Disclaimer: Saint Seiya e seus derivados não me pertencem. Mas gosto de pensar que sim, de vez em quando.

Nota: Minha gente, é ela, tá aí! Já há alguns meses que ando a trabalhar numa versão reescrita e melhorada de minha fic antiga (antiquíssima, quase clássica rs) de Shaka x Mu, 'Yotsuba no Kurooba'. Em meu perfil refiro os motivos para esta re-edição e tentativa de recuperar uma história que é tão querida para mim e que constitui sem dúvida uma das partes mais importantes no meu progresso enquanto autora. Essa é uma história com origem na mesma ideia; inclusive aproveitei bastante texto da Yotsuba, mas revisei tudo o que postarei aqui.

Sem demais, espero que gostem.


Capítulo I — Uma Notícia Inesperada.

Pouco passava das duas da tarde quando acordou. Remexeu-se na cama, preguiçosamente e espreguiçou-se, tentando enxotar o cansaço dos seus ombros. Sentou-se na cabeceira da cama e bocejou.

Tinha voltado tarde para casa, demasiado tarde. A noite passada fora em uma balada (levado à força por Milo e Afrodite, é claro) e sua mente devia ter decidido dar o fora, pois parecia estar completamente ausente do que ocorrera.

Era verdade que se tinha divertido, mas não gostava muito daquele tipo de diversão. Preferia ficar em casa, a ler ou a ver um filme. Não era pessoa para isso.

Shaka olhou para a janela, onde a luz do sol adentrava o quarto furtivamente, ofuscando-lhe os olhos. Depois virou-se para o outro lado e olhou o despertador, pensando que o alarme devia ter passado há demasiado tempo para o seu gosto.

Ouviu o som irritante da campainha a tocar e levantou-se da cama imediatamente. Uma das coisas que não gostava de fazer era não deixar os seus convidados à espera.

Mas quem raios seria àquela hora? Não tinha feito planos…

— Shaka! – gritou o amigo impaciente do outro lado da porta. — Barbie mais linda da minha vida e arredores, luz que ilumina os meus dias cinzentos!

Milo, pensou Shaka, amaldiçoando a falta de ressaca do amigo que agora descobrira o dom para o teatro, pelos vistos.

Apressou-se a chegar à porta e abriu-a, sonolento e rabugento.

— Bom dia para você também, Milo – falou ensonado para o outro, que trazia um grande sorriso na cara e que, ao contrário de si mesmo, parecia ter escapado à ressaca.

— Tanta boa disposição, assim é que eu gosto de te ver — riu. — Tu não imagina o que acabou de acontecer!

O amigo quase se pendurava no pescoço de Shaka, de tão feliz que estava. Só faltava mesmo dar pulinhos e estourar foguetes, pensou o loiro, irritado por ser confrontado com tamanha folia quando ainda mal conseguia formar um pensamento coerente.

Adentrou a casa de Shaka sem pedir permissão, como era hábito fazer, e se sentou no sofá da sala, para onde o loiro também se dirigiu.

— Camus finalmente te pediu em casamento? – perguntou ausente, aceitando que aquilo ia durar mais que o que pensara e não ia voltar a pegar no sono tão cedo. — É que eu não gosto de igrejas.

— Não, idiota — retrucou Milo censurando-o com o olhar. — Mas agora que fala nele...

— Tá tudo bem com ele? — perguntou Shaka, apoiando a cabeça na mão aborrecido.

— Ah, sim, sim, tudo óptimo! É que aconteceu uma coisa muito boa! Você vai adorar – Milo parecia estar eléctrico essa manhã...ou seria tarde? O loiro nem sabia. — Tu sabe, a prima do Camus, aquela moça baixinha, do cabelo lilás?

— A Saori? — perguntou Shaka, já adivinhando o motivo do amigo se encontrar ali. — Acho que ela pinta o cabelo. Sei lá. Ouvi uma vez, quando fomos sair.

— Era esse o nome dela? Bom, adiante, ela tá noiva daquele moleque que parecia filho da Marin… talvez não… enteado? Já nem lembro... — Milo coçou a cabeça nervosamente, genuinamente afetado pela falta de memória que experienciava. Parecia que demasiadas noites a pé tinham deixado a sua marca.

— Seiya? – até mesmo quase dormindo em pé, Shaka conseguia dar mostras de possuir melhor memória que o amigo. (Mas também, sempre fora particularmente bom com nomes.)

— É, algo assim...Sim, penso que é isso. De qualquer das maneiras, eles vão se casar em Julho, e o Camus foi convidado. Como é óbvio eu também vou, e como é ainda mais óbvio, você também v—

— Eu não vou. Nem pensar, Milo. Eu detesto casamentos.

Cruzou os braços sobre o peito.

— Até lá tenho muito tempo para lhe fazer mudar de ideias — Milo deu um sorriso sacana e prosseguiu. — Mas bem, não era sobre isso que eu queria falar com você, isso era uma coisa sem grande importância. Quer dizer, importância moderada, pois possuo outro tipo de notícias agora – disse Milo entusiasmado, tentando arrancar alguma reacção mais convincente do amigo.

— Que foi, ó âncora de telejornal? — perguntou Shaka, perguntando-se novamente quando poderia voltar para a cama.

— Isso provavelmente vai te matar do coração — Milo olhou nervoso para o amigo, mas ao ver que a cara de enfado se mantinha, continuou, afinal não poderia ficar muito pior, — mas tenho que te contar. Encontrei com o Mu, a gente falou um pouco…

Abanou as mãos na frente da cara do loiro, que olhava agora fixamente para a mesinha de centro à sua frente, os olhos azuis muito abertos parecendo perdidos.

— Hã? – perguntou Shaka, torcendo o nariz. — A que propósito?

— Não se faça de engraçadinho – enxotou Milo enquanto gesticulava de forma teatral. Parecia nervoso. Parou com as mãos no ar e olhou para um ponto distante na parede. — Você ainda lembra, né? Céus, que droga... foi mal. Mas… ele tá aí na cidade, nós nos cruzamos quando eu e Camus saímos para tomar café.

De repente, a temperatura no quarto parecia ter descido uns dez graus.

— E porque eu haveria de querer saber disso? — perguntou, revirando os olhos.

A resposta foi mais rápida do que a sua consciência. Shaka sabia bem por que devia se interessar. Claro que sabia. Mas pensava que era de consenso geral que o nome e a memória de Mu tinham sido há muito tempo enterrados nos confins da inconsciência. E tudo bem que Milo fosse amigo dele, gostasse dele – tanto quanto sabia, podia apanhar o bouquet no casamento da prima de Camus e casar-se com ele. Claro que deixava alguns factores importantes fora da equação, como o facto de Milo estar louco (infelizmente não exagerava) pelo francês, e o facto de Mu não ser uma presença constante nas suas vidas fazia mais de uma década, mas…

Estava entrando em espiral. Decidiu ignorar o burburinho na sua mente e tratar de retificar o comentário arrogante, antes que Milo falasse algo.

— Me desculpa, foi sem intenção — falou em tom sério. — O que aconteceu com afinal?

— Claro… err... foi mal, Shaka – Milo desculpou-se. — Quem pede desculpa sou eu. Não deveria ter falado.

— Não, tudo bem.

Instaurou-se um clima desconfortável em contraste notório com o entusiasmo recente do escorpiano. Milo ainda não havia se acostumado à insistência de Shaka em não referir o rapaz de cabelos lilases, apesar da regra silenciosa se ter instalado no grupo de amigos faz muito tempo, por respeito a Shaka. Sempre tivera Mu em boa conta e tinham-se mantido amigos, ainda que distantes, ao longo dos anos, mesmo depois de este ter se mudado para o norte do país. Queria contar-lhe que era suposto comparecerem para um café, mas a verdade é que lhe custava falar sabendo como o amigo ficava sorumbático sempre que o nome do tibetano vinha à baila.

— Ele… Ele estará aqui esses dias. Dia 2 ele vai embora. Falamos de aparecer numa… acho que feira de arte, vende tipo postais e assim, saca? O Camus que sabe disso. Tem uma obras que ele está buscando faz tempo. Então? Que acha? – perguntou o rapaz de cabelos azuis, agora menos sério.

— Vou ter que pensar sobre isso. Mas, Milo, você já sabe que provavelmente será um não.

— Eu acho que ele também queria te ver — arriscou o escorpiano. Shaka franziu as sobrancelhas, desconfiado. Parecia algo que Milo diria apenas para o convencer a fazer algo incrivelmente estúpido. Mas a batida acelerada de seu coração o traiu. As palavras escaparam de sua boca antes que pudesse pensá-las.

— E como você saberia isso? Duvido muito. A gente não se vê faz dez anos.

— É que… ele pode ter confidenciado pra gente — Milo deixou escapar com um sorriso amarelo, mas no fundo estava agradado com a pergunta do loiro. Parecia que tinha mordido o isco. — Mas finge que eu não falei nada. Isso é, caso você venha. O que é um grande caso!

— Claro — Shaka revirou os olhos de novo, estava ficando profissional naquele gesto. — Eu realmente não sei. Depois te dou uma resposta.

— Ah, qual é — Milo implorou fazendo beicinho. Pelos vistos ele mordera o isco e cuspira imediatamente a seguir, mas Milo estava determinado em mudar isso. — Eu te conheço, você quer vê-lo sim. Ia ser bom pra vocês fazerem as pazes.

— Já disse, tenho que pensar — resmungou Shaka revirando os olhos, Milo conseguia ser realmente muito chato quando queria alguma coisa.

— Aceitaria essa resposta demorada, mas não quero lhe dar chance de se impedir de ser feliz.

Shaka pensou, o que raio teria feito para merecer aquele ataque de filosofia e psicoterapia barata logo ao acordar?

— E aí barbie? Vem? Vem? — os olhos de Milo estavam brilhando, aliciado pela possibilidade de mais uma vez meter a colher onde não devia.

— Argh. Tenho escolha? – resmungou. Era mais fácil dizer que sim para se poupar de mais uma dose de Milo.

— Não! Você não vai se arrepender! Até segunda! – exclamou Milo alegremente, e disparou porta fora, sem nem dar tempo a Shaka de analisar bem a torrente de informação que recebera. (Felizmente, agora finalmente poderia dedicar-se a dormir.)

E com toda a certeza iria arrepender-se daquilo.

Não podia dar-lhe a satisfação de o ver embaraçado na frente do ex-colega. Ex-amigo, ex... tanta coisa. Não queria encontrar-se com Mu tão cedo. Mas, se Milo estava tão insistente nisso, algo lhe dizia que devia dar uma oportunidade a essa ideia louca.

Os instintos do amigo geralmente estavam corretos. No entanto, se efetivamente se reencontrassem, teria de ser nos termos do próprio Shaka. Já começava a pensar em como conseguir isso.

Mu… pensou Shaka, deitando-se no sofá, pronto para pegar no sono de novo. Mas assim que cerrou os olhos, as imagens vieram vívidas à sua cabeça. Não teria descanso tão cedo.

Era por isso que tinha pedido que não o recordassem. Mesmo que ele próprio o tivesse feito algumas vezes, na sua privacidade. Era diferente, aí tinha controlo sobre o que se permitiria pensar. Porém agora que Milo mencionara o outro, ia ser difícil tirá-lo de sua cabeça.


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Próxima atualização virá na próxima semana, então, até lá!

shaka moon