Parte II (B)
Na tarde seguinte, entretanto, Harry voltou. Era óbvio que ele estava tentando ignorar o que Severus dissera e continuar como se nada houvesse acontecido. Severus não sabia se ficava contente com isso ou não.
Durante toda aquela semana, eles tentaram manter a nova farsa, a de que nada mudara. Às vezes, quando estavam trabalhando em poções ou treinando duelos (eles haviam voltado a treinar duelos) isso era fácil. Mas quando estavam apenas descansando ou tomando chá, era difícil esconder o embaraço.
Um dia Severus estava ocupado preparando o chá, e seus olhares se encontraram. Os olhos de Harry tinham um brilho tão intenso que Severus pestanejou.
— O quê...?
— Eu gosto de ver você trabalhando ou fazendo chá. Gosto de olhar pra você.
O coração de Severus disparou, e ele não conseguiu dizer nada.
— Você disse que nunca dormiu com uma mulher. Suponho que você seja gay, então.
— Sr. Potter, isso não é da sua conta.
— Desculpe, eu... não tenho com quem falar sobre essas coisas.
— Fale com seus amigos. Eu não sou seu pai.
— Mas pensei que fosse meu amigo.
Oh, Deus. Severus se via entre a cruz e a caldeirinha.
— Não creio que vá ser positiva essa conversa — declarou Severus, em tom seco.
Harry baixou a cabeça. Severus engoliu em seco, sentindo um gosto amargo na boca. Pegou o bule e começou a servir o chá. Eles comeram em silêncio. Quando terminaram, Harry se despediu e foi embora, como em geral fazia.
s:S:s:S:s
Na manhã seguinte, Severus acordou com um corpo a seu lado na cama, aconchegado junto a si.
— O quê... Potter!
— Não, não Potter: Harry.
— O que está fazendo... aqui?
— Pensei que isso era bastante óbvio — disse Harry, erguendo a cabeça e depois aproximando o rosto devagar.
Severus segurou-o pelo cangote e o afastou de si.
— Você enlouqueceu de vez?
— Er, acho que sim, mas eu quero você, de qualquer jeito.
Severus abriu um sorriso irônico.
— Você nunca foi muito coerente.
Harry riu.
— É, acho que não.
— Há algo que preciso lhe dizer.
— Aposto que não vou gostar nem um pouco.
— Eu não sou gay.
— Mas... mas...
— Eu sei o que você pensou. Porque eu disse que nunca havia transado com uma mulher, você concluiu que eu era gay. Mas eu nunca transei com homens também.
Harry parecia arrasado.
— Mas eu decidi ser gay por sua causa!
Severus fez uma careta.
— Ninguém decide ser gay!
— Por que não?
Com efeito, Severus, por que não?
— Porque ninguém manda no desejo.
— Você nunca desejou ninguém?
— Não preciso de ninguém além de mim mesmo.
— Não é verdade. Eu sinto que você me deseja.
Severus se levantou abruptamente, deixando Harry sozinho na cama, e foi até sua escrivaninha. Abriu uma gaveta e pegou uma caixa de madeira. Então voltou para o pé da cama e, abrindo a caixa, estendeu-a a Harry.
— Veja.
Na caixa, um burburinho de repugnantes miriápodes e aracnídeos — entre eles um escorpião.
— Argh!
— São encantadores, não são? Se a caixa ficar aberta, eles sairão e correrão por toda parte. O quarto ficará infestado com eles.
O escorpião tentava sair da caixa.
— Voltem às trevas! — disse Severus a seus monstrinhos, fechando a caixa. Depois voltou-se a Harry. — Esses animais devem ficar dentro de suas caixas, e não serem soltos à luz do dia. Devemos deixar à noite o que pertence à noite.
Harry olhava para ele sem entender.
— Não quer se aproximar de mim... porque tem medo do que há dentro de você mesmo. É isso?
Severus se calou, sentindo-se exposto, vulnerável. Fique longe de mim, porque eu próprio já não sei como resistir às minhas paixões.
Harry sentou-se na cama, parecendo perdido. Então ergueu o rosto para Severus outra vez.
— Vou fazer o chá.
s:S:s:S:s
Quando terminaram o chá, Severus viu, com pavor, Harry ir até a sua escrivaninha e retirar a caixa de madeira da gaveta. Severus correu para ele, mas quando chegou junto a Harry, ele já estava com um escorpião na palma da mão.
— Você enlouqueceu?
— Eu não tenho medo, Severus.
— Largue esse escorpião imediatamente.
— Só se me prometer que vai me dar uma chance.
Severus estava apavorado. Ele não possuía antídoto contra o veneno daquele escorpião. Poderia fabricá-lo, mas levaria tempo.
— Harry!
— Prometa.
— Está bem!
Foi quando Severus notou que Harry tinha o escorpião sob Imperius. Seu jovem discípulo havia lançado Imperius não-verbalmente, sem que Severus jamais houvesse treinado isso com ele. O escorpião voltou obedientemente à caixa, e Harry a fechou.
Continua...
(Desculpem se eu responder às reviews só com um "obrigada". É que não consigo enviar mais do que 3 palavras em resposta. E se por acaso eu não conseguir postar aqui, vocês podem ler a última parte amanhã no meu site ou em community ponto livejournal ponto com barra potterslashfics)
