Parte II
Severus reservava uma das salas ocultas de sua caverna especialmente para o prazer. Em seus quase 40 anos de celibato, Severus tivera tempo e criatividade de sobra para transformar a masturbação em uma arte.
A sala secreta de Severus era magicamente preparada para responder a ele. Naquela noite, o teto assemelhava-se ao de uma catedral — as estalactites formando intrincados arcos. As velas suspensas criavam brilhos e sombras estrategicamente dispostos, e alguns cristais nas paredes formavam pequenos arco-íris. Mas nem tudo era belo e agradável. As estalactites se contorciam em formas lúgubres, assustadoras ou repugnantes. O musgo cobria as pedras. Uma lanterna vermelha pendurada na extremidade de uma haste balançava sua carcaça ao sabor dos quatro ventos, sobre uma pesada porta carcomida pelos vermes. Tudo ali testemunhava uma estranha mescla entre a raiva impotente de Severus e a paixão por atingir o infinito, mesmo pelos meios mais loucos.
No chão, uma cama de cetim tingia seus delírios em tons de vermelho.
Uma das coisas de que ele mais gostava era de sugar seu próprio sangue. Oh, como era doce, cravar dentes na carne palpitante e provar seu próprio gosto. Depois de nutrir-se com os glóbulos daquele sangue sagrado, Severus rasgou bruscamente a túnica cor de malva, libertando o corpo de todos os confinamentos.
A mão de Severus seguiu seu caminho, traçando elegantes e caprichosos arabescos por seu tórax e descendo até os caracóis de pêlos que lhe cercavam o pênis. Desviando do membro ereto, seus ágeis dedos roçaram-lhe os testículos, em busca de sua mais recôndita caverna, e mergulharam em sua misteriosa profundidade. Ele já experimentara vários tipos de dildos, mas nada lhe dava tanto prazer quanto seus dedos hábeis e longilíneos. A mão esquerda cerrou-se ao redor do membro túrgido e ereto.
Névoas de fragrantes vapores encheram a cripta e rebentos de Visgo do Diabo brotaram do chão e o abraçaram, entrelaçando-se ao redor de suas pernas, braços e tórax, criando voluptuosos prazeres. Seus nervos derretiam. Papoulas mágicas envolviam-lhe os sentidos como um fino véu. Delicadas gavinhas estimulavam-lhe os mamilos. Ele se entregou totalmente aos movimentos sensuais e ao fogo intenso que fluía por suas veias, e o universo, em sua abóbada estrelada de misteriosos globos, explodiu como um jato de lava. No auge do êxtase, o peito se contraiu, os lábios se entreabriram e ele emitiu um grito lancinante enquanto cada fibra de seu corpo entrava em convulsão.
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Acontecera de novo. Ao final da aula de feitiços curativos, Harry dormira sentado na poltrona que Severus transfigurara para ele. Severus o pegou no colo e estremeceu ao sentir o corpo do jovem junto a si — a carne firme e macia, os braços que o agarravam instintivamente como lianas, o rosto pálido e os lábios rosados que provavelmente teriam um gosto doce e amargo como tudo naquele menino impossível.
Aquilo estava se transformando num pesadelo. Começara com um simples mal-entendido, que Severus, como bom Slytherin, usara para conseguir que Harry o aceitasse como mentor. Aos poucos a mentira se voltara contra ele próprio... Severus estava acostumado a ser respeitado e temido, mas não a ter a confiança de seus pupilos do modo como Harry confiava nele. Houve momentos em que ele próprio quisera que fosse verdade — quisera ser o pai de Harry. Mas então algo ainda mais terrível acontecera, e ele se vira atraído pelo garoto de uma forma de modo algum adequada a uma relação pai-e-filho.
Severus carregou Harry para sua cama. Não ousava tirar-lhe as roupas — nunca o fizera. Apenas tirava-lhe os óculos, os sapatos e o cobria.
Para ensinar feitiços curativos, era preciso abrir-se totalmente ao discípulo, entregar-se de corpo e alma. Nesses momentos, Severus se permitia uma aproximação maior com Harry, pois isso era necessário para a transmissão do conhecimento. O difícil era, depois, colocar novamente uma distância entre eles. Severus sabia que deveria tentar afastar Harry de si, mas não conseguia. Era mais forte do que ele.
Quando Harry dormia lá, Severus não ia para a cripta. Mas o pior era que a imagem de Harry passara a assombrar as suas noites de prazer na cripta. Severus recusava-se a masturbar-se com a imagem de Harry em sua mente. Aquilo o estava levando à loucura.
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Uma noite Severus teve uma reunião particularmente árdua com o Lord das Trevas e seus Comensais. O Lord andava desconfiado e descontente porque desejava liqüidar Harry Potter de uma vez por todas, e via seus planos sendo constantemente frustrados. Severus era o principal alvo de seu descontentamento.
Quando Severus chegou em sua caverna, surpreendeu-se ao encontrar Harry esperando por ele. Previra a visita de Harry, claro, mas nunca poderia imaginar que ele fosse esperá-lo: a reunião durara mais de três horas.
Quando Severus entrou, Harry correu para ele. Severus estava cansado e vulnerável, e permitiu-se tomar Harry em seus braços. Harry o abraçou sofregamente. Severus enterrou o rosto na curva de seu pescoço, aspirando o cheiro característico do jovem bruxo. Logo, seu corpo começou a reagir ao fato de estar em contato com o objeto de seus desejos, e Severus teve de afastar Harry de si. Severus viu Harry corar e teve certeza de que ele havia percebido o que acontecera.
Severus estava exausto e desesperado. Não conseguia mais suportar aquela situação.
— Escute, Potter, você não deve fazer mais isso.
— Mas... por quê? Eu estava preocupado e fiquei feliz de ver você chegar. Você é meu pai e...
— Eu não sou seu pai. Tudo isso é uma fantasia que você criou. Sinto muito decepcioná-lo.
— Como assim? E a foto, e... tudo?
— Tudo o quê?
— A forma como você tem me tratado, tudo o que você tem me ensinado, tudo o que temos feito juntos!
— Tudo isso é real. Exceto essa fantasia sobre eu ser seu pai. James deve estar se revirando no túmulo esse tempo todo. Não nego que essa idéia, a de que você me escolheu a ele, faz com que eu me sinta vingado e, mais do que isso, orgulhoso. Mas não posso continuar mantendo essa farsa.
— É mentira! Por que está fazendo isso comigo?
— Como ousa me chamar de mentiroso? Respeite-me. Não há mais nada a ser dito.
— Vamos supor que eu acredite que você acredita no que está dizendo. Como pode saber se sou ou não seu filho?
— Potter, eu nunca dormi com Lily. Aliás, se quer saber a verdade, eu nunca dormi com mulher alguma — despejou Severus, passando por Harry e indo para o banheiro.
Nervoso, Severus abriu a torneira da banheira, pingou lá dentro algumas gotas da poção com essência de rosas e vetiver e entrou na água disposto a ficar lá por um longo tempo. Até esfriar a cabeça.
Quando saiu de lá, mais de meia hora depois, Harry havia ido embora. Severus achou que nunca mais fosse vê-lo.
Continua...
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