Capítulo 4 – Trégua

A claridade do dia começa a se reduzir gradativamente. Enquanto no hotel ninguém parece estar realmente preocupado com a ausência deles, Tai e Sora continuam a explorar o lugar onde se encontram.

– Até agora não há nenhum sinal de civilização por aqui... essa ilha deve ser mesmo deserta... – Tai diz um tanto surpreso, ao caminhar pela ilha com Sora, próximo à entrada da floresta.

– É inacreditável! Com tanta gente no mundo eu tinha que ficar presa numa ilha deserta justamente com você! – Sora reclama irritada, parecendo estar inconformada com a situação.

– Por favor... você é a última pessoa na face da Terra com quem eu ia querer estar preso, aonde quer que fosse! – Tai replica com raiva, alteando a voz.

– Quer saber? É melhor nós ficarmos separados enquanto tivermos que ficar aqui! – Sora exclama parando de andar e virando-se para Tai.

– É a primeira vez que concordamos! Vamos ficar bem longe um do outro! – Tai grita irritado, já se afastando de Sora.

– Perfeito! Assim eu não vou ter que suportar a sua presença! – Sora grita também se afastando.

– E nem eu a sua! – Tai responde no mesmo tom.

– Ótimo!

– Ótimo!

Depois de gritarem um com o outro, eles saem caminhando em direções opostas.

– Você não vai durar nem uma hora nesse lugar sozinha! – Tai grita enquanto caminha para a floresta.

– Eu vou ficar muito bem sem você!

– É claro que vai... – Tai responde com desdém – Você não... oops... ai! – ele se distrai discutindo com Sora e acaba tropeçando e batendo de cara numa árvore.

Sora cai na gargalhada.

– Mas que ótimo! Você sabe mesmo como se virar por aqui, não é? Ah, olha só isso! – ela exclama ao localizar um arbusto repleto de frutinhas silvestres – Parece que a "não-vai-durar-nem-uma-hora" encontrou comida pra um dia inteiro... – ela completa com um sorriso debochado, mas ao apanhar algumas das frutas, se dá conta de que na verdade são pimentas – Ah, não! – ela exclama jogando-as fora rapidamente.

Agora é a vez de Tai gargalhar longamente.

– Mas... que... droga! – Sora reclama irritada, sentando-se no chão e apoiando as mãos nos joelhos dobrados.

Tai finalmente pára de rir e fica alguns momentos apenas observando Sora se lamentar. Então ele respira fundo e aproxima-se dela.

– Olha... já que não tem outro jeito e nós vamos ter que ficar aqui mesmo até nos encontrarem... acho que nós devíamos tentar cooperar um com o outro... você não acha? – ele pergunta um pouco hesitante.

Sora se vira para ele e o encara, pensativa.

– É... acho que você tem razão... – ela responde após alguns instantes.

– Então... trégua? – Tai pergunta estendendo a mão para Sora.

– Trégua – ela responde apertando a mão dele e levantando-se em seguida.

– Ótimo. Bom, eu acho que a primeira coisa que temos que fazer é encontrar uma fonte de água... – Tai diz recomeçando a andar.

– É uma boa idéia, eu estou morrendo de sede... – Sora concorda, acompanhando-o – Você acha que os outros já deram por nossa falta?

– Eu não sei não, Sora. Eles devem estar se divertindo muito pra perceberem que nós saímos; e mesmo que tenham percebido, não acho que estejam imaginando que estamos perdidos... o que foi? – Tai pergunta confuso, ao perceber que Sora o observa com uma expressão de surpresa.

– Você me chamou de Sora?

– Claro, é o seu nome, não é? Tem algum problema se eu te chamar assim?

– Não, não, é só que... você nunca me chamou pelo meu nome. Só me chamava de "Senhorita Perfeição" ou "garota metida" ou...

– É, eu seu, eu sei – Tai interrompe com um leve sorriso – Mas já que concordamos em fazer uma trégua, seria melhor a gente se tratar pelos nossos nomes reais, não é mesmo?

– É verdade, acho que é melhor assim... – Sora responde retribuindo o sorriso.


– Bom, eu acho que esse é o limite, não podemos mais continuar esperando. Já é noite e eles ainda não apareceram! – Izzy exclama preocupado, olhando por uma das janelas do saguão do hotel.

– Já vasculhamos o hotel inteiro eles não estão aqui. Precisamos sair pra procurá-los!

– A Kari tem razão, vamos nos dividir em dois grupos e sair pra procurá-los – Yolei sugere aos amigos – O Izzy, a Yume, o Tk e eu procuramos por todo o lado direito da região, e a Mimi, o Ken, o Matt e a Kari procuram do lado esquerdo – ela completa enérgica.

– Ok, vamos então! – Matt afirma e os dois grupos deixam o hotel, determinados a encontrar Tai e Sora.


– Eles só podem estar juntos, seria muita coincidência se não estivessem...

– Mas isso não faz sentido, Izzy. A Sora e o Tai sempre se detestaram, o que iriam estar fazendo juntos?

– Eu também acho isso improvável, Yolei. Mas o problema é que já não há mais aonde procurar... – Tk afirma desanimado.

– Bom, em algum lugar eles têm que estar, não podem simplesmente ter virado fumaça! – Yume exclama parecendo inconformada.


– Eu ainda não entendo o que aconteceu... Como o Tai e a Sora podem ter sumido assim, sem nem sequer nos avisar! – Ken questiona enquanto continua a procurar pelos amigos.

– Pra mim o mais estranho é eles estarem juntos... porque só podem estar juntos!

– Eu continuo discordando de você, Kari. O Tai e a Sora são as pessoas mais incompatíveis que eu já vi, não faz sentido eles estarem juntos! – Matt continua sustentando sua opinião.

– Incompatíveis, é? Não sei não... – Mimi diz com um ar de dúvida – Eu acho que eles formam uma combinação perfeita...

– Ah, fala sério! – Matt comenta incrédulo.


– Foi muita sorte a nossa ter conseguido chegar até essa ilha... se não a essa hora já teríamos nos afogado...

– É mesmo... puxa vida, que sede! Tai, você acha que ainda vai demorar muito pra gente encontrar água?

– Não, tem muita vegetação por aqui, então deve ter água por perto... Você tinha razão, é mesmo diferente ouvir você me chamar de Tai ao invés de "Rei da Popularidade" ou "chato irritante"...

– É, mas em nome da nossa trégua... Nossa, está ficando bem escuro aqui, não é? – Sora comenta caminhando entre as árvores.

– É que essa mata é muito fechada... olha, ali na frente! Acho que é um rio!

Eles caminham apressados até o lugar indicado e se alegram ao constatar que encontraram realmente um rio. Depois de saciarem sua sede, eles sentam-se nas pedras à margem do rio e discutem sobre como vão passar a noite.

– Acho melhor a gente ficar por aqui essa noite... – Tai sugere depois de avaliar o ambiente à sua volta.

– É, eu também acho. Já está bem escuro agora, pode ser perigoso ficar andando por aí...

– Você está com fome, Sora?

– Com certeza. E você?

– Também. Mas amanhã a gente encontra alguma coisa pra comer, por hoje vamos ter que dormir com fome mesmo...

– Dormir? Nossa, Tai, como você é otimista! Acho muito difícil que eu consiga dormir hoje...

– Por quê? Por causa do frio?

– Não, na verdade não estou com tanto frio assim...

– É, eu também não. Sorte que o sol estava quente quando chegamos aqui, assim não ficamos molhados por muito tempo... Mas por que você acha que não vai conseguir dormir então?

– Ah, porque estamos aqui ao relento e essa mata deve estar cheia de insetos, cobras e sabe-se lá que outros bichos asquerosos... – Sora responde encolhendo-se um pouco e olhando apreensiva ao seu redor.

– Ah, hoje foi um dia bem longo, aposto que daqui a pouco vamos estar dormindo, apesar dos bichos à solta... – Tai comenta animado, deitando no chão da floresta – Boa noite, Sora.

– Boa noite, Tai. Espero que você esteja certo – Sora responde também se deitando – Até amanhã.

Ela fica acordada, virando-se de um lado para o outro, sem conseguir dormir, atenta ao menor barulho. Passado algum tempo, ela se vira para o lado em que Tai está e descobre que ele já está dormindo.

Eu também preciso dormir... estou morrendo de sono... – ela pensa sentindo os olhos cansados. Logo, ouvindo apenas o som da respiração tranqüila de Tai e o ruído da água correndo lentamente no rio, Sora acaba adormecendo ao cair da noite na ilha deserta.


Depois de procurar por várias horas sem nenhum resultado, Kari, Yolei, Matt, Izzy, Tk, Ken e Yume decidem voltar ao hotel.

– É isso. Não sei mais aonde possamos procurar, acho melhor encerrarmos por hoje – Yolei afirma caminhando de um lado pra o outro no saguão – Vou avisar o meu pai, ele precisa coordenar uma busca...

– Ou chamar uma equipe de resgate! Isso é um problema muito sério! – Kari exclama nervosa, encarando os amigos, que também mostram expressões preocupadas em seus rostos.


Enquanto isso, na ilha, Sora continua em seu sono leve, ouvindo o som das árvores farfalhando ao vento, até que sente alguma coisa roçar em sua perna. Ela abre os olhos ainda sonolenta e toma um susto enorme ao ver uma cobra subindo por seu joelho.

– AHHH! COBRA! COBRA! COBRA! – ela grita se levantando rapidamente e fazendo a pequena cobra voar longe. Sora pula para junto de Tai num salto.

– O quê? O que foi isso? Sora, o que... – ele se levanta sobressaltado.

– Uma cobra! Estava subindo na minha perna e...

– Onde ela está? – Tai pergunta olhando atentamente ao redor.

– Eu não sei! Quando levantei, ela caiu no chão e depois sumiu!

– Mas ela te picou? – Tai pergunta encarando Sora, preocupado.

– Não, não – ela responde apressada.

– Você está bem?

– Estou, acho que sim.

Apenas nesse momento eles se dão conta de que estão abraçados. Desde o momento em que Sora gritou fugindo da cobra e abraçou Tai; na euforia do susto, ele também a abraçou e os dois permaneceram assim desde então.

– Ah, que bom que você está bem – Tai diz um tanto sem jeito, afastando-se de Sora.

– É, não foi nada... – ela responde dando uma risadinha sem graça, também se afastando.

– Bom, vamos tentar voltar a dormir agora, não é? – ele sugere voltando para o lugar onde estava dormindo antes.

– É, vamos sim – Sora responde deitando-se também, ainda um pouco apreensiva – Ah, Tai... desculpe ter acordado você...

– Tudo bem, sem problema – ele responde com um sorriso – Tomara que a cobra não volte, não é?

– É. Nem ela e nem nenhum outro bicho! – Sora diz também sorrindo – Boa noite, Tai.

– Boa noite, Sora.

E mais uma vez eles se deixam levar pelo sono, ouvindo apenas os ruídos noturnos da floresta.

Continua...


Nota da autora:

Oi povo! Nossa, eu tô adorando escrever essa fic! Já é com certeza uma das minhas preferidas! Espero que vocês estejam gostando tanto de ler como eu estou gostando de escrever! Até o próximo capítulo! Obrigada a Anaisa, Kawaii-Nique, Rayana Wolfer e Rodrigo VP pelas reviews! Bjks pra vocês!

Estelar