DISCLAIMER: Todos os personagens da série "Sir Arthur Conan Doyle's The Lost World" são propriedade de John Landis, Telescene, Coote/Hayes, DirecTV, New Line Television, Space, Action Adventure Network, Goodman/Rosen Productions, e Richmel Productions (perdoem qualquer omissão).
Nota: não, eu não sou dona dos personagens. Mas isso não me impede de amá-los...
Aline: hello, dear! Obrigada pelos elogios, a estória realmente está chegando no ponto de virada... A Marg também é minha heroína, e a Si diria que a minha Marg já não é mais a Marg do seriado, mas é a Marg do jeito que eu a vejo (ou que eu a fiz) he he he. Mas... É assim que eu acredito nela... Esse é o capítulo final (juntei os dois últimos), espero que goste! XOXOXOXOXOXO...
Rafinha: a agonia agora tem uma chance de acabar, Rafinha! Espero que você goste!
Jess: pois é, a luz vem, e o trem vem em seguida... Vamos ver onde isso vai dar... Saudade de você! Beijos...
Maguinha: Capítulo final está aqui, obrigada pelas palavras tão gentis. As coisas agora devem começar a se desenrolar, e daí é ladeira abaixo – ou ladeira acima, se pensarmos no astral que as coisas devem tomar he he he. Beijão, saudade!
Nessa: hi, honey! Que bom que você gostou do capítulo... Essa estória é bem triste, mas como toda tristeza nos ensina e nos faz crescer e, quando sobrevivemos a ela, nos faz muito mais fortes, vale o dito do poeta Fernando Pessoa: "tudo vale a pena se a alma não é pequena"! Próximo capítulo – e último – está aqui... XOXOXOXOXOXOXOXO...
Lais: Olá! Pois é, demandou uma certa pesquisa sim, e também o senso crítico de uma historiadora de verdade (d. Rosa) pra tentar deixar as informações o mais coerentes possível! Fico feliz que você tenha gostado! Beijos!
Robbie Williams: wow, até o gatão Robbie Williams resolveu dar uma passadinha aqui e deixar review? Bom, aí vai o último capítulo...
Capítulo 17 – Despertar...
Foi apenas depois do jantar que ele acordou. Parecia que não dormia há séculos, e aquelas horas de sono tinham sido uma benção. Mas não ouvira o telefone tocar... Por que será que Folke estava demorando tanto a dar notícias? Sentou-se imediatamente na cama confortável, mas antes que pudesse se levantar, seus amigos bateram timidamente à porta do quarto.
Aquilo o deixou nervoso. Todos juntos, ali, esperando que ele acordasse. Verônica estava particularmente pálida e parecia agitada e muito impressionada. Roxton imediatamente dirigiu-se a ela, preocupado pelo que lia no rosto da amiga:
'Verônica? Ned ligou, não? Por que não me acordaram? Onde está Marguerite?' a voz de Roxton tinha um tom de ansiedade crescente, ao mesmo tempo que toda cor sumia do rosto dele.
'Está sendo tratada por dois médicos da Cruz Vermelha, que estão instruindo um médico de bordo sobre como cuidar dela ao longo da viagem de navio que ela fará para cá... Ned está com eles.'
'Mas ela está realmente doente? Ou está ferida?' Roxton perguntou, levantando-se, como se ela estivesse na sala ao lado e ele pudesse ir até lá vê-la.
Mas Challenger o impediu.
'Calma, Roxton. Sente-se, vamos conversar.' Todos sabiam que precisavam prepará-lo para dar-lhe as notícias sobre Marguerite.
'Diga logo, pelo amor de Deus.' Roxton ainda tentou desvencilhar-se do amigo.
'John, ela está doente. Sente-se, vamos conversar.' Verônica finalmente fez com que ele se sentasse, sabendo que precisaria lidar com a urgência de John em saber notícias de Marguerite.
'Doente? O que ela tem, Verônica? Por favor, fale logo! Você vai me matar de ansiedade!'
'De acordo com os médicos, ela está com tifo, Roxton.'
Roxton apenas arregalou os olhos...
'E o que isso significa, exatamente?'
'Bem... Segundo os médicos, a pessoa tem dores de cabeça muito fortes, dores no corpo – principalmente nas articulações – e febre alta, que sobe muito até o final da primeira semana da manifestação da doença, e só começa a diminuir no décimo quarto dia, para voltar ao normal nas próximas semanas, com o final da doença.' Verônica explicou, conforme tinha ouvido de Ned, sob a aquiescência de Challenger e Summerlee. (1)
Roxton pareceu um pouco mais aliviado... Mas ainda precisava se tranqüilizar:
'Sem riscos?'
'Bem...'
'Verônica, conte-me a história toda!'
'O problema é que em alguns casos, a prostração pode progredir, seguida de delírio e...' Verônica procurou repetir a informação técnica que Ned lhe dera com calma.
'Ela corre perigo de vida, Verônica?' Roxton estava pálido.
'Os médicos estão avaliando, meu amigo. O corpo dela está fraco e debilitado pelo frio, a fome, os maus-tratos, a exaustão do trabalho forçado. Mas de qualquer forma eles já aplicaram nela uma vacina contra o tifo que foi desenvolvida durante a guerra e que diminui a progressão da doença, mesmo em pessoas já contaminadas. Além disso, eles estão usando os dois antibióticos mais eficientes conhecidos contra o tifo, o cloranfenicol e tetraciclina.'
'Como ela está, Verônica? O que mais Ned contou a você?'
'Eles foram até o galpão onde elas costuram os uniformes, Roxton. Ela estava a uma das máquinas de costura. Segundo ele, nem precisaram fingir que ela estava doente, era gritante que estava com febre alta. Ele não a reconheceu, de costas...'
Aquilo disparou a desconfiança de Roxton:
'Como ele pode não ter reconhecido Marguerite, Verônica? Ele a conhece há mais de dez anos, é impossível não reconhecê-la estando perto dela.' ele parecia desesperado. Precisava entender o que tudo aquilo significava...
'Elas todas usam o mesmo uniforme, Roxton, e estavam todas muito magras devido às privações por que passavam... Além disso...' Verônica hesitou, mas precisava prepará-lo 'elas todas tiveram seus cabelos raspados, o que dificulta bastante reconhecer alguém de costas.'
Verônica observou Roxton inspirar profundamente e fechar os olhos, como para poupá-la do ódio que tomou conta dele e que perpassava em seu olhar. E Verônica podia entender que o amigo ficasse revoltado. Lembrava-se perfeitamente do buraco que sentira em seu estômago quando Ned, ainda muito impressionado pelo que presenciara no campo, comentara por ver as mulheres naquela situação deprimente, e principalmente de saber que Marguerite estava entre elas. Resolveu continuar.
'Quando os médicos a viram – antes mesmo que Ned ou Folke a reconhecessem – notaram que estava febril, e pediram que ela os acompanhasse para um exame. Quando ela se levantou, ela ficou tonta por causa da febre, e Ned foi apoiá-la, por simples cortesia, como faria com qualquer pessoa naquela situação, e foi só quando ela se virou para agradecê-lo que ele a reconheceu...'
Verônica deu mais alguns momentos para que Roxton digerisse a informação. Mas precisava terminar.
'Os médicos do navio não a queriam a bordo quando souberam que tinha tifo, e foi só quando os médicos da Cruz Vermelha explicaram que ela já tinha sido vacinada e que portanto não havia perigo de epidemia que eles permitiram que Ned e os médicos da Cruz Vermelha subissem a bordo com ela, e agora eles devem estar explicando o procedimento para cuidar dela enquanto durar a viagem...'
Podia ver que o amigo mais velho se controlava para não extravasar toda a raiva que sentia naquele momento pela aparente insensibilidade das pessoas... Via a palidez do rosto do outro, seus maxilares apertados, os punhos fechados e ligeiramente trêmulos. Roxton finalmente se levantou, e caminhou até a janela, abrindo as venezenianas com violência, e deixando o ar fresco da noite invadir seus pulmões como um bálsamo, dando as costas a seus amigos, por um instante.
Challenger fez um sinal para que os outros o deixassem a sós com Roxton. Deu mais algum tempo para que o amigo digerisse o que ouvira, e então aproximou-se, colocando a mão amigavelmente em seu ombro.
'Sei que é revoltante saber de tanta degradação, meu velho. Mas não se esqueça do mais importante...'
Roxton, que até então não se virara para ele, finalmente virou-se, e o encarou: 'Eu sei, George. Ela está viva, está vindo para cá, e isso é tudo o que me importa nesse momento.'
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Ela estava tendo um sonho bom.
No sonho, não estava mais amontoada no catre de madeira, com outras quatro detentas, num ambiente onde o mau cheiro dominava, e tiritando no frio insuportável da madrugada no galpão do campo. E ainda agradecendo, porque as que estavam em pior situação que ela dormiam no chão. E também não sentia mais aquela fome contínua.
Estava, sim, deitada numa cama macia, quente, com lençóis limpos e cheirosos. Aliás, o cheiro do lugar era limpo e fresco, como o aroma delicioso da brisa marinha numa casa litorânea.
Definitivamente não queria acordar do sonho. Mas sabia que dentro em pouco o apito dos guardas soaria e eles gritariam "Aufsteheeeeeeeen" (2) para que elas acordassem e seu sonho terminaria.
Mas, ao contrário disso, John apareceu no seu sonho. Na verdade, ela não o estava vendo. Mas sentia o cheiro dele. Hummmmm, que delícia... Como sentia falta de John... A lembrança dos seus olhos, do seu sorriso, enchia sua mente e a ajudava a ir em frente quando tudo o mais parecia desmoronar. Esperava que ele estivesse bem, onde quer que ele estivesse agora. Era essa esperança, sobre o bem estar dele e de seus amigos, que lhe dera força para sobreviver cada dia naquele campo onde apenas a morte florescia em todos os lugares para onde decidisse olhar. Sua memória de John era tão vívida que podia sentir a enorme mão dele segurando a sua, com delicadeza, como ele fizera tantas e tantas vezes nos anos em que tinham estado juntos. Uma lágrima subiu aos seus olhos, mas ela não queria chorar, não queria acordar do sonho.
Mas acordou.
E foi tomada de surpresa. Estava realmente numa cama macia e quente, num camarote arejado pela brisa marinha. Estaria ainda sonhando? Não, porque John não estava ali. Ao invés dele, Ned a olhava:
'Desculpe, eu, eu não queria acordá-la...' a rapaz disse, polidamente, um pouco constrangido.
Ela fez menção de mover-se, mas foi interrompida.
'Shhhh... Procure não falar, nem se mexer muito...' Ned a orientou, aproximando-se mais.
'Onde estamos?' ela se surpreendeu – mal podia reconhecer sua própria voz naquele quase fio de som que conseguia balbuciar. Estava numa prostração imensa...
'Você precisa descansar, ainda está doente. Mas fique tranquila, tudo vai ficar bem agora...'
'Onde estamos? Eu me lembro de ter visto você hoje com os médicos no campo.' ela repetiu, mas Ned a impediu de continuar.
'Hoje? Não, minha amiga, isso foi há mais de uma semana...' Ned sabia que a percepção temporal dela estava alterada pela febre contínua que o tifo tinha provocado. Na semana desde que eles tinham zarpado, tinham temido perdê-la a cada momento, mas finalmente hoje a febre começara a dar uma pequena trégua.
Ela ficou em silêncio por um momento, tentando entender o que estava acontecendo, mas uma sonolência enorme ainda a entorpecia. De qualquer forma, ainda perguntou:
'Onde estamos?'
'Num navio, a caminho de casa...' foi a última coisa que ouviu Ned dizer, antes de seu corpo relaxar e ela resvalar para o mundo dos sonhos novamente.
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'Pensei que você já não fosse mais ligar hoje, Ned... Pegou no sono?' Verônica perguntou, carinhosa.
'Não, meu amor...' Ned hesitou, mas não conseguiria guardar aquela informação por muito tempo. 'Estava com Marguerite...'
'É mesmo, Ned? Então, acho melhor você contar os detalhes para o Roxton...' Verônica disse, feliz em ceder o aparelho ao amigo que observava atentamente a conversa, bebendo as palavras que Verônica dizia ao telefone, tentando antecipar e adivinhar o que Ned poderia estar dizendo do outro lado.
'Ela acordou, Roxton.' E Ned não pôde conter um sorriso finalmente imaginando as feições sérias de Roxton se desmancharem num leve sorriso. 'Voltou a dormir, mas ela acordou por um instante.' Os amigos que estavam perto de Roxton notaram como era incrível como a mera menção à Marguerite suavizava todos os traços sérios de Roxton.
'Mesmo? E ela falou algo?'
'Você conhece Marguerite melhor que ninguém, Roxton. Fez perguntas, queria saber onde estava, que dia era. Sabemos como ela detesta se sentir fragilizada, perdida no tempo. Mas já está dormindo tranqüilamente novamente. E de agora em diante a febre deve baixar cada vez mais...' Ned estava aliviado. O pior passara. Agora ela estava a caminho da recuperação.
Continuaram conversando mais um pouco, quase celebrando...
'Eu ainda não o agradeci, Ned...'
'Como assim?'
'Se não fosse por você, Marguerite não estaria com você nesse navio, talvez sequer estivesse viva...'
'Roxton, ela não é apenas sua esposa. É minha irmã mais velha, minha amiga, é a madrinha de meus filhos. Somos uma família, e vamos continuar juntos. Além disso, eu só dei a idéia a Folke – foi o poder de negociação dele e o peso da Cruz Vermelha que fizeram boa parte do trabalho...'
'Mesmo assim, obrigado, meu amigo, de todo o meu coração...' (3)
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'Não!' ela sentou-se na cama, transpirando. Tinha tido um pesadelo com as câmaras de gás e os malditos crematórios. As pilhas de corpos que vira ali tinham-na perseguido em delírio, e agora voltavam para assombrar-lhe os pesadelos.
Mas daquela vez não acordou sozinha. Roxton estava ali a seu lado na cama, e em dois segundos ele a tinha tomado nos braços, acalmando os tremores e soluços que a sacudiam.
Era a primeira vez desde que ela voltara que ele a vira aterrorizada. Tinha-a visto delirando no primeiro dia, mas desde que a febre baixara ela parecia ter um sono razoavelmente tranqüilo. Interrompido, mas tranquilo.
Assustara-se muito ao vê-la, logo que foram buscá-la na chegada ao porto. Magérrima, tendo que ser amparada por Ned para caminhar, o rosto pálido e muito abatido, mais miúda ainda sem a moldura dos bastos cabelos negros. Ela parecia tão pequena e frágil que mesmo vendo-a ali na frente dele ele ainda tivera medo de perdê-la, e lembrara-se de tê-la tomado em seus braços para levá-la para casa, jurando a si mesmo e a ela nunca mais se separarem. Ela ainda estava profundamente febril quando chegara, ele podia se lembrar do corpo quente dela contra o seu, e dos tremores que ainda a agitavam. Vira Ned abraçar Verônica, como se encontrasse um porto seguro depois de mares turbulentos, e sabia que isso não se devia à viagem de navio, mas àquilo que o amigo certamente presenciara no campo de concentração. E isso o assustava ainda mais, pois Ned apenas vira o que vira por algumas horas, e Marguerite tivera que encarar aquele suplício por meses, na pele.
Eles tinham feito Challenger e Summerlee cuidar das crianças, para que elas não vissem a tia naquele estado de prostração da chegada. Nem comer Marguerite conseguia – meses sem alimentação minimamente adequada exigiam uma adaptação lenta à comida novamente.
Mas eles já tinham chegado há quatro, ou cinco dias, e o calor dos trópicos começava a fazer seus pequenos milagres. E agora ela tinha o primeiro pesadelo real.
'Calma, meu amor, calma. Está tudo bem. Você está segura agora...'
Ele sentia o corpo ainda mais miúdo dela contra o seu, e as lágrimas dela finalmente molharam a camisa do seu pijama. Ele continuou embalando-a, até sentir seus soluços se acalmarem, mas notou que ela não tinha voltado a dormir nos seus braços, como era costume...
'Quer falar sobre o que houve?' ele já perguntara isso a ela tão logo ela estivera bem, depois que chegara, mas ela dissera que tudo o que importava era que estavam ali, agora. E ele sabia que Marguerite Krux só contaria o que quisesse e quando quisesse. Sabia que Malone e Verônica tinham tido uma longa conversa, Ned também lhe contara muito do que vira. Mas Marguerite não parecia disposta a se abrir, e parecia querer falar o mínimo possível das coisas que vivera no campo.
Mas dessa vez ela ergueu para ele os grandes olhos cinza azulados, ainda mais enormes no rosto magro e começando apenas a ser emoldurado pelos primeiros esboços de cachos negros que voltavam a crescer. Fungou longamente antes de responder:
'Quero, John. Na verdade, eu preciso contar para alguém.'
Voltou a se aninhar confortavelmente nos braços dele, e falou de tudo o que acontecera. Desde a prisão no Brasil até os dias no campo. Não ocultou nada dele. Precisava tirar aquele peso que vinha carregando dentro de si mesma. Ele ouviu por horas, controlando-se para não interrompê-la nem externar sua raiva, apoiando-a o tempo todo através da pressão dos seus braços e do aconchego do seu corpo. Ela também lhe contou porque não se revoltara. Porque achava que tudo aquilo era uma conseqüência dos soldados alemães que ela tinha sido responsável por mandar para a morte através da sua atuação como Parsifal. Era o último segredo que guardara. Mas não havia mais porque carregar mais esse peso...
'Está melhor agora?' ele perguntou, depois de esperar um longo silêncio passar quando ela terminou de falar...
'Sim, muito, muito melhor.' Ela disse, baixinho, sorrindo para ele quando a beijou de leve nos lábios.
'Então volte a descansar, minha querida...'
'Você vai continuar aqui?' Ele se surpreendeu pela pergunta dela. Soava um pouco infantil, mas depois de tudo que ela lhe contara era muito mais que compreensível.
'É claro que sim, meu amor. Hoje, amanhã, para sempre...'
Ele se deitou, puxando-a para aninhar seu corpo contra o dele, e juntos dormiram o sono dos justos.
Capítulo 18 – Final
'Você ainda não me contou o que achou da cidade, Verônica!'
Marguerite fizera a pergunta no velho tom desafiador que sempre usava com a amiga mais jovem. As duas estavam sentadas num banco na praça central de São Luiz, aproveitando a tarde de primavera, enquanto as crianças brincavam por ali, distraídas. Marguerite estava começando a se recuperar, ganhando aos poucos cores e peso, mas ainda demoraria uns meses para voltar ao normal. O cabelo negro estava formando os primeiros cachos. As crianças o tempo todo voltavam-se de onde estavam para acenar-lhes, como se temessem que sua Tia fosse roubada deles novamente.
'Tudo é muito grande, Marguerite. Acho que é tudo que eu posso dizer...'
'Sem comparação, Verônica, afinal, alguns t-rex são bem maiores que as coisas aqui...' Marguerite disse, divertida.
'Você me entendeu...' Verônica respondeu, arqueando uma sobrancelha significativamente. 'É uma grandeza artificial, que só serve para manter distâncias.'
Marguerite sorriu. Verônica tinha definido bem. Aquela era a sensação que tinha. Mesmo ela tinha que admitir que mesmo aquela cidade brasileira, tão menor que as cidades grandes que conhecera, era surpreendente – e assustadora, ao mesmo tempo - depois de todos aqueles anos no platô...
'Mas você gosta?' Marguerite insistiu.
'Eu poderia aprender a gostar – mas espero não precisar fazer isso.' Verônica não queria mentir para Marguerite, que a conhecia tão bem e em quem tinha a grande amiga de toda uma vida.
Marguerite apenas sorriu e deu um tapinha amigável, compreensivo, na mão de Verônica.
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'Como está a cidade para você, Marguerite?'
'É uma cidade pequena, e não tem nada a ver com Londres.' Ela começou, num tom zombeteiro. 'Mas, para ser sincera, Ned, eu acho que nesse momento tudo o que eu quero é distância dos seres humanos desse tempo futuro, e estou com dificuldades para me acostumar de novo à cidade...'
'Estou anotando...'
'É bom me respeitar, Ned... Achei que você já tinha aprendido o que faço com diários que me mencionam sem minha autorização.' ela ralhou, de brincadeira, lembrando um fato ocorrido pouco depois que eles tiham chegado ao platô.
'Estou brincando com você, Marguerite...' ele disse, amistoso.
'E você, Ned? Não me parece animado...'
'Por incrível que pareça, Marguerite, não estou feliz aqui...'
'Talvez a solução seja mais simples do que parece...' Marguerite respondeu, maliciosa.
'Ainda mais com a guerra acabada agora...' Ned comentou, mas se arrependeu imediatamente.
Ela ficou subitamente silenciosa à menção dele sobre a guerra.
'Desculpe, eu não quis ser indiscreto.'
Ela ergueu os olhos para ele, encarando-o.
'Não se desculpe, Ned. Embora eu não deseje falar ou rememorar o que houve, eu ainda não lhe agradeci. Eu quero esquecer o que aconteceu, mas nunca vou me esquecer que foi você quem me salvou. E se você escrever isso em um dos seus livros, eu farei questão de assinar embaixo, e deixar o mundo todo saber que Ned Malone definitivamente salvou a vida de Marguerite Krux. Porque eu não teria sobrevivido mais que alguns dias se não tivesse saído daquele inferno, Ned...'
Ele segurou a mão dela, sorrindo:
'Não falemos mais nisso. O que importa é que você está aqui sã e salva. Aliás, que todos estejamos aqui sãos e salvos!'
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'Praticando?' Roxton perguntou, de bom humor, vendo Verônica com uma faca afiada cortando legumes na pia.
Ela virou-se, rindo pra ele.
'Ora ora, não posso perder a prática e a habilidade, John, e sinceramente não tenho muitas outras chances de praticar por aqui.' Ela respondeu, disfarçando um suspiro.
'Enfadada da cidade grande?'
Ela se recompôs rapidamente.
'Não foi isso que eu quis dizer...'
'O que você está achando disso tudo?' Roxton disse, puxando uma cadeira e sentando-se perto da pia. Verônica virou-se para continuar picando os legumes, e pensou um pouco antes de responder.
'A cidade é enorme, Roxton, e é impressionante, e...'
'E não é o platô, não é, Verônica?'
'Eu nunca esperei que fosse, Roxton.' Ela respondeu, um pouco na defensiva.
'É claro que não, Verônica, não é o que estou dizendo. Já está na hora de voltar, não acha?'
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'Como você se sente?' Challenger e Summerlee a examinavam quase que diariamente.
'Eu estou ótima.' Ela apressou-se em responder. 'Quando vamos partir?'
'Como assim?' os dois cientistas se entreolharam.
'Já atrasei o resgate dos zangas em mais de seis meses – e tudo porque eu queria adiantar tudo roubando o material para o balão... Lembrem-me de anotar que "O crime não compensa"...' ela disse, mais triste que divertida.
'Mas você ainda não está totalmente recuperada...' Summerlee insistiu – queria vê-la bem novamente, ter de volta o fogo irônico que sempre brilhava nos olhos da moça, que era como uma filha para ele.
'Estou quase lá, Arthur, e acho que um pouco de caminhada, ar puro, dormir ao relento, comer caça assada na fogueira, podem me ajudar a melhorar mais rápido, não acha?'
'É uma longa caminhada, Marguerite. Sugiro que esperemos mais alguns dias...'
'Eu não quero esperar. Estamos aqui há meses. Os zangas precisam de nossa ajuda – ajuda essa que já estaria atrasada se tivéssemos encontrado-os no dia seguinte ao que eles foram presos, quanto mais agora, meses e meses depois. Além disso, estamos fora de nosso tempo, sob o contínuo risco de mudar o futuro inadvertidamente. E eu quero estar o mais longe possível da civilização o quanto antes... Acho que não há melhor destino para atingir esse objetivo que o nosso velho e conhecido platô.'
'Eu realmente ouvi isso?' Ned entrara no quarto nesse momento.
'Não ouse, Ned, pois eu negarei c-a-d-a p-a-l-a-v-r-a, entendeu?'
'Apenas brincadeira...' ele disse, piscando para ela.
'Os zangas precisam de nós... Não gosto nem de pensar o que poderá ter acontecido nesses meses todos com eles...' Marguerite insistiu, pensativa.
'Não se culpe, querida.' John chegou e a abraçou. 'Tudo vai se resolver assim que chegarmos lá...'
'Você não acha mais prudente esperarmos?' Challenger se espantou com a resposta de John, achando que ele se uniria a eles no côro para que Marguerite aceitasse descansar mais um pouco.
'Sinceramente, George? Não. Creio que enquanto estivermos na civilização, corremos perigo – além de causarmos perigo de influenciar o futuro. Vamos voltar ao platô. Ao nosso tempo, ao nosso lugar... E para resgatar nossos amigos.' Roxton começou.
'Lembre-se: podemos voltar ao nosso lugar... Se voltaremos ao nosso tempo, é uma outra estória. Estamos voltando de balão, e não usando o plano de realidade que nos trouxe aqui. Podemos, perfeitamente, aterrisar no platô de 1945...' Challenger teorizou.
'Que provavelmente não terá evoluído muito em relação ao platô de 1929...' Marguerite disse, e os outros riram.
'Mas talvez 1945 seja muito tarde para os zangas.' Verônica lamentou, entrando na sala.
'Viram? Mais uma a meu favor de partirmos imediatamente de volta ao platô!' Marguerite insistiu, tentando animar a amiga, mas intimamente tão ou mais preocupada quanto ela e os outros.
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'Mamãe!' o grito de Abi acordou toda a casa.
Verônica em alguns segundos entrava no quarto das crianças, assustada. Abigail estava sentada na cama, Tom também tinha acordado e tinha os olhos arregalados. Ned e os outros chegaram em seguida.
A menina estava trêmula, mas não estava chorando. Ela olhava para Verônica profundamente, mas não dizia nada. Aquilo preocupou Verônica...
'O que foi, princesa? O que aconteceu?' ela disse, embalando a menina.
'Precisamos conversar...' Abi respondeu, num tom muito sério.
Marguerite entendeu a mensagem subliminar: 'Acho que devemos todos voltar aos nossos quartos... Há duas moças que precisam de privacidade para conversar.' Ela disse, num tom muito sério, mas dando uma piscadinha para Verônica, que entendeu o recado e, pegando Abi no colo, levou-a para conversar na varanda. Marguerite embalou Tom até que ele dormisse novamente, o que foi rápido, e todos voltaram a seus quartos.
'Você está tremendo, Marguerite.' Roxton não pôde deixar de notar, quando voltaram a se deitar.
'Apenas o susto, Roxton.' Ela tentou desconversar.
'Mas as crianças sempre chamaram à noite.' Ele insistiu, obrigando-a a encará-lo.
Ela hesitou um pouco, e baixou os olhos, antes de responder.
'Muitas detentas, à noite, acordavam gritando dessa forma. Chamando pela mãe, ou por um irmão, ou pelo marido...' ela disse, com olhos distantes. 'Por um instante, tive a nítida impressão de que estava novamente naquele lugar, revivendo aquele pesadelo.' Ela admitiu, num fio de voz. (4)
Cada vez que Marguerite contava algo a mais sobre o que acontecera, ele tinha que se controlar... Cada pequeno fato era um trauma a mais que se acumulara nela. Felizmente, ela era uma mulher forte, e as duras provações que enfrentara antes de se conhecerem pareciam tê-la preparado para pelo menos não deixar que o que vivera no campo afetasse sua atitude diária. Mas pequenos gestos como o de hoje não passavam desapercebidos para ele.
'Você não está mais lá, querida. Está aqui, comigo.' Ele disse, suavemente, abraçando-a e apertando-a contra si. Sentiu o abraço dela estreitar-se, como se ela quisesse ter certeza que ele era real, e depois relaxar-se, quando ela finalmente adormeceu novamente, algum tempo depois...
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'Pronto, meu amor... Agora podemos falar...' Verônica disse, aconchegando Abi junto a si...
'Eu falei com vovó Abigail...' a menina começou.
Verônica imediatamente se arrepiou. 'Com vovó Abigail?'
'Isso, mamãe. Ela é tão parecida com você...' a menina disse, estendendo a mão e tocando o rosto da mãe... Verônica teve que controlar as lágrimas que subiam aos seus olhos.
'E o que vocês conversaram?' Verônica perguntou.
'Ela me ensinou uma coisa, e disse que eu precisava explicar para você...' a menina continuou.
'É?' Verônica estava cada vez mais tocada por toda aquela conversa...
'É... E a primeira coisa que vovó disse é que você vai precisar me emprestar seu colar se quisermos voltar ao platô...'
'Imagine, Abi, só precisaremos do balão...'
A menina riu antes de responder: 'Vovó disse que você responderia isso!'
Verônica estava surpresa.
'O que mais ela disse?'
'Ela explicou que com o balão, voltamos ao platô, mas só isso não vai nos levar de volta ao nosso tempo...' a menina começou a explicar, pacientemente, como se os papéis agora tivessem se invertido. Verônica escutou longamente, interrompendo-a de vez em quando, assentindo com a cabeça...
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'Eu não posso acreditar...' Ned disse, olhando a seu redor Verônica e as crianças. Abi ainda segurava fortemente o Trion em suas mãos, as mãos de Verônica em torno das pequenas mãos da menina, as duas ainda muito pálidas pelo esforço em usar o trion para levá-los de volta em tempo e espaço, como Abigail orientara Abi em seu sonho (afinal, a pequena Abi era a protetora do platô para o período de 1945, e apenas ela poderia ajudar Verônica a voltarem no tempo). Todos eles estavam se levantando depois da queda do balão.
'Parece que conseguimos!' Challenger sorria de orelha a orelha.
'Sim... Mas funcionou? Em que ano estamos?' Verônica perguntou, limpando as folhas de suas roupas.
'É uma ótima pergunta... Como vamos descobrir isso? Talvez se checarmos no Diário do Platô...' Marguerite questionou, irônica.
'Eu posso medir algumas árvores e fazer alguns cálculos...' Summerlee conjecturou.
'A ciência fica para depois, amigos!' Roxton o interrompeu, olhando fascinado à sua volta, para o lugar de onde nunca deveriam ter saído. 'Agora, celebremos a volta ao lar...'
Mas um ruído de t-rex interrompeu o idílio, e eles se puseram a correr...
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'Que ótimo ver vocês! Achamos que tinham morrido!'
'Assai?' todos perguntaram ao mesmo tempo. Tinham chegado conjecturando quando poderiam pôr em prática todos os planos que tinham arquitetado enquanto esperavam a volta de Marguerite para ajudar seus amigos zanga, e ficaram muito surpresos quando chegaram à aldeia e os encontraram todos de volta, reinstalados.
'Digamos que uma revolta organizada pelo meu povo nos colocou em liberdade em menos de um mês após nossa captura. Usamos, claro, um pouquinho da tal pólvora para distraí-los, mas como sempre o trabalho em equipe dos zangas nos manteve vivos...' Assai disse, piscando...
'Quando chegamos à Casa da Árvore e encontramos quase tudo queimado, pensamos que alguma das tribos os tinham levado.' Assai contou.
'Foi uma longa história. E na verdade, podemos mesmo dizer que uma determinada tribo realmente levou um de nós – pelo menos por algum tempo. Mas como você mesma já disse, trabalho em equipe é trabalho em equipe, e o que importa agora é que estejamos todos juntos novamente!'
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Roxton tirou o chapéu para mais facilmente enxugar o suor do rosto.
'Estranhando o calor do platô, meu velho?' Ned disse, ele também sem camisa, o corpo brilhante de suor.
'É, os dias de ventilador na cidade me desacostumaram!' os dois riram um para o outro.
Enquanto isso, Marguerite com o rifle sobre os joelhos e Verônica com a faca à mão liam e conversavam com as crianças.
'Você ouviu isso, tia Marguerite?' as crianças perguntaram, referindo-se a um trecho da leitura.
Mas ela se levantou, com a arma em punho, já fazendo mira e atirando.
'Tudo o que eu ouvi foi um raptor. Rápido, defendam-se!'
Roxton e Malone vieram com os rifles em punho e derrubaram os outros dois raptors que acompanhavam o primeiro.
'Ótima pontaria, Marguerite.' Ned elogiou.
'Às vezes eu me pergunto o que eu tinha em mente quando sugeri voltarmos para cá tão rápido.' Ela respondeu, apenas – um gesto refletido que mostrava que a velha Marguerite de antes estava de volta, a mulher de fogo e aço.
'Bom, mulheres e crianças primeiro. O elevador finalmente está consertado.' Os dois homens disseram. Challenger e Summerlee tinham saído em busca de espécies, e iam dormir na aldeia zanga, só voltando no dia seguinte, e quando o elevador quebrara, Roxton e Ned tinham se visto com a desafiadora missão de consertá-lo.
As crianças levantaram-se de um salto, seguidas por Verônica e Marguerite.
'Têm certeza que isso vai funcionar?'
'É claro que sim!' os dois responderam, em uníssono.
O elevador realmente subiu, levando as mulheres e as crianças para o topo da nova Casa da Árvore que tinham construído, revestida com um material que era isolante ao fogo para evitar futuros ataques incendiários.
'Agora mandem o elevador para nós!' Ned gritou, de baixo, quando os viu na varanda.
'Já está descendo... Ops!' Verônica disse, quando tentou descer o elevador e ele não funcionou.
'Não está descendo...'
'Você não disse que ia funcionar, papai?'
Roxton olhou divertido para Malone, que fez uma careta.
Ouviram então o estrondo do t-rex se aproximando.
'Corram vocês dois! Tem um t-rex chegando!' Verônica alertou.
Vendo os dois correndo para a selva com os rifles em punho e segurando os chapéus em suas cabeças, Marguerite virou-se para Verônica:
'Será que esse dia pode ainda ficar melhor?' sua frase habitual.
Mas no íntimo sabia que estava de volta, e ouviu Verônica lhe retrucar, expressando seu pensamento comum num sorriso sincero:
'De volta ao lar-doce-lar...'
FIM
Notas:(1) Informações sobre o tifo: http/www.psfmonteverde.hpg. Aufstehen: "Levantem-se" em alemão. Todos os sobreviventes aos campos de concentração rememoram o apito estridente que era usado para acordá-los e a palavra de ordem que acompanhava o apito, "Aufsteheeeeeeeeen".
(3) Já era possível efetuar ligações de navios especiais desde 1927, quando as primeiras transmissões telefônicas usando rádiotransmissão começaram. Não estaria disponível num navio de passageiros comum, mas a maioria dos navios permitidos navegar em tempo de guerra contava com esse esquipamento.
(4) Diversos depoimentos corroboram esses gritos noturnos que esparsamente enchiam os dormitórios dos campos. Normalmente, a frequência deles em um mesmo detento era o primeiro prenúncio da loucura que o campo causou em tantos prisioneiros. Alguns exemplos desses depoimentos estão em "Campos de Mulheres", "Diários do Campo", "De A a Z – Konzentration Slatch", etc.
THE END – FIM – FIN
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