Se importa se eu comer esta patinha?
Todos chegaram à sala de refeições e se sentaram. Havia uma mesa retangular de mármore branco enoooorrrmmmeee (ui, como era grande!). Sesshie se sentou em uma ponta, Yuri na outra e Rin no meio. Os servos do Lorde começaram a servir a refeição, primeiro a de Rin.
- Sopa de mandioquinha, de novo? – perguntou a garotinha triste.
- Rin! – disse Sesshie – Isso é bom para o seu crescimento!
- Blearghhh! – disse ela mexendo a colher no prato – O Sr. Sesshie acha que eu sou um bebezinho...espero que ele não se lembre de me mandar usar o...
- Rin, coloque o seu babadouro! – ordenou o youkai.
- Droga! – disse ela irritada – "Ele deve ler pensamentos..."
- Rin! – chamou-lhe a atenção – Olhe o palavreado. Temos visita.
- Desculpe, Sr. Sesshie. Já vou colocar o babador...
- Babadouro! – corrigiu ele.
- Quem se importa! – disse ela em tom quase inaudível.
Sesshie olhou que a menina resmungava, mas não conseguiu entender nada. Rin se arrumou e ficou esperando a permissão para poder começar a comer. A serva então serviu a princesa, estranhando o fato de que estava enchendo o prato com pedaços de carne mal-passados (praticamente crus). O sorriso de Yuri ia de uma orelha a outra. Por último a serva colocou uma pata de boi no prato de Sesshie, que fez sinal de que era o suficiente, pois não estava com a mínima fome. O Lorde deu então permissão para que Rin comesse sua gororoba, quer dizer, sua sopinha, e a princesa resolveu dar-se a própria permissão.
Para surpresa de Sesshie e de Rin, a princesa arrancou um enorme pedaço de filé com as mãos e o abocanhou, parecendo até um animal selvagem. Rin olhou para ela com a colher próxima a boca, mas não conseguiu comer, devido à visão assombrosa. Yuri mastigava a carne tão assustadoramente, deixando o sangue da carne semicrua escorrer pelos cantos da boca.
A garotinha sentiu o estômago revirar, e ante que a coisa piorasse resolveu pedir permissão à Sesshie para poder se retirar. Consciente de que aquilo poderia atordoar a pobre criança, fazendo com que, quem sabe, ela nem dormisse à noite, ele permitiu que Rin saísse, assim poderia até conversar com a "princesa" em paz. Assim que a garotinha deixou a sala, Sesshie começou a conversar com Yuri.
- Então... – disse um pouco enojado – ...por que a srta., que é uma humanaé princesa de um clã de youkais lagartos?
- Bem...- disse ela largando o pedaço de carne e virando goela abaixo um copo de saquê que havia sido servido pela serviçal - ...é uma longa história!
-Eu tenho tempo – disse Sesshie.
- Tenho certeza de que tem...- ironizou ela.
- Srta... – disse ele mostrando as garras – Não me provoque...
- Brincadeirinha! – disse sorrindo e virando outro copo de saquê – A história é a seguinte: Quando eu era pequena, meus pais foram mortos numa floresta por um bando de idiotas. O Sr. Hakumaru, o grande youkai lagarto, me encontrou lá sozinha e decidiu me levar para a aldeia dele. Claro que a intenção dele era me comer no jantar daquela noite, mas quando chegou lá, a esposa dele, que era uma youkai muito boazinha e que não podia ter filhotes, resolveu me adotar.
Sesshie escutava a história e via Yuri virar outro copo de saquê.
- Bem, aí eles me criaram como filha deles. Há dois anos, um grupo de youkais lagartos, liderados pelo primo de meu pai de criação, se rebelou, e resolveu reivindicar o trono das terras do centro-oeste, já que o Sr. Hakemaru não possuía filhos legítimos para herdar o trono. Logo uma batalha se formou e meus pais de criação foram mortos.
Tomou outro copo da bebida.e já estava sentindo os efeitos.
- Agora, como eu não posso reivindicar o trono, preciso de um herdeiro pelo menos meio-youkai, assim não preciso entregar o reino àquele traidor idiota – concluiu.
- Então seu filho teria que ser descendente de um nobre como eu? – perguntou Sesshie todo convencido.
- – perguntou Sesshie todo convencido.
- Não necessariamente...
- O quê? – surpreendeu-se ele.
- Desde que o pai seja um youkai, não precisa ser obrigatoriamente um nobre...
- Então por que a Srta. Não escolhe um dos seus servos? – perguntou Sesshie um pouco aborrecido apontando para os dois lagartos sentados no canto da sala.
A princesa olhou os dois (ou quatro, depois da bebida) e fez uma cara feia.
- Não é porque pode ser qualquer youkai que eu tenho que me rebaixar a este ponto, não é?
Os servos olharam para o chão envergonhados.
- Eu decidi que tinha que ser um sujeito bonito, charmoso, inteligente, nobre e perfeito.
- Concordo...- disse ele sentindo o ego inchar.
- Aí, depois de procurar muito, sem sucesso...- disse com um sorrisinho – me disseram que o Sr estava disponível. Eu resolvi aceitar, né? Pelo menos bonito o Sr é!
Sesshie estava sentindo um ódio mortal daquela criatura inferior que se sentia no direito de zombar da cara dele. Só contava os minutos para poder matá-la com crueldade.
- Disponível? – disse ele disfarçando a raiva – Creio que não!
- Então não vai aceitar a minha proposta? – disse Yuri irritada.
- Mesmo que eu tivesse algum interesse em deitar-me com uma humana, acredita mesmo que eu lhe daria um herdeiro hanyou, para que ele pudesse reivindicar também minhas terras?
A princesa soltou uma gargalhada.
- O Sr acha que tenho interesse em seu reino?
- Como posso saber?
- O único interesse que tenho em algo seu é... o seu ...o seu...- corou com o que ia dizer – o seu "suquinho da vida" – concluiu.
- Suquinho da vi...- ao entender o sentido da frase ficou envergonhado – Cruzes, nem parece uma princesa falando...
Ela levantou-se e subiu na mesa, dirigindo-se ao youkai, irritada e bêbada.
- Eu não tenho tempo para sutilezas! – bradou ela – Eu não estou aqui para conquistar ninguém. Só procuro um parceiro para ter um filho meio youkai para evitar que aquele cretino tome o que foi de meu pai?
Sesshie estava de certa forma assustado com a atitude da jovem.
"Será que a Rin vai ficar deste jeito quando crescer? Preciso me lembrar de mandá-la para uma instituição que ensine moças a se comportarem!".
- Então, aceita ou não? – disse ela encarando o youkai.
- Bem, eu não sei...- respondeu acuado – Posso responder depois?
Jaken estranhou a atitude do mestre. Logo o Sr Sesshie, um youkai tão poderoso e decidido, pedindo um tempo para pensar na proposta de uma simples humana.
"Isso deve ser influência da menina Rin" – pensou o servo – "Está transformando o Mestre num covarde. Depois os demônios somos nós!"
- Pode pensar sim – respondeu Yuri – Mas te dou duas semanas. Afinal, não tenho todo tempo do mundo. Já tenho 20 anos e não vou viver até os 452!
Sesshie bufou com o novo comentário da moa por causa de sua idade. Afinal, nem era tão velho assim. Seu pai, por exemplo, tinha 980 anos quando morreu. Em parâmetros humanos, Sesshie não tinha mais que 29 anos.
- Entendeu? – disse ele tirando-o dos pensamentos.
Embora quisesse mostrar àquela humana que quem mandava ali era ele e que não aceitaria que ela o pressionasse, resolveu que ficar discutindo não ia adiantar nada, visto que ela já estava bêbada.
- Ok! – disse ele forçando um sorriso – Duas semanas estão ótimas. A srta pode voltar para suas terras amanhã e depois eu mando um mensageiro com a resposta.
Ela desfez a cara de brava e colocou um sorriso nos lábios. Sesshie pensou que até que se ela se comportasse como uma mulher seria uma boa companhia por uma noite.
- O Sr não vai comer, Sr Sesshie? – perguntou ela num tom gentil.
- Não, estou sem fome! – respondeu surpreso com a preocupação repentina dela.
Então o Sr se importa se eu ficar com esta patinha? – disse ela agarrando o pedaço de carne do prato dele.
- Não, claro que não! – respondeu ele sem graça – "Por Buda, ela é insuperável!"
Ela comeu a patinha e virou mais um copo de saquê.
- BUUURRRRPPPP! Desculpe! – disse ela após o arroto.
Com este último ato Sesshie levantou-se rapidamente, decidido a ter aquela conversa com a menina Rin o mais rápido possível.
- Nossa! – disse Jaken pasmo – a princesa é realmente repugnante!
- Mais respeito! – disse Furon – Ela não a teve a educação normal de uma moça. Ela foi criada como um guerreiro lagarto é criado. Mas no fundo, ela é um amor de pessoa.
- No fundo, no fundo mesmo! – concluiu Jaken.
Os lagartos concordaram com a cabeça.
Sesshie pediu licença a Yuri para tratar de outros assuntos. Ela concordou levantando a patinha de boi. Sesshie ia se retirando da sala quando foi chamado por outro servo que vinha pelo outro lado.
- Sr. Sesshie! – chamou o servo parecido com Jaken (deve ser parente). Já chegou a encomenda de saquê que o Sr pediu para sua festa amanhã.
Sesshie gelou ao ver que o servo tinha dado a brecha perfeita para que a princesa ficasse no palácio. Yuri olhou de soslaio para o youkai.
- Vai ter uma festa aqui, amanhã?
- Sim... – respondeu o Lorde sem-graça – "Tenho que me lembrar de matar este servo inútil". Coisa boba, uma reuniãozinha entre amigos...
- Por ocasião de quê? – perguntou a princesa interessada, descendo da mesa.
- Por ocasião do aniversário do nosso Grande Mestre Sr. Sesshoumaru, o magnífico! – respondeu o servo idiota.
- Hummm...aniversário? Então são 453 anos?
- Exatamente...- ia concluir o servo quando Sesshie voou até ele e com uma bica fez o estrupício sai r da sala.
"Pelo menos não fui eu!" – pensou Jaken aliviado.
- Meus parabéns! Disse Yuri agarrando o príncipe e dando um grande abraço de bêbado nele – Desejo tudo de bom para o Sr. – o bafo dela quase derrubou o youkai.
- Ahn, obrigado! – disse ele afastando-a.
A princesa olhou para ele como se esperasse algo...talvez um convite. Sesshie tentou disfarçar e sair, mas ela o segurou.
- E? – perguntou ela.
- E o quê? – retrucou ele.
Ela deu uma piscadela para ele, que logo notou que se ele não a convidasse, ela se ofereceria.
Se a srta quiser ficar para a festa – disse sem nenhuma vontade – Será uma grande honra para mim, princesa.
- Imagine! A honra é minha! Eu aceito de coração.
"Oh, céus! Serão dois dias longos!"- pensou ele.
Yuri soltou o Lorde e voltou-se para os dois servos.
- Furon, Kirin – chamou-os.
- Sim, princesa! – respondeu os vassalos.
- Mande minhas servas pessoais entrarem e trazerem minhas coisas. Elas ficaram comigo.
- Sim, alteza! – respondeu Furon – E quanto ao resto da caravana?
- Mande-os embora. Eu irei em dois dias. E vocês, seus dois imbecis, estão dispensados também.
- Mas princesa, não teme que algo possa acontecer-lhe? – perguntou Kirin.
- Ah, mas algo vai me acontecer! – disse ela baixo para que Sesshie não ouvisse – Mas não será nada de mal. Pelo contrário, ou não me chamo Yuri!
Sesshie tentou ouvir, mas não conseguiu.
- Agora vão embora, seus vermes inúteis! – ordenou ela.
- Répteis!
- O quê? – indagou ela não entendendo nada.
- Répteis! – corrigiu Sesshie – Lagartos são répteis.
- Quem se importa? – falou Yuri resmungando baixo – Onde será meu quarto?
"Humana atrevida, insolente, mal-educada e grosseira!" – pensou Sesshie – Vou pedir ao Jaken que mostre o quarto de hóspedes para a Srta.
É ao lado do seu? – perguntou a princesa – "Vai que eu consigo o quero hoje à noite!"
"Vai esperando!" – Não, srta. É no andar de cima ao do meu quarto. Por quê? – fez-se de ingênuo.
- Nada não! "Até parece que você não sabe o porquê!"
Os dois ficaram se olhando desconfiados até que as damas de companhia da princesa chegaram. Elas fizeram reverência aos dois nobres e depois se colocaram atrás de Yuri, carregando um baú.
Sesshie ordenou à Jaken que levasse a princesa ao quarto, então todos começaram a se retirar da sala. Ao sair a princesa chamou o Lorde.
- Sr Sesshie! Não se preocupe em me chamar para jantar. Tomarei um banho agora e com certeza dormirei até amanhã.
"Fabuloso! Posso ter um pouco de sossego!" – pensou ele sorrindo por dentro.
A tarde e a noite transcorreram calmas, visto que a princesa realmente não apareceu para atrapalhar o sossego. E ela realmente dormiu a noite inteira. Tudo estava normal, exceto pelo fato de haver um bicho roncando.
"Aruru deve estar gripado!" – pensaram Sesshie, Rin e Jaken em seus quartos...
E o aniversário do Lorde, será uma festa inesquecível? Yuri vai conseguir atacar o maravilhoso príncipe? A noite estará para romances ou para guerra? Vejam o próximo e emocionante capítulo e descubram...
E agradeço as reviews do pessoal. Obrigadérrima...
