Título: Elladan - ano 2967
Personagens: Elladan, Elrohir, OCS originais.
Retratações: Os personagens não são meus, nenhum lucro é pretendido, só existe o desejo de contar uma história e exprimir meu amor pelos personagens do Professor Tolkien.
Sumário: Em que Elladan traça um plano e consegue a ajuda de uma pequena conspiradora.
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Elladan - ano 2967
Ivy vinha entrando na casa, carregando seu grande cesto de roupas. Esperança estava crescendo tão rápido, que por vezes tinha a impressão de que nada fazia além de reformar suas vestes. Não ajudava que ela ficasse subindo em árvores como uma elfinha, voltando com as saias sujas de musgo e cheias de rasgos.
Desequilibrando sob o peso de seu fardo, cambaleou um pouco, entretanto mãos firmes a estabilizaram. Ergueu o rosto num sorriso caloroso, então franziu o cenho. Elladan!
Evadindo a ajuda dele, entrou rapidamente, depositando a cesta na mesa. Ele a vinha desconcertando mais que o normal, sempre que o pegava lhe observando fixamente.
"Pensei que precisasse resolver incumbências em Lórien..." Disse com casualidade forçada, ficando de costas para evitar seu olhar agudo.
Ele deu um sorriso ardiloso e cruzou os braços, encostando-se a batente da janela.
"Lórien pode esperar, pois tenho incumbências mais importantes aqui..." Diante do silêncio dela, continuou. " Precisamos conversar..."
Os ombros dela se enrijeceram, depois se voltou novamente e, olhando-o direto nos olhos, tentou parecer firme.
"Nada temos a conversar, pelo menos não de minha parte!"
"Por Varda, você tem mesmo o dom de esgotar minha paciência!" Apertou a mandíbula. " Não quer me escutar porque odeia minha sinceridade, mesmo que eu tenha razão..."
"E o que teria você a me dizer que já não tenha deixado claro?" Exclamou ela. "Já sei tudo o que pensa de minhas decisões... dez anos foram suficientes para você fazer-se ouvir..." Ela disse isso com desdém, mas ele não se intimidou com a beligerância dela.
"Eu gostaria que fosse verdade, pois me escutar foi uma coisa que nunca consegui de você." Retrucou Elladan, sarcástico. " Mas está enganada se pensa que quero tratar do assunto de Esperança e seu pai..."
"Então do quê se trata?" Perguntou ela, com cautela dobrada.
"Quero lhe falar sobre Elrohir e os sentimentos que ele nutre por você."
Diante dessas palavras Ivy ficou quieta. Sentiu um nó na garganta e o coração começou a bater com força. Umedeceu os lábios subitamente ressecados.
"E o que teria para me dizer sobre isso? Minha amizade e a de Elrohir..."
"Sabe do que estou falando!" Ele a interrompeu irritado. "Dez anos Ivy! Dez anos em que assisto calado você e meu irmão desempenharem o papel de amigos felizes, enquanto Elrohir sofre em silêncio. Pode me julgar quando resolvo intervir em tal situação?"
"Não tem o direito de se envolver em minha vida!" Ela afirmou indignada. "Você não conhece meus sentimentos!"
Ele estalou os lábios, inconformado.
"Até quando Ivy? Será que não percebe?" Ele parecia perplexo. "Elrohir poderia esperar até que as estrelas se apaguem do céu, mas e você? Vai esperar até que o tempo roube a decisão que lhe cabe?"
"Como ousa julgar o que faço de minha vida? Não lhe devo explicações sobre qualquer ato meu!" Ela não se conformava com a audácia dele em questioná-la sobre isso, mas ele não se intimidou.
"Não me deve explicações, mas me recuso a continuar assistindo quieto essa farsa que teima em desempenhar, seja lá por qual motivo, principalmente quando seus próprios sentimentos a traem." Ele abrandou o tom. "Deixe de se refugiar atrás de seus temores e aceite o amor que ele lhe oferece..."
"Você me odeia!" Ela afirmou, ainda aturdida e zangada com as coisas que ele lhe dizia. "Nunca tentou esconder a desaprovação em tudo que se refere a mim!"
Ele suspirou.
"Não a odeio... Você salvou a vida de meu irmão e tem a filha de Estel, mas já que não pretende aceitar Elrohir, tenha por favor o bom senso de mandá-lo embora, para que também não se acostume a viver de sonhos e se conformar com eles."
"Eu sei porque deseja isso." Resolveu demolir a confiança arrogante dele. "Conheço muito bem sua história e sei que Elrohir poderia escolher minha raça..."
"Não aumente sua importância adan." Ele advertiu com olhos subitamente escuros. "Nunca haverá tal escolha para Elrohir."
Sua voz era fria, mas Ivy enfrentou seu olhar escurecido com determinação, mal notando a chegada intempestiva da filha, que vinha aos risos com Elrohir. A criança não percebeu, mas o elfo notou imediatamente a tensão no ar.
Finalmente desviando seu olhar do dela, Elladan virou aos recém-chegados e sorriu a eles, ostentando uma calma que abalou os nervos já em frangalhos de Ivy.
"Onde vocês estiveram?"
"Nós fomos até colina e Tio Elrohir deixou-me conduzir Roan. Ele disse que sou a melhor amazona que existe!" Ela entrou nos braços abertos dele, contando entusiasmada sobre seu passeio.
Ivy observou os dois. Esperança tinha quase doze anos e não lembrava em nada a mãe. Possuía cabelos castanhos e podia-se ver que seria alta, bem mais alta que ela e já era bela... Agora nenhum dos elfos a pegava no colo e a jogava para o alto como costumavam fazer antigamente. Desde que a menina anunciara que era uma moça e eles haviam concordado entre risos. Logo seria uma mulher formosa e Elrohir nunca envelheceria, enquanto ela... logo estaria velha e desesperançada.
Os olhos de Ivy encheram-se de lágrimas e sua raiva de Elladan aumentou, por transformar em pó, todas as suas certezas. Virou-se para a filha, sem conter sua irritação.
"Esperança, pare de importunar seus tios. Você tem seus deveres! Se terminou de cavalgar, deve alimentar os animais!"
Espantado com a rispidez dela, Elrohir olhou ao irmão, mas Elladan permanecia com os olhos na sobrinha e Ivy voltara a se ocupar das roupas, impedindo com que lhe visse o rosto.
"Sua mãe tem razão pequenina. Nunca devemos nos esquecer de nossas obrigações." Elrohir consolou a menina com um sorriso suave, enquanto Ivy continuava a ignorá-lo.
"Eu não posso viver sem ele!" Pensou ela desesperada. "Eu sei que devo mandá-lo embora, como Elladan deseja, mas eu não posso. Nunca quis amar de novo. Por que não fugi quando era forte o bastante para suportar a ausência dele?"
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"Elladan, pare com isso!" Elrohir exigiu, assim que estavam sós. "Deixe Ivy em paz!"
"E porque eu deveria?" Elladan perguntou, observando impassível a maneira irritada com que Elrohir corria os dedos pelos cabelos. "Nós estávamos tendo uma conversa bastante produtiva..."
"Não se faça de tolo comigo! Sabe bem o que quero dizer! Ivy não deve nada a mim, não exija nada dela!"
Foi à vez de Elladan irritar-se, jogando as mãos para cima em frustração.
"Não é culpa minha se vocês não tem coragem de enfrentar seus sentimentos!" Ele caminhou pela ravina, procurando conter a própria irritação. "Ivy evita a verdade, enquanto você sofre em silêncio, então não pode exigir indiferença de mim!"
"Ivy ama Estel e eu não pretendo impor meus sentimentos a ela!" Elrohir afirmou, com um tom de mágoa na voz. "Porque insiste nesse assunto?"
Os ombros do gêmeo mais velho baixaram.
"Elrohir... será que não percebe?" Ele sacudiu a cabeça. "Eu posso ver a forma como ela o olha..." Ele pausou, procurando por palavras. "Eu posso ver nos olhos dela... posso ver na forma como se comporta quando vocês estão juntos... ela pode achar que não, mas em seu coração já desistiu do amor por Estel..."
Elrohir piscou no que definitivamente era exasperação. "E será você agora, um sábio em relação ao amor?"
Elladan ignorou o sarcasmo.
"Melhor que você, se posso enxergar os sentimentos de sua adan e você não!"
Decidindo que estava cansado de discutir, Elrohir virou-se.
"Basta dessa conversa insensata!" Ele tentou passar pelo irmão, mas seu braço foi agarrado com firmeza.
"Elrohir, por favor, me ouça..." Elladan insistiu. "Diga a ela... diga a ela como se sente de verdade e que não podem continuar fingindo ser apenas bons amigos!"
"Você pode conhecer meus sentimentos, mas não pode me afirmar que conhece o que se passa no coração de Ivy. Ela é grata a mim por respeitar seus desejos e nada mais, não vou me iludir procurando sentimentos onde não existem e você não vai mais admoestá-la, prometa-me!"
Ele encarou o irmão, até que Elladan cedeu.
"Vou respeitar seus desejos, mas enquanto sua adan tomar decisões que afetem você ou Estel, não vai me impedir de deixar claro o que penso ou de tentar colocar bom senso na cabeça de vocês!"
Dizendo aquilo, caminhou em direção aos cavalos, impedindo Elrohir de contestar.
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O sol estava longe de raiar quando o elfo saiu do estábulo, puxando seu cavalo para frente da casa. Ivy abandonara sua pequena e acanhada cabana havia muito tempo, por insistência de Elrohir, e ela e a filha moravam agora em uma maior e mais confortável.
Aquele final de madrugada estava frio, então ele retirou sua capa e embrulhou a menininha que tremia ligeiramente, cobrindo-lhe a cabecinha com o capuz.
"Eu não posso mesmo me despedir de mamãe e tio Elrohir?"
"Não pode." Ele explicou pacientemente. "Eles estão dormindo e não vamos querer acordá-los não é mesmo?" "Para não falar, no problema que foi esgueirar-me do quarto sem Elrohir perceber," ele pensou sorrindo, enquanto a colocava por sobre o cavalo. "E Ivy finalmente encontraria uma boa desculpa para me matar, por esgueirar-me furtivamente com sua filha..."
"Mas... eles não vão ficar preocupados?" A menina o tirou de seus pensamentos e ele sorriu ao constatar mais uma vez, como ela se assemelhava ao pai naquela idade, sempre inquisitivo.
"Não se preocupe amor, eu lhes deixei um bilhete avisando que íamos fazer um pequeno passeio e que eu ia tomar conta de você." Ele a assegurou.
Satisfeita no momento com as respostas, Esperança se recostou no tio, que havia montado e começado a guiar o cavalo silenciosamente.
Estava profundamente excitada com o passeio, desde que o tio lhe falara sobre ele na noite anterior, lhe dizendo ser um segredo só deles.
Ela era completamente apaixonada por aqueles tios singulares, que a mimavam além da conta. Era a única na cidade que possuía elfos na família, o que lhe conferia grande importância perante as outras crianças.
"Aonde nós vamos tio Elladan?" Ela se aconchegou nos braços dele, sonolenta, enquanto observava as ruas escuras passarem por eles sob o vigoroso trote de Brethil.
"Nós dois pequenina, vamos visitar um rei!"
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Quando Elrohir mostrou o bilhete a ela, Ivy, que até então estivera louca de preocupação, ficou furiosa. Como aquele elfo arrogante tinha a ousadia de levar sua filha sem sua permissão? Então ficou preocupada novamente. E se Elladan pretendia cavalgar para Imladris, no intuito de que Esperança fosse criada lá, como o próprio Estel o fora? Respirou fundo, procurando controlar o pânico ao notar a expressão culpada de Elrohir.
"Sinto muito Ivy. Não entendo porque Elladan fez isso, ou como pôde partir sem que eu percebesse, mas tenho certeza que tomará conta dela. Ele está dizendo que é só um passeio. Eu posso lhe garantir que não foram para longe, pois ele não arriscaria a segurança dela viajando sozinho..."
Como sempre o elfo compreendia muito bem seus temores. Ivy se forçou a acalmar-se e impedir-se de exigir que Elrohir saísse em perseguição a eles. Afinal seu amigo não era culpado de possuir tal irmão. "Gêmeos, realmente!" Assim que voltassem, pretendia confrontar Elladan, por ele roubar sua paz e em seguida sua filha.
"Ele devia pedir minha permissão..."
"Eu vou ter uma conversa séria com ele quando voltarem, prometo." "Isso depois de matá-lo lentamente e com bastante crueldade," pensou Elrohir, com uma pontada de satisfação à ideia. Elladan nunca mais conseguira ludibriá-lo assim, esgueirando-se sem que percebesse, pelo menos não desde que eram elfinhos. "Vamos aguardar o retorno deles e tenho certeza que haverá uma explicação bastante razoável para essa atitude desarrazoada." Sabia muito bem quais eram a pretensões de Elladan, forçando com que ficasse sozinho com Ivy.
O sorriso tranquilizador congelou no rosto dele e os dois se olharam em silêncio. Havia batido em ambos, ao mesmo tempo, que estariam sozinhos pelo que poderiam ser dias. Ivy forçou um sorriso casual.
"Já que estamos de pé e não podemos fazer nada por agora, devíamos tomar nosso desjejum não acha?" Ela irradiava uma tranquilidade que estava longe de sentir.
Elrohir concordou e sentou-se rapidamente. Do outro lado da mesa.
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Eles já estavam cavalgando há muito tempo. Haviam parado para um lanche e para que Esperança descansasse, aproveitando a sombra das grandes faias do outro lado do rio, mas reiniciaram o percurso logo depois. Elladan queria chegar a seu destino antes que a noite estivesse alta.
Esperança dormia, aconchegada contra ele, então não notou quando finalmente entraram na floresta, assim que a tarde começou a morrer. Mas o tio a acordou para que apreciasse a bela visão das arvores nodosas e veneráveis, que no início da trilha formavam uma gigantesca abóbada verde.
Estava distraído, lhe contando a mesma história que ouvira quando criança, sobre pastores de árvores que podiam andar, quando escutou o som que estivera aguardando já há algum tempo.
"Quem é você que invade os domínios do rei Thranduil e que motivos o trazem aqui?" Uma companhia de arqueiros formidáveis havia surgido de repente, do meio das árvores e Elladan abraçou a menina para que não se assustasse.
"Mae Govannen Thranduilion. Espero não ter que me apresentar." Usou de sarcasmo, ignorando o sorrisinho irreverente do amigo.
"Vejo que tem companhia." Legolas se aproximou para olhar a menina com curiosidade.
Elladan sorriu.
"Esta é Esperança, filha de Ivy, a benfeitora de Elrohir... você conhece a história." Deu um leve cutucão na menina, que olhava para Legolas de olhos arregalados.
Ela se recompôs rapidamente e fez um arco cortês, como lhe havia ensinado o tio, ou tentou fazê-lo como melhor pôde de cima do cavalo.
"Inyë tyë-suilantëa, mestre elfo." Ela saudou em élfico, como havia aprendido, depois completou, sem conter-se. "Meu tio não me disse que elfos da floresta eram bonitos como você."
O tio em questão rodou os olhos, ignorando o riso divertido do outro elfo.
"Estamos cavalgando já há algum tempo, vindos de Valle e pretendíamos fazer uma visita surpresa." Elladan disse, correndo os dedos com carinho pela cabecinha dela. "Espero que não se importe."
"É claro que não importo. Foi há muito tempo que qualquer um de vocês, trouxe algum humanozinho para Mirkwood."
Elladan olhou para Legolas, mas não parecia haver qualquer surpresa no rosto dele, que tinha a atenção voltada para Esperança, que ainda estava deslumbrada. Sabia que fora arriscado trazê-la aqui, mas pelo que sabia, fazia um bom tempo que Estel não passava por aquelas bandas.
"Esperança, este é Legolas Greanleaf, filho do rei Thranduil."
A menininha ofegou, olhando o elfo dourado, de pé, ao lado do cavalo, com renovada admiração.
"Você é mesmo um príncipe? Um príncipe de verdade, como nas histórias de príncipes?" Ela estava balbuciando de excitação e Legolas riu.
"Depende das histórias, principalmente se foi Elladan quem as contou." Legolas ainda ria. "Mas eu sou. E você é bem vinda a Mirkwood e ao reino de meu pai, Esperança. Você gostaria de descer do cavalo e caminhar comigo?"
"Eu gostaria muito!" Respondeu depressa, olhando ao tio para ganhar permissão.
"Acho que todos podemos fazer isso." Disse ele, descendo e trazendo a menina consigo.
"Elrohir..." Legolas começou, passando a caminhar ao lado dos dois.
"Ele não veio..." Elladan interrompeu. "Esperança vai ficar comigo, enquanto ele e a mãe dela tratam de questões inadiáveis." "E que se acertem de vez!" Ele rogou em seu íntimo.
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Ivy deixou a concha em sua mão cair novamente. "Tola!" Se repreendeu, abaixando-se para pegar a colher sem haver percebido que Elrohir fazia o mesmo. Foram surpreendidos pelo gesto mútuo e levantaram-se rápido demais, batendo a cabeça um no outro.
"Ivy! Perdoe-me!" Ele disse esticando o braço para ajudá-la.
Eles se olharam por alguns minutos e depois riram encabulados.
"Acho que é melhor ir olhar como Roan está." Ele disse, sem saber o que fazer com as próprias mãos.
"Você já foi fazer isso três vezes, desde que anoiteceu." Ela falou, sorrindo da falta de jeito dele.
"Oh! É mesmo? Havia me esquecido..." Desde a partida de Elladan e Esperança, havia procurado uma infinidade de afazeres para manter-se ocupado e, admitia envergonhado, longe de Ivy. O pelo de Roan provavelmente cairia se o escovasse novamente.
Eles riram nervosamente, mas logo entraram num silêncio incômodo. Então Elrohir sorriu novamente, tentando esconder o desajeitamento.
"Além do mais a refeição está pronta." Ela continuou tentando aparentar tranquilidade, mas quando ele sentou-se de novo, sorrindo de um jeito que a fazia ficar atrapalhada, virou-se rapidamente para fugir da visão.
"Não é a primeira vez que ficamos sozinhos, por que então estou agindo com tamanha tolice?" Pensou irritada, enquanto colocava a comida na mesa.
Sentou-se também e começaram a comer em silêncio, até que ele suspirou.
"Tudo fica muito quieto sem aqueles dois..."
"Nunca pensei que ocupassem tanto espaço." Sorriu, depois voltou a ficar séria. "Já fazem quatro dias! Eu matarei Elladan por me preocupar assim..."
"Não antes de mim." Ele balançou a cabeça, inconformado com o comportamento do irmão, enquanto levava a taça de vinho aos lábios.
Ivy observou fascinada quando ele passou a língua pelos lábios ligeiramente manchados pela bebida doce. Ele ficava lindo demais quando fazia isso. Tão sensual...
"Ivy?"
Ela ruborizou quando percebeu que havia parado com a colher no ar, olhando para os lábios dele fixamente. As palavras de Elladan a haviam afetado mais do que imaginara.
Então se levantou bruscamente, tencionando fugir para ordenar os pensamentos, mas Elrohir foi mais rápido, ficando de pé para segurar seu braço. Tentou soltar-se, mas o movimento brusco fez com que batesse no tórax dele.
"Ivy, não fuja de mim." Ele implorou com voz macia e ela ficou com medo da fraqueza que sentiu nas pernas.
"Elrohir não diga..."
"Eu amo você." Sussurrou roucamente. "Eu sei que não deveria lhe dizer isso, mas não posso mais evitar..." Ele ergueu o queixo dela, até seus olhos se encontrarem. "Eu a amo e não consigo mais viver sem lhe dizer isso... perdoe-me."
Ela manteve-se hipnotizada por aqueles olhos intensos, sentindo o calor que radiava do corpo dele, tão próximo ao seu.
"Perdoe-me..." Elrohir repetiu.
"Você já disse isso..." Ela tocou os lábios dele com dedos suaves para impedi-lo de continuar e ele se inclinou e lentamente começou a beijá-la, como havia desejado por um tempo longo, muito longo. Antes mesmo que soubesse o quanto ansiava por aqueles lábios macios.
Depois de alguns momentos, Ivy libertou-se para retribuir os beijos, e enquanto o beijava, desfez os laços da calça dele com dedos ansiosos, as mãos entrando debaixo da túnica, acariciando seu tórax, enquanto ele a empurrava com seus beijos em direção ao quarto.
Logo bateram na beirada de madeira da cama, perdendo o equilíbrio e desmoronando no colchão macio.
"Eu sou louco por você Ivy." Disse ele, entre sussurros ofegantes. "Estou enlouquecendo..."
"Eu também desejo você Elrohir."
Ele a beijou novamente, as mãos deslizando em cima das curvas dela.
"Mas você não tem..."
"Mas eu quero." Ela afirmou, ofegante. "E eu lhe tenho desejado há muito tempo..."
Ele apertou-a novamente nos braços, respirando profundamente.
"Mas eu não posso substituí-lo. Não posso ser..."
Ela colou os lábios nos dele para silenciá-lo.
"Não precisa dizer nada... só me beije!"
E ele o fez. Gemendo alto, puxou-a ferozmente contra si e reivindicou a boca dela em um beijo possessivo. Ivy não conseguia respirar, só sentia o corpo rígido contra o seu. E o toque quente. Os dedos longos de Elrohir enroscaram-se com ferocidade em seus cabelos, num aperto inclemente.
Então, rendendo-se às forças que o atormentavam, sua boca pousou sobre os lábios dela, numa exigência arrebatadora que para ele teve o sabor de desesperada conquista. Sentia como se uma febre ardesse seu sangue, uma febre contra a qual não conseguia lutar.
Ergueu a cabeça para olhar para Ivy, para deliciar-se com o rosto corado do prazer de seus beijos. Os lábios estavam úmidos e entreabertos e a expressão falava de um desejo que fez sua pulsação se acelerar com a necessidade de dar-lhe a satisfação que pedia.
Impaciente de excitação, ela devolveu beijo por beijo, lambiscando a pele aveludada das orelhas pontudas dele e mordendo seus lábios, quando eles roçaram por sobre os dela.
Ela sentiu a força pulsante de seu desejo e ele deixou-se prender na volúpia dela, fundindo-se um no outro para trilharam juntos os caminhos da paixão, até alcançarem o êxtase.
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Elladan se ajeitou nas almofadas do banco, retomando sua vigilância da janela para observar a floresta escura. Não se orgulhava de agir como um ladrão que fugia no meio da noite, mas não lhe haviam dado escolha. A situação já se perdurara por tempo demais, enquanto Elrohir e a adan mantinham-se atados a laços de lealdade e orgulho inúteis.
"Tolos"
Bocejou, empurrando o cabelo dos olhos e pensou em ir para a cama, mas pouco disposto a abandonar a janela e as estrelas começou a cochilar suavemente, até que sua sonolência agradável foi interrompida pelo sussurrar de pequenos pés contra o chão, seguidos por um chamejar de cabelos castanhos. Sorriu intimamente.
"Uma raposinha noturna!"
Fingiu que dormia profundamente e se manteve quieto, enquanto os olhinhos cinzentos o examinavam.
Ela pairou indecisa no meio do quarto, mas veio caminhando silenciosamente para perto dele. Chegou o rosto bem próximo e antes que pudesse dizer qualquer coisa, Elladan levantou-se rápido como um raio, enlaçando-a pela cintura e fazendo com que caísse por cima dele nas almofadas, enquanto fazia-lhe cócegas nas costelas.
Ela deu um gritinho assustado, depois começou a dar risadinhas, tentando bater nele para afastá-lo.
"Tio Elladan! Bobo! Isso não foi justo! Você estava acordado o tempo todo!"
"Eu estava mesmo. E você também. Pode me dizer o motivo?"
Ela remexeu-se nos braços dele, enlaçando os dedinhos nos laços de sua túnica de dormir, parecendo indecisa.
"Não consegui pegar no sono... Este castelo e todos esses elfos incríveis... e a princesa Arien... ela é tão linda!" Ela arregalou os olhos e Elladan sorriu.
"E ainda assim, apesar de tantas novidades e de todo cansaço, não conseguiu dormir?" Ele perguntou sério.
Ela sacudiu a cabeça.
"É que... gostaria que mamãe e tio Elrohir estivessem aqui." Ela mordeu os lábios e ele suspirou, beijando a cabecinha de cachos macios.
"Você sabe por que não podíamos trazê-los... você também quer que eles sejam felizes juntos, não é mesmo? Nós tínhamos que dar a eles tempo para se entenderem, como combinamos ontem..."
"Eu sei, mas é que sinto saudades deles..."
"E também estava assustada de ficar sozinha..." Ele concluiu com um sorriso e o rostinho dela corou.
"Não estava! Pelo menos não até que ficou tudo tão silencioso."
Ele fez menção em erguer-se.
"Se quiser pode dormir aqui. Quer que eu te leve até a cama?"
Ela olhou para ele com toda dignidade que foi capaz de reunir.
"Claro que não! Não sou uma criança." Fez beicinho, levantou-se e correu para a cama, onde se meteu debaixo das cobertas.
Ele foi atrás rindo e começou a ajeitar os travesseiros, enquanto ela o observava com seriedade.
"Tio Elladan, posso lhe fazer uma pergunta?"
"Claro que pode." Ele respondeu, distraído. "Mas vai dormir logo após ou sua mãe tirará minha pele se souber que esteve acordada até tão tarde..."
"Tio Elrohir... ele é meu pai?" Ela perguntou aquilo baixinho e Elladan ficou tão desconcertado que levou alguns segundos para perceber que estava com a boca aberta.
"Esperança..." Procurou se recompor. "Como... de onde tirou tal ideia?"
"Eu nunca conheci meu pai, então eu pensei... já que mamãe e tio Elrohir gostam um do outro... talvez..."
Ela abaixou a cabeça e mordeu os lábios e ele sentou-se ao lado dela, tentando encontrar uma maneira de responder de forma que não a magoasse. "Maldita promessa estúpida!"
"Não pequenina. Elrohir não é seu pai." Teve pena da decepção no rostinho dela. "Mas lhe ama tanto como se você fosse sua filhinha..."
Ainda parecendo desapontada, ela começou a puxar os fios da manta.
"Se ele fosse meu pai, eu teria orelhas pontudas como vocês?"
"Certamente que sim. Você gostaria?" Ele perguntou, com um sorriso triste.
"Muito. Elfos são bonitos. E também gostaria de viver para sempre!"
"Não é necessário que você seja uma elfa para ser muito especial e já é tão linda quanto lady Arien." Ele lhe garantiu, desmanchando as tranças dela entre os dedos.
"Eu sei... tio Elrohir me diz que fazer parte da raça dos homens é uma dádiva muito especial..." Ela disse aquilo sem muita convicção e Elladan riu, procurando animá-la.
"Exatamente! Elrohir tem toda razão e humanos de sua linhagem são muito especiais, você, seu pai..."
"Por que ele nunca veio me ver?" Ela pareceu preocupada. "Eu não sou igual a ele? Por isso meu pai não me quer?"
"Você é exatamente igual a ele." Ele respondeu gravemente. "E se pudesse, seu pai estaria aqui com você, e a amaria como você merece!" Ele tocou o queixo dela com dedos suaves e ergueu seu rosto para que olhasse em seus olhos. "Você sabe que eu nunca lhe mentiria, não é?"
Ela concordou e Elladan a puxou contra si, acariciando seus cabelos.
"Eu não posso lhe dizer mais do que isso, mas tenho certeza que se perguntar para sua mãe, ela lhe contará tudo, inclusive os motivos de seu pai não a conhecer. Já é tempo que você aprenda sobre sua herança..."
Ela balançou a cabeça contra ele, não dizendo uma palavra e Elladan suspirou, sentindo-se cansado.
"Agora precisamos dormir, porque é muito tarde e amanhã temos várias atividades planejadas. Mas eu posso lhe contar uma história. Ou é velha demais para isso?" Ele sorriu quando ela enlaçou o pescoço dele.
"Por favor tio, por favor!"
Rindo, Elladan a baixou na cama, ajeitando novamente as mantas sobre ela.
"Então vou lhe contar a história de alguém muito extraordinário. Um menino. Tão humano quanto você."
"Muito valente?"
"Muito valente! Ele nunca temeu feras ou perigo, e quando era pouco maior que você, ele e seu cavalo negro enfrentaram aqui, na Floresta das Trevas, uma grande aranha de fogo..."
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Os primeiros raios da alvorada coloriram o céu em tons rosados, quando ele se desvencilhou cuidadosamente de Ivy. Esgueirando-se para fora das cobertas, foi até a janela, aspirando profundamente o ar frio que lhe arrepiava a pele.
Ela abriu os olhos devagar, notando a presença dele junto à janela, concentrado na paisagem. Ergueu-se num cotovelo e observou seu corpo excitante. Havia tentado desesperadamente resistir ao desejo, mas perdera a batalha. Suspirou, fazendo com que ele percebesse que estava acordada.
"Ivy?" A voz baixa e rouca interrompeu seu devaneio. Havia nela também um tom de hesitação.
"Estou bem... mas está frio aqui, sem você..." Sentia-se sedutora e bonita, contemplada pelos olhos ardentes dele.
Aproximando-se com um sorriso, ele deitou-se na cama e tomou-a nos braços novamente. Sentia uma necessidade imensa de protegê-la, de abrigá-la contra o mundo que a assustava, mas agora queria apenas saborear o momento de paz que partilhavam.
"Não vou sair daqui... se não quiser..." Ele acariciou suas costas, correndo os dedos para cima e para baixo de suas costelas, sorrindo cada vez que ela se contorcia, quando roçava um ponto sensível, depois com o rosto repentinamente sério, falou novamente. "Eu te amo."
Ivy suspirou profundamente.
"Você está enganado..."
"É verdade, Ivy, sei exatamente o que estou dizendo."
"Está confundindo paixão com amor." Ela tentou ainda uma vez, mas os olhos dele brilharam com determinação.
"É amor." Afirmou, enfrentando seu olhar. "E não pode fingir que já não o sabia..."
"Elrohir..." Mordeu os lábios num gesto inconsciente de nervosismo. "Como posso eu, encantar alguém como você?" Tragou saliva para que as palavras pudessem passar através do nó que tinha na garganta. "Você é o príncipe de uma casa poderosa e eu uma humana rústica..."
Elrohir a apertou em seus braços.
"Já não lhe dei provas o suficiente através dos anos, de que isso não me importa?" Sorriu a ela. "Além do mais, até Elladan vive me dizendo que sou mais humano do que elfo."
Ela o abraçou. "Você é muito diferente de Elladan, o que é muito bom."
"Vocês estão sempre implicando um com o outro." Ele sacudiu a cabeça. "Não deviam. Se não fosse por ele, por quanto tempo mais ficaríamos nos enganando?"
"Ele não gosta de mim." Ela informou, correndo o dedo pelo tórax dele. "Sempre deixou claro..."
Elrohir inquietou-se.
"Por que pensaria assim?"
"Sempre me olha com aqueles olhos agudos. Censurando-me..."
"Ele nem sempre é assim, sabe disso... era suave e gentil quando a conhecemos..."
"Mas não é suave e gentil quando o assunto é você." Nisso ela tinha razão, tanto que não a contestou.
"Nós somos mais parecidos do que apenas fisicamente. Tanto que você ainda nos confunde às vezes."
"Não mais." Ela garantiu, olhando para ele sedutora. "Eu espero que não. A não ser que tenha que ter certeza..."
Ele virou-se rapidamente, prendendo-a debaixo de si.
"Temerária! Você pertence apenas a mim."
Ela começou a rir, debaixo dos beijos punitivos dele.
"Elrohir, eu só pensei que se ele estivesse aqui nós poderíamos..."
Ele cobriu a boca dela, deixando-a sem fôlego com seus beijos.
"Nunca mais... ouse... olhar... para ninguém... além de mim."
As mãos dele tinham deslizado para as costas dela, para acariciar sua pele, descendo por sua espinha e subindo novamente, exatamente do jeito que a enlouquecia, enquanto beijava seus seios.
"Oh Elrohir..."
E eles se amaram novamente.
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Elladan parou Brethil em frente a casa, um pouco confundido pelo silêncio e tranquilidade aparentes. "Uma semana e nenhuma explosão de ira ou risos de agradecimento! De qualquer forma é melhor manter-me longe de Ivy até que eu saiba com certeza."
Desceu sua pequena companheira de conspiração do cavalo, quando ela escapuliu de suas mãos, correndo e empurrando todas as portas pela frente, gritando pela mãe e por Elrohir.
"E eu tentando ser sutil." Pensou ele com um suspiro resignado, seguindo a sobrinha. Já dentro da casa, olhou para seus ocupantes em expectativa.
Ivy estava de pé, perto da mesa, com as mãos cobertas da massa de torta que estava fazendo e Elrohir estava sentado, com Esperança empoleirada nos braços. Não viu qualquer diferença neles, pareciam normais, sem qualquer arroubo apaixonado. Exatamente como os deixara.
"Elladan, posso saber por onde vocês estiveram?" Ivy tentou colocar as mãos longe de Esperança, quando recebeu seu abraço. "Quase me enlouqueceram de preocupação!" Ela também não parecia furiosa, nem mesmo prestes a matá-lo e isso o confundiu ainda mais, entretanto Esperança havia começado a tagarelar.
"Mamãe, foi tudo tão magnífico! Nós fomos até a floresta, visitar o rei e havia o príncipe louro e a princesa e todos estavam cantando e festejando no banquete, pois tio Elladan me disse que estavam comemorando o solstício..."
Diante de tamanho entusiasmo, Ivy começou a rir, tentando prestar atenção a tudo que a filha contava e Elrohir, também sorrindo, desviou os olhos da sobrinha por um momento, olhando para seu gêmeo com as sobrancelhas arqueadas.
"Esperança poderá lhes contar..." Dirigiu-se para o quarto, sentindo-se decepcionado por ver seus esforços frustrados. "Estou um pouco cansado."
Estava abrindo a porta, quando a voz de Ivy o interrompeu.
"Elly?"
O apelido era tão inesperado, que ele girou ao redor em surpresa. Ela estava tremendo a cabeça, parecendo irritada.
"Nunca mais seja furtivo assim, levando minha filha sem que eu permita..." A face dela estava séria e Elladan admitia que havia tomado uma atitude precipitada, achando que seu plano infantil funcionaria. Sabia que não tinha o direito de levar Esperança sem a permissão de Ivy. Começou se desculpar.
"Eu sinto muito..."
"Mas nós o escutamos quando você fala conosco... ocasionalmente." Ela cruzou os braços. "Até mesmo eu escuto ocasionalmente quando você fala comigo."
Ele olhou para ela em confusão. Desconcertado com o sorriso que agora enfeitava sua face, virou-se para Elrohir, percebendo que ele o observava com aquela expressão familiar de indulgência e afeto. Respirou fundo, visivelmente hesitante.
"Então... quer dizer..." Ele corou, antes de pigarrear. "Assim... nós estamos bem?"
"Nós estamos bem." Ivy lhe garantiu, olhando a Elrohir com olhos apaixonados. Eles pareciam felizes e em paz.
Elladan finalmente permitiu-se sorrir. Era o bastante.
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Continua...
Notas:
Inyë tyë-suilantëa: Eu o saúdo!
