Título: Arwen - ano 2957
Personagens: Aragorn, Legolas, Elladan, Elrohir, Elrond, Arwen.
Retratações: Os personagens não são meus, nenhum lucro é pretendido, só existe o desejo de contar uma história e exprimir meu amor pelos personagens do Professor Tolkien.
Sumário: Elrohir encara as primeiras consequências de sua promessa e precisa convencer Elladan a aceitar sua decisão.

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Arwen - ano 2957

Duas figuras estavam lado a lado no final da trilha, insignificantes diante das sombrias árvores que os cercavam. Mirkwood portava-se com sua costumeira severidade.

"Aqui estamos. Ilesos!" Legolas disse com um sorriso sincero, imperturbado pelo mau humor da floresta, então examinou o amigo com olhos críticos. "Mais ou menos..."

"O que está querendo dizer?" Aragorn replicou, a respiração lançando pequenas nuvens enquanto falava. Deixou de esfregar os braços. "Se acha que estou sentindo frio, está enganado." Já não bastava que o elfo não se perturbasse com o frio gélido que reinava naquela floresta tenebrosa, ainda tinha que lhe ficar aborrecendo por isso?

"Se você não fosse teimoso e admitisse que está congelando, poderíamos acender uma fogueira..." O elfo pausou, enquanto observava em volta. "O que foi isso?"

Aragorn olhou para o amigo e em seguida ao redor. Não podia ver ou ouvir nada fora do normal, apenas o sussurro do vento nas altas galhas. No entanto alarmou-se.

"Orcs?"

Legolas sacudiu a cabeça. "Não, não... mas tenho a sensação que estamos sendo observados..."

"O que me diz de suas simpáticas amigas?" O guardião franziu a sobrancelhas, olhando as árvores ancestrais.

"Não. Não elas. A maioria dorme tranquilamente." O elfo balançou a cabeça, ainda perturbado, o olhar vagando novamente em volta.

Alerta, Aragorn estudou os arredores cuidadosamente. Agora que na verdade pensou nisto, seus sentidos sussurravam suavemente. Não era o sentimento que a pessoa adquire ao lidar com orcs obviamente, pois nem todo o cansaço do mundo poderia impedi-lo de sentir o asco que a presença das criaturas sujas causava, entretanto não poderia dizer que era uma sensação de perigo iminente.

Mesmo assim, moveu a mão para a espada e observou com o canto dos olhos Legolas levar a mão ao arco, então se aproximaram silenciosamente um do outro. Se tivessem que lutar, prefeririam fazer assim, um cobrindo a retaguarda do outro.

De repente uma figura pulou da árvore bem em frente a eles, numa manobra que teria arrancado elogios do elfo silvestre, se Legolas não estivesse tão ocupado em se repreender por não haver percebido que tipo de criatura era.

Imediatamente Aragorn relaxou a mão do cabo da espada, pasmando ao noldo alto. O elfo sorria feliz, o que fez com que desistisse de se zangar.

"Francamente!" Ele repreendeu. "Você não devia fazer isso. Nós poderíamos tê-lo ferido."

"Mas vocês pareceram tão engraçados, um guardião e um elfo sendo pegos de surpresa. Deviam ter visto o olhar assustado dos dois."

"Não era um olhar assustado." Disse o príncipe com a voz seca. "Era simples cautela."

Sorrindo maliciosamente aos dois, o elfo de cabelos escuros segurou o irmão pelos ombros e lhe examinou atentamente, recebendo um rolo de olho impaciente. Quando terminou o escrutínio, finalmente o abraçou.

"É bom vê-lo irmãozinho." Virou-se para o elfo louro. "A você também Legolas."

Legolas meneou a cabeça, porque sinceramente, não fazia a mínima ideia sobre qual gêmeo era este.

"Onde Elrohir está?" Aragorn perguntou.

Legolas sorriu. "Certo. Elladan!"

"Vagando por aí." Elladan foi evasivo e Aragorn franziu a testa, fazendo o elfo rir. "É verdade. Ele não está comigo!"

"Ele está vagando nesta floresta sozinho?" Acusou o guardião.

"Não foi o que acabei de dizer?" Perguntou Elladan com um longo suspiro de sofrimento. "Estel, apesar das crenças em contrário, Elrohir pode se cuidar e eu nunca o deixaria sozinho na floresta, se achasse que não pudesse." A carranca de Aragorn aumentou e Legolas impacientou-se.

"Vocês irão passar toda esta idade do mundo aqui, discutindo sobre Elrohir, ou podemos procurar abrigo?"

Elladan virou-se para o elfo de cabelos dourados, ainda sorrindo da irritação do irmão.

"Como queira majestade." Ele zombou. "Mas não podemos nos afastar do ponto de encontro com Elrohir."

"E onde seria isso?" Aragorn quis saber, momentaneamente distraído do paradeiro de irmão.

"Exatamente aqui, neste ponto da trilha."

"E afinal o que fazem vocês aqui em Mirkwood?" Legolas quis saber, já procurando um local onde poderiam se abrigar.

"Viemos a pedido de Gandalf." Elladan contou. "No palácio nos informaram que vocês dois estavam juntos de uma patrulha, repelindo um ataque de orcs nas fronteiras. E vejo que as coisas não foram fáceis." Já havia observado as linhas escuras sob os olhos de Estel e seu ombro ligeiramente encurvado. Legolas também tinha a aparência abatida e uma bandagem no braço. Pareciam cansados. "Foi ruim assim?"

"Havia uma grande quantidade de montadores de lobos." Explicou Legolas. "Foi realmente sorte que Estel estivesse conosco. Sua ajuda foi valorosa."

Sorriu para o amigo. Entesourava a amizade que os dois construíram desde que Estel estivera à primeira vez em Mirkwood.

O humano devolveu o sorriso. "É o que amigos fazem Las."

"Você deveria agradecer a mim e a Elrohir, Legolas. De quem você acha que Estel aprendeu técnicas de batalha?" Elladan perguntou com presunção.

"Penso que ele infelizmente adquiriu uma boa quantia de teimosia também." O elfo da floresta somou, com um sorriso astuto.

"Eu? Teimoso?" Estel parecia genuinamente surpreso e Elladan deu risada.

"Ah não! Isso foi inteiramente obra de Elrohir."

Percebendo que estavam caçoando dele, o humano deu um empurrão no braço do irmão.

"Tolo."

Legolas viu que o amigo tremia um pouco e sorrindo suavemente virou ao outro elfo do grupo.

"Venha Elladan. Vamos construir um fogo para aquecer nosso guardião gelado enquanto esperamos aquele insensato que é o irmão de vocês. Sem dúvida não pretendem ficar aguardando aqui, de pé?" Balançou a cabeça, vendo o jeito que os irmãos se olharam. "Noldor!" Resmungou. "O que se pode esperar deles?"

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Quando o trotar do cavalo élfico ecoou no silencio do entardecer, Elladan ergueu-se rapidamente e foi receber o irmão gêmeo com uma boa quantia de alívio. Estava cansado de responder com evasivas as perguntas de Estel sobre o paradeiro de Elrohir. Provavelmente o gêmeo quereria ele mesmo contar ao caçula sobre sua visita àquela humana.

"Você, filhote de Troll, está atrasado." Ralhou com braveza insincera.

"Filhote de Troll? Duvido seriamente que ada concorde com isso." Disse Elrohir, desmontando para caminhar ao lado dele. Pretendendo conhecer os companheiros de acampamento de seu gêmeo, ficou surpreso ao ver seu irmão caçula e o príncipe de Mirkwood.

Estacou por um tempo, se amaldiçoando mentalmente. Ele não estava pronto para encarar Estel, não agora e talvez não sempre. Então se aproximou relutantemente, ignorando a carranca de Elladan ao notar sua hesitação.

"Aragorn..." Ele cumprimentou. "Eu não sabia que você estava por essas bandas..."

Aragorn riu, genuinamente contente com a chegada do irmão, inconsciente da inquietação deste. Então ficou sério o bastante para examiná-lo criticamente.

"Eu poderia perguntar a mesma coisa? Não sabíamos que vocês estariam por aqui ou poderíamos ter usado a ajuda de vocês na fronteira." Sorriu a Legolas maliciosamente. "Embora eu e Legolas tenhamos dado conta das criaturas muito bem sozinhos."

Elladan riu, desviando a atenção que mantinha em Elrohir.

"Sozinhos? Ou juntos de um batalhão de soldados de Mirkwood?"

Aragorn arqueou uma sobrancelha e tentou suprimir seu sorriso.

"Não se deixe enganar por esses detalhes, irmão meu, aqueles orcs não tiveram a menor chance assim que Legolas e eu chegamos."

Elrohir tinha deixado de escutar, ele não pôde se lembrar em que ponto. A possibilidade de que Aragorn houvesse vindo visitar Ivy o bateu com a força de um Troll. Ele poderia descobrir o segredo dela, e o que aquilo significaria para todos? E para ele e seus sentimentos pela humana? De repente notou que as risadas haviam parado. Havia vagueado, perdido o foco, e agora um par de olhos cinzentos intrigados o estavam observando.

"Perdão?" Piscou, olhando a Aragorn que o observava curiosamente.

"Elrohir está com a cabeça nas nuvens." Elladan falou, examinando o gêmeo com um olhar igualmente intrigado.

"Tem haver com seu passeio misterioso?" Provocou Aragorn, sem notar a expressão abatida do irmão, mas Elladan já o havia feito e franziu novamente o cenho.

"Espero que tenha sido mais agradável do que um encontro com orcs." Legolas sorriu maliciosamente ao amigo humano.

"Talvez fosse algo mais feminino." Estel e Legolas divertiam-se, quando Elrohir perdeu por fim, a calma que havia mantido até então.

"Tudo será parte de uma grande diversão para você Estel?" Ele exigiu, com a voz mal contendo as emoções que atormentavam seu espírito. "Talvez até mesmo suas responsabilidades?"

Legolas foi o primeiro a se recuperar da surpresa causada pela irritação do amigo.

"Elrohir perdoe-me, eu..."

"Não Legolas, não se desculpe..." Estel encarou o irmão com a testa franzida. Parecia confuso e magoado. "Pois o problema é comigo aparentemente... "

Elrohir segurou o olhar de Aragorn, com os olhos frios.

"Ao contrário do que possa imaginar, nem tudo é sobre você!"

"Tem razão. E agora que me colocou a par dessa falha, terei cuidado em não desagradá-lo novamente." Aragorn replicou.

Era tão estranho vê-los se agredindo com palavras duras, que Elladan fitava os irmãos mais jovens como se a cena estivesse além de seus poderes para intervir. Então coube a Legolas colocar um fim ao impasse.

"Creio que estamos todos realmente muito esgotados." Ele falou diplomaticamente. "Devíamos escolher os horários de vigília para descansarmos..."

Tocou no braço de Estel para chamar-lhe atenção.

"Certo." O humano fechou por alguns instantes os olhos cansados. "Tem razão."

"Eu vou fazer a primeira vigia." Disse Elladan, recobrando-se. "Vocês dois são os mais cansados e Elrohir pode fazer a segunda." Não deu espaço para protestos. "Enquanto isso, vamos buscar mais lenha para o fogo." Arrastou Elrohir consigo, que estava encarando em silêncio, o tapete de folhas entre seus pés.

"Pode me dizer o que foi isso? Por que você falou daquele jeito com Estel?" Elladan o confrontou assim que estavam distantes o bastante. "Você foi visitar a adan novamente e retornou se comportando de forma estranha..."

Elrohir pareceu envergonhado.

"Parece que não consigo mais pensar com clareza." Disse com a voz quase inaudível. "Por favor, podemos falar sobre isso depois?" Olhou ao irmão com uma expressão de profunda amargura, então Elladan, mesmo preocupado, deixou passar. Procuraria respostas depois.

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Na manhã seguinte o príncipe preparou-se para retornar a Mirkwood.

"Você sabe Legolas, procure tomar cuidado, agora que eu não estarei por perto para colocar prudência em sua cabeça."

O elfo sorriu.

"Não se preocupe meu amigo, logo encontrarei a patrulha. Eles ficaram me aguardando enquanto o acompanhava até aqui."

"Certo então." O abraçou com firmeza. "Venha logo nos visitar... meu pai ficará contente."

"Irei, assim que as coisas nas fronteiras se normalizarem." Despediu-se dos gêmeos e com um último adeus, desapareceu na imensidão de galhos e troncos que era a Floresta escura que chamava de lar.

Estel suspirou. Sentiria falta dele.

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A viagem para Rivendell ocorreu sem quaisquer incidentes, mas foi uma jornada tensa e deprimente, com os irmãos se evitando cuidadosamente, o que causou um enorme desconforto em Elladan, ver os dois amuados um com o outro. Certamente seu gêmeo teria muito que lhe dizer.

A tarde já se ia, com os raios do sol sumindo preguiçosos por trás das paredes do vale que circundavam, quando Imladris surgiu, impondo-se grandiosa em seu ninho esmeralda.

Passaram pelos guardas das bordas, que saudaram os jovens senhores, e quando finalmente desmontaram no pátio que levava a casa principal, Estel pode ver seu pai os aguardando.

Elrond desceu as escadas para ir ao encontro dos filhos, abraçando os dois, satisfeito que estivessem bem depois de uma ausência prolongada, então se virou para o humano jovem.

"E bom tê-lo de volta meu filho."

Ele recebeu um abraço próprio, fechando os olhos para saborear a sensação de conforto que a presença do pai adotivo lhe transmitia.

"É muito bom estar em casa novamente, adar."

Já havia notado a figura atrás do elfo. "Arwen!"

"É bom vê-lo novamente Estel." Ela o cumprimentou com um sorriso suave. "Sinto muito que lady Gilraen não esteja aqui."

"Elladan me contou que nana está no norte, visitando nossos parentes." Ele falou, tentando ignorar as batidas estrondosas de seu coração, diante da presença dela.

Satisfeito em ver todos os filhos reunidos, Elrond guiou-os para dentro.

"Entrem meus filhos. Vocês têm que me contar sobre a viagem de vocês e as notícias de Mirkwood, enquanto ceamos."

Eles seguiram o pai e embora feliz de estar em casa novamente, Estel sentia o coração oprimido. O que fizera para amargurar Elrohir?

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Elrond olhou à frente, na mesa em que estavam reunidos seus filhos. Após o colocarem a par das notícias, silêncio havia pairado na sala, quebrado ocasionalmente pela voz delicada da filha. Só ela parecia alheia à tensão na mesa, embora recebesse apenas respostas monossilábicas dos irmãos.

Elrond suspirou, examinando a situação e os filhos. Sorrindo, pensou em como era fácil lê-los. Sempre fora, desde que eram elfinhos. Todos os três. Mesmo Estel, que em muitos aspectos era mais elfo que humano.

Elladan tinha a expressão fechada, como se estivesse zangado com algo. Provavelmente alguma coisa saíra de seu controle. Um fato que seu temperamento forte de primogênito, não gostava de permitir. Sem dúvida tinha haver com Elrohir, que sentado ao lado da irmã, remexia a comida com desinteresse e uma expressão abatida no rosto.

Estel sequer mexera na comida, parecendo perdido e ausente, como se estivesse muito longe dali, embora lançasse olhares ocasionais para Elrohir.

Então era isso!

A fonte de tudo era Elrohir, o que não deixou de espantar Elrond. Seu filho do meio, fixo entre o caráter forte do irmão mais velho e a aptidão inata de liderança do caçula, normalmente era o mais tranquilo entre eles, embora tivesse que reconhecer que quando ele resolvia ser voluntarioso, era sem dúvida o mais difícil de mover.

Considerou se deveria intervir de alguma forma, mas antes que começasse a falar, Estel ergueu um olhar para ele, lhe dando o sorriso de adoração que sempre parecia lhe reservar, o que invariavelmente o desconcertava um pouco.

O que fizera realmente para causar tal sentimento no humano jovem, além de amá-lo como amava os seus? Devolvendo o sorriso, acabou decidindo que não interferiria. Se conhecesse realmente os corações de sua prole, eles não manteriam aquela situação por muito tempo.

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Caminhou silenciosamente pelo corredor, cauteloso em não fazer qualquer barulho. Sentia-se uma criança esgueirando-se daquela forma, mas necessitava da companhia dela para serenar seu coração aflito.

Pensava nisso quando trombou numa forma macia e os dois abafaram um ganido de surpresa.

"Arwen!"

"Estel venha comigo." Ela disse num sussurro, se recobrando mais rápido e estendendo a mão. "Precisamos conversar. Venha!" A mão dela ficou estendida, e ele finalmente a tomou.

Ela o conduziu por um corredor que ia em direção aos fundos da casa e de lá para uma escadaria, no fim da qual estava uma velha sala, onde eram armazenados toda a sorte de artigos velhos. Ficava no final da torre leste e suas janelas abriam-se sob o vale, recebendo em cheio a claridade do céu.

"Amo este lugar." Ela falou, fechando a porta atrás deles. "É como alcançar as nuvens. Você já veio aqui?"

"Não desde que era um menino."

"Então venha." Ela foi em direção das grandes almofadas amontoadas perto da janela.

"Como me ordenas milady." Ele sorriu, sentando-se ao seu lado.

Arwen riu com o rosto corado, jogando o cabelo por cima do ombro, que cascateou pelas costas. Estava sem nenhum adorno, e se fosse possível, aos olhos de Estel isso a fazia ainda mais bela.

"Nós temos que fazer silêncio ou podemos ser descobertos. Mas eu não importaria se só assim eu posso ficar a sós com você."

Ele riu, segurando suas mãos pequenas e macias.

"Você me parece muito valente." Ele falou suavemente, beijando-lhe os dedos delicados.

"Você me faz valente Dúnadan." Ela fez um som satisfeito enquanto ele a beijava, correndo as mãos pelo cabelo incontrolável dele.

"Flores!" Ele pensou enquanto apertava o rosto contra o cabelo sedoso dela. "Não importa onde, ou como, mas ela sempre tem o cheiro de rosas..."

"Você me ama, Estel?" Ela sussurrou, afastando-se um pouco. "Você me ama de verdade?"

"Sim adorada. Eu a amo!"

"E você nunca deixará de me amar?"

"Nunca, Arwen. Nunca!" Ele repetiu várias vezes, enquanto beijava as delicadas orelhas pontudas dela, arrancando suspiros de prazer.

Depois ela se desvencilhou para admirá-lo. Estava deitado nas almofadas, com a luz da lua incidindo nele e ela viu tudo aquilo que a fizera amá-lo. Seu queixo bonito, as maçãs salientes do rosto, a barba escura, o olhar luminoso, a pele bronzeada, feita assim pelo sol implacável do ermo.

"Ah! Queria ser forte o bastante para manter-me longe dele." Pensou, compreendendo que nunca seria.

"Você tem um problema, amado..." Não havia podido deixar de notar, desde a chegada dele, e ele imediatamente pareceu chateado.

"Não... sim..." Suspirou. "Somos eu e Elrohir... nós... nós discutimos no caminho para cá..." Parou, um rubor de embaraço colorindo o rosto. " Não foi exatamente uma briga. Trocamos algumas palavras mais ásperas, só isso... A bem da verdade, sequer posso dizer o motivo!"

"Você está achando que é o culpado?" Ela adivinhou, quando viu a baixa desanimada dos ombros dele.

"Não é tão simples." Defendeu-se ele. "Eu não queria ter me irritado com ele... só que..."

"Vocês discutiram! Se o faz sentir-se tão mal vá falar com ele." Ela estava sendo prática como sempre.

"Não é tão simples..." Ele se repetiu. "Elrohir não se parecia... estava estranho..."

"E está tão chateado porque sempre foram companheiros... nunca discutiram."

"Eu estaria chateado se tivesse discutido com Elladan..." Ele se defendeu e ela sorriu.

"Eu sei, mas é diferente com Elrohir. Sempre foram mais que amigos, sempre formam cúmplices..."

Ficou satisfeita ao sorriso que começava a insinuar-se nos lábios dele ao pensamento da camaradagem que compartilhava com o gêmeo caçula.

"Parece simples, mas não é, pois sei que a culpa foi minha..." Suspirou desolado. "E não sabendo o que fiz, não sei o que fazer para consertar..."

"Estel." Ela correu os dedos pelo rosto dele. "O que quer que tenha acontecido e se bem conheço meu irmão, ele também estará se martirizando por causa da discussão de vocês."

"Além de valente minha amada agora é sábia." Ele disse, deslizando os dedos pela mão dela. "Ah, amada! Se só esse momento pudesse se eternizar. Se nós nunca mais precisássemos sair daqui." Estel fechou os olhos com força, apertando o rosto contra o pescoço dela. "Eu não tenho o direito de estar aqui com você. Não tenho direito, até que cumpra meu destino e nem sei se terei, mesmo depois, pois assim te obrigarei a escolha..."

"Estel..."

"Eu nem mesmo confio em mim o bastante para achar que cumprirei a demanda de minha vida."

"Eu confio em você, amado. Nunca duvidei de sua força ou temi que esmorecesse."

"Então vai esperar-me? Mesmo que ainda não possamos nós comprometer perante todos?"

"Nem se me dissesse que não me ama, me faria desistir de você."

"Nunca!" Ele beijou-a fervorosamente. "Nunca."

Deitou-a sobre as almofadas e embrulhou o cabelo dela ao redor de uma mão, para mantê-la perto dele e ela beijou-o de novo, e de novo, e de novo, e então, suavemente, começou a soltar-se dele.

"Ah!" Estel disse desapontado. "Vai demorar horas até que eu possa vê-la sozinha novamente."

"O tempo voará. Nem se lembrará de mim quando sair pelo vale em patrulha." Sorriu. "Vocês, grandes guerreiros, o terror de toda criatura má, daqui a Mirkwood e, no entanto quando estão juntos parecem elfinhos."

"Mesmo assim, será tempo demais."

Ela sorriu, se abaixou e beijou-o de novo, tirando o cabelo dele pra longe dos olhos.

"Amanhã à noite." Disse com firmeza.

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Ele observou nervoso, a reação que suas palavras causaram em Elladan. Observou os olhos largos e a expressão chocada no rosto dele e ia começar a falar novamente quando o irmão reagiu de forma inesperada.

Elladan riu. Um riso descrente que abalou o espirito fatigado de Elrohir.

"Elladan, isso não é uma brincadeira ou motivo de risos..."

"Não?" Elladan respondeu, a risada sumindo tão rápido quanto havia surgido. "Pois de todas as coisas que pensei que você poderia dizer a mim, isso não era uma delas... aquela humana e Estel..."

"Que também é humano..." Elrohir o lembrou irritado, depois respirou fundo. "Eu sei que é inesperado, mas é a verdade... existe um bebê."

"E o que fará você agora com esse conhecimento?" Ele quis saber, o mirando com olhos inquisitivos. "Precisa decidir o que fazer, por isso parece tão preocupado, não é?"

"O que farei eu?" Elrohir tremeu a cabeça. "Você não escutou nada do que disse? Das circunstâncias que cercam esses fatos?"

"Você não pode falar sério sobre as promessas que fez a Ivy, pois a criança é a filha de Estel!" Elladan exclamou e encarou boquiaberto o irmão mais jovem, antes que percebesse que o estava encarando boquiaberto. Então fechou a boca e enrugou os lábios e tremeu a cabeça. "Não!" Exigiu veemente. "Você não pretende fazer isso. Diga-me que não pretende mesmo fazer isso!"

Elladan aguardou expectante, ansiando por qualquer sinal de que seu irmão sensato compreenderia a gravidade da situação, mas Elrohir continuou a fitar-lhe com determinação e o gêmeo mais velho respirou fundo.

"Eu espero que você saiba que eu considero essa uma das atitudes mais insensatas que eu já tive o infortúnio de testemunhar. Pense nisso Elrohir, por favor! Precisa enxergar a razão!"

Diante do silêncio resoluto do irmão, Elladan implorou novamente.

"Por favor, eu sei que você pensará melhor... fale novamente com Ivy, não permita com que ela o enrede em tamanho embuste."

Elrohir piscou, imaginando a face de Estel empalidecendo terrivelmente a tais notícias, em seguida viu o rosto de Ivy, os olhos largos em choque e feridos à traição dele.

"Não!" Ele exclamou, forçando a imagem para fora de sua mente. "Eu não posso fazer isso a ela. Ela passou todos esses anos temendo que a filha lhe fosse tirada. Eu não posso fazer isto. Não posso fazer isso a ela... Só esperei que entendesse." Ele implorou, a voz se tornando um murmúrio.

"Verei se entendo." Elladan respondeu, a paciência escassa que lhe restava minguando de vez. "Você visita aquela adan, que o havia banido de sua vida e volta dizendo que ela tem a criança de Estel, que pretende manter dele usando de sua complacência? Muito ardiloso da parte dela, não acha?"

"Pode ser irônico se desejar." Elrohir disse, caminhando em direção à porta. "Quando não sentir necessidade de ofender Ivy, poderemos conversar."

Imediatamente Elladan segurou seu braço.

"Essa conversa ainda não terminou." Olhou duramente para Elrohir, que mantinha os ombros rígidos. "Não termina tão fácil assim."

"Você não pode chamá-la de ardilosa, sem admitir que está sendo injusto." Elrohir ficou de costas para o irmão e Elladan podia sentir sua angústia.

Esfregou o rosto com as mãos, os ombros tensos. Seus pensamentos estavam frenéticos. "Ivy e um bebê de Estel!"

"Não me faça lamentar confiar em você." Elrohir o tirou de seus pensamentos, a tensão gotejando em cada palavra.

"Muito bem." Elladan falou depois de um longo momento, sabendo que se arriscava a perder a confiança de Elrohir, se o desafiasse nisso. "Você sabe que eu nunca revelaria nada se você empenhou sua palavra, mas não pode me impedir de dizer-lhe o que penso!"

"Eu acho que já deixou bem claro o que pensa!" Elrohir retorquiu, sentindo-se escoado e estranhamente derrotado. Tudo o que Elladan dizia, já havia passado por sua mente mil vezes.

"Não me tome por um tolo Elrohir! E como pode ser tão ingênuo? Ela que manter a criança longe de Estel por algum senso de vingança distorcida!"

"Não acha que este segredo também me atormenta? Sinto-me tão culpado que acabei descontando em Estel minhas frustrações!"

"Você possui um opção sensata para resolver essa situação! Não precisa esconder dele segredo algum!"

"Possuo? Não ouviu nada do que disse? Ela teria levado o bebê para longe. Uma mulher indefesa e um bebê, e você queria que eu não concordasse com ela?"

"Foi apenas este o motivo?" Elladan irritou-se. "O medo de ela perder-se ou de você perdê-la?"

"Não sabe o que está dizendo. Não pode presumir que sabe como me sinto!"

"Talvez saiba por que lhe conheço como a nenhuma outra pessoa. E você sabia que não poderia manter isso de mim, porque não tenho dúvidas, teria me escondido à verdade como pretende esconder de Estel, se ela lhe pedisse."

"Não diga nada que vá se arrepender." Elrohir o advertiu, mas isso não intimidou Elladan, cujos lábios se crisparam.

"Você teria escondido a verdade de mim, para manter aquela adan em sua vida..." Ele sacudiu a cabeça. "Às vezes eu acho que você é humano demais Elrohir."

"E não me envergonho disso." Ele replicou com ardor. "E se Eru colocasse a minha frente, a escolha de nossa família..."

"Você considerou sua imortalidade por causa dela?" Elladan o interrompeu incrédulo. "Uma humana que o está manipulando para esconder a verdade sobre a filha de Estel?"

Vendo a profundidade do desgosto nos olhos escuros do irmão, Elrohir disse quietamente.

"Você não devia falar assim, não a desmereça dessa maneira..."

"Não devia? Acha que pode ir até lá e oferecer sua eternidade a essa adan que ama outro?" Elrohir empalideceu, mas Elladan estava decepcionado demais para se preocupar. "Você acha que esse amor vale qualquer sacrifício, mas dentro de seu egoísmo você pensou em mim?"

Ele tinha se aproximado, o rosto dos dois a meros centímetros um do outro.

"Você estaria disposto a fazer isso, mas não se esqueça de que a mulher para quem você deu seu coração murchará e morrerá ante seus olhos, e você só poderá assistir. E quando ela enfraquecer, você gastará o resto de sua vida só e perdido e ela será pouco mais que um sussurro no tempo."

Eles ficaram em silêncio e Elladan encarou a si mesmo na face absolutamente lívida de Elrohir. "Como podemos ser tão iguais e tão diferentes?" Pensou confuso. "E, no entanto, eu sempre pude ver o interior de sua alma. Nunca houve contendas entre nós, apenas os pequenos desentendimentos que irmãos têm quando estão crescendo. Eu teria feito e farei qualquer coisa para fazê-lo feliz, mas como chegarei a esse ponto? Vê-lo escolher uma vida humana e nos condenar a separação eterna?"

"Você pensa que importa a mim? Você pensa que eu deixarei de amá-la por isso?" Elrohir afirmou, abatido. "Mas você tem razão em dizer que ela não me ama... ela ama Estel e nunca vai deixar de amá-lo, portanto não haverá tal escolha para mim."

"Mas você voltou para ela..."

"Sim, eu voltei para ela... mas não esperei nada... ou eu não sei o que eu esperei." Ele sorriu tristemente e Elladan sacudiu a cabeça.

"Então você tem que saber a loucura que é manter-se perto dela como pretende."

"Não sei se posso manter-me longe..."

Os dedos fortes de Elladan apertaram seus ombros em condolência, esquecido de sua raiva.

"E agora há o bebê... estou assustado Elladan." Olhou ao irmão, buscando respostas, mesmo sabendo que Elladan não poderia dá-las. "Você acha que Estel poderá me perdoar um dia?" Perguntou com voz pequena e Elladan suspirou.

"Não sei como responder Elrohir... Mas se você insiste em sua decisão, precisa viver o melhor que possa com ela." Pausou. "Mas Elrohir, essa criança é herdeira da linhagem de nosso irmão e enquanto ele próprio não puder, devemos nos certificar de sua segurança."

"Ivy prometeu-me que não fugiria e eu acredito nela." Olhou Elladan nos olhos. "Você sabe que confio em seu julgamento."

Elladan segurou o olhar do irmão com firmeza.

"Essa situação me consterna, mas nunca trairia um juramento feito a você e lhe juro agora, será sua decisão contar a ele."

Elrohir suspirou aliviado, agora que tinha o juramento do irmão, embora se culpasse por obriga-lo a dividir com ele, o fardo de seu segredo.

"Você me falará sobre ela?" Elladan perguntou por fim, depois que aceitara ser enredado nestes acontecimentos que lhe causavam apreensão e culpa.

"Você deveria vê-la. Ivy a nomeou Esperança." Elrohir sorriu amplamente à lembrança da sobrinha, sentindo-se bem a primeira vez em dias incontáveis e Elladan se viu incapaz de não sorrir também. "Você se lembra de Estel, quando foi trazido a nós, com lady Gilraen?"

"Claro que me lembro. Ele era uma coisinha adorável não é?"

Elrohir concordou, ainda sorrindo.

"Ela é a própria imagem dele... quando a vir saberá o que digo."

"Ivy permitirá que eu a conheça?" Elladan quis saber, temeroso de que a mulher insana não permitisse que ele também se aproximasse da filha.

"Ela me garantiu que sim." Ele pausou. "Ivy é uma boa mulher Elladan e com o tempo, tenho certeza, pensará melhor nas decisões que está tomando agora."

Elladan não se sentia tão confiante em relação a isso, mas achou melhor não discutir. Não enquanto não pudesse falar pessoalmente com Ivy.

"E agora preciso encontrar Estel..." Elrohir disse, já dirigindo-se à porta. "Meu comportamento na floresta... descontar meus conflitos nele foi imperdoável e preciso aprender a olhá-lo novamente enquanto essa situação perdure..."

"E me promete que fará Ivy enxergar a razão?" Elladan pediu, ainda preocupado.

"Nunca deixarei de tentar..."

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Estel não o viu e Elrohir pausou na entrada do Salão do Fogo. Ficou em silêncio, vigiando por instantes o homem jovem sentado no banco, contra a janela. Os olhos do irmão pareciam perdidos na distância e sua face estava relaxada, as pregas pequenas que pareciam ter se fixado permanentemente em torno daqueles olhos sempre inquisitivos haviam enfraquecido, deixando apenas linhas lânguidas. Havia uma quietude profunda nele e Elrohir deixou seus olhos se demorarem naquela figura que o lembrava de tantas outras do passado e uma do presente. Sua pequena filha. Suspirou, fazendo com que ele o notasse por fim.

"Elrohir..." o irmão disse hesitante e Elrohir se odiou um pouco mais por isso. Nunca existira cautela entre eles.

"Estel..." ele respondeu, e cruzou a sala para onde o humano estava sentado. "Nós precisamos falar..."

Prontamente Estel se afastou um pouco para que Elrohir também se sentasse.

"Sim, eu pretendia procurá-lo..." O humano se adiantou, olhando a Elrohir timidamente. "Queria me desculpar..."

As palavras inesperadas surpreenderam Elrohir. Logo em seguida sentiu-se envergonhado.

"E porque você se desculparia?" Ele quis saber, tentando entender essa volta de eventos. Aragorn queria se desculpar e isso não era certo. Ele procurou palavras. "Você não deve se desculpar a mim..." Disse finalmente, deixando a sinceridade visível em seus olhos. "Nunca me deveu desculpas..."

"Mas eu estava bravo com você..." Ele respondeu. "Eu também estava bravo."

"A mim..." Elrohir disse, com a voz branda. "Estava zangado comigo..."

"Não. Bem, Sim. Eu estava, mas não deveria... você provavelmente não estava bem e eu não me preocupei em descobrir o motivo, só fiquei bravo..."

Elrohir tomou um fôlego fundo, forçando suas culpas a ficarem escondidas. Ele não perderia o domínio de suas decisões.

"Estel, será que não percebe? Eu o tratei com grosseria e insensibilidade. Nunca deveria descontar em você minhas frustrações, quaisquer que fossem, especialmente quando não tem culpa das decisões que tomo..."

"Elrohir, não te entendo..." Estel estava confuso. Elrohir não estava fazendo sentido. "Que decisões o atormentaram?"

"Isso é agora passado, mas eu não estava pensando com clareza na floresta e peço que me perdoe." Ele pediu, com pesar genuíno. "Devemos esquecer aquela briga tola, por favor?" Implorou por fim. "Não acontecerá novamente."

"Se você me pede, não me importo de deixar aquilo para trás." Mas ainda preocupado, perguntou seriamente. "Você me falaria se estivesse passando por qualquer dificuldade e necessitasse de minha ajuda?"

E o elfo de cabelos escuros suspirou. Estel estava dificultando essa conversa e pensou com pesar em como as coisas seriam mais fáceis se ele estivesse ressentido ou ainda zangado com ele.

"Como pode me perdoar tão rápido, quando não lhe dou qualquer real explicação?"

"Confio em você..." O humano afirmou resoluto. "E está começando a me preocupar de verdade!"

Elrohir apertou os ombros do irmão com firmeza.

"Prometo que só existe o desejo de me desculpar..." Ele o tranquilizou com um sorriso suave. "E agora que já resolvemos a questão, por que não vamos à cachoeira no lago norte? Podemos encontrar a patrulha de Varnion."

"Poderíamos convidar Arwen?" Estel perguntou, parecendo finalmente disposto a deixar o incidente para trás. "O lago norte é seu favorito!"

Elrohir bufou, mal disfarçando a divertimento.

"Ela vai nos atrasar!"

"Ela monta melhor que você." Estel a defendeu prontamente e Elrohir riu, esperando aquela reação.

"É claro que não monta e vai ficar admirando cada arbusto florido daqui até lá... e você lhe admirará enquanto faz isso."

Estel ruborizou-se e Elrohir desistiu de atormentá-lo, passando o braço afetuosamente em torno de seu ombro, enquanto iam em busca dos irmãos.

Logo estariam indo para longe novamente. Arwen retornaria para Lórien, Estel em busca de seu destino e ele e Elladan partiriam em suas patrulhas.

Sabia que a promessa feita a Ivy seria um grande fardo, mas enquanto isso manteria sua filha segura. Era o que devia a Estel e quando o tempo chegasse, aceitaria da forma que merecesse as consequências de sua promessa.

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Continua...