Mais uma história para comemorar o aniversário de Genzo Wakabayashi! Apenas um breve momento que quero compartilhar. Amo este personagem, portanto, escrevi esta história com muito carinho.
Espero que gostem da leitura!
E só para constar:
" - Isso é fala!"
" E isso é pensamento!"
Alles Gute zum Geburtstag
Mal havia amanhecido e já nevava. Era de se esperar que o clima fosse esfriar bastante, afinal, já era dezembro. Wakabayashi Genzo estava posicionado no gol e iniciava sua rotina de treinos, junto de alguns colegas que haviam chegado cedo.
Disciplina era levada a sério. O lema da casa é "sabemos de onde viemos, o que somos e o que queremos". Essa era a regra da nova casa do goleiro japonês, que agora vestia a camisa de número um do time bávaro.
" - Quero ver você defender hoje, Wakabayashi. Eu acordei inspirado." - dizia Xiao Junguang, já animado logo cedo.
" - Ah, imagino que você esteja cheio de energia, mas hoje não vou deixar passar nada." - Genzo respondeu ajeitando o boné na cabeça.
" - Wakabayashi."
Genzo teve sua atenção voltada para o outro atleta que adentrava o gramado.
" - Você não vai fazer o treino da tarde? Achei que hoje você treinaria de tarde." - Schneider se aproximava.
" - Ah, me desculpe por desapontá-lo amigo, mas hoje não poderei ficar."
Schneider observou por alguns minutos em silêncio.
" - Eu também não ficarei. Após o treino preciso passar em alguns lugares. Hoje é dia 5 e quero comprar uns presentes para a Marie." - o loiro respondeu com naturalidade.
" - Quê? Quer dizer que vou ter que treinar mais leve hoje…?" - Xiao parecia desapontado.
Genzo apenas concordou com o colega.
" - Faz parte. Amanhã temos um jogo importante, é bom fazer valer a pena o treino de hoje." - respondeu o goleiro.
Genzo estava um pouco mais agitado que o normal naquela manhã, o que foi percebido por seus colegas de equipe. Schneider não pegou leve nos treinos, e Wakabayashi o seguiu à altura, impedindo qualquer chute de balançar as redes.
" - Se nossa defesa jogar assim amanhã, não teremos que nos preocupar com o resultado." - comentou Levin, ao ver o empenho do goleiro.
" - Amanhã é um jogo importante." - Wakabayashi respondeu mais para si mesmo do que para os outros, o que não passou despercebido por Karl, que achava estranho como o amigo estava agindo naquela manhã.
Após os treinos, Genzo não fez cerimônias ao juntar seu equipamento e seguir rumo ao vestiário, sendo acompanhado pelo amigo atacante.
" - Você disse que ia em algumas lojas comprar doces para a Marie… eu posso te acompanhar? Preciso comprar algumas coisas, e confesso que seria bom uma opinião."
" - Você quer minha ajuda para comprar um presente?" - Schneider achou no mínimo curioso.
Ambos adentraram os vestiários privativos, onde poderiam se banhar, se aquecer e se arrumarem.
" - Sim, afinal, você sempre compra presentes para a Marie. Você tem uma certa experiência em comprar presentes para mulheres." - comentou o goleiro.
" - Em primeiro lugar, a Marie é minha irmã. Em segundo lugar, sim, ela é uma mulher, mas ainda é uma criança. Se você quiser dicas de como comprar presentes para uma criança, talvez eu possa ajudar… mas… peraí." - Schneider olhou curioso para o goleiro. - "Você vai comprar presente para uma mulher?"
" - O que foi? É tão estranho assim?" - Genzo começou a se despir e jogar o uniforme de lado para seu banho.
" - É algum parente?" - o loiro olhou desconfiado.
" - Não." - Wakabayashi respondeu adentrando o chuveiro, já se apressando para uma ducha rápida. - "Eu convidei uma amiga para vir à Alemanha assistir o jogo de amanhã."
" - Ah, já entendi." - Schneider sorriu levemente. - "Uma amiga… sei…".
" - Sim, uma amiga. Ela disse que adoraria conhecer a Alemanha e, bem, ela é fã do Bayern de Munique há algum tempo." - Genzo continuou.
" - E de onde vem essa amiga?" - Schneider pergunta enquanto adentra a ducha ao lado.
" - Brasil."
" - O país do futebol do Tsubasa." - Schneider comenta.
Genzo fecha a ducha e apanha uma toalha para se secar.
" - Sim. Ela conheceu o Tsubasa no Brasil. E eu a conheci através do Tsubasa." - ele completou.
" - E o que você pretende comprar para a sua namorada brasileira?"
Wakabayashi apanhava a troca de roupa que já havia deixado separado sobre sua mala. Ao ouvir o comentário do amigo, não pode deixar escapar um sorriso engraçado, como se já soubesse que esse tipo de comentário viria.
"Demorou." - pensou, quebrando o silêncio logo em seguida.
" - Ela não é minha namorada. É uma amiga." - ele ressaltou, enquanto se vestia.
Schneider fechou a ducha e apanhou a toalha mais próxima, começando também a se secar.
" - Tudo bem… então vamos ver o que podemos encontrar para a sua amiga em algumas lojas que eu conheço." - o atacante se vestiu, terminando de se aprontar.
A confusão estava começando a se montar nas arquibancadas com um gol espetacular que virava o placar com apenas 2 minutos para se terminar a partida. Era 5 de dezembro e São Paulo e Flamengo se enfrentavam em campo, com o time tricolor jogando em casa numa manhã de sábado.
O gol, de autoria do time anfitrião foi o estopim para um estouro de gritos e cantorias na torcida, que balançavam a arquibancada do estádio do Morumbi e traziam a alegria famosa do futebol sulamericano à flor da pele.
Roberto estava observando os jogadores em campo, já cansados por jogar dois tempos seguidos. Eles estavam muito próximos da final do campeonato e curvavam-se com as mãos apoiadas nos joelhos, respirando pesadamente.
Dado o tempo necessário para as movimentações finais no gramado, não demorou para que o juiz da partida encerrasse com o apito uma das maiores partidas que aconteceu nesta temporada. Não demorou para a excitação na arquibancada virar um mar de provocações entre as torcidas.
Era comum que houvesse briga nas finais de campeonato. No Brasil, torcedores vestiam camisas de seus times e não gostavam de serem provocados quando estavam em seu momento de fé e torcida. Facilmente, uma ou outra provocação tomava uma proporção de maior tamanho, que gerava uma grande reação e acabava em algo pior.
Era algo que alguns amantes do futebol não aprovavam e era difícil conter as torcidas mais ávidas, como a torcida rubro-negra.
A assistente são paulina rapidamente pegou as toalhas que estavam sobre os bancos e correu para os vestiários, auxiliando os outros membros da equipe técnica que retiravam os apetrechos do time de campo. Roberto apoiava os garotos que comemoravam sua vitória, erguendo a taça da Libertadores no gramado da casa.
Assim que fez o seu dever, passou a mão no celular que estava preso em seu uniforme na sua cintura e começou a digitar. Não demorou para que recebesse uma resposta.
Você: "Vencemos!"
Tsubasa: "Acabei de ver pelo YouTube! Parabéns! Foi um jogo realmente interessante."
A garota não conteve um pequeno sorriso de satisfação. Desta vez, sentiu-se realizada por participar, auxiliando o treinamento da equipe e ajudando Hongo em tudo o que pôde. Sabia que fazia parte daquela vitória, sentia-se feliz pelos rapazes que se esforçaram tanto.
"- Não foi uma partida fácil, realmente temos muitos pontos a melhorar… mas, quero lhe agradecer pela ajuda." - Roberto disse, se aproximando pela porta do vestiário. - "-Está distraída… está tudo bem?"
"- Ah! Não é necessário me agradecer!" - ela respondeu-o de imediato, ao ouvir o cumprimento. "- Estava apenas enviando as boas novas ao Tsubasa. Ele acompanhou tanto da nossa história, que achei que seria bom avisá-lo o quanto antes."
" - Venha comemorar conosco! Nós vamos sair para comer algo… por conta da casa!" - Roberto ofereceu, alargando um sorriso.
A garota pensou por um instante, e balançou brevemente a cabeça, recusando formalmente.
" - Obrigada! Mas, preciso ir ao aeroporto."
Roberto pareceu surpreso. Os braços que estavam praticamente soltos e abertos, como se esperasse um abraço pelo convite, logo se cruzaram à frente do corpo do ex-atacante.
" - Como assim? Vai buscar alguém?"
A garota pareceu surpresa. Achou que o treinador sabia do que se tratava.
" - Na verdade, vou viajar. Não recebeu minha mensagem avisando que estaria ausente logo após o jogo de hoje?"
Roberto não respondeu, deixando evidente que sequer havia lido a mensagem que a garota lhe enviou dias atrás. Com um meneio de cabeça, ela sorriu conformada com a falta de atenção, e porque não dizer, a falta de tempo do treinador.
" - Eu preciso ir, não posso me atrasar."
" - Desculpe-me por não poder levá-la ao aeroporto." - ele se desculpou, se aproximando e abraçando-a. "- Tenha uma excelente viagem."
" - Obrigada!"
" - Pra onde você vai?" - e ele se afastou, com certa curiosidade.
" - Alemanha." - ela respondeu feliz.
" - Alemanha? O que você vai fazer na Alemanha?"
" - Passar o Natal e o Ano Novo." - ela respondeu naturalmente, caminhando até o canto onde havia deixado suas malas, estrategicamente posicionadas no vestiário, como se ela tivesse pensado em cada detalhe.
" - Nunca imaginei… você está indo sozinha?" - ele não conseguia evitar. Por alguns momentos, era como se tivesse um sentimento paternal sobre a garota. "- Você sabe que é perigoso viajar sozinha…"
" - Eu vou ficar bem! Wakabayashi vai me buscar no aeroporto." - ela respondeu rindo com a preocupação excessiva dele.
" - Wakabayashi?... Wakabayashi Genzo?" - o brasileiro olhou surpreso.
" - Sim."
Houve um breve silêncio, enquanto ela abria a mala e retirava uma troca de roupa.
" - Eu sabia!" - ele respondeu com meio sorriso.
" - Sabia o quê? Não tem nada demais… somos amigos e ele me convidou para passar o Natal e o Ano Novo por lá. Eu sempre quis conhecer a Alemanha…" - ela começou a falar apressada, incomodada pela assertividade dele.
" - Ahahahahaha! Não precisa me fuzilar com desculpas… eu só queria garantir que você não estivesse correndo nenhum perigo. Já que seu namorado vai te buscar no aeroporto, eu fico mais tranquilo…"
A garota retesou o corpo.
" - Não é o que você pensa… ele não é meu namorado." - ela respondeu da melhor maneira que pôde.
" - Hm, sei… bom, eu vou acompanhar os garotos. Faça uma boa viagem e mande notícias quando chegar lá." - Roberto disse de forma animada enquanto caminhava para fora dos vestiários.
" - Ele… não é…" - a garota continuou a insistir, mas logo percebeu que já não era mais ouvida, uma vez que o treinador a deixou falando sozinha.
A moça juntou suas malas e a troca de roupa e seguiu para um local privativo, onde poderia se trocar em paz. Trancou a porta da pequena sala onde se enfiou e, colocando a mala de forma desajeitada ao lado da porta, começou a tirar a camisa do time que vestia.
"Será que todos pensam que sou a namorada dele?"
Ela começou a se trocar enquanto se indagava sobre a reação do treinador. De fato, era verdade, ela não tinha um relacionamento amoroso com o goleiro. Eles eram amigos. Se conheceram no Japão, após dois jogos amistosos entre Japão e Brasil nas Olimpíadas de Tóquio. Tsubasa havia apresentado o amigo futebolista à ela, e ela acabou ajudando-o com alguns treinos. Nada demais.
"Nada demais."
Ela respirou fundo após terminar de se vestir e virou-se, para se olhar no espelho. Estava com uma calça jeans escura, uma blusa vermelha, de manga comprida e bem fina. Nos pés, vestia botas femininas de cano longo, macias e confortáveis. Guardou o uniforme em uma das malas, ajeitou os cabelos soltos e… se olhou profundamente no espelho.
"Por que você está fazendo isso?"
Começou a se questionar, quando se lembrou que ao voltar ao Brasil após as Olimpíadas, não conseguiu falar com ele da forma que gostaria. Estava no Japão à trabalho e, o excesso de jornalistas e da mídia, bem como de organizadores do evento, atrapalhou bastante sua "liberdade" na estadia no país nipônico.
Haviam conversado pouco. Ficou nítido que gostariam de se conhecer melhor. Ou ela estava delirando? Ela havia lhe revelado que adoraria conhecer a Alemanha para assistir a um jogo do Bayern de Munique, seu time internacional do coração. E ele acabara de se tornar o goleiro titular.
"Venha ver um jogo do Bayern então. Tenho certeza que irá gostar."
O convite soou amigável. Ela não sabia que ele realmente estava falando sério. Ele parecia brincar, fazendo um convite por educação ao ver a empolgação dela ao mencionar sua paixão pelo time bávaro.
"Eu não tenho dinheiro pra isso tão cedo." - ela respondeu brincalhona.
"Não será necessário… para que servem os amigos?" - ele retrucou de forma gentil. - "Venha como a minha convidada."
Ela achou que ele estava novamente brincando, mas o que ela não sabia era que Genzo falava sério. Quando voltou ao Brasil, recebeu dele uma passagem para que ela pudesse ir até a Alemanha no final de ano, realizar seu sonho de conhecer o país e assistir ao seu time jogar.
Ela hesitou a princípio e pensou seriamente em recusar. Mas, ela queria ir. Era uma oportunidade única na sua vida. Tinha participado da equipe brasileira da CBF nas Olimpíadas no Japão e realizado seu sonho de conhecer o país de seu amigo Ozora Tsubasa. Agora, poderia conhecer a Alemanha, outro país que estava na sua lista de viagens.
"Por que você está fazendo isso?"
Era pela vontade de conhecer a Alemanha? De ver o Bayern de Munique jogar?... ou era por querer vê-lo novamente?
Não sabia exatamente a resposta. Tudo parecia ser uma mistura de vontades, onde não havia mais nada a se acrescentar e tampouco, tirar. Sim, ela também queria vê-lo.
Pegou sua mala, juntou todas as suas coisas e saiu dali. Em menos de uma hora estaria no aeroporto. Não queria perder seu voo.
" - Eu acho que doces são excelentes presentes. Não tem como errar com comida." - o loiro ajeitava as sacolas de doces que havia comprado.
" - Você acha?" - Genzo parecia não ter tanta certeza, olhando para a caixa de chocolates finos que havia recém adquirido.
" - Sim, eu acho." - respondeu assertivo. - "É um presente comum. Quem não gostaria de ganhar uma caixa de chocolates importada? Amigos dão chocolates uns para os outros."
Genzo ainda parecia incerto.
" - Ah não ser que… você queira algo mais especial, para a sua amiga." - o alemão completou.
" - Os chocolates estão perfeitos." - Genzo interrompeu, encerrando a provocação. - "Obrigado pela ajuda, mas agora preciso ir."
" - Fique tranquilo. Vou te cobrar algum dia, quando precisar de ajuda em algo." - respondeu o amigo, cumprimentando-o rapidamente. - "Que horas sua amiga chega?"
" - Daqui a 5 horas e meia mais ou menos, já estará de noite. Preciso me apressar. Obrigado novamente."
E lá se foi o goleiro, seguindo rumo oposto após se despedir do amigo.
A verdade era que o japonês ainda estava decidido a arrumar seu apartamento. Genzo havia alugado um charmoso apartamento com um espaço legal assim que se mudou para Munique. Quando estava em Hamburgo, ele compartilhava dos dormitórios com o time, pois achava que isso lhe seria de grande valia ao melhorar seu aprendizado na cultura e língua alemã. Hoje ele não precisa mais se esforçar tanto para entender ou falar alemão.
Assim que chegou em seu apartamento, já se antecipou à cozinha, para fazer um lanche rápido e pôs-se a juntar tudo o que achava que estava espalhado e fora do lugar, para arrumar e limpar o local.
" - Em algumas horas, este lugar vai parecer outro." - comentou consigo mesmo.
4 horas já haviam se passado e finalmente a brasileira descia do avião em Frankfurt, para fazer uma baldeação imediata para o aeroporto de Munique. Sabia que este voo era muito mais curto, não chegando nem a demorar 1 hora. Ou, pelo menos era o que o Google dizia.
Adentrou o segundo avião e percebeu que desta vez notou que estava mais inquieta. Era como se sentisse que algo lhe flutuava no estômago. Havia uma ansiedade, junto de uma garganta seca e uma leve e pequena dificuldade de focar em sua leitura. Nem conseguia ler o bendito manual que havia no assento do avião.
"Vou pedir um copo d'água. Será suficiente."
Mesmo sabendo que a ansiedade lhe vinha certeira, não admitiu de início e resolveu jogar a culpa na sede, que ainda assim não passou. Sabia que já estava chegando, sentia pelo frio que havia lhe arrepiado inteira no momento em que desceu do avião em Frankfurt. As roupas com certeza não estavam adequadas.
Não demorou para que pousasse em Munique. Desceu da aeronave, seguindo as placas e as orientações da equipe do aeroporto e seguiu pelo saguão do desembarque para recuperar as suas malas. Assim que as recuperou, respirou fundo e seguiu o fluxo de pessoas, e ao avistar um banheiro, aproveitou, afinal, havia bebido tanta água no avião que já se sentia uma idiota por não saber lidar com esta ansiedade repentina.
Ajeitou-se no espelho, retocou a maquiagem, terminou tudo o que poderia fazer para controlar a sensação que lhe tomava como uma adolescente e decidiu que estava pronta. Saiu do banheiro e seguiu para as portas que estavam logo à frente, separando a parte de desembarque do pequeno hall onde diversas famílias recepcionavam as pessoas queridas que chegavam.
Ao cruzar as portas, viu muitas pessoas que observavam em sua direção, como se procurassem ansiosas. Não demorou para notar que mais alguns passos à frente, no canto próximo da parede à direita, estava Genzo.
Ele sorriu ao avistá-la. A observou por alguns instantes, percebendo que ela parecia um pouco perdida, sem notá-lo.
" - Eu espero que tenha tido uma excelente viagem." - ele comentou, enquanto ela se aproximou ao vê-lo.
" - Eu tive sim. Eu só não esperava que aqui fizesse tanto frio assim." - ela sorriu.
Como força do hábito, ela se aproximou naturalmente do japonês, colocou suas malas ao lado e o abraçou. Genzo sentiu uma certa paralisação em seu corpo, fosse pela estranheza de um contato tão próximo, que ele não estava acostumado. Ainda mais quando sentiu a bochecha dela encostar na sua, junto de um beijo. O movimento dela havia sido tão natural, que ela mesma acabou por se repreender logo em seguida.
" - Ah, me perdoe. Eu não percebi…" - ela disse em seguida, ficando claramente sem graça.
Ele riu. Sabia que os brasileiros eram mais abertos aos cumprimentos e Tsubasa certa vez havia lhe explicado que os brasileiros cumprimentam com beijos e abraços.
" - Não precisa se preocupar com isso… eu também tive um choque cultural no momento em que cheguei aqui." - ele a acalmou, oferecendo-se a ajudá-la com as malas.
Ela apenas sorriu, um pouco mais tímida com a gafe cultural que havia cometido. Sabia que não estava no Brasil, portanto, fez uma nota mental rápida para que não cometesse o mesmo erro posteriormente. Já havia aprendido que certos costumes brasileiros não são utilizados na Europa e muito menos no Japão. Abraçar e beijar, por exemplo.
Ambos caminharam pelo aeroporto até um taxi que ele já havia deixado de prontidão. Não demorou para que chegassem ao apartamento novo que ele havia alugado.
" - Então é aqui que você mora. Foi difícil de se acostumar?" - ela perguntou curiosa, ao adentrar o recinto.
Estava organizado, limpo, bem arrumado. Era um apartamento bonito, não muito grande, mas também não era apertado. Era muito confortável.
" - Eu me mudei recentemente, faz apenas 3 meses que cheguei aqui. Devo dizer que não tive dificuldades para me acostumar, pois já moro na Alemanha há mais de 9 anos." - ele completou, colocando as malas no canto da sala. - "Fique à vontade. Você deve estar com fome. Quer comer algo? Eu não tive tempo de cozinhar, mas podemos pedir algo ou sair para comer."
" - Seria bom comer algo. Não quero lhe dar trabalho." - ela apenas assentiu com a cabeça.
Enquanto a conversa parecia se desenvolver aos poucos, Wakabayashi notava que tinha uma certa dificuldade. Ele estava nervoso, às vezes as palavras pareciam lhe fugir à mente, ou ele acabava por se confundir e cometer erros bobos que, ele admitia, jamais os cometeria em seu estado "normal".
Para sua sorte, a noite pareceu correr muito bem, onde uma pizza foi uma excelente ideia de jantar, enquanto sentavam no chão da sala e apoiavam seus copos na mesa de centro. Ela estava lhe contando da viagem e, como havia achado tudo muito lindo no caminho para lá.
" - Você precisa ver de dia. Como está nevando, o dia escurece rápido, e como você não chegou muito cedo, tenho certeza de que não viu praticamente nada." - ele comentou, se servindo de mais um pedaço de pizza.
" - Isso quer dizer que você vai me levar para lugares legais e bonitos amanhã?" - ela perguntou animada.
Ele sentiu que não conseguiu esconder o rubor que surgiu em seu rosto, conforme sentiu a face lhe queimar. Ela parecia ter notado, pois alargou seu sorriso no rosto delicado.
" - Se você quiser. Claro!" - ele concluiu.
Ela continuou a se servir alegremente de sua pizza, enquanto ele notava que ela parecia se tornar cada vez mais especial. Quando a conheceu no Japão, não imaginava que alguns meses depois estaria dividindo uma pizza em seu apartamento no chão da sala com ela.
A vida é engraçada.
Ele cedeu sua cama para que ela pudesse se deitar e ele se ajeitou no sofá da sala. Era muito confortável, ele não se queixaria. No dia seguinte, tinha seu jogo para jogar, e ela estaria lá para assisti-lo.
A vida é realmente engraçada.
Diante de tantas adversidades que já havia passado, e as decisões que havia tomado para que pudesse chegar onde chegou hoje, Wakabayashi Genzo agora se deparava com seus pensamentos, olhando para o teto da sala, se perguntando por que estava fazendo as coisas que estava fazendo.
Tudo parecia muito diferente pra ele. Ele nunca havia convidado nenhum amigo para vir assistir aos seus jogos. Seu aniversário era dia 7 de dezembro, no dia seguinte ao seu jogo. E ele sabia que havia comprado as passagens para que ela retornasse ao Brasil apenas no ano seguinte, após as festividades.
Não era do feitio dele. Nunca foi. Mas, ele o fez. E ela, lá estava. Ela poderia ter recusado. Ela poderia estar menos receptiva, mas parecia se sentir à vontade perto dele. Isso o deixava feliz.
Já passava da meia noite, o que significava que era dia 6. E ele conhecia a tradição alemã. Curiosamente, uma tradição no dia anterior ao seu aniversário. Seria o dia de entregar a ela os chocolates que ele havia comprado. Seria o dia que jogaria uma partida com uma convidada particular na torcida.
" - Genzo Wakabayashi… Alles gute zum geburtstag!" - ele sussurrou para si mesmo, cerrando os olhos e se entregando finalmente ao sono.
Talvez naquele ano, realmente, seu aniversário parecia ter chegado horas mais cedo.
FIM.
