Título: Valle 2 - ano 2948
Personagens: Estel, Elladan Elrohir, OCS originais.
Retratações: Os personagens não são meus, nenhum lucro é pretendido, só existe o desejo de contar uma história e demonstrar meu amor aos personagens do Professor Tolkien.
Sumário: A jornada termina e Estel deixa sua infância definitivamente para trás.

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Valle 2 - ano 2948

Silêncio ainda cercava o pequeno bosque. Mas Estel tinha certeza do que seus sentidos o avisavam. Já lutara contra os seres sujos antes, quando ousaram se aventurar na floresta que cercava Imladris. E nunca mais iria se esquecer do asco profundo que a presença das criaturas havia despertado.

"O quê... Estel?" Ivy murmurou apreensiva, removendo uma mecha de cabelo dos olhos.

"Eu acho que nós temos problemas." Ele respondeu, preparando uma flecha. "Orcs!"

Ela estremeceu alto, apavorada, e agarrou-se ao braço dele.

Ignorando a reação assustada dela, o menino girou ao redor, olhos arremessados em direção às árvores e ao caminho. Tinha que tirar Ivy dali, chegar à segurança da cidade. Se não haviam atacado era porque não sabiam dos dois, então eles possuíam uma vantagem. Mas a cidade estava a uma caminhada terrivelmente longa.

"Ivy, nós temos que correr daqui." Abaixou a voz. "Eu acho que ainda não sabem de nossa presença, precisamos ser cautelosos. E temos que correr o mais rápido que pudermos."

Não era uma atitude que gostasse de tomar, mas francamente, não podia dizer quantos havia e não existia chance de lutar e proteger Ivy ao mesmo tempo. Tinha sorte de que não os houvessem descoberto antes.

Orcs não gostavam da luz do sol, mas aqueles estavam acampados ali em pleno dia. Não entendia, mas não havia tempo para tentar descobrir, então os conduziu numa corrida desesperada. Ivy na frente, enquanto ele ficava mais pra trás, atento a qualquer criatura que surgisse. Ela corria o quanto podia, embora com frequência caísse, as marcas dos arranhões causados pelos arbustos no caminho, já visíveis em seu rosto.

Ficando momentaneamente para trás, Estel perdeu visão dela e um lamento cortou o ar.

"Estel...!"

"Ivy!" Ele gritou, correndo alucinado em direção ao grito e a cena que seus olhos encontraram, gelou seu coração.

Ivy estava cercada por três orcs grandes. Expressões cruéis em seus rostos, espadas erguidas. No mesmo instante em que surgiu, o arco em sua mão voou automaticamente para a altura dos olhos e antes mesmo que tivesse consciência do fato, a flecha saltou matando o primeiro orc.

Um momento depois, acertou outro na cabeça. Ele gritou e caiu, seu peso batendo o companheiro que também recebeu uma flechada mortal na garganta.

O urro agonizante da criatura quebrou o torpor de Ivy. Os olhos aterrorizados dela se fecharam e ela tropeçou, ajoelhando-se com um gemido de desespero.

"Ivy!" Estel exclamou, ajoelhando-se perto dela.

"Eu estou bem! Eu estou bem." Ela respondeu, embora estivesse prestes a chorar.

Quando ergueu a cabeça, uma besta surgida de repente golpeou Estel, jogando-o no chão. Rosnando, a criatura saltou em cima do menino, erguendo a espada negra.

"Não!" Estel gritou, tirando instintivamente sua faca. A arma brilhou num instante para em seguida cravar-se no pescoço do orc, que caiu num baque por sobre ele.

Ele se levantou, livrando-se do corpo sangrento e agarrando o braço de Ivy, fez com que se erguesse.

"Escute-me!" Falou com urgência, enquanto recomeçavam a correr. "Aqueles orcs deviam ser batedores. E eu penso que pode haver wargs com eles. Nós temos pouco tempo agora!"

Percebeu que os tremores dela se intensificaram e viu que ele mesmo tremia. Forçou-a diminuir seu passo para que o entendesse.

"Olhe, nós nunca poderemos correr o suficiente para chegar a Valle com eles em nosso encalço. Principalmente se forem montadores de lobos..."

Ivy arregalou os olhos aterrorizados e tentou falar, mas ele a parou.

"Mas nós temos chance se eu ficar para trás e os atrasar." Ela tentou falar novamente, mas ele estava sacudindo a cabeça, a atenção voltada para o caminho que deixavam. "É isso mesmo. Eu vou ficar e você corre o máximo que puder para a cidade e consiga ajuda. Avise os gêmeos!"

Haviam recomeçado a correr, pois Estel começara a ouvir os sons que as criaturas faziam. Ivy podia escutá-los também.

Finalmente alcançaram o final da colina e enxergaram o prado que se descortinava a frente. Ela quase chorou quando viu a real distância em que se encontrava a cidade.

"Es... Es..." Não conseguia encontrar a própria voz. "Estel eu não pos... poss... posso... Não posso..."

"Pode!" Ele disse com convicção. "Pode nos ajudar." Lhe deu um pequeno empurrão. As bestas se aproximavam. Ela tropeçou e voltou. "Ivy vá!" Ele gritou com urgência. "É nossa única chance!"

Viu o desespero que a ameaçava dominar e a empurrou de novo. "Vá!"

Ela voltou-se para o prado e com um soluço preparou-se para ir, mas foi barrada pelo braço dele, que retirou rapidamente a adaga da bota, colocando-a em sua mão trêmula, depois engoliu em seco antes de dizer:

"Corra. E não olhe para trás." Apertou a faca nas mãos dela. "Não deixe que a capturem."

Estel sabia o que isto significava. Cair nas mãos daqueles demônios. Já ouvira histórias demais sobre isso para não saber. E ela também entendeu, mas somente concordou com a cabeça antes de recomeçar a correr.

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Ivy continuou a correr e correr até que achou que seu peito explodiria de dor. Lágrimas amargas picavam seus olhos, dificultando a visão enquanto forçava o ar dolorosamente por sua garganta.

Tropeçou novamente, caindo e rasgando as palmas das mãos e os joelhos no solo pedregoso. Então se levantou com um soluço, esfregando as lágrimas com as mãos lanhadas.

Percebeu desesperada que já não podia escutar os sons do brandir de espadas que antes a alcançavam. Não sabia se era só porque tinha se posto longe o bastante com sua corrida alucinada ou se porque Estel...

"Não! Não vou pensar assim. Tenho que me concentrar em correr."

Não ousou olhar para trás por mais que desejasse virar-se para encontrar a figura dele. Não ousou. Ele havia dito que não olhasse para trás e ela não iria. Só ia correr e trazer ajuda.

Recomeçou a chorar ao notar que a cidade ainda lhe parecia impossivelmente longe. Corria o mais rápido que podia, mas não parecia ser o bastante. Mas Estel estava lá sozinho! O havia deixado para conseguir ajuda e era isto que iria fazer.

"Só espere Estel. Por favor. Só espere".

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Da extremidade da clareira, o grupo de orcs surgiu, encarando o humano jovem com satisfação evidente. Era apenas um, enquanto eles eram muitos. Mesmo que as flechas que disparava habilmente de seu arco diminuísse bastante essa vantagem.

E Estel lutou bravamente, desesperado para impedir que as criaturas percebessem a menina que corria pelo prado. Entretanto os orcs avançavam cada vez mais. No centro do bando, um par de wargs assistia os esforços do humano encurralado.

Ele tinha abandonado o arco quando as criaturas haviam se aproximado demais para que pudesse manejá-lo, sacando sua espada. Um dos wargs saltou à frente rugindo, somente para ser golpeado pela espada veloz. Com um rugido de raiva, caiu para trás, derrubando seu cavalheiro horrendo e rolando por sobre ele.

Estel procurou se concentrar nos orcs que se punham cada vez mais próximos, mas não pode impedir que um o atingisse no ombro, e soltou um gemido involuntário de dor. Girando rápido cortou a garganta do orc que o acertara, amaldiçoando seu descuido.

Procurando ignorar a dor, ele avançou, cortando um e ferindo outro, parecendo tão extraordinário em sua ira, que as criaturas começaram a recuar assustadas. O jovem humano parecia ter crescido, tamanha era sua ferocidade.

No entanto, um enorme orc que continuava montado no segundo warg saltou para fora da montaria. Avançando sacou a espada, brandindo-a velozmente contra Estel, que rechaçando a ofensiva de outro orc, não foi rápido o suficiente para parar o novo ataque, a lâmina fazendo um corte longo em seu abdômen.

Ele clamou, desviando-se e chocando a espada na do inimigo, o forte impacto contra a lâmina de ferro reverberando dolorosamente por seu ombro ferido.

O orc com seu poderoso braço golpeou Estel repetidamente, forçando-o a recuar cada vez mais. Ele aparou cada golpe da espada negra, mas foi em vão, pois um último impulso o jogou para trás, um violento empurrão o derrubando ao solo.

Rosnando, a criatura se ajoelhou sobre seu tórax, puxando a lâmina contra seu pescoço exposto.

E Estel estava pronto, porque tinha certeza que havia ganhado tempo para Ivy.

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A sentinela do portão olhou assustada para a figura andrajosa que corria desesperada pelo caminho. Gritou ao companheiro no mesmo instante em que Ivy chegava ofegante.

Ela tragava duramente por ar, os pensamentos vertiginosos correndo por sua mente. Não havia tempo para paradas ou explicações.

"ORCS!" A palavra estrondeou por seus ouvidos, embora dita num mero sussurro para os homens atônitos que tentavam barrar sua passagem.

Passou por eles e continuou avançando. Já havia corrido para a praça principal quando escutou o reverberar das cornetas.

As pessoas que tomavam as ruas paravam espantadas quando a viam, mas ninguém ousou pará-la, tal era o desespero que a impulsionava.

Quando chegou finalmente aos arredores do palácio um pequeno contingente haviam se reunido nas sacadas, atraídas pelo chamado urgente das cornetas.

Num olhar de relance, Ivy percebeu algumas das figuras élficas, as pernas fraquejando uma vez mais para leva-la novamente ao chão. Recompondo-se, ergueu-se para recomeçar a correr quando braços fortes a envolveram. Lutou até perceber quem a estava segurando.

Por alguns momentos preciosos, olhou confusa para o elfo, o desespero ofuscando o alívio quando pensou estupidamente que não sabia ser Elladan ou Elrohir quem a encarava. Mas foi uma questão de segundos antes que se forçasse a pensar com clareza novamente. O curativo em meio aos cabelos negros o denunciou.

"Elrohir... Estel. Orcs! Na colina. Estel..."

A expressão de Elrohir passou de alarmada para feroz e ele gritou para outros que o haviam seguido.

Ivy estava pouco atenta da movimentação ao redor dela. Precisava explicar ao gêmeo sobre Estel, mas seu coração estava batendo tão alto que tinha certeza que todos podiam ouvir. Agarrou o braço dele:

"Nós precisamos voltar lá." Recomeçou a chorar. "Por favor..."

"Você vai ficar aqui."

Percebeu que estava apoiada nele, já que suas pernas não queriam mais sustentá-la. Tentou se afastar, para então notar a faca de Estel ainda em suas mãos. Havia se esquecido! O elfo também notou, seu semblante escurecendo, mas Ivy viu que a carranca não era dirigida a ela e sim ao objeto que ele desenroscou com suavidade de seus dedos fechados.

"Está ferida! Venha! Vou levá-la para o castelo."

Sem mais uma palavra, ergueu-a nos braços enquanto ela soluçava, apertando a cabeça no tórax dele.

Segurando-a, andou vigorosamente em direção à arcada.

"Você vai ficar aqui e esperar por nossa volta, está bem? Ele vai cuidar de você." Apontou para um dos serviçais que havia sido atraído pelo barulho. "E não se preocupe. Eu trarei Estel de volta."

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Estel observava impaciente a figura colocada na cama. Tentava acordá-la, mas a beberagem calmante que lhe havia sido dada era evidentemente forte. Chamou novamente e depois de algum tempo, seus esforços foram recompensados quando olhos tremularam abertos e uma face confusa o encarou.

"Estel!" Ela ergueu-se rápida como um raio, o enlaçando pelo pescoço e recebeu um gemido involuntário como resposta. "Você está ferido!" Afastou-se depressa, olhando para o grande hematoma na face dele e para a bandagem que cobria seu ombro.

"Está tudo bem agora. Não se preocupe." Ele sorriu tranquilizador. "São apenas cortes superficiais..."

"Estamos felizes que também esteja bem Ivy... embora não ouse afirmar por quanto tempo!" Uma voz familiar e irônica retrucou.

Os gêmeos também estavam ali. Elrohir sentado próximo, olhando para ela com o semblante ainda preocupado e Elladan de braços cruzados ao lado da janela.

"E eu me permiti acreditar que nada demais poderia acontecer no dia de hoje. Tolice é claro. É óbvio que vocês encontrariam confusão de uma forma ou de outra. É apenas a primeira viajem de Estel e já encontramos wargs, orcs... Tremo só em pensar o que nos espera daqui por diante. Trolls eu temo!"

Elladan virou-se para Elrohir, congelando o sorriso no rosto do gêmeo com um olhar duro.

"E isto serve pra você também!"

Ivy estremeceu um pouco, tocando as bandagens nas mãos.

"O que aconteceu? Eu... nunca havia visto orcs antes..." Tremia só em lembrar-se das criaturas hediondas.

"E a simples visão deles é mesmo terrível... mas você conseguiu ajuda pra mim a tempo." Estel segurou-lhe as mãos com cuidado, lhe dando um sorriso gentil. "Obrigado."

Ela não pareceu convencida.

"Como conseguiu? Havia tantos! Até que eu cheguei aqui..."

"Quando chegamos lá, ele estava atracado com um orc colossal." Contou Elrohir, com a expressão séria.

"Aquele orc me subestimou. Quando encostou a espada em minha garganta pensou que eu estivesse vencido, mas ainda tinha minha adaga." Estel contou, com um sorriso contente. "Eu o peguei de surpresa."

" E quem lhe ensinou que um guerreiro nunca apresenta todas as suas armas de uma única vez?" Elladan espelhou o sorriso orgulhoso do irmão caçula.

Elrohir virou-se para Ivy com interesse.

"Como você está sentindo-se?"

"Realmente bem, levando-se em consideração o perigo pelo qual passamos..." Ela sorriu para Estel. "Estel me protegeu o tempo todo e eu não me feri."

"Isto é ótimo!" Animou-se Elladan. "Afinal há uma festa que viemos de longe para participar."

Silêncio prolongado reinou no quarto, fazendo Elrohir olhar de um menino para outro.

"O que houve?"

"Nada." Apressou-se Estel. "É só que..."

"Eu não vou." Interrompeu Ivy, voltando a encarar suas bandagens, sem erguer os olhos para eles.

"Mas por quê? Você acabou de dizer que está bem." Elrohir pareceu preocupado, tentando olhar em seu rosto. "Está mesmo bem? O curandeiro do rei disse..."

Ela o interrompeu, embaraçada.

"Eu estou bem, verdade, é só que... já havia decidido que não participaria da festa."

Elrohir a observou, tentando descobrir se por trás daquilo havia coisas que ela e Estel não queriam revelar.

"Se ainda está abalada, ficaremos aqui até que consiga dormir novamente." Disse ele, acomodando-se melhor na cadeira. "Quero ter certeza de que está realmente bem..."

"Elrohir!" Ivy fechou os olhos, sentindo-se perdida e cansada. "Vocês não devem. Não precisam perder sua festa..."

"Você viu o que aconteceu quando ficaram sozinhos mais cedo." Elladan somou, também intrigado. "Além disso, existem anões demais naquele palácio."

"Mas..." Ela mordeu os lábios, olhando para Estel a procura de ajuda. "Olhem para mim! Como posso entrar nos salões do rei assim?" Mostrou o vestido roto e sujo, as mãos feridas, os arranhões no rosto e o cabelo em desalinho.

"Eu acho que nós dois estamos fazendo um par e tanto." Estel mostrou a roupa que parecia em pior estado que a dela. A túnica rasgada deixando antever a bandagem que lhe cobria o peito.

"Oh Estel! Sua bela túnica." Olhou desconsolada para os rasgos e manchas na roupa dele. "Está toda arruinada!"

"Vocês dão a exata impressão de que lutaram contra uma horda de orcs." Elrohir brincou, inclinou-se para segurar-lhe as mãos e sorrindo suavemente. "E além do mais não deixaria de ser graciosa mesmo que tentasse."

Ruborizando-se com o elogio, ela virou a Estel, mas o menino apenas deu de ombros.

"Sua mãe trouxe roupas limpas enquanto você dormia."

Sentindo-se vencida e decidindo que cabia a ela ser sensata e evitar com que perdessem a festa para a qual vieram de tão longe e passaram por tantos perigos, começou a sair da cama.

"Fora vocês daqui, para que eu possa me transformar numa figura decente. Não quero assustar ninguém no baile." Expulsou os três do quarto, ignorando os sorrisos vitoriosos deles.

Se bem os conhecia, não iam mudar de ideia e desde muito jovem, aprendera a insistir apenas nas batalhar que poderia ganhar.

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A lua continuava sua passagem pelo céu, observada pelas duas figuras encostadas na muralha. Ambos estavam perdidos em pensamentos, confortáveis com o silêncio calmo entre eles.

A celebração seguiu ao longo da tarde e pela noite a fora. Estel, os gêmeos e Ivy se divertindo muito, entre danças, risos e brincadeiras. No fim, tornara-se grata com a insistência deles para que viesse. Não podia se lembrar de outro tempo em que se divertira tanto. Pelo menos não desde que sua família ainda estava completa.

Ficara divertida com os olhares e comentários que estavam recebendo enquanto ensinava aos irmãos dançarem as danças nativas de Valle. Depois de sua entrada tempestuosa na cidade, gritando sobre os orcs, achou que nada mais poderia abalar sua reputação, mas podia apostar que a companhia do trio inusitado com quem dançava, lhe tornaria motivo de fofocas por muito tempo.

Lembrando-se das revelações que a menina lhe fizera, Estel suspirou, trazendo o olhar de Ivy para ele.

"Teria sido uma pena se não tivesse vindo se divertir." Ele disse, sem desviar os olhos do céu.

"Não achei que conseguiria." Ela respondeu sincera, com os olhos brilhando. "Obrigada por este dia incrível!"

"Incrível? Até mesmo a luta contra os orcs?" Ele caçoou, contente com o riso dela. Virando-se e segurando suas mãos, para elevar as palmas e beijá-las suavemente, fez a menina sorrir timidamente.

"Minha querida Ivy." Apertou a mão dela por sobre o coração. "Eu gostaria que você fosse embora conosco. Em minha casa... Há tanta paz e descanso para os corações feridos. E direito para rir e ser feliz..."

Ela franziu as sobrancelhas, e retirou a mão, o sorriso sumindo.

"Não me peça isso Estel, por favor. Eu não posso." Desviou os olhos do rosto dele e foi a vez dele franzir o cenho, confuso.

"Não tenho intenção de ofendê-la. Quando falei de minha casa... o que ofereço é minha companhia e nada mais. A única coisa que pediria em troca era o prazer de vê-la ser feliz sempre."

"Eu... eu peço desculpas." Pediu enrubescida. "Eu pensei..."

"Não. Sou eu que lhe peço desculpas por não me expressar melhor."

Por um longo tempo ela ficou imóvel, olhos para baixo, focalizados em nada em particular, enquanto considerava seus pensamentos. Quando os elevou, estava olhando diretamente nos dele.

"Não, eu não posso." Estel era um príncipe e no momento estava cheio de piedade e gratidão, mas um dia ele cresceria e seguiria seu caminho e a ela restaria um coração partido. Não! Não havia forças dentro dela para perder de novo. Era melhor deixar ir enquanto ainda não existia dor. "Meus pais nunca aceitariam deixar para trás as terras em que meus irmãos repousam e eu não posso abandoná-los..."

Era verdade e ele apenas encolheu os ombros e tristemente sorriu, acariciando a face dela com suavidade.

"Eu entendo e lamento. Venha, deixe-me levá-la para casa."

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O dia da partida amanheceu luminoso e claro e o sol apenas começava sua viagem pelo céu quando encontrou a companhia já no pátio, ocupada nas preparações para o longo retorno. Estel estava preparando seu cavalo, vestido numa túnica cinzenta. O cabelo longo trançado no mesmo padrão usado pelos irmãos. Um lembrete orgulhoso de sua nova condição de guerreiro. Sua infância estava definitivamente para trás.

Uma verificação final, e sabia que já não havia mais razão para demora. Suspirou longamente, relembrando o dia deprimente que havia precedido aquele. Dia de despedidas.

Observou Elladan se aproximar do gêmeo, que já montado em seu cavalo, encarava o castelo sem realmente vê-lo, uma expressão melancólica no rosto.

"Pronto para ir?" Perguntou e Elrohir virou-se para encará-lo.

"Não há mais razão para demoras..." Hesitou, acariciando a juba de seu baio.

Elladan irritou-se. Quanta indecisão! Mas talvez coubesse a ele resolver tal impasse.

"Elrohir..." Ele começou pacientemente. "Eu acho que você deveria ir e fazer o que tem de fazer antes que seja tarde demais e se cubra de arrependimentos depois."

Rubor coloriu o rosto do irmão.

"Elladan... eu não sei..."

"Sempre há tempo para que façamos o que deve ser feito e nunca é bom deixarmos para trás, assuntos inacabados. Vá. Nós esperaremos."

Elrohir sorriu agradecido antes de dar meia volta com o cavalo, galopando rapidamente em direção à cidade. Elladan o observou por um tempo, depois apeou e foi para onde Estel se encontrava. Segurou-lhe uma das finas tranças castanhas e deu um leve puxão.

"Elas lhe caem muito bem, irmãozinho."

"Mal posso esperar para mostrá-las para nosso pai e minha mãe." Ele disse com orgulho.

"Eles também vão se orgulhar delas." Elladan afirmou sorrindo e Estel voltou a examinar o caminho por onde Elrohir havia seguido.

"Onde Elrohir foi? Eu pensei que já estivéssemos partindo." Ele perguntou, curioso.

Elladan tocou no braço dele.

"Ele foi resolver algo que não podia ser adiado. Logo estará de volta."

Estel estava confuso, mas decidiu que Elladan lhe diria se fosse importante.

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Elrohir alcançou rapidamente a via pontilhada de casebres de madeira. Ivy estava exatamente onde havia imaginado. Lavando e polindo a pequena casa. Sorriu. Era incrível que ainda não houvesse simplesmente gastado a madeira de tanto lavar.

Ela parou surpresa quando viu o elfo.

"Elrohir! Eu pensei que vocês tinham partido!"

"Já estamos de partida." Aproximou-se, descendo com agilidade do cavalo e ao segurar-lhe solenemente as mãos entre as dele, ficou em silêncio. No dia anterior, não havia conseguido ficar a sós com a menina, para despedir-se corretamente e agora que o fazia percebeu que não sabia bem o que dizer. Ruborizou-se, sentindo-se tolo. "Queria ter certeza..." Lutou por um momento com as palavras. "Você salvou minha vida e este para mim, é um laço que nunca se rompera. Portanto, se tiver necessidades, não importa do que seja, deve me procurar em Imladris. Prometa que procurará minha ajuda se necessário for. É muito importante que você o faça. Prometa-me, por favor..."

"Eu vou, Elrohir. Prometo." Ela respondeu timidamente, ainda tocada pela gratidão dele.

Fitaram-se em silêncio por longos segundos, ainda de mãos dadas, até que ela desprendeu-se e o abraçou. Ele a enlaçou firmemente, descansando o rosto no topo de sua cabeça, sentindo os cabelos macios lhe acariciaram rosto, depois relutantemente a soltou, afastando-se dela.

Em seguida montou novamente e partiu, deixando Ivy parada ali, com uma desoladora sensação de perda à medida que o cavalo ganhava velocidade.

O que havia acontecido? Que era que havia sentido na presença do elfo? Uma sensação de proteção e conforto. Agora diminuía, enquanto ele se ia. Sentiu-se estranhamente só.

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Estel observou o irmão regressar com olhos curiosos. Realmente não se demorara e o menino procurou conter a curiosidade sobre o motivo dele voltar para falar com Ivy.

O gêmeo desmontou e se aproximou, observando as duas tranças finas que lhe adornavam a cabeça e lhe caiam pelos ombros.

"Você parece exatamente um elfinho agora."

"Oh Elrohir, você não deve falar assim. Eu agora sou um guerreiro. Não sou mais uma criança."

Elrohir riu, seu semblante mais suave agora que voltara de sua incumbência misteriosa.

"Tem razão. Mas Estel, embora você as mereça..."

"Eu sei... Nunca me esquecer ou deixar de me orgulhar de ser humano, é o que adar vive me dizendo." Ele disse isso com impaciência infantil e Elrohir riu.

"Exatamente. Sua raça é muito valorosa e me orgulho de que ela também faça parte de mim."

"E prometo fazer o máximo para nunca decepcioná-lo." O menino afirmou solenemente e Elrohir passou o braço por seus ombros, num gesto carinhoso.

"Você nunca conseguiria decepcionar-me Estel. Nada do que você faça ou deixe de fazer nesta terra poderia diminuir o amor que eu sinto por você. Você é meu irmãozinho e só o conhecimento disto basta para mim."

Eles ouviram um cavalo aproximar-se e viraram para observar a chegada de Elladan, que segurava as rédeas de Brethil com firmeza, o garanhão obviamente impaciente para galopar.

"Nós podemos ir ou vocês pretendem esperar a chegada da nova estação aqui, de pé?" As palavras dele causaram risos nos outros e Elrohir olhou para Estel.

"Ele tem razão. Precisamos aproveitar o tempo bom para atravessar as montanhas..."

Estel fez careta.

"Duvido que haja qualquer tempo bom lá em cima." Sorrindo acrescentou. "Mas não quero irritar Elladan, para evitar com que mude de ideia sobre Beorn..."

"Como sabe que nós passaremos por lá? Era uma surpresa!" Elrohir acusou, olhando para ele com suspeita.

"Eu sempre soube que passaríamos." Respondeu Estel com um sorriso convencido. "Ele tenta, mas nunca consegue me dizer não de verdade."

Elrohir começou a rir enquanto montavam.

"Você está ficando muito convencido, sabia?"

"Será uma característica de família?"

A resposta provocou uma risada no irmão, enquanto seguiam para fora da cidade e Estel olhou para trás esperando encontrar uma figura conhecida. Mas só havia o brilho distante das torres ao sol.

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Continua...