Título: Elessar - ano 3019

Personagens: Aragorn, Arwen, Elladan, Elrohir, OCS originais.

Retratações: Os personagens não são meus, nenhum lucro é pretendido, só existe o desejo de contar uma história e exprimir meu amor pelos personagens do Professor Tolkien.

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Elessar – ano 3019

Ele a estava abraçando por trás, afastando seus cabelos para beijar-lhe o pescoço.

Arwen virou-se para fitá-lo.

"Amo você."

"Eu sei." Elessar sussurrou junto ao ouvido dela. "Esse é seu maior encanto."

Ela fingiu um protesto e o golpeou nas costelas. O rei riu, colocando a mão no local atingido.

"Está bem, está bem!" Ele cedeu com falsa resignação, ficando sério em seguida. "Amo você, Estrela. Amo porque sempre confiou em mim e ajudou-me a cumprir um destino que nem mesmo eu acreditava que poderia."

"Porque assim cumpria o meu, que era ter você como destino."

"Nós construímos juntos nosso destino."

Ela sorriu e tomou as mãos dele nas suas, apertando-as sobre o coração.

"Tente..." Murmurou. "Tente saber o que estou sentindo nesse momento."

"O que você quer sentir?" Ele perguntou, fitando-a com intensidade.

"Eu quero tudo! Quero sentir tudo!"

"Eu posso dar-lhe tudo, amada minha."

Foi o último pensamento coerente antes de tomá-la nos braços, beijando-lhe com ardor.

Arwen soltou um gemido, sentindo a rigidez do corpo dele. Fechou os olhos, deliciando-se com as mãos fortes acariciando-lhe a pele até pararem na curva dos seios.

O nome dela saía dos lábios do amado o tempo todo, mas Arwen mal o ouvia. Estava perdida nesse novo passo que seguiam juntos.

A lucidez transformava-se numa névoa à medida que os beijos tornavam-se mais vorazes.

Uma das mãos dele segurou a dela, entrelaçando os dedos, a outra continuou suas carícias.

Com satisfação, ouviu o som abafado que Arwen deixou escapar antes de arquear-se, pressionando-se contra ele. Uma urgência ardente o sacudiu e ele deitou-a sobre a cama.

Entreabrindo os olhos, viu o rosto dela transtornado pela paixão. Beijaram-se como se fosse à primeira vez, a última, a melhor.

Estel se ergueu num impulso e tirou a túnica, jogando-a de lado. Depois muito gentil, fez com que ela se levantasse, ficando ambos ajoelhados, frente a frente, fitando-se com ardor.

Segurando a bainha do vestido dela, tirou-o pela cabeça.

Arwen cerrou as pálpebras, aspirando o ar perfumado que acariciava sua pele nua e uma sensação de luxúria envolveu-a como uma onda.

Ofegante, agarrou-se aos cabelos dele, enquanto ele a abraçava. As sensações que Estel lhe despertava eram vibrantes demais, poderosas demais. Emocionada, sentiu os olhos cheios de lágrimas.

"Tudo. Eu quero tudo, tudo..."

Eles estavam muito próximos, peles tocando-se numa explosão quase chocante de calor. Mãos, línguas, pernas, quadris... Quase perdiam o fôlego numa tempestade de beijos vorazes.

As roupas restantes foram arrancadas com impaciência, um auxiliando o outro.

Tornaram a se deitar, os lábios de Estel colados nos dela. Pele com pele, corpo com corpo.

Ainda beijando-a com avidez, ele girou, levando-a para cima dele. Aos poucos, beijos, abraços e carícias não eram mais suficientes. Precisavam de mais para saciar o desejo que os consumia.

Arwen contorcia-se toda. As mãos dele acariciavam-lhe, pressionando, tocando...

De novo, ele girou o corpo num movimento rápido, colocando-a debaixo de si. Seu tórax pressionou os seios dela.

O contato desencadeou uma corrente de fogo nas veias de Arwen. Não sabia que era capaz de tais reações. Cada nervo despertava para a vida.

Deixava escapar frases incoerentes, tentando revelar-lhe suas necessidades, mas as palavras não se formavam. Então compreendeu que Estel sabia de tudo e enquanto torturava-a com suas carícias, dizia com a voz rouca de paixão:

"Ah amada... eu esperei tanto. Toda minha vida... Ah meu amor, não posso esperar mais..."

E Arwen suspirou, aquietando-se por segundos. Nunca a vida fluíra dentro dela com um prazer tão incrível e perfeito. Estava invadida, preenchida, completa e só o conhecimento disso quase a levou ao êxtase.

Estel ergueu a cabeça. Seus olhos brilhavam como prata. Cerrava os lábios como se estivesse tentando encontrar uma medida de controle. E admirava o rosto belo de Arwen. Os lábios grossos, as sobrancelhas delineadas, os cabelos espalhados como um leque sobre a manta. "Rosas no inverno", ele pensou.

E o coração dela bateu ainda mais forte sob o olhar dele, perdendo toda a capacidade de raciocinar.

Ondas crescentes e intensas invadiram seus corpos. Os seios dela ficaram intumescidos... Os músculos do abdômen dele se apertaram numa tensão crescente e estranha... Fecharam os olhos, entregando-se por completo ao ritmo primitivo e frenético de suas pulsações.

Com os dedos, Arwen contornou os lábios dele. E então, como se tivessem combinado, os corpos começaram juntos os movimentos do amor.

Ainda teve tempo de fitar Estel. Ele estava corado como um menino que passara muito tempo ao sol. E parecia mesmo um menino, com os cabelos caindo nos olhos. Mas não havia nada de infantil, nem de inocente nas sensações que despertava nela.

E ela sentiu seu espírito escapulir. O corpo pegava fogo, colado no dele. Agarrou-o pelos ombros, o ventre pressionado pelo dele, cada fibra de seu ser ansiando por ele. Só por ele.

E assustou-se com a força do que experimentava. Seus olhos encheram-se de lágrimas mais uma vez, e o controle de Estel perdeu-se.

Ele ouviu o grito de Arwen seguido do seu. Estavam juntos, compartilhando cada contração, cada pulsação, cada tremular de respiração... Tudo combinado num momento maravilhoso de êxtase absoluto.

Era muito mais do que prazer físico. Era um ato de entrega, de promessa e muita, muita doçura e beleza.

Um ato de amor.

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Gondor - Outono 3019

Minas Tirith era uma cidade diferente agora. Após a guerra, o empenho em sua reconstrução, realizados por Gimli e seus artesãos estava devolvendo à fortaleza sua antiga glória.

Assim em seu esplendor de pedra, Elrohir quase gostava dela, embora toda vez que ele e o irmão transpunham seus portões, a comoção que causavam em seus habitantes era-lhe cansativa.

"E eles possuem uma rainha elfa!" Irritou-se ao ser alvo dos olhares insistentes e curiosos de todos os passantes, de todos os círculos que haviam percorrido.

Olhou de esguelha para Elladan, notando também sua inquietação. O irmão era geralmente melhor em disfarçar seu incomodo ao ser vitimado por tanta curiosidade, mas hoje não estava sendo particularmente feliz, exibindo o cenho franzido.

"Estamos cansados de nossa jornada." Concluiu com um suspiro fundo, procurando ignorar a estranha ansiedade que o acometera desde que se aproximara da cidade branca. "Cansados e impacientes..."

Já estava para perguntar a Elladan se não seria sábio que se recompusessem da viagem antes de se reunirem à Elessar e Arwen, quando um pressentimento o assaltou, fazendo com que detivesse o cavalo.

"Elrohir? O que houve?" Elladan, surpreso pela parada súbita, voltou seu cavalo para perto do irmão.

Elrohir demorou alguns minutos para responder, vasculhando por entre a multidão de curiosos.

"Não sei dizer." Sacudiu a cabeça, sem conseguir se explicar. "Não sentiu... uma sensação estranha?"

"Estranha?" Elladan repetiu confuso. "Estranha ... como?"

Elrohir voltou o olhar titubeante para ele, antes de sacudir a cabeça com veemência.

"Eu não sei, eu só... eu pensei... pareceu-me que estávamos sendo observados..."

Elladan achou graça, indicando a multidão com um gesto de cabeça.

"Sendo observados?"

Elrohir corou. Talvez o cansaço estivesse afetando seus sentidos.

"Esqueça, vamos continuar."

"Tem certeza?" Sentindo-se ligeiramente preocupado, Elladan examinou ao redor como Elrohir havia feito. Só havia os rostos dos cidadãos de Gondor, em sua mal disfarçada curiosidade, o brado dos mercadores do quarto círculo, soldados dispersos aqui e ali, crianças correndo pelas ruas fazendo algazarra e ao longe, um homem alto e uma mulher roliça, de braços dados, subindo lentamente a ladeira.

Ele voltou um olhar indagador para o gêmeo, que sacudiu a cabeça novamente, apertando as rédeas com firmeza.

"Tenho. Não foi nada. Como eu disse só uma sensação."

Dizendo isso, com uma última olhada para a multidão curiosa, incitou seu cavalo a continuar.

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Níniel e Dalan vinham percorrendo devagar as ruas da Cidade Baixa.

O jovem guardião lhe havia dito que o rei aguardava a presença dela Na Casa dos Reis, no sétimo círculo.

Como ansiava por reencontrá-lo! Os anos não haviam diminuído a afeição que nutria pelo guardião do norte.

Na época da guerra, durante o cerco dos inimigos, grande parte das mulheres e crianças havia sido retirada da cidade, mas quando retornou, não foi grande sua surpresa ao descobrir que o homem incomum que lhe havia salvado no Ermo, era a figura descrita nas lendas.

Desejava ardentemente revê-lo, mas ficou muito tímida em face de sua grandeza, apesar de Dalan lhe garantir que ele estava aguardando por ela. Ainda assim preferiu esperar que as festividades da coroação e das núpcias findassem, antes de se apresentar perante seu salvador de outrora.

Mas por fim, quando Dalan viera buscá-la, dizendo que o rei solicitava sua presença, não pode continuar negando.

Agora subiam devagar pelas alamedas íngremes, Dalan com um sorriso divertido ao escutá-la tagarelando, num sintoma evidente do nervosismo que o encontro já lhe causava.

O guardião havia mudado bastante com os anos. Seu rosto se afinara e mostrava uma expressão quase austera, tão característica dos homens de Gondor. O queixo tornara-se mais bem delineado e rijo, revelando força de caráter e determinação. Havia se transformado do jovem agitado e tímido num adulto seguro e altivo.

"Você acha que ele se recordará de mim?" Ela perguntou de repente.

"É claro que se recorda de você ou ele não haveria de me pedir para buscá-la." Riu-se ele.

"Você está tão seguro porque esteve em companhia dele todos esses anos, enquanto eu só obtive notícias ocasionais." Ela replicou irritada. "Como posso ter certeza de que ele ainda sente alguma afeição por mim, que só lhe trouxe problemas?"

Dalan manteve o sorriso paciente.

"Você não lhe trouxe problemas. E ele se preocupava porque gosta de você e sentia-se culpado por não voltar para vê-la."

"E não foi o que acabei de dizer?" Ela o interrompeu, ainda irritada. "Só problemas!"

"Você está nervosa." Ele parecia tão seguro, que ela achou impossível não começar a acalmar-se. "É normal, após tantos anos, mas eu garanto que ele deseja revê-la tanto quanto você a ele. Na verdade ficou bastante pesaroso de que você não estivesse presente na coroação e na cerimônia de casamento."

"A saúde de Anendis estava bastante frágil... eu não me arriscaria a deixá-la só..." Ambos se calaram, ainda afetados pela morte da mãe de Dalan, após sua longa enfermidade, especialmente Níniel, que fora acolhida como uma filha pela boa senhora.

Caminharam por um tempo em silêncio, perdidos em recordações, quando a ansiedade de Níniel voltou a aflorar.

"Você acha que eu a conhecerei? Quero dizer, a rainha? Você a viu realmente de perto?"

Ele sorriu, enquanto ela tomava fôlego em sua agitação.

"Oh eu a vi!" Respondeu, enquanto a ajudava com alguns degraus.

"E ela é mesmo tão bela quanto dizem?" Quis saber e ele confirmou com um aceno distraído, a admiração estampada no rosto moreno.

"Ela tem olhos azuis como um céu sem nuvens... um cabelo que brilha como a noite profunda, pontilhada de estrelas..." Sacudiu a cabeça. "Não, não há palavras suficientes para descrever a beleza dela..."

"Oh, eu percebo que você a viu muito bem." Níniel acusou, fazendo Dalan piscar rapidamente.

"Foi você quem perguntou." Ele provocou, com um sorriso astuto. "Não precisa ficar com ciúmes."

"Não diga tolices! Quem lhe disse que tenho ciúmes?" Apertou o passo para distanciar-se dele. "Não tenho ciúmes, mesmo quando você diz ter estado diante da própria beleza e eu pareço... pareço um ganso!"

"Níniel!" Ele chamou, já arrependido ao vê-la apertar o passo com insuspeita agilidade. Apesar do mau-humor e do caminhar pouco elegante, tratava-se da mulher grávida mais linda que já vira.

E a mais imprevisível também. Num minuto, ela parecia pronta para uma guerra, no seguinte, mostrava-se quase às lágrimas. "E eu nunca sei como agir!" Ele concluiu pesaroso, começando a segui-la.

E ela continuou com seu passo resoluto, até que uma pequena multidão barrou-lhe o caminho.

"O que acontece com as pessoas dessa cidade, para que andem em bandos?" Desejou saber, ainda irritada.

Dalan a alcançou.

"O que houve? Por que as pessoas estão aglomeradas?"

"Eu não sei. Talvez..."

E assim ela os viu, enquanto a palavra elfos corria veloz pela multidão até finalmente alcançá-la.

Já iam distantes, quando um deles parou e virou-se, olhando diretamente para onde ela e Dalan estavam, e assim que ela viu aquela face, alguma coisa pareceu partir-se dentro dela.

"Elrohir!" O grito saiu do fundo de sua alma e ela agarrou-se ao braço de Dalan, quando uma dor lancinante na cabeça atingiu-a como um soco. Foi tão violenta, tão inesperada, que Níniel sentiu a visão escurecer.

"O que houve?" Perguntou o guardião muito assustado, tomado pela surpresa. Jamais vira alguém tão pálido e Níniel estava tão branca quanto à neve.

Sem aviso, toda uma vida de recordações perdidas a assaltavam, numa onda atordoante de imagens, sons e sentimentos. Foi tão intenso que ela cambaleou e teria caído se os braços de Dalan não a houvessem amparado. Fixou olhos desesperados nele, que pareceu ondular a sua frente e sentiu-se transportada há outro tempo.

Viu uma mulher pequena, de longos cabelos negros a sorrir-lhe com amor, trançando-lhe os cabelos. Viu uma cidade de muralhas de madeira e uma casa sombreada por um grande carvalho... viu o elfo que a havia fitado de longe, erguendo-a nos braços para colocá-la em seu cavalo... Viu um túmulo no alto da colina e o outro elfo, pois o homem em seus sonhos era esse elfo, estava de pé com flores em suas mãos, despedindo-se do amor de sua vida.

"Níniel... Níniel..." A voz de Dalan soava longínqua, perdida no caleidoscópio de imagens atordoantes.

"São eles! Dalan são eles!" Desvencilhou-se dos braços que a amparavam, as lágrimas escorrendo-lhe pela face.

Começou a correr o máximo que pôde, já que eles continuavam se afastando e sabia que precisava alcançá-los antes que sumissem de sua vida novamente.

Pois eram seus amados tios. Tão semelhantes que mesmo ela tinha dificuldades para distingui-los de longe, assim como estava, com os olhos molhados de pranto.

Cambaleou um pouco, quando o bebê se mexeu bruscamente. "Por favor, meu bem..." Sussurrou entre soluços. "Eu preciso alcançá-los..."

Tropeçou na barra do vestido e só não foi ao chão porque no temor de perdê-los encontrou equilíbrio para manter-se de pé, o muro de lágrimas tão grosso que mal enxergava por onde pisava.

"Elrohir!"

Elrohir virou-se rapidamente ao som daquela voz.

"Elrohir?" Elladan chamou ao irmão mais jovem que desmontava, incredulidade estampada no rosto pálido. E então ele também a viu, surgindo como um espectro em meio à multidão.

Elrohir observou-a aproximar-se sem reação, a pouca cor que lhe restava fugindo do rosto. A dor de sua perda terrível estava amainada agora, porque fora quase intolerável na época, mas não estava esquecida, pois se tornara parte viva dele.

E como num sonho dolorosamente acalentado, Esperança surgia e no instante em que seus olhos se encontraram, sem questionar um minuto sequer, ele estendeu os braços e a sobrinha atirou-se neles.

Não havia o que dizer. Os sentimentos eram fortes e arrebatadores demais para serem traduzidos em palavras.

Levou muito tempo para que os soluços de ambos fossem silenciados, e mais tempo ainda para que Elrohir a libertasse.

Depois ela se voltou para Elladan e estendendo a mão o trouxe para junto de si, agarrando-se aos dois, pouco disposta a deixar que qualquer um deles se afastasse novamente.

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"Ela foi posta sob sua guarda!" Elladan encarou Dalan e seu rosto estava branco e rígido como uma rocha. "O que você estava pensando? Como ousa..."

"Tio Elladan!" Níniel o interrompeu incisiva. "Dalan e eu nos amamos ..."

O humano não se intimidou ao enfrentar o elfo enraivecido.

"Eu e Níniel estamos casados."

Por alguns instantes a hostilidade de Elladan pareceu aumentar, se é que fosse possível.

"Não a chame disso, já está perfeitamente claro que o nome dela é Esperança!"

Dalan sustentou-se com firmeza, enquanto se encaravam, então Esperança suspirou de onde estava sentada, na casa dos pais de Dalan, subjugada pelas fortes emoções que experimentava. Olhou para Elrohir em busca de ajuda, mas ele também encarava Dalan como se este fosse um orc.

"Tio Elrohir..." A atenção dele voltou-se imediatamente para ela, apertando suas mãos para indicar que a escutava. "Dalan cuidou de mim e sua família sempre foi boa para comigo..."

À menção do nome do dúnadan, os elfos lançaram novamente olhares hostis para o humano.

O jovem reprimiu um suspiro. Já não bastava descobrir que os irascíveis gêmeos eram tios de sua Níniel e agora vinha a notícia de que ela era filha do rei. O que lhe faltava acontecer?

Procurando manter-se firme sob o olhar feroz dos dois, decidiu que deveria se explicar, ainda que apenas para o benefício dela, que continuava bastante pálida.

"Eu e Nín... Eu e Esperança casamo-nos antes da guerra final, pois o futuro era incerto e ambos sofríamos com a possibilidade de nunca mais nos vermos novamente." Sorriu com carinho à esposa.

Ela retribuiu o sorriso apaixonado do marido, mesmo sob a sombra das lembranças de toda aflição daqueles dias.

"Eu estava atemorizada com a ideia de vê-lo partir com exército do norte sem expressar o amor que sentia..."

Nenhum dos elfos disse nada, contudo Elladan relaxou uma fração, ainda visivelmente beligerante para com Dalan, enquanto Elrohir tornou a apertar-lhe as mãos, até agora perplexo com aquela volta surpreendente do destino.

Ainda que a tocasse a todo instante, ele custava crer que Esperança estivesse ali, ao alcance de seus braços, tendo dificuldades também em conciliar a imagem da menina que deixara em Valle com a mulher prestes a ser mãe, à sua frente.

Ela estava bonita. Havia passado pela perda, pela solidão e pela dor. Fora obrigada a criar uma nova identidade e uma nova vida para si e se saíra admiravelmente bem, descobrindo inclusive o amor. Estava crescida e se tornara uma mulher bonita em todos os aspectos.

E Elrohir sentia culpa, pois não estivera ao lado dela, para protegê-la e guiá-la, como jurou que o faria na ausência do pai.

Sua mão pairou indecisa por sobre o ventre proeminente de Esperança, antes de erguer o olhar novamente para ela.

"Eu sinto tanto..." Ele disse abatido. "Sinto tanto por tudo que lhe causei..."

"Tio..." Ela começou a dizer, mas ele apertou-a contra si com bastante veemência.

"Eu sinto tanto por ter abandonado você... sua mãe confiou-a a mim e veja o belo protetor que me mostrei." Ele riu um riso amargo e Esperança desvencilhou-se de seus braços, para encará-lo.

"Não." Tocou-lhe o rosto com carinho. "Você não me abandonou, nunca!"

"Não?" Ele questionou-a incrédulo. "Se eu não houvesse fraquejado, poderia ter permanecido em Valle, mas não parei para considerar que você também sofria e te abandonei ao perigo e ao tormento..."

"Vocês estavam respeitando minha vontade." Ela insistiu. "E eu nunca desejei partir para Imladris."

Mordeu insegura os lábios, quando ele fitou-a surpreso.

"Mas em Imladris você seria amada e protegida..."

"Mas eu temia!" Ela o interrompeu, antes de desviar o olhar, aparentemente lutando com o que diria ou não.

"Esperança..." Elrohir procurou o olhar dela. "Eu não entendo..."

O rosto dela contorceu-se de aflição e seus olhos se encheram de lágrimas que ela tentou a todo custo impedir, mas já caíam livremente.

"Eu sempre temi que ele nunca me amasse..."

Esperança viu compreensão e piedade estampadas no rosto do elfo, antes dele estender a mão e com o polegar secar-lhe as lágrimas.

"E você ainda teme?" Perguntou com suavidade infinita.

"Não." Ela respondeu, depois hesitou, antes de falar baixinho. "Sim... ainda temo tanto."

Ele a observou em silêncio, a face parecendo dolorosamente cansada, como se estivesse sendo comprimido sob um fardo pesado.

"Ah pequena... o que fizemos de errado para que pensasse que seu pai não a amaria?" Abraçando-a, correu as mãos com ternura pelas costas dela, procurando confortá-la.

Era tempo de decidir, Esperança admitiu relutante, aconchegando-se no abraço dele. Tempo para ir adiante com a vida e deixar para trás o passado.

"É isso o que sempre pensou?" Ele estava falando. "Nada do que aconteceu... nenhuma das decisões tomadas foi responsabilidade sua ou de seu pai... nada o impedirá de amá-la."

Os olhos da menina se encheram novamente de lágrimas.

"Tio?" Ela chamou, com a voz embargada. "Durante toda minha vida você foi o pai a quem amei, o único pai que desejei ou precisei..." Ela secou as lágrimas na manga do vestido, antes de respirar fundo. "Mas agora, após tantos anos ansiando por memórias perdidas, não posso continuar fugindo de minha própria história."

Elrohir engoliu o nó na garganta, procurando conter as próprias emoções.

"Eu também te amo, filha." Respondeu antes de beijá-la na testa. "Você sempre será minha amada filha..."

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Quando as portas duplas se abriram para o vasto salão, as pessoas presentes observaram com curiosidade a mulher, o guardião e os dois elfos anunciados pela sentinela, mas apenas uma figura importava a Esperança.

"Níniel!"

"Majestade." Ela falou num sussurro rouco, enquanto atravessava o salão para curvar-se diante do rei.

Ele se ergueu do trono com um sorriso caloroso, os braços estendidos numa saudação sincera.

"Pensei que você não viesse mais... quanto tempo, pequena Níniel." Ele estava sorrindo amplamente, e os olhos dela percorreram o rosto familiar, encontrando novas linhas e novos cabelos brancos. Estava mais velho, mas havia também uma nova luz em seu semblante. Ela desviou o olhar, libertando suas mãos das dele.

"Meu senhor, eu vim para... você está enganado... eu não sou..." Gaguejou como uma tola, mas algo já estava capturando a atenção dele, para longe dela.

"Elladan... Elrohir! Não esperávamos vocês antes de amanhã..." Estava surpreso, mas igualmente feliz. "Tenho certeza que se excederam na cavalgada..." Repreendeu com bom humor, enquanto adiantou-se para cumprimentá-los. Apertou-lhe os braços com afeição. "Bem-vindos, irmãos!"

"Não pretendíamos interromper sua reunião." Elrohir explicou, depois de devolver o gesto afetuoso. "Mas precisamos conversar..."

"Nós já havíamos terminado." Ele disse, dispensando os nobres que começaram a se retirar. "Na verdade aguardava Níniel e Dalan." Franziu o cenho. "O que precisa dizer pode esperar? Há muito aguardava essa reunião com Níniel..."

Sorriu novamente para a moça que parecia estranhamente nervosa, mas Elrohir adiantou-se.

"O que é muito oportuno Estel, pois o que preciso lhe dizer é exatamente a respeito de vocês dois..."

Quando os olhos cinzentos do rei o fitaram com uma mistura de curiosidade e confusão, ele continuou rapidamente, como se temesse uma interrupção.

"Nós a reencontramos quando chegarmos à cidade e soubemos que você salvou-lhe a vida ao resgatá-la das mãos de orcs das montanhas..."

Elessar entreabriu os lábios, estudando-os com o cenho franzido.

"Eu estou compreendendo bem? Você está me dizendo que se conheciam?" Voltou o olhar indagador para Níniel. "Quando isso aconteceu?"

"Aconteceu há muito tempo..." Elrohir aguardou até que a atenção do irmão estivesse novamente nele. "Pois você salvou a vida da filha de Ivy, Estel." E observou sua expressão divertida transformar-se em espanto. "E ela acabou de se recordar disso."

Não era possível! Que loucura era aquela? Sumamente confuso Elessar virou-se novamente para a moça pálida. Aquela conversa estranha estava fazendo menos sentido a cada segundo. Filha de Ivy? Como seria possível?

Ela claramente não era filha de Elrohir e do que se recordava quando lhe resgatara no Ermo, possuía herança dúnedain. Examinou-a novamente, que voltou seu olhar rapidamente para uma escultura atrás do trono, por cima do ombro dele. Então, de súbito, suas pernas ficaram fracas e a boca seca.

"Quem é você Níniel?" Ele perguntou, a suspeita terrível começando a tomar voz em seu íntimo.

"Estel..." Elrohir falou preocupado, mas Elessar o ignorou, toda a atenção focada na garota.

"Quem é você e quem é seu pai Níniel?"

A cabeça de Esperança latejava e ela sentiu-se sufocar sob o olhar inclemente do rei.

"Eu sou Esperança, meu senhor..." Sussurrou com voz trêmula, procurando inconsciente à presença protetora de Elrohir. "Sou filha de Ivy..." Seu coração martelava tão forte que parecia ecoar em seus ouvidos. "Sou filha de Ivy e Estel."

Elessar gelou. Ficou tão aturdido que durante algum tempo não esboçou a menor reação. Depois, com esforço, conseguiu dizer:

"Se isso é uma brincadeira, saiba que não achei engraçado."

"Acha que brincaríamos com algo tão sério?" Elrohir deu um passo à frente da sobrinha. O elfo parecia tão pálido quanto Níniel, mas ao contrário desta, bastante resoluto. "Viemos aqui apenas com a verdade."

"Desde quando?" Elessar perguntou, recuperando a compostura e voltando o olhar para a mulher ligeiramente oculta pelo corpo do irmão.

"Desde quando?" Elrohir pareceu confuso.

"Desde quando conhece essa verdade?"

O elfo levou a mão à fronte e passou-a pelos cabelos. Esperança percebeu que era o primeiro gesto seu que revelava nervosismo.

"Eu a amparei." Ele alternou um olhar entre Elladan e Esperança, antes de voltá-lo para Estel. "Eu temia o que poderia acontecer se eu não a ajudasse... elas estavam em necessidade e Ivy teria partido com o bebê..."

Um silêncio pesado pairou na sala. O rei o observava, novamente aturdido.

"O que você está querendo me dizer? Você sempre soube?"

"Eu sempre soube. Assim que vi Esperança nos braços da mãe, eu soube."

Elessar o fitou, a intensidade de seu horror, a força avassaladora de seu choque, fazendo Elrohir recuar, ferido por ser ele o causador de tamanho golpe no irmão.

O que poderia fazer para amenizar isso? Enganara da pior maneira possível, aquele a quem sempre afirmara amar. Negara-lhe a chance de estar ao lado da filha. Mentira-lhe. E sabia que não merecia perdão, embora o almejasse quase com desespero.

Sua expressão suavizou-se ao pousar o olhar em Esperança, imóvel e pálida feito uma escultura de mármore. Mas isso não era sobre ele, era sobre ela, que merecia qualquer esforço da parte dele, para ser feliz.

"Ivy amava a filha intensamente e isso lhe anulava toda a razão. Tem que acreditar nisso. Não importando o que ela tenha feito, tem que saber que foi o amor quem moveu seus atos..."

"O que ela tenha feito?" O nó indefinível que havia surgido no estômago de Elessar acentuou-se. "Esconder de mim a verdade sobre minha própria filha e com sua anuência, foi o que ela fez Elrohir!"

"Era necessário ajudá-la Estel." Elrohir explicou, procurando ser razoável. "Não havia outra escolha possível. Ivy necessitava de ajuda e eu... eu teria feito qualquer coisa por ela."

Elessar tinha uma expressão carregada e tensa enquanto encarava o irmão.

"Teria feito de tudo, inclusive se associar a ela para me enganar e mentir por anos a fio?"

"Tem razão." Havia derrota no tom de voz do elfo, mas não reprovação. "Você tem toda razão se chegar a essa conclusão e me odiar, mas ainda sim, nada foi feito intencionalmente. Nunca nós associamos intencionalmente para enganá-lo..."

Estel estava perigosamente imóvel, sua figura alta e forte emanando raiva e amargura. Quanto a Esperança, na conversa que tiveram anteriormente, se mostrara forte e determinada a trazer a verdade à tona. Mas agora voltava a sentir medo. Um medo infinito.

"Isso é o que você diz, mas como eu posso confiar em sua palavra depois de descobrir sobre essa traição? Você e Ivy realmente me odiavam a ponto de conspirar contra mim?" Continuava encarando o elfo, o pescoço rígido, os lábios apertados em uma linha fina.

Elrohir apertou os maxilares. Odiava a situação que estava criando por causa de sua inabilidade de se explicar a Estel, e tudo que dizia só piorava aquela conversa dolorosa.

"Não peço que confie em mim, mas apenas que escute a verdade! Aquelas semanas, após descobrir sobre a existência de Esperança, foram umas das piores de minha vida! Não conseguia comer, dormir, não conseguia me concentrar em nada. Mas eu tive que encarar o fato de que amava Ivy... e que faria tudo o que pudesse para ajudá-la..." Depois de uma breve pausa, suspirou. "E eu odiava a mim mesmo por isso, nunca a você. Eu estava furioso comigo, mas nunca o odiei meu irmão. Nada do que fizemos teve a ver com ódio por você."

Calada e esquecida, Esperança sentiu uma necessidade desesperada de aliviar a angústia de Elrohir. Ela tentou aproximar-se dele, mas desistiu, com medo de fazer qualquer coisa que pudesse piorar a situação.

Elladan, vendo também sua angústia, aproximou-se e tocou-lhe o braço para apoiá-la.

"Estel, precisa escutar Elrohir. Precisa conhecer toda a história e as razões por trás dela..."

"Quaisquer que tenham sido essas razões, não interessam mais Elladan." Ele respondeu com amargura. "Não se pode mudar o passado."

"Mas as coisas podem ser esclarecidas, não acha? Precisa ao menos conhecer os motivos de Ivy e os nossos também."

Elessar cruzou os braços.

"Para apaziguar-lhes a consciência? É isso?"

"Para lhe dar a oportunidade de conhecer todas as circunstâncias que nos levaram a manter esse segredo de você até hoje..." Elladan tentou argumentar.

"Oportunidade?" O rei interrompeu, com raiva. "E que oportunidade eu tive de saber que era um pai, se vocês conspiraram contra mim?"

"Isso é uma inverdade Estel!" Elladan protestou. "Nunca conspiramos contra você, mas estávamos atados por promessas que não poderiam ser desfeitas."

"Não. A única verdade que eu percebo e que vocês se uniram em deslealdade contra mim! Como puderam? Meus próprios irmãos se uniram na vingança daquela mulher!"

"Você não sabe do que está falando, Estel." Elrohir replicou, os lábios apertados. "Ivy não o odiava e nunca pretendeu se vingar de você e muito menos usar a filha para isso."

"Basta!" Ele explodiu, num tom cada vez mais alto. "Não quero suas desculpas, você não consegue entender? É irrelevante após tanto tempo, não acha?"

Elrohir enrubesceu, os olhos chamejando diante do comentário cáustico.

"Quando encontrei a mulher que acusa de traição, ela estava sozinha com seu bebê, às portas da miséria. Desamparadas. Sem dúvida você sabia que o ato de vocês poderia resultar numa criança, mas nunca a procurou novamente. Por que Estel? Isso não ofende seu senso de lealdade?"

E assim sem pensar, a mão de Elessar ergueu-se, esbofeteando o irmão duramente, fazendo com que a cabeça de Elrohir virasse de lado com a força do golpe e o som ecoasse pelo salão.

Espantado o rei olhou para ele e abalado pela visão de uma impressão de palma na face de Elrohir, olhou para a própria mão como se ela não lhe pertencesse.

O elfo levou a mão ao rosto, tão chocado quanto ele. Ficou em silêncio, com o coração aos saltos, o sangue subindo e afogueando-lhe a face, para em seguida abandoná-la a palidez completa.

Elessar sacudiu a cabeça para tentar recuperar-se da surpresa de seu ato e murmurando "Elrohir..." tentou se desculpar, mas as palavras não saíram. O misto de raiva, amargura e desamparo que o consumiam o impediram.

Mas misturado a todos esses sentimentos havia outro, algo que jamais esperara sentir em relação a Elrohir. Aquela sensação violenta, quase brutal de traição.

"Por que você não me contou? O que você temeu que o levou a me ocultar a verdade? Conhece-me tão pouco a ponto de temer que eu ferisse Ivy ou minha própria filha?"

Esperança escutou a dor e o sofrimento na voz do rei. Escutou a tristeza pelo o que lhe havia sido negado e sentiu remorsos por ter sido parte do que os levou a chegar àquele ponto, se recusando a ir para Rivendell no passado.

"Eu não temi Estel, nunca. Mas Ivy... ela temeu sua cólera. Ela temeu seu desgosto e seu desprezo. E ela temeu acima de tudo perder a filha... o único bem verdadeiro que chegou a possuir na vida."

"Eu não aceito isso Elrohir." Elessar retrucou. "Você nunca deveria ter receio de vir a mim. Ivy também não. Nunca dei motivos a ela para que me temesse."

Elrohir pareceu derrotado, sabendo que nenhuma explicação satisfaria Estel.

"Sinto muito que tenhamos chegado a isso..."

"Sente? Mas nós não podemos mudar o que aconteceu Elrohir. Nós não podemos mudar o que eu sinto como uma traição. Não é possível."

"Mas é possível mudar o futuro. E o presente. E a forma como se sente em relação ao passado. Você possui uma filha e pode finalmente conhecê-la como tal."

Uma parte de Estel reconhecia a verdade nessas palavras, ainda assim não pode encontrar em seu coração motivos para perdão. Não neste momento.

"Eu sei disso, mas também sei que ferimos um ao outro mais que qualquer um de nós pode perdoar. Por favor, saia." Ele afirmou isso quietamente e Elrohir assentiu, em aceitação serena.

"Eu estava amedrontado de que nós separaríamos em amargura... mas agora vejo que não poderia ser de outra forma..." Hesitou. "Eu realmente sinto muito Estel..."

O humano nada disse, então o elfo afastou-se e encarou Esperança, que continuava fitando a cena numa mudez chocada.

A sobrinha, ao observar-lhe o rosto, se atirou em seus braços, abraçando-o sofregamente.

"Não vá, tio..." Ela implorou. "Por favor, não me deixe!"

Fazendo um supremo esforço, Elrohir respirou fundo. Precisava ser forte apenas mais alguns momentos.

"Eu preciso ir minha pequena." Ele disse isso na voz forte habitual dele. "E você precisa ficar com Dalan e cuidar do bebê..." Tocou os lábios dela com dedos suaves, para impedi-la de protestar. "Preciso que me escute. Deve ficar aqui, com seu pai... Não! Escute, por favor. Fique e explique tudo da melhor maneira que conseguir... e peça que ele me perdoe, se puder..." Precisava garantir que Esperança não odiasse o pai, ou desistisse da vida que havia criado em Gondor, junto ao marido. "Você faz isso por mim, minha pequena?"

Elladan viu Esperança acenar a cabeça contra o tórax do irmão, mas quando o fitou, Elrohir desviou o rosto, incapaz de sustentar seu olhar. Depois acarinhou a bochecha da sobrinha suavemente.

Esperança sentia lágrimas molhando seu rosto e não sabia se eram suas ou dele. E permaneceram abraçados, esquecidos de tudo, até que ele inclinou a cabeça para beijá-la na testa.

"Adeus, minha pequena valente."

Soltando-a e sem olhá-la novamente, dirigiu-se às portas. Momentos silenciosos transcorreram no salão após sua saída.

Esperança foi a primeira a reagir, pretendendo segui-lo, entretanto mal tinha dado dois passos, foi impedida por Elladan, que lhe segurou o braço.

"Estel é seu pai, pequenina... Foi por esse motivo que aqui viemos... dar uma chance ao relacionamento de vocês."

Ela relutou, olhando para a porta por onde saíra seu tio, depois olhou para o rei, ainda de costas para eles.

"Não se preocupe. Não deixarei com que nada de mal aconteça a Elrohir. E me acredite, nós vamos consertar essa situação." Ele prometeu. "Vamos consertar tudo." Abrandou em seguida sua expressão tensa, para beijar-lhe carinhosamente o rosto. "Vá para seu pai..."

Saiu em seguida, tencionando seguir Elrohir.

O rei permanecia no mesmo lugar. Seus ombros estavam caídos, e ela viu quando ele correu as mãos pelo rosto cansado. Parecia dominado por um misto de emoções contraditórias.

Mas a visão daquela figura abatida lhe encheu de um caos de fúria, revolta e indignação, enquanto recordava as palavras com as quais ele ferira seu tio. Nunca tivera motivos para temê-lo, mesmo quando era um desconhecido e, no entanto, ele havia dito palavras cruéis.

Como se atingido pelos tumultuosos sentimentos dela, Elessar ergueu os olhos e a viu. Um par de olhos frios e feições endurecidas que o encaravam.

Abalado, ele estendeu a mão.

"Níniel?"

"Não ouse!" Ela sibilou. "Deixe-me em paz!"

"Níniel ..."

Aproximou-se e ela recuou com os lábios crispados.

"Por que você tinha que fazer isso? Não tinha que ser assim..." Sentiu-se engasgar com o fel amargo de seu desengano. "Você deveria ser o menino das histórias!"

"Precisamos conversar. " Ele implorou, mas ela continuou se afastando. "Precisamos conversar sobre tanta coisa..."

"Não há nada que você já não tenha deixado bastante claro em relação à minha mãe ou a mim..."

Ele deixou a mão cair ao longo do corpo.

"Eu sinto muito que tenha escutado tudo isso, mas nós dois fomos vítimas. Roubaram nosso direito de sermos pai e filha."

Ela não respondeu e ele aproximou-se novamente.

"Escute-me um instante. Precisamos conversar. Por favor!" Seu tom era de suplica e ao escutá-lo, toda energia pareceu subitamente abandoná-la.

"Você tinha razão meu senhor. Não podemos mudar o passado."

"Esperança..." Ele murmurou, as mãos pendendo soltas novamente. "Sim, eu acredito que não podemos mudar o que aconteceu no passado, mas é terrível jogar fora o que podemos construir como pai e filha."

"Não quero construir nada com você! Não devia ter acreditado em histórias e lendas! Eu odeio você! Ouviu bem? Odeio você!" Em seu íntimo, sabia que era mentira, mas estava tão ferida, que não media o que dizia. "E já pensou que talvez eu não o queira como pai?"

Hesitou um pouco, assustada com a sensação de que algo vital morria no rei. A energia, aquela nova luz... Era como se tivessem sido apagadas, deixando apenas uma pálida figura e um olhar ferido. Mas então se lembrou do semblante marcado pela dor de Elrohir e de todas as palavras amargas do rei.

"Você a odeia. Como pode amar a mim que sou filha dela?"

Dando meia-volta, se afastou definitivamente. O rei não tentou detê-la e Esperança nem esperava que o fizesse.

Passou por Dalan que tinha os olhos arregalados, indubitavelmente horrorizado com o que acabava de presenciar e ainda pode escutar Elessar dizendo:

"Vá. Não a deixe sozinha... tome conta dela, por favor."

Abrindo as portas com um estrondo passou pelos guardas atônitos e desceu os degraus para a saída, a visão enevoada pelas lágrimas que lhe saltavam dos olhos e pôs-se a correr, não se importando de que estivesse fugindo. Nada mais lhe importava.

De repente, sentiu braços fortes a amparando, abraçando-a com ternura.

"Está tudo bem, amor. Chore o quanto precisar. Estou aqui com você..."

Esperança agarrou-se a Dalan e chorou durante um longo tempo. Chorou até esgotar todas as lágrimas e a pura exaustão substituir o vazio que sentia dentro de si.

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Sentindo-se aturdido, Elessar seguiu cambaleante para o trono, respirando fundo para tentar entender o vendável que o açoitara.

"Ivy deu à luz minha filha!" Comprimiu as pálpebras com dedos trêmulos.

Quando o amor que ela jurara sentir por ele havia se tornado ódio a tal ponto de conspirar com seu irmão para manter a verdade escondida dele?

"Desde que você a abandonou naquela taverna Aragorn." Ouviu a voz de sua própria consciência responder. "No entanto eu teria voltado, se ela houvesse me contado."

Mas ela havia enredado Elrohir em sua vingança, pois era como vingança que ele enxergava as ações dela. Vingança por abandoná-la.

"Por que meu amado irmão aceitaria conspirar contra mim?"

E por todos esses anos ele não lhe dissera uma só palavra sobre a menina!

Aquilo parecia um pesadelo sem fim. Os olhos de sua filha brilhavam de fúria ao encará-lo e haviam dilacerado seu espírito.

"Majestade?"

Assustado ergueu os olhos e achou-se fitando na face do jovem regente.

"Faramir..."

Ele fez-lhe uma mesura.

"Perdoe-me se o assustei majestade, mas..." Hesitou um pouco, inseguro. "Eu vi os gêmeos saírem agora há pouco... eles pareciam chateados e a moça que saiu logo após, seguida por Dalan..."

"Esperança!" O rei agitou-se. "Ela estava bem?"

"Ela pareceu-me... transtornada, mas Dalan a amparava."

Elessar concordou, antes de arquear os ombros para esconder o rosto nas palmas das mãos, com um suspiro profundo.

Faramir preocupou-se com tal gesto.

"Vossa majestade deseja com que sejam trazidos de volta ou que eu envie alguém para certificar de que estejam bem?"

"Não será necessário." Pausou por instantes. "Ela não quererá voltar."

Faramir assentiu relutante, antes de prosseguir.

"Eu vim avisá-lo sobre o Conselho, meu senhor..."

Elessar gemeu intimamente, antes de descobrir o rosto.

"Havia me esquecido do Conselho."

Apesar disso não fez menção alguma em se levantar e pareceu a Faramir, pela forma com que se mantinha encurvado, que não teria energia para tanto.

O regente o observou em silêncio por alguns instantes, hesitante em sugerir o que pretendia,

"Majestade..." Resolveu então. "Talvez o senhor devesse deixar o Conselho por minha conta, afinal os assuntos tratados serão muito simples e eu poderei me desincumbir de todos com bastante facilidade."

Elessar começou um protesto, mas... talvez sendo verdadeiro consigo mesmo, não estava dentro de suas possibilidades enfrentar o Conselho hoje.

"Talvez você tenha razão. Obrigado mellon-nin."

Faramir encurvou-se.

"É meu dever majestade."

Elessar sorriu, apesar dele. Tanta formalidade por parte do regente o divertia.

Faramir afastou-se para que se erguesse, no entanto teve de controlar-se para não estender as mãos e auxiliá-lo.

O rei franziu as sobrancelhas quando viu que o regente desejava dizer algo mais e aguardou com expressão indagadora.

"Eu poderia acompanhá-lo majestade? Quero dizer, a seus aposentos majestade?"

"Eu pareço tão indisposto que necessito ser enviado aos meus aposentos?" O rei gracejou com um sorriso cansado.

"Não senhor, majestade!" Faramir garantiu encabulado e depois capitulou. "Um pouco escoado talvez."

Elessar apertou o ombro do amigo, em agradecimento.

"Eu lhe agradeço Faramir, mas eu imploro, deixe para ocasiões formais o protocolo. Chame-me de Elessar..."

"Como queira majes... desculpe-me, é um habito mais forte do que eu."

Ele sorriu, enquanto saiam do salão e começavam a caminhar em direção as câmaras reais. A presença suave e tranquila do jovem amigo, trazendo alívio a seu conturbado espírito.

"Não tivemos tempo de conversar apropriadamente desde que você chegou de Ithilien e eu não pude perguntar como vai Lady Éowyn."

O rosto de Faramir iluminou-se ao recordar a esposa.

"Ela passa bem majestade. Adaptando-se como pode ao novo lar, mas minha esposa é bastante diligente, como bem o sabe."

"Eu sei e sei que vocês dois, mais do que ninguém, merecem ser felizes."

"Obrigado majestade. É uma honra e um prazer fazer de Ithilien nosso lar."

Ele assentiu satisfeito e continuaram em silêncio sociável até pararem defronte à porta fechada dos aposentos reais.

"Considere-me entregue." Elessar caçoou novamente, só para ver a ansiedade tomar o rosto do amigo.

"Majestade... Elessar... há algo mais que eu possa fazer?" Faramir não pode esconder a preocupação.

O rei negou suavemente com a cabeça. A única pessoa de quem necessitava no momento era Arwen.

"Eu receio que não, mellon-nin, mas agradeço-lhe."

Faramir concordou e fez outra reverência antes de a porta abrir e fechar-se atrás do rei.

O regente ainda ficou parado por alguns instantes, encarando a madeira escura.

Sentia-se desconcertado com a cena que presenciara. O Rei Alto, sentado em seu trono... A expressão viva da fragilidade.

Desde que acordara de seu tormento nas Casas da Cura, atendendo ao chamado dele, se acostumara a enxergá-lo poderoso e inabalável.

O fato era que talvez devesse começar a vê-lo como... humano.

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Continua ...