas comestíveis do que nós, o ingrato. E ela preparou tudo e quando ficou pronto e todos comemos, devo admitir que ganhou alguns corações. Quase não sobra nada para você."

Elrohir sorriu para Elladan, depois correu o olhar pelo acampamento.

"E onde estão as crianças?"

"Os dois estavam pairando em torno de você, mas a ponto de cair de cansaço, então eu os expulsei, reclamando que estavam me irritando... Mas eu praticamente tive que arrastar Estel e ameaçar amarrá-lo se não fosse descansar."

"Você mesmo parece muito exausto e..." A sobrancelha de Elrohir franziu quando ele se lembrou das perguntas que tinha. "O que aconteceu no rio depois que eu me feri? Como nos tiraram de lá? Vocês não me disseram!"

"Você já terminou?" Elladan perguntou firmemente. "Quer mais um pouco?"

Ele acenou negativamente com a cabeça e então o irmão pegou a tigela de suas mãos e a pôs de lado.

"Então vai dormir novamente."

"Elladan, eu quero saber tudo o que aconteceu desde que eu deveria ter tomado cuidado..."

"Eu sei. E sei que vamos discordar sobre isso. Mas esta é uma história longa e pode muito bem esperar até amanhã."

"Alguém já lhe disse que você é bastante autoritário?" Reclamou sentindo-se zonzo. Queria objetar, mas estava tão cansado...

"Você! Diversas vezes." Elladan sorriu quando Eruónel, que estava segurando uma caneca, se aproximou dos dois.

"Beba. Fará com que se sinta melhor."

Elrohir olhou desconfiado para o líquido estranho, mas bebeu obediente. Como imaginado, o gosto era horrível e luziu ao elfo quando devolveu o copo.

"Isso era para me envenenar?"

O amigo sorriu largamente a ele.

"Isto seria impossível com qualquer um dos seus irmãos por perto. São apenas ervas comuns que irão diminuir a dor na cabeça e nas costas. Descanse."

Ele sorriu e foi em direção aos outros, deixando os irmãos sozinhos de novo.

Elrohir suspirou e se permitiu deitar nas capas no chão, enquanto o irmão o cobria de novo. Acomodou-se nas mantas, que lhe pareceram mornas e confortantes, mas depois de algum tempo riu baixinho.

"O chá de Erúonel já está fazendo efeito?" Elladan parecia divertido.

"Todo o exagero dessas capas e cobertores em volta de mim?"

"Você estava meio congelado quando o tiramos do rio. E era necessário aquecê-lo rapidamente..."

"E com isso pretendiam me perder em meio há tanto pano? Duvido que tenha sobrado capas e cobertores para qualquer um de vocês... não reclamem comigo se passarem uma noite fria."

Elladan bufou, mas estava sorrindo.

"O chá está fazendo efeito, pois já começou a vaguear..."

Elrohir riu um pouco mais, antes de ficar sério.

"Elladan?"

"Elrohir?"

"Estou feliz que esteja aqui."

"Eu sempre não estou?" Disse ele, os cantos da boca se arqueando num sorriso maroto. "Agora durma. Eu não posso ficar toda noite à sua disposição..."

Elrohir concordou com um sorriso e fechou os olhos cansados, sentindo as mãos carinhosas do irmão em seus cabelos e instintivamente se encostou a ele para dormir, absorvendo o calor e a segurança que vinha de seu corpo.

Elladan ficou ao seu lado, até a quietude lhe dizer que Elrohir estava adormecido. Então se desembaraçou suavemente para por um pouco de madeira no fogo. Depois se sentou novamente, escutando os reconfortantes sons noturnos e os estalos da fogueira, pronto para continuar a vigília cuidadosa no irmão.

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Ivy levantou-se de um salto. O acampamento estava em franca atividade e ficou irritada ao perceber que os outros haviam permitido que dormisse demais.

Suspirando e estremecendo ligeiramente devido ao frio e os membros entorpecidos, recolheu o cobertor enquanto dava uma olhada à sua volta. Uma névoa espessa ainda subia da direção do rio, enfumaçando ligeiramente a paisagem.

Recordou os acontecimentos prévios e percebeu que nunca mais olharia para aquelas águas com a mesma tranquilidade de sempre.

Deu uma risadinha ao se lembrar da refeição de ontem e da surpresa deles, ao comerem do guisado substancial, uma mistura dos ingredientes verdes que ela e Estel haviam encontrado e das provisões que eles mesmos já possuíam. Ela tinha muita experiência em transformar ingredientes improváveis em comida satisfatória, sem dúvida resultantes de épocas em que os alimentos eram escassos e os estômagos sempre vazios. Sacudiu a cabeça para espantar os pensamentos sombrios, o som de vozes altas atraindo sua atenção.

Os elfos estavam reunidos a uma distância pequena, perto dos cavalos. Percebeu surpreendida e aliviada que Elrohir estava entre eles. Ele e o irmão gêmeo e para ela, os dois pareciam absurdamente iguais esta manhã, ambos em túnicas azuis. Estel estava perto e parecia muito sério ao falar com o elfo ferido.

Instintivamente levou as mãos aos cabelos e tentou alisá-los, procurando lembrar por onde andava seu pente. Precisava ir imediatamente ao rio lavar o rosto.

"O que eu não daria por um espelho e um banho com sabão e roupas limpas."

Examinou desanimada seu vestido e ele lhe pareceu muito pobre. Como nunca havia notado o quão surrado estava? Mas não havia muito o que fazer, já que sua única roupa excedente era masculina.

Jogou sua capa nos ombros e trançou os cabelos revoltos. Depois procurou seus sapatos e com um muxoxo de desagrado, percebeu que a bota grosseira não acrescentava nenhuma melhoria ao seu aspecto lamentoso.

Isto nunca a incomodara nas numerosas viagens que fizera com o pai, porque sempre havia tanto o que fazer e aparências eram a última preocupação em sua mente. Mas desta vez um incômodo bem persistente de que não fosse bela ao olhar se fazia presente.

Com um suspiro voltou sua atenção novamente para eles, percebendo que se não fosse a estreita faixa firmemente enrolada em torno da cabeça do gêmeo mais jovem, provavelmente ser-lhe-ia completamente impossível distingui-los.

Sorrindo ao escutar os outros zombarem alegremente do adorno inusitado do amigo, foi rapidamente em direção ao rio e estremeceu quando sentiu a água gelada em seu rosto. Mas imediatamente sentiu-se mais desperta.

Depois da toalete improvisada, voltou ao acampamento, esperando encontrar algo para comer e ao passar pelos elfos, pôde ouvir algumas palavras aborrecidas de Elrohir.

"... em tempo para a festa do reinado de Bard ou toda essa viagem terá sido em vão..." Pelo visto era uma discussão sobre a necessidade de cavalgarem naquele mesmo dia.

Ele escutava calado as objeções dos outros quando seu olhar cruzou com o de Ivy e lhe sorriu. Ela desejou-lhe sorte, pois duvidava que fosse convencê-los. Virando-se e indo para perto das cinzas da fogueira, achou seu café da manhã cuidadosamente embrulhado.

"Cram!" Falou alto, se lembrando do nome do insosso, mas nutritivo e resistente pão, que os viajantes tinham necessidade de levar consigo em viagens longas, juntamente com a carne seca. Com desgosto retirou as folhas de cima da comida, se surpreendendo ao encontrar uma quantia infindável de pequenas cerejas e amoras silvestres, entre outras frutas.

E havia outra coisa também. Um pequeno ramo de flores silvestres coloridas, e Ivy desejou saber como algo tão belo pudesse crescer naquelas terras frias.

Estava sentindo o perfume delicado das florzinhas, quando passos a fizeram se erguer e virar-se. Elrohir havia se aproximado com um sorriso hesitante na face e ela não conseguiu disfarçar o suspiro de espanto, já que debaixo do brilho tímido do sol, aos seus olhos, o elfo parecia brilhar.

"Ivy..." Ele começou, após parar de frente a ela. "... eu soube o quê fez por mim no rio e sabendo também que sua segurança era responsabilidade minha, me sinto envergonhado porque a coloquei em risco, necessitando com que me salvasse quando você não deveria. Queria lhe pedir que me perdoasse e também lhe agradecer que tenha se arriscado por mim..." Ele se inclinou com a mão por sobre o coração, numa profunda reverência. "É uma honra considerá-la de agora em diante minha benfeitora, Ivy, filha de Rolf."

Não entendia de protocolos ou qualquer coisa que fosse apropriada num momento daqueles, mas sentiu orgulho de si mesma quando conseguiu não gaguejar.

"Isso significa que sua vida pertence a mim de agora em diante?" Ela gracejou embaraçada, mas ele continuava fitando-a de forma estranha. Com uma seriedade que não havia demonstrado para com ela, até então.

"Serei seu eterno devedor." Ele afirmou e ela sentiu-se incomodada. Não via sentido nas coisas que ele dizia. O havia salvado, mas ele a havia salvado antes.

"Eu o liberto de sua dívida, se aceitar partilhar de meu café da manhã... Há frutas aqui em quantidade para alimentar um exército!"

Isso o fez rir e Ivy sentiu alivio, pois parecia que a seriedade do momento havia passado.

"Seria um prazer."

Quando se sentaram para comer e ele voltou a ser o Elrohir sorridente de sempre, ela sentiu-se feliz. E achou que nunca antes, havia comido frutas tão doces...

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Continua...