EVANGELION: Um Lugar Dentro Do Meu Coração...
Por GRei
Capitulo 3 – O toque de uma alma
APARTAMENTO DE MISATO KATSURAGI - Quarto de Shinji – 22h
A noite embrulhada rachava o céu de gotas claras. A janela emoldurada de vidros cintilados deixava traspassar a luz embranquecida da lua cheia. O rapaz de olhos castanhos azulados permitia a infração especular da obscura imagem realçada da frágil Misashi. Enquanto o foco de suas pupilas dilatava, sua mão o domava para poder tocar a novata. A porta ferozmente é empurrada.
- Seu pervertido! Querendo se aproveitar da pobre Mendes! Argh! - berrava Asuka inconformada com a presença de Ikari no quarto. - Impressionante como você não se manca. - cruzou os braços e lançou um olhar medíocre.
Shinji se levantou rapidamente e contestou a reação desabada da segunda criança. Sua face corou, porém abaixou a cabeça e os fios de cabelo caíram por cima deformando lateralmente o seu desenho facial.
- Eu...eu...ia chamá-la para o jantar. - sorriu ironicamente e abanou as mãos para baixo, enquanto prosseguia para a saída.
- Que desculpa esfarrapada! - falou Soryu emburrada o seguindo e fechando a porta.
Misashi dormia sobre o colchão maleável que sacramentava a redução da fragilidade humana que forjava com o imóvel uma sensação precária de segurança. Os olhos permaneciam ainda fechados e desapreciavam as belas linhas do ambiente solitário. De repente os cílios se espremeram, a testa enrugou e despreveniu a proteção. Essa negação era dedicada à dor intensa, constringida pela fechadura de seu cérebro invadido.
- O que sou? Um Eva? Um humano? Uma experiência? - questionava Misashi repetidamente para si mesma.
+MENTE DE MISASHI+
O tremor percorria a insanidade de Mendes e se misturava com a carência destrocada pela manipulação de seu gene. A cabeça baixa desconcentrava a dor que se saciava de seu suor.
A escuridão censurava o desejo de simplificação ao redor da energia negativa do suposto rapaz que recebia um reconhecimento instável, após puxar a novata para abraçá-la. Ela que não tinha o calor em suas veias se dopou com a caricia desbancada daquele superior.
- Você é importante para mim. Pare de querer aprender sobre a vida... - disse Kars melancolicamente.
A novata oprimida castigou o seu sentimento puro, concebendo a contaminação. A ilusão malfeitora ampliava horizontes desertos e falsificava a impressão afável do rapaz que esnobava retribuir sinceramente.
- Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhh...- gritava a quarta criança dolorosamente, querendo deslocar-se. - Argh.
Uma faca pequena e afiada era manjada pela mão de Shinohara e usada para perfurar o peito da novata. O sangue jorrou pelo ar, deslizou sobre o aço e caiu no chão. Misashi vomitou sem explicita defesa corporal.
- ...ou você irá sofrer. - completou Kars Shinohara.
O abraço foi sendo apertado, contribuindo para que a projeção da faca atrofiasse inteiramente os órgãos. O adolescente friamente a girou, ensangüentou a roupa de ambos e depois a tirou enxaguada de sangue. Para finalizar o ato covarde, empurrou sem escrúpulos a garota contra o chão áspero.
- Você ainda não está pronta para servir a nossa Associação. - Kars sorriu com deboche, em seguida, jogou fora à arma criminal e colocou as mãos nos bolsos da calça.
Embebedada com o desespero que poluía os lábios, sua mão tentava lacrar a ferida que ardia. A visão embaraçava constantemente conspirava o medo com a falta de sinceridade.
- Kars Shinohara..argh...eu...te o... ode...odeio...- dizia Misashi sonolenta, com seu fôlego sumindo e com a garganta entupida.
- Idiota. - disse Kars trilhando a estrada.
BRASIL/RIO GRANDE DO SUL - Aeroporto – 10:30h
O Sol soprava ar quente e poluía a intensidade pressionada do ambiente. Os corpos suados transbordavam uma pequena quantidade visível de água que se desprendia. Colando e descolando nos tecidos leves. O vento raspava as esculturas humanas, secando o cansaço e levantando os cabelos arreados.
A voz feminina foi posicionada para a concentração de relatar o procedimento a ser cumprido pelos passageiros.
- Atenção, senhores passageiros com destino ao Japão vôo B102, por favor, embarcar imediatamente. - disse a locutora se afastando do microfone e causando um ruído agudo.
Em um banco de dois lugares que se atravancava com uma lixeira preta, se podia ver na superfície plana uma mochila espreguiçada encostada em um rapaz, que estava sentado curvado com as pernas semi-abertas e apoiando seus cotovelos nas coxas. Suas mãos estavam frias e avermelhadas, constrangendo uma foto, possuída por raios solares. Uma sombra humana bloqueia a claridade solar e pega a foto rapidamente.
- Você ainda continua com essa idéia? - falou híspido o individuo em pé que examinava a foto e logo depois, ergueu os olhos para Tsurugi.
O rapaz sentado arredado de implícita contusão virou o rosto para o lado, incansável de traficar frases mentalizadas, respirou e aspirou o ar quente abafado.
- Irei protegê-la. - respondeu Tsurugi calmamente, porém permaneceu com o olhar imóvel.
- Você só irá atrapalhar. Lembre-se, eu posso cuidar dela. - disse o rapaz desconhecido que havia reconstituído a fala repensada.
- Cala a boca Kars! - dizia Tsurugi se levantando e empurrando o cidadão. - Que merda é essa na tua mão? - observou cautelosamente a mancha de sangue.
Kars era como um fantasma que aterrorizava os momentos mais impróprios de Misashi. Surgia em sua mente e causava caos, entretanto, para Tsurugi ele aparecia como um humano qualquer, de pele e ossos.
Tudo que era feito na inconsciência tinha suas conseqüências na realidade. O sangue não era visível para pessoas normais, mas a quarta criança realmente havia sido machucada. Mesmo que o ferimento não pudesse ser visto, ele existia.
- Sangue! - puxou rapidamente a mão de Kars e a analisou com possessão.
- Me poupe de seus apelos ridículos.- Kars com desprezo retirou a mão.
A situação hemorrágica era danificada pelo peso da consciência ilimitada aos desprezos humanos, inofensivos, dos dois jovens. O chão limpo refletia as sombras, enquanto ambos, sujavam a possibilidade inconfessável de culpa, remoendo a esperança de escapatória. A mão seca de ódio de Tsurugi era restringida pelo impulso de marcar profundamente o rosto de Shinohara.
- Desgraçado, por quê? - disse Tsurugi sensibilizado.
- Não é da sua conta. - replicou Shinohara.
- Tu é um filho da mãe.- falou Tsu pegando a mochila e se afastando.
Riscando as promessas improvisadas, cada um seguia o seu destino. Tsu seguia retamente e tentava dissolver a raiva.
- Grande tolo do universo. - disse Kars amassando a foto e a jogando no lixo. - Não sabia que ele havia guardado aquela foto, com Misashi e ele juntos.
APARTAMENTO DE MISATO KATSURAGI – Cozinha – 22:30h
A área peculiar estava exposta à luz fluorescente da lâmpada alongada. A mesa de madeira era o incentivo de discussões paralelas, enquanto as almofadas aconchegavam as posturas, o elo danificado queimava-se inocentemente no interior de Asuka e a mantinha incentivada com a posição dividida.
A guardiã derramava a bebida alcoólica na boca, logo depois, suspendeu a lata de alumínio e deu um grito esférico de alegria.
- Ahhh! Uma latinha de cerveja, que vida boa. - disse Misato limpando a boca e retomando a cerveja. - Que clima ruim! Será que Soryu não está feliz por ter mais uma companheira? - pensava Katsuragi olhando para segunda criança.
- Vou dormir. Boa noite. - dizia Shinji se levantando.
- Contanto que dê para beber, por mim tudo bem.- repensou Misato com uma gota.
- É melhor você não se aproveitar da quarta criança...senão...- disse Asuka segurando o copo de suco e sugando o liquido pelo canudo.
- Puh! Ora essa...- pensou Shinji esticando os lábios.
- O que foi? Que risada foi essa? - dizia Soryu com a boca arregalada e o olhando.
- Nada...impressão sua. - disse Shinji calmamente caminhando para o quarto.
Quarto de Shinji Ikari - 02:25h
A madrugada revelava as horas lentas e desengonçadas. O dormitório pequeno abafava os pulmões, a respiração era pinchada de ar transparente. Na cama estreita encaixada na parede branca a adolescente Misashi estava dormindo e no chão, estava Shinji com insônia.
A garota inquieta, com a falta de percepção de seu sono ralo, se sentia incomodada com o corpo preso a um limite. Ela tentava proteger a sua confiança desmoronada se virando para o lado oposto; a beirada da cama era o abismo de sua perturbação. Incapaz de utilizar a liberdade de espaço, em mais uma virada, acabou caindo no colchão de Ikari.
- Mi...misa...Misashi! - disse Ikari surpreso.
A terceira criança topada com sua fraqueza corporal ressentia em algo para apagar o seu medo de estar próximo demais da novata. A animação involuntária de Mendes a fez colocar o braço em cima do pescoço de Shinji.
- O que está fazendo? - perguntou Shinji intrigado.
Shinji decaia em uma profunda dúvida que alertava seu instinto de questionar. O menino tímido estava paralisado. Querendo descobrir o principio do avançamento se virou tragicamente, sendo surpreendido, pelos lábios encostados da brasileira entre os seus.
- Misashi é sonâmbula? - pensava. - O que estou fazendo? É errado! Eu...eu. Não! Tenho que provar que não sou um covarde! - prosseguiu o toque.
O bruto ressentimento manipulava suas ações, as emoções frágeis que desarmava a profecia de união, eram reeditadas para a leveza do beijo. A quarta criança cedia sem noção e foi rebuscando seus gestos antigos e os desfazendo. Ikari lamentava pela atitude destroçada de seu apelo esquecido e reacendia a estimulação do prazer labial. A adolescente descarnada reabriu os olhos apáticos e se viu sendo violada. Uma solicitação prévia causou o trágico empurro da separação imediata.
- Por que você me beijou? - disse Misashi tocando os lábios recém abandonados e em seguida dando um tapa na face de Ikari.- Nunca mais faça isso novamente! - fechou a mão levando-a ao peito.
- Me desculpe.- quis atar Shinji.
- Eu...eu..- Mendes tremia com os olhos opacos entristecidos - Preciso beber água. - levantou-se correndo para a cozinha.
- Está bem Misashi. - respondeu Shinji mentalmente. - Seu beijo...seu gosto...- repensava - Tem gosto de sangue...- colocou a mão na boca. - Sangue...mas como? - observou o sangue entre seus dedos.
(Continua)
