Capítulo 5 – O outro lado da ilha

Os primeiros raios de sol começam a se infiltrar entre as árvores, iluminando a clareira onde Tai e Sora passaram a noite. Sora abre seus olhos lentamente e espreguiça-se um pouco, ainda se sentindo sonolenta.

– Bom dia! Ainda com sono? – Tai cumprimenta animado, lavando o rosto e as mãos na água do rio.

– Bom dia, Tai! Não dormi muito essa noite, com o lance da cobra e tudo o mais... – Sora responde se levantando – Você acordou cedo...

– É, eu tive que levantar quando o sol começou a clarear bem no meu rosto...

– Eu estou morrendo de fome! – Sora afirma depois de lavar o rosto – Vamos procurar o que comer!

– Vamos, mas é melhor tomarmos cuidado, não vamos querer comer pimenta dessa vez... – Tai comenta fingindo seriedade, enquanto eles seguem caminhando pela floresta.

– Ah, pára, seu bobo! – Sora responde sorrindo sem graça e dando um leve tapinha no ombro de Tai.

– Tudo bem, todo mundo pode se enganar de vem em quando...

– É verdade... ali, olha aqueles arbustos daquele lado! – Aquelas frutinhas parecem pimentas pra você? – Sora pergunta indicando pequenos arbustos do outro lado de uma grande extensão de terra úmida e lisa, sem vegetação.

– Não, definitivamente não são pimentas! Vamos lá! – Tai responde animado, correndo em direção aos arbustos, com Sora acompanhando-o de perto.

Eles atravessam a terra úmida e começam a apanhar as frutas, cerejas na verdade, e comê-las ali mesmo, já que estão famintos.

– Humm... deliciosas! – Sora comenta entre uma cereja e outra.

– São mesmo, pena que são tão pequenas... – Tai concorda, com as mãos cheias de frutinhas.

– Hã... Tai? – Sora o chama, interrompendo a "refeição".

– O que foi, Sora?

– Você não está percebendo alguma coisa estranha?

– Não... que coisa? O que está havendo?

– É que nós... estamos afundando!

– O quê! Essa não!

Só nesse instante Tai olha para baixo e se dá conta de que a lama já está quase chegando aos seus joelhos.

– Isso é areia movediça! – ele grita alarmado – Temos que sair daqui antes que a gente afunde de vez!

– Mas como? Não consigo nem me mover direito! – Sora exclama nervosa.

– Espera, deixa eu pensar... já sei! Acho que consigo alcançar aquele galho ali... – Tai diz enquanto estica o braço em direção a uma árvore próxima – Estou... quase... alcançando... o ... galho... – ele diz ofegante.

– Vamos Tai, você consegue, por favor... – Sora diz tentando animá-lo, mesmo estando bastante nervosa por continuar afundando cada vez mais na areia movediça.

– Ahh... pronto, peguei! – Tai exclama animado, agora se esforçando para sair da poça, apoiando-se no galho da árvore.

Quando ele finalmenteconsegue sair, estende os braços para Sora para ajudá-la a sair também:

– Vamos, força! Dessa vez eu não vou te soltar!

Sora segura-se em Tai e ele a puxa para fora da areia movediça, mas com a força ela acaba caindo por cima dele no chão.

– Ufa! Conseguimos... ainda bem! – Sora exclama levantando-se, ofegante.

– Achei que a gente fosse afundar... – Tai comenta aliviado, também se levantando.

– Obrigada por ter me ajudado a sair...

– De nada, e obrigado por ter me avisado que a gente estava na areia movediça, eu estava tão ocupado comendo que nem percebi...

– Pois é, e o pior é que eu ainda estou com fome...

– É, eu também; aquelas cerejas mal deram pra começar...

– Vem, vamos procurar mais o que comer – Sora sugere e eles seguem abrindo caminho pela floresta – Mas vamos olhar aonde pisamos dessa vez... – ela acrescenta em um tom divertido.

– Pode apostar que sim – Tai responde dando risada.

– É muito ruim ter que ficar andando assim, coberta de lama... – Sora comenta examinando o estado das próprias roupas.

– Eu também acho... assim que a gente comer alguma coisa vamos voltar pro rio e... olha, isso aqui são... – Tai diz aproximando-se de algo no chão, junto à sombra de uma árvore alta.

– Favos de mel! – Sora completa chegando mais perto – Ah, que ótimo! Eu adoro mel, e você? – ela continua já apanhando alguns favos.

– Eu também. É uma delícia... – Tai responde tirando um pouco de mel do interiro dos favos e provando – Que sorte a gente ter encontrado!

– É mesmo, mas o que me preocupa é que aonde tem mel, normalmente também tem...

– Abelhas... E acho que estou ouvindo um zumbido... – Tai comenta olhando para os lados, apreensivo.

– Eu também estou ouvindo. Ai, tomara que eles não estejam muito perto...

– Essa não, lá em cima! – Tai exclama nervoso, apontando para o alto da árvore.

Sora enxerga com horror o enxame de abelhas voando para baixo a toda velocidade.

– CORRE! – Tai grita pegando a mão de Sora e correndo pela mata o mais rápido possível.

– Temos que correr pra água antes que as abelhas nos alcancem! – Sora grita olhando para trás e vendo o enxame vindo logo atrás deles.

– Vamos por aqui! O rio! – Tai exclama passando rapidamente por entre as árvores.

Eles continuam correndo desabalados pela floresta, até que finalmente avistam o rio.

– Elas estão chegando mais perto! – Sora grita assustada – Depressa!

– Vamos pular no rio! – Tai grita segurando firmemente a mão de Sora.

– Ahh! – Sora grita ao mergulhar no rio junto com Tai.

– Ufa! Essa foi por pouco...

– Agora elas não vão mais nos perseguir... e pelo menos assim nos livramos da lama também...

Tai e Sora ficam aliviados agora que se livraram das abelhas; tanto que que nem percebem que estão sendo levados pela correnteza.

– Tai... você está ouvindo um barulho? – Sora pergunta de repente.

– Barulho? É... agora que você falou... estou sim – ele responde aguçando os ouvidos – Parece o barulho de uma... CACHOEIRA!

– AHHH! – eles gritam ao mesmo tempo enquanto a correnteza os leva perigosamente cachoeira abaixo.


– Alguma notícia do Tai e da Sora? – Mimi pergunta logo que Yolei entra no quarto.

– Não, nada ainda. Depois de ter procurado por todo o litoral foi que o meu pai descobriu que o helicóptero sumiu, então deduziu que eles podem ter saído nele.

– Mas pra onde?

– Meu pai mandou a equipe de busca para o único lugar aonde ainda não procuramos: o mar.

– Eu só espero que não tenha acontecido nada de ruim com eles...


– Tai! Você está bem? Tai? – Sora o chama preocupada.

– Eu estou bem, calma, Sora. Não precisa ficar me sacudindo! – ele responde um tanto impaciente.

Depois de descerem a cachoeira, eles finalmente conseguem sair da água. Por sorte, não se feriram na queda e escaparam do afogamento, mais uma vez.

– Esse lugar é um pesadelo! Quero ir embora daqui agora mesmo! – Sora diz irritada, levantando-se e olhando para a cachoeira, como se estivesse tentando medir a altura da queda.

– Eu acho que você vai mudar de idéia sobre isso, Sora – Tai diz após ficar de pé, olhando para o lado oposto à Sora.

– Olha Tai, eu admiro muito esse seu otimismo incansável, mas você tem que reconhecer que nós estamos num verdadeiro... – Sora começa a argumentar, mas Tai toca em seu ombro, fazendo-a virar-se de costas para a cachoeira – ... paraíso! – ela completa totalmente surpresa com o que vê.

Uma maravilhosa paisagem tropical, com muitas árvores frutíferas ao longo do rio que corre abaixo da cachoeira, e mais além, uma bela praia, repleta de palmeiras e coqueiros em toda a extensão de suas areias brancas.

– Parece que chegamos ao outro lado da ilha... – Tai comenta momentos depois – Esse lugar é incrível!

– É simplesmente maravilhoso! – Sora exclama ainda impressionada com a beleza do lugar.

– Agora vale a pena a gente estar aqui! Vem, vamos pegar umas frutas! – Tai convida animado, indo em direção às árvores.

– Vamos sim! Ah, finalmente, comida de verdade! – Sora concorda sorridente.

Eles derrubam algumas frutas das árvores com o auxílio de pequenas pedras que encontram no leito do rio.

– Nossa, eu estava com tanta forme que já não agüentava mais! – Sora comenta depois de ter saciado sua fome.

– Eu também. Até que enfim, uma refeição decente... – Tai comenta satisfeito, sentado à sombra de uma palmeira – E agora, que tal a gente ir tomar um bom banho de mar?

– Não, agora não! Temos que esperar 1 hora depois de comer! – Sora afirma em tom de censura.

– É verdade, eu tinha esquecido... Você é uma garota responsável, Sora. Isso é legal... – Tai comenta sorrindo.

– Obrigada – Sora responde retribuindo o sorriso – Engraçado estarmos nos dando bem agora, não é?

– É sim eu estou feliz por a gente ter parado de brigar...

– Eu também. Por que a gente brigava tanto, hein?

– Ah, isso é fácil! A gente vivia brigando porque... bem, porque... eu não sei. Acho que não existe nenhuma boa razão...

– Pois é. Sabe Tai, tudo isso que aconteceu com a gente me fez perceber que você é um cara muito legal...

– Eu penso o mesmo, você também é uma garota muito legal, Sora. Me desculpe por ter pegado tanto no seu pé...

– Eu sei, me desculpe também...


Algum tempo depois...

– Acho que já se passou tempo suficiente, vamos pra água! – Sora diz ficando de pé e correndo em direção ao mar.

– O calor está demais, vamos lá! – Tai concorda, fazendo o mesmo.

Sora tira seu short e camiseta, pensando "ainda bem que coloquei o biquíni antes de sair ontem!" e corre para o mar. Enquanto isso, Tai também se livra da camiseta e do short e depois de largar as roupas na areia, corre para a água, também agradecendo mentalmente por estar usando calção de banho.

Eles passam um bom tempo na água, se refrescando e divertindo-se nas ondas. Quando o mar começa a ficar mais agitado, eles resolvem sair da água e tomar sol para poderem se secar.

– Ah, agora sim estamos curtindo esse lugar... – Tai comenta deitado na areia e com os braços atrás da cabeça.

– Com certeza, aqui é tão lindo... – Sora concorda, deitando-se de costas na areia e apoiando o rosto nas mãos.

Eu tenho que admitir que estar presa nessa ilha com o Tai está sendo uma experiência bem melhor do que eu pensava... ele não é o chato, irritante e metido a besta que eu achava que era; pelo contrário, ele é muito legal, engraçado e... lindo! Como eu nunca tinha percebido isso? – Sora pensa enquanto observa Tai tomando sol na areia – Sempre estive tão ocupada discutindo com ele que nunca reparei o quanto o Tai é bonitão... Ele tem um corpo tão...perfeito! Esse peito, esses músculos, oh... minha... nossa!

– Sora?

– Hã? O quê?

– Aconteceu alguma coisa?

– Não, nada. Por quê?

– É que você estava me olhando fixamente, sem dizer nada...

– Ah, eu só estava... pensando que é melhor a gente ir pra sombra agora... – Sora responde tentando disfarçar.

– É, o sol já está ficando bem quente... vamos!

Os dois se levantam, recolhem suas roupas e caminham até a sombra das palmeiras.

Agora que finalmente temos um pouco de tranqüilidade, eu posso apreciar as belezas desse lugar... a praia, o sol, o mar... a Sora... É incrível como eu nunca tinha me dado conta de que ela não é orgulhosa nem irritante como eu achava, ao contrário, é uma garota divertida, legal e... linda... – Tai reflete enquanto observa atentamente Sora vestir seu short e sua camiseta por cima do biquíni – Linda... na verdade ela é maravilhosa... é um verdadeiro paraíso... essas curvas.. esse corpo... Meu... Deus... do... céu!

– Alô? Terra chamando Tai! Por que está me olhando assim? – Sora pergunta curiosa.

– Ah, por nada, por nada – ele responde desviando o olhar.


Mais tarde, ao entardecer, eles resolvem recolher alguns galhos secos e fazer uma fogueira na praia. Enquanto Tai trata de acender a fogueira como um bom escoteiro, Sora o observa, sentada na areia.

Por queele tinha que ficar sem camisa? Isso é uma tortura! Ele só pode estar fazendo de propósito pra me deixar maluca! Lembro que quando saímos de férias, eu achava que ele era uma pessoa indesejável pra se estar no mesmo lugar, mas agora... eu o acho totalmente desejável... Isso parece loucura, mas eu estou me sentindo completamente atraída por ele...

– Pronto, fogueira acesa! – Tai afirma sorrindo para Sora.

Ah, esse sorriso... e esses olhos...cor-de-chocolate! Puxa vida, acho que posso até derreter se olhar demais pra eles, mas não consigo resistir...

Ela está sorrindo pra mim! Ah, como eu adoro esse sorriso... ela fica linda quando sorri... a verde é que fica linda de qualquer jeito... eu podia olhar pra ela pra sempre... o jeito dela me encanta, chega a ser arrebatador...

– Olha Tai, tem areia na sua bochecha... deixa que eu limpo... – Sora diz ajoelhando-se junto de Tai.

Ela toca levemente o rosto dele com as costas da mão, o que faz com que ambos sintam uma corrente elétrica passar por seus corpos.

Queria tanto poder beijá-lo agora...

Acho que estou perdendo a cabeça...

– Pronto, já limpei – Sora diz se levantando.

– Obrigado – Tai responde sério.

– De nada – Sora responde sem olhar para ele diretamente.


À noite, eles deitam na areia e ficam algum tempo observando as estrelas, até a hora do sono chegar.

– Olha aquela estrela ali... é Marte, não é? – Sora indica uma estrela particularmente brilhante.

– Aquela com o brilho vermelho? É sim – Tai confirma, observando o planeta.

– Uma estrela cadente! – Sora exclama apontando para um ponto luminoso, bem ao alto.

– Onde?

– Ali! Rápido, faz um pedido!

– Você sabe que "estrelas cadentes" na verdade são meteoros, não é? – Tai pergunta virando-se para Sora com um sorriso.

– É claro que sei, mas vê se não estraga a magia, né? – ela responde fingindo estar repreendendo-o .

Os dois dão risada e depois ficam em silêncio por alguns momentos.

– Eu já estou ficando com sono... e você, Sora?

– Eu também. Vamos dormir agora.

Eles se acomodam sob as palmeiras e se acomodam para dormir.

– Sabe, Tai... há algum tempo atrás, ficar presa numa ilha deserta era a minha fantasia... – Sora confessa após alguns instantes de silêncio.

– Verdade? E você imaginava ficar sozinha? – Tai pergunta virando-se para ela.

– Não... ficaria com um cara lindo, charmoso e sexy... – ela responde também se virando para ele.

– E você acha que a sua fantasia se realizou?

– Seria muito legal, a gente ia nadar, pescar, fazer castelos de areia... – Sora comenta sem responder à pergunta de Tai.

– Pensando desse jeito, até que essa parece ser uma boa fantasia...

– A gente bem que podia fazer essas coisas amanhã...

– Que coisas?

– O que eu falei antes: nadar, pescar, brincar na areia...

– É, acho que podemos sim. Podemos realizar a sua fantasia...

– E você? Tem alguma fantasia com uma ilha deserta?

– Ah, tenho sim, mas não posso te contar...

– Por que não? Eu te contei a minha...

– É, mas acontece que a minha fantasia é um pouco mais... como dizer... caliente... – Tai responde com um sorriso travesso – Não acho que poderia realizar...

– Ah... ok, então. Mas amanhã é outro dia, não é? – Sora diz também sorrindo para Tai – Nunca se sabe...

– É, nunca se sabe...

– Boa noite, Tai – ela diz virando-se para o outro lado.

– Boa noite, Sora – Tai responde fazendo o mesmo e fechando os olhos para uma boa noite de sono, ouvindo o som do balançar dos coqueiros pela leve brisa do mar.

Continua...


Nota da autora:

Oi povo! Puxa, esse capítulo ficou mais longo do que eu imaginava, mas é que tinha que acontecer muita coisa... Espero que tenham gostado e continuem deixando reviews! Obrigada a Anaisa, Rayana Wolfer e Camihil pelos comentários!

Bjks pra vocês!

Estelar