DISCLAIMER: Todos os personagens da série "Sir Arthur Conan Doyle's The Lost World" são propriedade de John Landis, Telescene, Coote/Hayes, DirecTV, New Line Television, Space, Action Adventure Network, Goodman/Rosen Productions, e Richmel Productions (perdoem qualquer omissão).
Nota: não, eu não sou dona dos personagens. Mas isso não me impede de amá-los...
Di: pois é, eu falhei na minha pontualidade britânica, mas estou voltando a ela, aos poucos, prometo. Que bom que a fic está sendo informativa, graças à Rosa várias pesquisas foram refinadas pra ter um mínimo de verossimilhança. Fico feliz que esteja gostando, e espero que apesar do atraso continue interessada na estória! Um beijo grande!
Emanuela: oi, moça! Romance? Bom, nem todas as minhas fics são de romance, e essa estória já está praticamente terminada. Vai ter romance, mas do jeito que eu acredito nele: permeado na vida, e não romance puramente romance. Espero que você continue lendo pra conferir! Beijo!
Kakau: muita água vai rolar por baixo dessa ponte, amiga! O balão é só o pavio do barril de pólvora, pode crer... Se eles soubessem o tanto de confusões que o desejo de acelerar a construção do balão vai trazer pra eles, garanto que teriam incentivado o Challenger a construí-lo! Beijão e até!
Claudia: Sis! Pois é, isso é tudo o que eles querem fazer. Mas, você sabe, nada é tão fácil quanto a gente gostaria, e vai dar pano pra manga voltar pra casa! Beijão, saudade!
Mary: oiê, quanto tempo, moça! Obrigada, eu sei que meu estilo não tem nada de leve, é bem pro dramalhão mesmo, he, minha válvula de escape é escrever, e todas as coisas que acontecem comigo ou próximas a mim são dramatizadas nos personagens... E o drama só tende a aumentar nessa fic! Um beijo grande!
Nessa: wow, wow, wow, my pupil is back! Obrigada por ter colocado os reviews em dia, e fico feliz que a fic esteja transmitindo emoção através dos personagens. Só posso adiantar que vem muito mais por aí... XOXO!
Maguinha: você apareceu mas não disse que gostou do capítulo. Espero que tenha gostado e que acompanhe o próximo... Se não vir sua review nesse, vou concluir que é porque não gostou (chantagista eu, né?) Beijão pra você!
Inadimplentes: Si (ou qualquer uma das suas múltiplas personalidades): alguma de vocês podia deixar review – de preferência todas, né? E de preferência em todos os capítulos que estão faltando... Rosa: fala sério, você some da hora mágica e mesmo eu ficando um mês sem publicar você não conseguiu colocar as reviews em dia tsc tsc tsc... Jess: cadê você, mulher? Hoje foi dia do funcionário público e você nem conseguiu me deixar review, snif snif snif. Aline: where are you, honey?
Capítulo 10 – Na cova dos leõesA fazenda para os visitantes da Brazilian & British Trade Company em São Luis não poderia ser mais bem localizada, em se considerando os propósitos deles: ficava a apenas poucos quilômetros da base de dirigíveis que lhes poderia fornecer os materiais para o balão.
Logo depois de chegarem, tinham passado alguns dias observando a rotina do lugar que, por ser bastante ermo, não tinha uma vigilância muito extrema. Além disso, os materiais que precisariam não eram tão grandes quanto os dos dirigíveis, e poderiam ser mais facilmente obtidos, carregados, transportados e escondidos.
'Não devemos todos nos envolver na execução desse plano.' Marguerite ponderou. 'Pode ser muito arriscado.'
'Concordo. Eu e Ned podemos tomar conta disso.' Roxton propôs.
'Ned pode ir conosco, mas eu vou entrar no perímetro da base.' Marguerite insistiu.
'Por que?' Roxton não podia acreditar em seus ouvidos.
'Garanto que se houver algum problema, será mais fácil convencer os soldados com meus belos olhos azuis, ora bolas!' ela o desafiou.
Antes que Roxton pudesse retrucar, Challenger apaziguou os ânimos:
'Marguerite tem razão, Roxton. Apenas em duas pessoas seria impossível realizar esse trabalho. E se vocês precisarem dar explicações, é bom ter com vocês alguém que possa falar mais de uma língua, além, claro, de alguém que possa usar, digamos, outras habilidades...' ele disse, cofiando a barba pensativamente.
O plano estava totalmente traçado e eles pretendiam liquidar o assunto em poucas horas, naquela mesma noite.
Roxton, Ned e Marguerite deixaram a fazenda pouco depois do anoitecer. Era uma noite de lua crescente, portanto nem clara nem escura demais para o que precisava ser feito. Depois de observarem os vigias à distância, os três entraram no perímetro da base, sem serem vistos, e rapidamente tiveram acesso ao depósito que os interessava.
O que realmente era precioso que carregassem era o tecido especial usado para a cobertura dos balões, bem como o equipamento para enchê-lo. Separaram aquilo de que precisariam, e quase tão sorrateiramente quanto tinham entrado, conseguiram sair. O material, muito moderno, era bastante leve também, o que facilitava o trabalho dele. Já estavam se afastando quando Marguerite os interrompeu.
'Esquecemos do combustível!' ela disse, batendo com uma mão na testa.
'É muito arriscado voltarmos agora...' Roxton tentou ponderar.
'Mas é inútil se não voltarmos, Roxton. Eles certamente vão dar pelo sumiço do material em alguns dias no máximo, e vão reforçar a vigilância de agora por diante.' Marguerite argumentou. 'Esperem aqui, eu vou voltar.'
'Não, Marguerite, eu irei.' Ned disse, já deixando a parte que ele carregava no chão e preparando-se para voltar.
'De jeito algum, Ned. Se os guardas o seguirem, vocês precisam ser capazes de fugir carregando essas coisas aí, coisa de que eu não seria capaz apenas com Roxton. O combustível é apenas uma lata, que eu consigo carregar sozinha. Esperem por mim aqui, eu já volto. Se ouvirem qualquer ruído ou se forem seguidos, sumam – nesse caso nos encontraremos de volta na fazenda.' E sem dar tempo para mais argumentos, ela girou sobre os calcanhares e voltou para o lado da base.
Roxton não pôde conter uma imprecação. Ela conseguia exasperá-lo quando agia dessa maneira. Ned apenas olhou para ele, achando melhor não fazer nenhum comentário naquele momento. Pouco mais de quinze minutos tinham se passado, quando ouviram, a algumas centenas de metros, o estampido de um tiro, o barulho de metal rolando, e vozes intercaladas. A cor sumiu do rosto de Roxton. Deixando o que carregavam escondido, os dois se aproximaram o mais que puderam da cerca do campo, sem serem vistos. Dois soldados tentavam deter Marguerite – que felizmente não parecia ferida – o tiro devia ter sido disparado para o alto. Os dois guardas falavam com ela em português – e os dois não conseguiam entender o que era dito. Apesar disso, no meio da discussão, ela realmente ergueu a voz, dizendo em inglês: 'Vão embora. O combustível está no mato.' Mais alguns minutos de discussão e os guardas a levaram para dentro. Eles se aproximaram mais, e viram a lata de combustível que tinha sido arremessada por ela.
'O que faremos agora?' Ned perguntou, mas não precisava perguntar para ver que Roxton tinha a firme intenção de entrar na base. 'Não vamos conseguir ajudá-la assim, Roxton! Vamos voltar para a fazenda e voltaremos aqui quando eles já não puderem suspeitar de nós como parte disso tudo!' Mesmo assim, Ned teve que praticamente arrastar Roxton para tirá-lo dali, não sem antes pegar a lata de combustível. Os dois mal trocaram palavra em todo o caminho de volta, e Roxton continuamente se virava para a direção da base, como se quisesse ouvir, mesmo àquela distância, o que se passava lá.
Ela voltara rapidamente ao depósito, encontrando com facilidade o combustível, e tão rapidamente quanto entrara pretendia sair. Mas uma das malhas da cerca enroscou-se em seu cabelo preso, e chacoalhou a cerca, atraindo a atenção do guarda. Ela arremessara o combustível muito antes dele se aproximar, e conseguira soltar a malha da cerca de seu cabelo, mas o guarda atirara para cima ameaçando quem estivesse ali, e ele estava perto demais para que ela simplesmente desatasse a correr.
'Alto, senhora! O que faz aqui?' o guarda perguntou, a arma apontada para ela.
'Apenas dando uma volta, senhor.' Ela respondeu, no tom mais inocente possível.
O outro sentinela, atraído pelo tiro, aproximara-se também.
'Não viu a cerca?' o outro guarda a interpelou.
'Se eu a tivesse visto não teria ficado enroscada nela, senhor. Nem teria entrado nesse lugar.' Ela tentava se fazer de desentendida.
O guarda preparou-se para imobilizá-la.
'Ei, o que você pensa que está fazendo? Deixe-me ir! Eu não quero nada com vocês!'
'Se a senhora é inocente, será liberada depois de conversar com nosso comandante, não se preocupe.'
Essa não, ela pensou. A última coisa que pretendia era ficar presa naquela base. Sabia que os rapazes deviam ter sido atraídos pelo tiro. Foi então que gritou mais alto, em inglês, para que eles fossem embora.
'Ela fala inglês! Vamos levá-la, pode ser uma espiã!' a frase de Marguerite levantara as suspeitas contra ela.
'O que ela disse?'
'Eu sei lá, mas sei que é a mesma língua arrevesada que os comandantes falam lá dentro. Vamos!'
E, dizendo isso, eles finalmente a algemaram e a levaram para dentro da base.
'Onde está o comandante de vocês?' ela era ousada.
'Dormindo. Ele falará com a senhora pela manhã – não vejo motivo para acordá-lo no meio da noite, isso só vai piorar o humor dele. Enquanto isso, a senhora vai ficar aqui.' Ele respondeu, finalmente trancando-a em uma pretensa cela.
Quando eles se afastaram, ela não sabia se estava mais preocupada ou aliviada. Os rapazes tinham todo o material nas mãos – o que era o mais importante. E os soldados sequer desconfiavam de alguma coisa, porque caso desconfiassem teriam imediatamente acordado seu comandante. Por outro lado, perder uma noite ali era horrível, e principalmente ter que ficar frente a frente com comandante deles era uma ameaça. Enfim, nada havia para fazer. Algemada como estava, numa sala trancada, com uma janela estreita e alta demais para lhe oferecer fuga, o jeito era esperar pela manhã, que não tardaria.
'O que?' Summerlee parecia incrédulo ante o que ouvia.
Roxton andava de um lado para outro, ansioso por voltar à base. Ned continuou explicando.
'Então ela nos mandou pegar o combustível e desaparecer. Depois voltou a falar em português com eles, e eles a levaram algemada.'
'Isso não é nada bom.' Verônica estava muito preocupada.
'Challenger, acho bom você começar a verificar se tudo o que trouxemos está em ordem. Eu vou voltar à base para tentar descobrir o que está havendo por lá.' Roxton disse, em voz grave.
'Eu irei com você.' Ned se levantou. Sabia que não era uma boa idéia deixar Roxton sozinho, pois ele poderia tentar entrar na base, o que não ajudaria Marguerite nem um pouco.
'Independentemente de qualquer coisa, voltem até meio-dia, ou irei atrás de vocês.' Verônica instou.
'Combinados.' Os dois responderam, antes de sair.
O sol se filtrava pela janela alta, e Marguerite acordou com o corpo dolorido do cochilo rápido naquela posição incômoda com as mãos algemadas atrás das costas. Bem em tempo, pois já ouvia as passadas pesadas das botas dos guardas no corredor. Eles abriram a porta e a fizeram levantar-se.
'Vamos. O comandante a verá agora.'
Eles a escoltaram até uma sala de comando, onde um homem estava sentado de costas para a porta. Ao ouvi-los se aproximando, ele se virou, e depois de olhar apreciativamente para Marguerite, ordenou: 'Podem voltar ao trabalho. Eu os chamarei para levá-la novamente à cela.' Os soldados se viraram, e Marguerite pôde ouvir o forte sotaque inglês com que o homem falava português. Mas ela não precisaria ter ouvido a voz dele para sabê-lo inglês – ela tinha reconhecido seu rosto, e pelo olhar maldoso que ele lhe dirigira, pressentia que ele a tinha reconhecido também.
'Baronesa Von Helsing?' ele se dirigiu a ela, em bom inglês.
Ela fingiu não entender, seu sangue gelando nas veias. Ele a tinha reconhecido, assim como ela o reconhecera.
O homem, que ela agora podia ver claramente, tinha um rosto forte mas inexpressivo, como quase todo oficial mediano deveria ter. Usava um uniforme inglês, apesar da sala ostentar todos os símbolos pátrios do Brasil.
Ele repetiu: 'Baronesa Von Helsing?'
Ela hesitou. Deveria responder em português e deixá-lo saber de sua habilidade para línguas? Deveria responder em inglês? A única certeza que tinha é que jamais deveria admitir o título de Baronesa...
'Creio estar me confundindo com outra pessoa. Meu nome é Marguerite Krux.' Ela disse, em português, dando o nome que estava nos documentos dela desde a viagem para o Brasil em 1919.
O oficial, mais velho, que ela conhecia de outras festas em outras épocas, dirigiu-se familiarmente a ela:
'Ora, ora, Baronesa Von Helsing... Há quanto tempo não nos encontramos, não? Espero que não tenha se esquecido de mim...' ele falava inglês com sua voz grave e soturna, e num tom sarcástico e frio que realmente era assustador.
Ele se aproximou dela, e pegou-a pelo braço, forçando-a a aproximar-se e encará-lo.
Os olhos miúdos dele pareciam querer saltar das órbitas quando ele aproximou o rosto do dela.
'Espero que não tenha esquecido que por sua causa todo o meu pelotão foi perdido na guerra. Por sua traição, por sua ação como uma agente dupla.' Ele vociferou.
Ela não reagiu, nem se encolheu ao toque dele, mas sabia por dentro que esse round da luta estava perdido.
A mão dele se enterrava em seu braço, e ela não queria demonstrar a dor que ele estava lhe causando.
'O que você quer de mim?' ela finalmente perguntou, altiva.
'Creio que eu deva fazer as perguntas aqui, Baronesa. O que a senhora faz aqui, na minha base?' ele perguntou, em tom ameaçador.
'Coincidências. Eu estava caminhando a esmo, quando enrosquei em uma cerca que eu não tinha visto, e seus homens imediatamente tomaram uma simples mulher como uma ameaça...' ela tentou ironizar.
'Eles são treinados para encarar a tudo e a todos como ameaça, Baronesa. E se eles soubessem quem a senhora é, teriam motivos redobrados para encará-la como uma ameaça real.' Ele completou. 'Mas agora creio que terei todas as respostas que preciso... Quem diria... A Baronesa Von Helsing em minhas mãos...'
Roxton e Ned estavam do lado de fora da base, e usavam um binóculo que tinham arranjado na sede da fazenda para acompanhar qualquer movimentação. Viram quando Marguerite foi levada, logo cedo, e depois quando foi escoltada de volta, menos de meia hora depois.
'Até aqui, parece estar tudo bem. Mas ela continua algemada.' Ned concluiu.
'Exato. Quando eles vão soltá-la?' Roxton estava agoniado.
'Precisamos esperar mais um pouco.'
A luz forte estava diretamente posicionada contra seus olhos claros. Ela estava pálida e suas roupas começavam a se encardir. Os olhos cansados e o rosto demonstravam as longas horas sem descanso ou alimentação, e os maus tratos que vinha sofrendo.
'Eu vou perguntar apenas mais uma vez...' o homem repetiu em inglês.
'Conte-nos o que queremos saber, o que já cansamos de lhe perguntar, maldição!' a voz dele não era nada amigável, e em sua cabeça exausta ela ecoava como se vinda de alto-falantes.
'Vamos, Baronesa, você sabe tão bem quanto eu que não há tempo a perder.'
'Precisamos dos nomes de seus contatos, para quem você trabalhava, para quem fornecia informações.'
'Queremos saber onde esteve nos anos da guerra. Lugares, cidades, contatos, em que operações tomou parte.'
'O que você estava fazendo aqui? Para quem trabalha agora?'
As perguntas eram muitas, não eram as mesmas nas últimas horas – nem sabia há quantas horas estava ali. Ele tentavam confundi-la, mudando o que perguntava, mudando o nome pelo qual a tratava.
Mas ela não falaria. Não podia contar o que ele queriam. Não que ela soubesse tudo – nem ela sabia tudo o que tinha se passado na primeira guerra. Mas mesmo o que ela sabia seria suficiente para colocar muita coisa a perder. Além disso, eles jamais acreditariam se ela contasse porque tinha entrado ali na noite anterior, além de colocar todos os seus amigos em perigo.
E como vinha fazendo desde o início do interrogatório, ela manteve os olhos abertos, apesar do incômodo da luz, e apenas sacudiu a cabeça em sinal negativo. Sua enxaqueca estava pior que nunca depois daquele interrogatório, e menear a cabeça também era doloroso. Mas ela não queria arriscar-se a abrir a boca para falar. Na primeira vez que tentara isso logo à primeira pergunta, fora esbofeteada e ainda tinha a boca machucada por dentro, lembrando-a que só devia abrir a boca se fosse para contar algo, jamais para negar.
Os soldados brasileiros, que apenas assistiam à cena, se entreolharam.
Definitivamente a mulher tinha uma vontade de ferro. Tinham tentado tudo. Ela resistira a todas as torturas que o comandante tentara. Tudo o que apavoraria qualquer prisioneiro fora tentado, mas não funcionara com ela. Era como se fosse só no mundo. E as informações que o comandante parecia ter dela mostravam isso mesmo. Alguém só. O modelo perfeito para um espião do quilate dela, segundo o comandante não tinha se cansado de vociferar.
'O que faremos agora?' o brasileiro questionou o comandante.
'Ela não tem mais utilidade aqui.' O comandante respondeu. 'Ela pode não ter falado, mas poderá ser novamente útil. E ela ainda pode falar, dada a pressão e o tratamento certo... Qual o próximo navio para a Europa?'
'Ela é cidadã inglesa...'
'Embarquem-na no próximo navio – o USS GENERAL MEIGS. Porão de cargas – carregamento especial. De lá deve ser levada ao QG do exército britânico.' o oficial inglês disse, e saiu da sala. (1)
Os dois brasileiros simplesmente deram de ombros, levantaram-se e arrastaram a mulher algemada de volta à cela. Ela não abriu a boca para reclamar, apenas deixou-se levar. Os espantava verem que apesar ou com tudo ela não tinha perdido o estranho ar de dignidade de suas feições, e que sua postura se mantivera, apesar de todas as linhas do seu rosto e corpo mostrarem o quão alquebrada ela estava.
Quando eles trancaram a porta deixando-a ali, Marguerite finalmente relaxou na enxerga que usava como catre. Estava exausta. Mas pelo menos por ora seus problemas iam estar interrompidos. Por pior que fosse o tratamento que tinha recebido, pelo menos havia uma certa tranqüilidade em sua alma: se fosse levada ao QG britânico, poderia tentar esclarecer tudo, se as pessoas certas ainda estivessem no poder. E seus amigos estavam a salvo, com o balão nas mãos, o que os possibilitaria voltar a ajudar os zangas.
Rezou para que Roxton não tentasse uma loucura, invadindo a base. Sabia que ele se veria atormentado por uma culpa que não era dele e roído pela preocupação. Ele naturalmente tinha a tendência de assumir as culpas do mundo sobre seus ombros largos, aqueles ombros largos em que ela aprendera a confiar, a usar como escudo e como apoio, que ela aprendera a amar tão incondicionalmente. Só desejava que ele não sofresse muito com o desfecho inesperado que aquela tentativa de voltar ao platô tinha tido para ela.
Mas agora ela precisava se concentrar, sua preocupação era com o futuro. Muita coisa poderia ter mudado nesse meio tempo. Como poderia escapar? Precisava de alguma forma chegar a Winnie ou aos seus contatos na Inglaterra! Não pretendia permanecer prisioneira, nem estava disposta a entregar os pontos, muito pelo contrário. Precisava fugir, ou precisava contactar as pessoas certas na Inglaterra, e então voltar para seus amigos e para o platô.
Sua cabeça estava latejando, e naquele momento ela apenas queria um dos chás de Challenger ou Verônica, enfiar-se numa cama macia, e ficar deitada, enquanto Roxton estivesse ao seu lado apenas acompanhando-a ou massageando-lhe as têmporas doloridas suavemente. Sorriu, inconscientemente. Podia não tê-los ali, mas enquanto tivesse sua imaginação, nada nem ninguém poderiam dominá-la ou vencê-la moralmente. Fez um esforço para apagar todo o restante de sua mente e procurou se concentrar, por algum tempo, nos seus amigos, na família que ganhara no platô, no homem que amava. Aquilo estava ajudando-a a manter sua sanidade naquele momento insano de interrogatórios. Aquilo estava permitindo que ela mantivesse a mente em paz no meio da tribulação. E permitiu que ela finalmente dormisse apesar da fome, da sede, do desconforto, e da incerteza no futuro.
'Olhe-a novamente!' Ned teve que usar toda sua força para segurar Roxton no lugar onde estavam. O homem estava enfurecido. Havia horas que estavam ali. Tinham visto Marguerite ser buscada novamente pouco depois da primeira "entrevista", e ela estivera fora das vistas deles desde então. E agora finalmente a viram sendo levada novamente, mas agora ela estava praticamente sendo carregada pelos guardas.
'Ela está ferida, Ned. Temos que tirá-la dali.' Era só o que Roxton dizia, bufando, tentando se livrar de Ned. Malone não teve alternativa senão acertar um gancho de direita em Roxton, que o deixou um pouco zonzo. Temia o revide, mas precisava de algo que trouxesse Roxton de volta ao seu bom senso.
Roxton olhou estupefato para ele, sentindo o gosto de sangue no canto da boca.
'Desculpe, meu velho, mas eu preciso que você raciocine, e eu não daria conta de segurá-lo um pouco mais.'
Roxton inspirou e expirou profundamente, o ar chiando em seus pulmões, antes de encarar novamente Malone. Mas desta vez, quando o olhou, Malone pôde ver menos ódio e mais raiva, o que era mais possível controlar.
'Obrigado. Mas é difícil ficar calmo vendo-a ali.' Roxton admitiu.
'Veja. Os guardas estão voltando para seus postos... Creio que posso obter algumas informações deles...'
'Como, Malone, você não fala português!'
Depois de alguns instantes pensando, Malone decidiu.
'Tenho uma idéia...'
Notas:(1) O USS General Meigs zarpou em 22/setembro/1944, e depois fez a mesma viagem em 23/novembro/1944, do Brasil para a Europa. Para fins de cronologia, estou considerando que o oficial solicita o envio de Marguerite para a Inglaterra usando o navio que zarpou em 23/novembro.
CONTINUA...
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