Título: Aragorn - ano 2980
Personagens: Aragorn, Arwen, Elladan, Elrohir, OCS originais.
Retratações: Os personagens não são meus, nenhum lucro é pretendido, só existe o desejo de contar uma história e exprimir meu amor pelos personagens do Professor Tolkien.
Sumário: Novas promessas são feitas e o futuro se apresenta.
XXXXXXXXXXXXX
Aragorn - ano 2980
Naquele ano Aragorn retornou. Ficou vinte anos fora e desejou voltar para casa, curar-se do cansaço e da saudade e reencontrar Arwen.
Sonhou com ela por tempos incontáveis. Quase pudera sentir a textura suave dos cabelos negros entre seus dedos, em noites desesperadas, quando era dominado pelas incertezas daquelas terras estranhas.
Em seu caminho para Imladris, entrou em Lórien e depois de saudar o Senhor e a Senhora, foi informado que Arwen encontrava-se na Floresta Dourada e com o coração estrondeando no peito foi a seu encontro.
Ao se reencontrarem, Arwen desejou ser tão poderosa quanto sua avó, para tecer um encanto que o manteria para sempre em seus braços.
Por isso, quando ele segurou suas mãos e a conduziu ao Cerin Amroth, soube que seria o momento de tornar conhecida sua decisão.
Ele entregou-lhe o anel de Barahir, símbolo de seu nome e sua casa, e indagou com toda a formalidade que o momento pedia, se ela queria tornar-se sua noiva.
"Eu tenho esperado há muito por esse momento..." Ela disse com a voz embargada pela emoção. "Eu desejo pertencer a você Estel..."
Os lábios dele encontraram-se com os dela e ela o enlaçou pelo pescoço. Sua respiração estava acelerada e suas mãos acariciaram o rosto e cabelo dele e depois vaguearam por seu tórax, tremendo de antecipação.
"Arwen, não!" Ele segurou suas mãos, retomando seu escasso controle.
"Por que não Estel?" Ela estava confusa. "Não deseja meu toque e meus carinhos?"
"Claro que desejo, como pode sequer pensar que não? A única coisa com que sempre sonho são suas carícias e seus beijos..."
"Então anseia por mim tanto quanto desejo você?"
"Estrela minha..." Ele sacudiu a cabeça, segurando com força suas mãos. "Por favor..."
"Então porque me repele? Eu te ofereço tudo que tenho... Você é tão precioso para mim e eu quero mostrar isso para você. Deixe-me amá-lo de verdade Estel."
"Eu desejo aceitar amada e eu quero..."
"Sempre existe um mas, não é?" Ela concluiu amarga. "Não está tão seguro assim de seus desejos por mim?" Soltou-se das mãos dele. "Tenho certeza que reservou mais calor para as mulheres com quem esteve por todos estes anos do que para mim."
Estel estava consternado.
"Arwen..."
"Não tente negar Estel. Não me trate com tamanha condescendência, eu lhe imploro. Sempre procurei te desculpar em face de nossa situação e das imposições de meu pai, mas como posso não sofrer quando sei que reserva mais paixão para outras que para mim?"
"Não tento esconder minhas culpas..." Ele admitiu pesaroso. "Mas você precisa saber que é a razão maior da busca por minha herança."
"Então me amaria de verdade?"
Ele hesitou novamente e a expressão dela tornou-se ferida.
"Ou o temor de desagradar nosso pai é maior que seu amor por mim?" Afastou-se dele, dando-lhe as costas. "Não lamentarei. Não desejo lutar contra sua vontade."
Ele segurou-lhe o braço.
"Arwen, você sabe da promessa que fiz a nosso pai. Não podemos nos amar antes que eu cumpra meu destino."
"Eu sei de todas as suas razões Estel. Só não me peça para aceitar." Arwen afirmou, os olhos marejados de lágrimas.
Então partiu, deixando-o com um nó na garganta.
Naquele momento, Aragorn sentia como se agora eles estivessem separados por mais do que vários anos de ausência e não estava seguro de que seriam capazes de transpor o enorme abismo que ele havia criado.
Houvera mulheres sim, não negava e nenhuma delas possuiu qualquer importância, ele bem o sabia. Eram imagens apagadas em sua memória.
Nenhuma foi mais que um consolo para noites frias. A não ser... "Ivy!"
"Valar! Por que se lembrar dela agora. Tantos anos. Tantos..."
E nunca mais voltou para vê-la. Para saber como estava, se precisava dele. Por quê?
O que sempre temeu? Não estava absolutamente seguro de seu amor por Arwen?
Então por que em seus sentidos, o cheiro delas se misturou tantas vezes?
XXXXXXXXXXXXX
Ivy estava sentada em frente ao espelho, penteando os cabelos compridos. Observou longamente sua imagem refletida, as rajas cinzentas onde um dia só houvera negror absoluto. Observou as pequenas rugas que se salientavam em torno dos olhos e os pequenos sulcos na face outrora lisa.
Abaixou a cabeça como se a imagem ferisse, perdida em temores antigos, até que os braços dele cercaram o corpo dela numa carícia conhecida. Mas aquilo ao invés de confortá-la, só a desgostou.
"Por que minha amada está trancada aqui, quando o mundo é tão belo lá fora?" Ele disse isso roucamente, plantando beijos suaves em seu pescoço. "Venha cavalgar comigo..."
Ela desvencilhou-se dele e levantou-se bruscamente, surpreendendo o elfo.
"Olhe para mim!" Ordenou, o encarando com amargura nascida do inevitável. "Olhe para mim Elrohir!" Ela tornou a exigir, com a voz embargada. "Olhe para mim e diga se não enxerga a ruína da mulher que fui!"
A surpresa o abandonou tão depressa quanto veio e ele alcançou para as mãos dela, agarrando-as firmemente.
"Ivy... Não consigo entender..." Ele implorou.
Ivy tremeu a cabeça e tentou arrancar suas mãos do aperto dele. Elrohir não protestou, somente a abraçou, mas ela ficou passiva, a cabeça comprimida debaixo do queixo dele, os braços pendendo inertes.
"O que espera que eu veja amada minha?" Ele indagou novamente, preocupado. "Ajude-me a entender..."
Aquela maneira suave, tão ao jeito dele, aumentou a fúria em seu peito de tal forma, que Ivy sentiu-se sufocar. Mas a raiva não era dirigida a ele. Ivy era a única responsável por toda sua dor.
"Minha juventude se esvai Elrohir, e está deixando apenas o arremedo da mulher que fui! Como pode me dizer que não se importa com isso?"
Perplexo com tal ideia ele afastou-a, para olhar em seu rosto.
"Ivy, precisa parar e escutar o que está me dizendo! Os anos não estão mudando a mulher que você é e nunca a mudarão para mim!"
"Como pode ser tão cego?" Ela não conteve a impaciência. "Ou desconhece os efeitos da velhice em pessoas de minha raça?"
Ele sacudiu a cabeça, ainda claramente inconformado com o que estava ouvindo.
"Você sabe que sempre convivi com humanos, não pode me acusar de ignorar a dádiva que é dada a eles."
"Mas o que você fará quando o fato não puder ser negado?" Ela não queria mais escutá-lo, não quando o futuro a aterrorizava. "Quando eu for realmente velha e você tiver que olhar para mim e também tocar-me?"
"Nunca me preocupei com isso e não me preocupo agora." Ele afirmou com convicção. "Não deixei isso claro o suficiente? Nunca me importei com as diferenças de nossas raças."
"Você irá se importar um dia, posso lhe garantir. Já tenho uma filha adulta e os anos correm por mim implacáveis." Ela estava perto das lágrimas, mas lutou para impedi-las de cair. "Você não mudou desde o dia em que nos vimos à primeira vez e eu venho murchando como um ramo cortado."
Ele entreabriu os lábios, mas as réplicas ficaram presas em sua garganta.
"E eu sou a culpada, pois estava ciente desde o início, mas presa ao orgulho de conquistar alguém como você, fechei os olhos à verdade."
Elrohir sentiu-se aturdido e enquanto cada palavra queimava como fogo, uma lembrança lânguida voltou a ele, da época em que temeu esta mesma coisa… que não a fizesse feliz e Ivy se cansasse dele. Pois a amargura que vinha das palavras dela, estava muito clara.
"Foi somente o que sentiu por mim estes anos todos Ivy? Ilusão?"
"Talvez tenha sido." Ela continuou, se odiando um pouco mais por magoá-lo assim, entretanto incapaz de se parar. "Mas as ilusões acabam-se um dia, quando a realidade severa bate a nossa porta. Nunca deveríamos ter-nos envolvido. Eu não posso suportar a sombra de minha própria velhice, então o que dirá você que nunca passará por isso?" Ela deu-lhe as costas, sentindo que finalmente perdia o controle sobre as lágrimas. "E não quero que continue aqui por causa de sua maldita honra! Malditos os homens e suas honras! Todos vocês! Maldito você que se apieda de mim e maldito Hold que se foi para a guerra e nos deixou sozinhos e em meio ao frio e a dor!
Ela lutou em vão para abafar os soluços, mas quando ele tentou confortá-la, ela afastou-se bruscamente.
"Não tente me confortar!" Ela implorou. "É minha culpa. Eu sou a única culpada de todos os meus fardos!"
Elrohir deixou cair suas mãos desamparadamente, quando ela envolveu-se com os próprios braços numa postura profundamente aflita.
"Sinto muito amada... nunca lhe quis ser um fardo." Ele ainda deu outro passo em sua direção, antes de parar e virar-se para sair, fechando a porta devagar.
Quando se virou novamente e viu que Elrohir não estava mais no quarto, Ivy sentou-se na cama, sentindo as pernas fracas e fisicamente esgotada começou a soluçar.
"Oh deuses! O que vocês pretendem para mim? Como podem ser tão cruéis?"
XXXXXXXXXXXXX
Arwen desceu as escadas do flat rapidamente. Não havia visto Estel após a conversa deles no Cerin Amroth. Ele não apareceu para cear com ela e seus avôs e temeu que houvesse partido.
"Depois de tantos anos, eu o afastei de mim." Pensou desolada. "Quando afinal, o convenço a aceitar minha escolha, o afasto de mim..."
Finalmente o encontrou sentado adormecido debaixo do Malorn que o hospedava. Aproximou-se, sentando-se na relva perto dele, para observar-lhe o rosto.
"Não vê-lo nunca mais!" Sentiu os olhos arderem, como se a ameaça fosse real.
Ele se mexeu, mas não acordou. Com mãos trêmulas, tocou seus lábios, desenhando a linha com os dedos.
Como sofreu e chorou ao imaginá-lo nos braços de outras. Chegou a sentir raiva do pai, por impor as condições que os mantinha separados. Nunca fora fácil afastar os fantasmas que lhe rondavam o coração, dizendo que ele poderia nunca mais voltar ao prender-se a braços mais calorosos.
As belas humanas que conheceu em suas longas viagens. Como odiou e temeu todas elas, e ao imaginá-las as lágrimas lhe rolavam amargas e desesperadas.
E finalmente quando estava livre para dar-se a ele, apagar de suas lembranças os rastros das rivais desconhecidas, ele a repudiou. Foi como receber uma flecha no coração.
"Arwen?"
Saindo de seus devaneios, fitou em seus cinzentos olhos sonolentos.
"Você não veio cear e eu fiquei preocupada..."
Ele sentou-se, já desperto, olhando-a com expressão incerta, então ela lhe estendeu as mãos, que ele segurou avidamente.
"Sobre mais cedo, eu sinto mui..." Arwen começou a dizer, mas Estel a interrompeu, tocando seus lábios.
"Não faça." ele disse, mantendo a voz comedida. "Não há nada que se desculpar, especialmente para mim."
Concluiu isso com toda franqueza que sempre compartilharam, e ela pôde distinguir com nitidez a angústia que lhe ia pela alma.
"Sempre a amarei. Onde quer que esteja nunca estarei completo sem você... e a única coisa que tenho feito é me arriscar a perder seu amor..." Sacudiu a cabeça. "Mas eu não posso desfazer o que eu fiz, amada. Não posso desfazer o passado."
"Eu não lhe pedi." Ela respondeu brava. "O que você fez me feriu, mas eu aceitei isto e o perdoei ou nós não estaríamos aqui." A expressou dela se abrandou. "As escolhas foram minhas, minhas para serem feitas Estel. Não foi por isso que finalmente nos comprometemos? Porque aceitamos todas as escolhas?"
Ele ainda parecia relutante.
"É claro que sim amada. Mas eu estaria pronto para deixar, se você assim o quisesse."
"Não, não!Você ainda não entende?" Ela exigiu, mordendo os lábios a procura das palavras certas. "Eu teria me entregado a você, se assim o houvesse desejado. Mas você não me quis. Foi como se todos os meus pesadelos se tornassem reais."
Com movimentos lentos, Estel esfregou os olhos. Ele parecia cansado.
"Eu sei que não é justo, eu sei que eu estou sendo egoísta, mas... eu preciso cumprir meu destino, ou então nunca serei capaz de me sentir digno de você."
E Arwen desejava entender, pois sabia que sem ele, vagaria para sempre em um mundo frio e desolado.
"Não pode tomar todas as decisões sem mim, Estel. Não mais." Ela exigiu, o cenho ainda franzido, mas seu corpo se aproximou inconscientemente dele. "É seu destino, mas também o meu."
Ele estava mais do que nunca consciente da veracidade daquelas palavras. Pois sem ela, seu futuro não existia. Com olhos cheios de promessas de amor e sonhos para o futuro, tomou suas mãos nas dele.
"Nunca novamente minha amada."
Estavam juntos, o resto não importava. E juntos enfrentariam tudo que o destino lhes reservasse.
E assim ficaram nos braços um do outro, contemplando as estrelas brilhantes.
XXXXXXXXXXXXX
À tarde já tinha sumido quando Ivy finalmente reuniu controle o suficiente para terminar a conversa que havia iniciado de forma tão desastrosa. Não deveria perder a razão quando decidia o destino do relacionamento deles.
Se permitiu um enorme suspiro de consternação quando saiu da casa, sabendo que em noites como esta, quando a lua era uma medalha de prata no manto negro do céu, que brilhava intensamente com estrelas infinitas, seu espírito se enchia de alegria, pois Elrohir a havia ensinado a amar as estrelas e a noite, com seus sons e perfumes gloriosos. Mas não hoje.
"Elrohir!" Chamou, apressando-se em direção aos estábulos. Porém, quando chegou ao local, nada encontrou. "Elrohir..." Repetiu desolada. "Eu estraguei tudo? Quando apenas tenciono fazê-lo entender?"
Caminhou rapidamente até o pequeno bosque nos fundos da casa. Elrohir estava sentado debaixo de um carvalho. A árvore que ele sempre dizia ser sua favorita. Parecia triste e encurvado.
"Quer que eu vá embora?" Sua voz flutuou até ela, em reconhecimento de sua presença. " É isso realmente o que deseja?"
"Não! Não." Afirmou com sinceridade, se aproximado. "Não quero que você vá embora. Nunca quis..."
"Mas está tentando me fazer desistir de você!" Parecia uma conclusão dolorosa a ele.
"Porque me dá medo te perder." Respondeu ela e um suave soluço escapou de seus lábios, contra sua vontade.
Ele ergueu-se e aproximou-se, tomando-a nos braços.
"Nunca te deixarei." Afirmou com ardor. "Ficarei com você para sempre, e não me importa se envelhece, pois irei compartilhar seu destino."
Ivy permaneceu um momento em silêncio, imobilizada pelas palavras e pela convicção por detrás delas. Depois levantou o rosto para olhá-lo.
"Elrohir..." Disse devagar. "Não quero que abandone sua imortalidade por mim."
Ele afastou-se, olhando-a com uma expressão de súbita clareza.
"E achou que a maneira de me impedir seria essa? Fazer com que me fosse?" Sacudiu a cabeça incrédulo, como se o que ela dizia não passasse de absurdos. "Não quero mais lágrimas amor, pois não me arrependo de nada."
"Como pode dizer isso?" Ela exigiu consternada. "Você quer abandonar tudo!"
Ele negou com a cabeça.
"Não vou abandonar o que me importa... pois a imortalidade... o que seria a imortalidade sem você?"
"Você não entende." Ela disse roucamente, como se cada palavra lhe doesse mais do que pudesse aguentar. "Precisa me prometer que não fará isso!" Estava desesperada. "Prometa-me que não desistirá de sua vida por minha causa!"
Ele sacudiu a cabeça com veemência.
"Tem ideia do que isso significaria para mim Ivy? O que essa promessa significaria para mim? Não me permitir segui-la em seu destino mortal?"
"Sim." Ela queria gritar, pois era isso mesmo. E se não arrancasse uma promessa dele, que Eru a ajudasse, faria com que partisse para sempre.
"Não se dá conta de que quando se for, vou sofrer por você todos os dias durante o resto de minha vida?" Ele implorou para que ela entendesse.
"Sim, eu sei." Disse ela, limpando o rosto de mais lágrimas. "E não me envergonho de admitir, pois nunca me perdoaria se por causa de minha vida breve, você renunciasse a sua."
Ele a fitou em silêncio longo.
"É o que realmente quer?"
"É o que quero!" Afirmou Ivy, um soluço escapando-lhe da garganta. "Nunca o obrigaria a essa escolha, se as circunstâncias fossem outras, mas eu não posso... Não posso permitir que você desista de sua brilhante existência por minha causa!"
Sua decisão estava tomada. Palavras de pouco consolo serviriam, pois sabia que não conseguiriam dissipar a profunda tristeza que Elrohir exibia no olhar.
"Diga que me compreende." Implorou ela.
"Sinto muito, mas não compreendo." Foi sua resposta angustiada.
Quis encará-lo, porém Elrohir desviou o olhar. Ela fungou.
"Eu sei e sei que nem sempre fui uma mulher razoável." Respirou fundo. "E deveria me odiar por causa de todas elas... de todas as promessas a que o obriguei..."
Mas ele não parecia escutá-la, só voltou a fitá-la com olhos escuros.
"O que vou fazer sem você?"
"Você é forte." Ela insistiu. "Mais do que qualquer um que já conheci. Mais forte do que sempre serei..."
Elrohir começou a falar várias vezes, então fechou a boca de novo.
"Você me ama de verdade?" Ela continuou, determinada a fazer com que ele cedesse.
"Mais que tudo. Só existo pela metade sem você." Ele falou por fim.
"Então me prometa." Suas palavras levavam um caráter definitivo, uma resolução que ela não permitiria que fosse quebrada.
"Ou você me deixará?" Perguntou ele. "Isso tudo é uma ameaça então?"
Diante do silêncio afirmativo dela, ele sentiu-se traído. E quis odiá-la... mas não pôde.
"Não pode me pedir isso." Implorou ele desesperado. "O que lhe ofereço é dado de livre e espontânea vontade."
"Mas eu não quero, exceto sua promessa!" Exigiu ela. Nada estava funcionando como tinha planejado. "Quero compartilhar seu destino," ele havia dito, e uma parte traiçoeira e egoísta dela estava profundamente tentada por essa oferta. Mas estava fazendo-o de novo, estava vacilando diante dele. Como o fizera da primeira vez em que se amaram. Olhou-o, um brilho de lágrimas nublando sua visão. "É tudo que eu preciso!"
À vista de suas lágrimas, ele a puxou de encontro a seu corpo e cobriu sua boca com a dele. Sua respiração ficou presa na garganta, quando ele a esmagou em seus braços, quase a sufocando na dor e desespero que emanavam dele.
"Está bem." Ele cortou o beijo frenético, encostando seu rosto no topo da cabeça dela, inspirando profundamente seu cheiro conhecido, como se o necessitasse para continuar de pé. E de repente, ele parecia cansado. "Será como você quiser."
"Assim você viverá… para sempre? Como deve ser?"
Sabia que não seria capaz de respirar profundamente até que isto estivesse acabado. Então enfrentaria o futuro.
Elrohir não disse nada, seus olhos escurecidos de emoção. Por fim, assentiu com a cabeça.
"Mas não vou partir. Nunca mais tente me fazer partir novamente." Apertou-a novamente nos braços. "Pois te amo para sempre."
XXXXXXXXXXXXXZ
Os irmãos estavam cavalgando já há algum tempo em silêncio, perdidos em pensamentos, até que finalmente alcançaram as bordas de Rivendell.
"Já chega Elrohir! Diga-me o que está acontecendo." Elladan exigiu, fazendo Elrohir arquear as sobrancelhas em surpresa. "Foi a adan não é? O que ela lhe fez desta vez?"
Elrohir riu.
"Quando fala assim, você faz com que ela se pareça um trool! Pare de implicância. E, além disso, acabamos de nos encontrar, como pode saber que alguma coisa está errada?"
Elladan bufou e Elrohir riu novamente.
"Veja lá está o Bruinen..." Apontou para o rio que descia ruidoso das encostas do Valle. "Venha, vamos deixar os cavalos beberem." Ele forçou o passo de Roan e desmontou quando chegaram ao vau para que o animal bebesse livremente.
Percebeu que Elladan, que o havia seguido, também desmontou permitindo que Brethil trotasse para comer da grama verdejante às margens do rio.
Não podia censurá-lo porque estava intrigado, já que estivera num humor totalmente soturno, desde que se reencontraram nos aclives das Terras Ermas. Suspirou alto, trazendo o olhar dele novamente para si.
"Não sei se posso dizer que está errado, sendo ela uma adan... ela é uma adan, claro, mas..." Percebeu que estava balbuciando e se obrigou a recomeçar hesitante. "Ela... Elladan, Ivy está envelhecendo." Engoliu em seco e desviou os olhos, envergonhado dos próprios temores.
Elladan o observou longamente, compreendendo então, os silêncios do irmão.
"Elrohir, quanto tempo nós conhecemos Ivy?" Perguntou seriamente.
Elrohir ajoelhou-se às margens do fluxo, lavando o rosto com a água fria antes de responder.
"Não sei." Ficou em silencio por instantes. "Talvez trinta anos?"
Elladan seguiu seu cavalo com os olhos, para onde ele trotava para pastorear. Pensou em como a questão do tempo sempre fora irrelevante para eles... A não ser quando estavam à volta dos edain que invariavelmente faziam parte de suas vidas. Olhou ao irmão novamente.
"Trinta anos é um tempo muito longo para humanos."
"Ivy era apenas uma criança quando a conhecemos e além... ela é mais nova que Estel..." Elrohir argumentou com ímpeto desesperado, para consternação de Elladan.
"Estel é numenoriano, irmão..." Ele disse suavemente, bastante atento de que Elrohir estava ciente dessa diferença fundamental entre Ivy e o irmão caçula deles.
Elrohir se ergueu e aproximou-se novamente do gêmeo.
"O que você está querendo dizer para mim?" A fisionomia dele endureceu, mas Elladan sabia que a rigidez em sua postura não demonstrava raiva pelas coisas que dizia. Elrohir temia confrontar a verdade.
"Estou dizendo que você precisa se preparar para o inevitável. Humanos da linhagem de Ivy... A dádiva de Eru chega para eles demasiado cedo..." Ele vigiava o irmão atentamente. "Mas você sabe isso, certo?"
"Sim... eu... eu também penso nisto..." Elrohir admitiu finalmente, numa voz pouco audível. "Em perdê-la, eu quero dizer..."
"E...?" Elladan insistiu brandamente.
"E me assusta. Toda vez..." Ele exalou. "Pois eu a amo..."
Contemplando na expressão angustiada dele, Elladan colocou a mão em seu ombro, apertando suavemente. Elrohir nunca mais falara sobre as possibilidades de sua escolha. Sobre seguir Ivy em seu destino mortal. E temia que a sina da humana se tornasse uma aflição muito grande para ele suportar ileso e que seu espírito fosse permanentemente danificado no final.
"E com seus anos se alongando, ela teme que eu esteja ao seu lado motivado pela gratidão, sendo ela minha benfeitora e tudo..." Parou, como se perplexo. "Como pode ainda questionar a extensão de meu amor?"
Elladan apertou os lábios com força. Bem o sabia que nunca entenderia totalmente Ivy, mas achava que podia compreendê-la um pouco melhor agora, embora Elrohir não parecesse enxergar a verdade. Não poderia ser fácil para ela que os anos lhe corressem velozes, quando para Elrohir continuavam imutáveis.
"Eu não penso que ela questione, mas..." Elladan murmurou, as palavras escapando quase contra sua vontade. "Mas os anos dela estão correndo como deve ser e chegará o dia..."
"Chegará o dia..." Elrohir sussurrou, como se apenas dizê-lo lhe doesse. "Chegará o dia em que a perderei..."
"Então acho que deve voltar!" Elladan exclamou e, por alguma razão, ao dizer isso, sentiu que retirava um grande peso do coração. "Deve voltar para Valle."
Elrohir parecia surpreendido e o próprio Elladan sentia-se surpreso.
"Mas..." Elrohir balançou a cabeça. "Eu mal cheguei em casa..."
Elladan aproximou-se e colocou ambas as mãos em seus ombros, para fazê-lo olhar em seus olhos.
"Casa é onde está o nosso coração..." Disse resolutamente. "E o seu está com Ivy... é a coisa certa a fazer... vá para casa!"
Por um momento, nenhum dos dois falou, até que Elladan viu gratidão tomar a face do irmão, que o puxou em um abraço apertado. Elladan o abraçou durante um tempo longo, os olhos firmemente fechados.
"Obrigado." O escutou sussurrar. "Obrigado por me escutar e sempre dizer as coisas certas, embora eu sempre o sobrecarregue com meus fardos..."
Elladan tragou, para dominar as próprias emoções.
"Não precisa agradecer, pois é um alívio que vá para Valle e não fique desfilando minha face por aí..."
Elrohir riu e lhe deu um pequeno empurrão.
"Venha, vamos pegar os cavalos e continuar antes que a noite nos encontre ainda aqui."
Haviam apenas alcançado os animais, quando um galho estalou, fazendo ambos levaram prontamente as mãos às espadas.
"Quantos ramos terei que quebrar para conseguir a atenção de vocês, elfos distraídos?" Uma voz brincalhona soou, antes que a figura de seu dono surgisse de entre os urzais.
"Estel!" Elladan exclamou contente, embainhando a espada para aproximar-se do irmão em passos rápidos. "Quando voltou? Chegou assim que cavalguei para o Ermo?"
Eles abraçaram-se, enquanto Elladan o erguia ligeiramente fora dos pés, em seu ímpeto de felicidade. "Você mudou!" O elfo exclamou, após se separarem. "Está crescido... parecido com Arathorn!"
Parecia genuinamente surpreso e Aragorn bufou, divertido.
"Pelo que me informaram, cheguei logo após sua partida e eu já havia crescido antes, ou você se esqueceu?"
"Mas agora você tem cicatrizes." Elrohir observou, também se aproximando dele para um abraço.
"Muitas batalhas..." Aragorn respondeu, emocionado ao apertar o irmão nos braços. Como sentira falta daquela dupla.
"Isso significa que você tem inumeráveis histórias para compartilhar?" Elladan lhe perguntou animado, depois que recomeçaram a caminhar. "Veio diretamente de Gondor? Era lá que estava, de acordo com as últimas notícias que recebemos..."
"Era lá que eu estava, entretanto passei por Lórien antes de vir para cá..."
"Então você encontrou..." Elrohir começou, observando o rosto do irmão.
"Arwen... sim, eu a encontrei..." Ele hesitou, baixando a cabeça para olhar aos pés, parecendo tímido e Elladan segurou em seu braço, obrigando-o a parar.
"O que houve Estel?"
"Eu e Arwen nos comprometemos. Ela tornou sua escolha conhecida..." Falou num rompante e os gêmeos não disseram nada, por isso Aragorn culpou-se, imaginando que eles estavam pesando todas as implicações das escolhas da irmã. Sempre estivera temeroso das reações deles. "Eu sinto muito..."
"Estel..." Elrohir o interrompeu, segurando a face do irmão para ganhar a atenção dele. "Você a ama?"
"Eu a amo tanto... eu não posso aguentar o pensamento de nunca ficarmos juntos..." Sua voz estava áspera e a garganta apertada, mas abruptamente Elrohir o puxou num abraço. Aragorn não esperava isso, mas então um aliviado sorriso flamejou em seus lábios, antes que embrulhasse seus braços novamente ao redor do irmão.
"Por favor, não se sinta culpado." Elrohir estava dizendo. "Estou feliz por vocês..." Quando se separaram, os dois contemplaram um ao outro, e Aragorn viu nele uma expressão em que se misturavam o amor, o orgulho e algo mais... Melancolia, talvez?
"E como ada reagiu às notícias?" Elladan estava perguntando, desviando seus pensamentos, enquanto retomavam novamente seu passo.
Suspirou profundamente
"Sinceramente, melhor do que eu esperava. Mas... mas ele impôs uma condição para que pudéssemos nos casar."
"Uma condição?" Perguntou Elladan e Elrohir espelhou seu olhar preocupado.
"Ele me disse que devo recuperar o trono de Gondor e Arnor."
A desolação com que disse isso era de dar pena, mas Elladan achou que uma condição vinda do pai deles, seria esperada.
"Bom..." Disse Elrohir, procurando consolá-lo. "Pelo menos você não tem que ir atrás de nenhuma Silmarill, em poder do próprio Morgoth."
Elladan arregalou os olhos incrédulo, antes de lhe acotovelar nas costelas.
"Ow!" Elrohir queixou, pondo-se a uma distância segura. "Por que fez isso? O que eu disse de errado?"
Elladan tentou parecer bravo, mas não pode impedir por muito tempo o sorriso.
"Uma Silmarill? E você me pergunta o que disse de errado?"
Incapaz de se manter sério diante das artimanhas dos dois, Aragorn riu e logo relaxou os ombros e sua alta silhueta perdeu a tensão.
"Pare Elladan! Não precisa torturar Elrohir. Ele bem que tem razão, pois minha tarefa no momento me parece tão enorme quanto à de Beren."
Elladan passou os braços em volta de seus ombros.
"Você sabe que sempre pode contar conosco em sua demanda..."
"Eu sei e agradeço." Garantiu Aragorn. "Consola-me saber que não me odeiam por causa de Arwen..."
"Como poderíamos odiá-lo se vocês se amam?" Elrohir perguntou, surpreso que Estel até mesmo considerasse isso. "E quem pode fugir para sempre do próprio destino?"
"E ninguém melhor para entendê-lo que Elrohir, já que amor também lhe complica a vida." Somou Elladan, para se arrepender em seguida. "Eu e minhas chances perdidas de ficar calado."
"O que está querendo dizer? Não me diga que Elrohir..." Aragorn sorriu, não notando a troca de humor em Elrohir que empalideceu. "Quem é a elfa felizarda? Por certo a conheço..."
Diante do silencio deles, o humano continuou.
"Que é ela afinal? Vamos me diga! Você não tem que resgatar qualquer joia para conquistá-la também, não é?"
"Ela não é uma elfa." Elrohir lhe disse por fim e agora era ele, quem olhava para os pés. "Apaixonei-me por uma humana... por minha benfeitora... Apaixonei-me por Ivy..."
Aragorn ficou tão surpreso, que se Elrohir não estivesse preocupado, poderia ter achado que a expressão de choque absoluto na face dele era engraçada.
Ainda boquiaberto, o humano olhou de um irmão ao outro, esperando que um deles admitisse a brincadeira, mas ambos continuaram calados.
"Mas... Elrohir, vocês... eu nunca imaginei..." Estava gaguejando, pois as palavras estavam presas em sua garganta e a surpresa era muita. Os pensamentos corriam-lhe frenéticos. "Ivy dissera o amar não foi? Sim dissera, mas ele repudiou seu amor, depois de ela haver se entregado a ele. Foi sua própria decisão e nunca mais a viu novamente..."
Olhou para o rosto de Elrohir. Ele estava apaixonado e em se tratando de elfos aquela não era uma afirmação leviana. Aragorn o sabia.
Então seu rosto empalideceu. Ele e Ivy haviam se amado em Esgaroth e se naquela época Elrohir já a amasse? Nunca havia conseguido lidar com a culpa que aquela noite havia suscitado. Culpa por não amá-la e ainda assim usá-la para se esquecer de Arwen... E agora também havia Elrohir a considerar. Ele saberia? Ivy lhe havia dito?
"Eu voltei a Valle diversas vezes para vê-la através dos anos... minha benfeitora..." Elrohir estava dizendo. "E agora nos amamos..."
Elrohir o olhava expectante. Não, os dois elfos o olhavam expectantes. Forçou o ar para fora do peito, forçando também um sorriso, então, de impulso, abraçou o irmão tão apertado, que o elfo quase não pôde respirar.
"Estou muito feliz por vocês." Se por um instante que fosse, houvesse sabido dos sentimentos de Elrohir, nunca teria se aproximado de Ivy. Nunca em plena consciência faria o irmão sofrer. "Ivy é uma mulher admirável e merece ser feliz ao seu lado... vocês merecem a felicidade de se amarem..."
"Obrigado irmãozinho." Elrohir respondeu com voz também emotiva e Aragorn se afastou lentamente, abrindo os olhos para encontrar Elladan que continuava a poucos passos. Ele viu tal tristeza profunda em sua face, que o desconcertou, entretanto o elfo desviou o olhar e forçou um sorriso.
"Se já terminaram, podemos seguir em frente ou vão me levar às lágrimas?"
Elrohir riu.
"Podemos sim, meu irmão insensível."
Estel concordou, ainda tentando entender o que vira no rosto de Elladan, mas este havia recomeçado a andar. Então percebeu.
"Isso significava que Elladan teria dois irmãos escolhendo uma vida mortal?" Respirando fundo, começou a caminhar ao lado de Elrohir. Precisava questionar Elladan sobre isso quando a oportunidade surgisse.
"Ela não está aqui, em Rivendell?" Procurou ordenar os pensamentos.
"Ela nunca quis separar-se dos seus... das terras em que sua família repousa. Nunca consegui fazer com que mudasse de ideia..." Era apenas parte da verdade, mas era o máximo que Elrohir poderia lhe dar no momento.
"Percebo que ela continua teimosa." Ivy sempre fora uma mulher de vontade forte, ele se lembrava bem.
"Oh sim!" Respondeu o elfo e Estel riu, passando o braço por seus ombros.
Elladan, momentaneamente esquecido pelos dois, suspirou, ficando ligeiramente para trás. Estava amedrontado de dizer algo de que lamentaria, assim segurou os lábios fechados em frustração. E aquele segredo inútil? Por que Ivy mantinha Elrohir preso a ele? Embora precisasse reconhecer que aquele era um segredo não mais pertencente à Ivy ou qualquer um deles.
Pertencia a Esperança o desejo de conhecer o pai.
XXXXXXXXXXXXX
Continua...
Notas: De 2957 até 2980, Aragorn empreendeu grandes viagens, servindo sob disfarce nos exércitos do Rei Thengel de Rohan, e do Regente Ecthelion II de Gondor, e seu nome durante aquele tempo foi Thorongil (Águia da Estrela).
