Capítulo 4

Uma Nova Vida

'PASSEI, KAGOME!!!!! PASSEI NA BOLSA DE ESTUDOS!'

A garota de olhos castanhos e cabelos lisos, na altura dos ombros e presos num meio rabo chegou nas aulas do turno da tarde empolgada.

'Que bom Rin!' A outra se levantou e foi abraçar a amiga que estava sem ar de felicidade.

'Agora posso economizar muito mais dinheiro!' A esse comentário, a outra menina abriu os olhos desconfiada. Rin, percebeu que estava falando demais e que a amiga poderia desconfiar de alguma coisa. Os tios iriam-na expulsar do restaurante.

'É que..... que minha família é pobre!' Ela completou por fim.

'Sim eu sei!' Kagome disse abraçando calorosamente a amiga de infância.

Kagome e Rin sempre foram amigas desde muito pequenas. Elas estudaram sempre na mesma escola, mesma sala, mesma turma. Eram as melhores amigas. Depois que os pais de Rin morreram, Kagome queria que a mãe adotasse a amiga, mas os tios não deixaram. Kagome deu muito apoio à amiga, mesmo sendo ambas muito novas.

'Por que seu rosto está vermelho, Rin?' Kagome perguntou.

'Ah!' Exclamou Rin falou passando a mão no lado do rosto vermelho.

'Eu....Eu só me descuidei e caí da escada!'

'Hum!' Kagome disse. Mas não pôde continuar a falar nada porque a professora já havia entrado.

A professora era uma mulher de seus 30 anos, muito bonita e altiva. Seus cabelos muito cumpridos caíam-lhe à cintura e seu rosto fino era moldado pela franja negra, olhos escuros mas que transmitiam profunda paz e tranqüilidade. Depois que entrou na sala e desejou boa tarde a sua turma começou a aula.

A professora terminou a aula parabenizando Rin por ter passado no exame nacional que oferecia uma bolsa de estudos até terminar o científico. Rin se levantou e reclinou o tronco para frente agradecendo. Porém, não pode deixar de reparar a vermelhidão no rosto da garota, mas achou melhor não comentar nada.

As aulas de Rin terminaram no final da tarde. A garota tinha que ir para o restaurante como em todos os dias. No entanto, naquele dia ela estava se sentindo especial. Rin gostaria que algo realmente lhe acontecesse e que ela não precisasse voltar para lá. Rezava para que alguma coisa acontecesse para tirá-la do sofrimento em que vivia.

Rin pôs-se a caminhar lentamente para o restaurante. Ela caminhava sem a menor pressa. Olhava para as árvores balançando, o vento movimentando as folhas uma por uma. Era um espetáculo. A garota pensava. "A vida é tão engraçada. Pra uns ela é calma e tranqüila, pra outros é trágica, pra outros é triste. Gostaria de saber o porquê."

"Acho que não sentirão minha falta. Hoje o Kaiten é meio parado. Não tem muito movimento. Eu estou exausta depois de passar o dia estudando, e também a notícia da bolsa me deixou acelerada!" Ela caminhava, e começou a pensar naquele rapaz que havia a ajudado. "Ele é tão alto!" Ela pensou e sorriu tapando a boca com as mãos pequeninas. "Que engraçado ele ter me ajudado, queria que sempre tivesse alguém pra me levar de carro. Assim eu não ia precisar acordar de madrugada." Foi pensando naquele estranho que a ajudara de manhã mais cedo e nem viu que havia chegado na frente do restaurante. Estava muito distraída, tanto que entrou sem perceber, afinal, estava acostumada com aquele percurso de tal forma que quando viu, estava dentro do restaurante. Ela nem percebeu também mas era mais tarde do que ela sempre costumava chegar.

Entrou pelos fundos e em segundos estava dentro da cozinha. No entanto, ficou petrificada quando viu o tio fazendo o trabalho que cabia a ela realizar; limpar peixes.

'Vai ficar parada aí, criatura?' Ele perguntou furioso. Só não gritara com ela porque todo o restaurante iria ouvi-lo. 'Depois pode me esperar aqui! Você me paga! Ser imprestável!'

Rin sentiu seu estômago embrulhar. Era incrível como aquelas pessoas conseguiam acabar com a felicidade dela. Ela ficou zonza só de pensar no que ele poderia fazer com ela. "Homem barrigudo, horrível. Que os Deuses me ajude." Esse era o único pensamento que passava na cabeça da garota.

'Eu... eu tive alguns problemas na escola!' Rin disse quase implorando piedade.

'Está duas horas atrasada, ser abominável.' Dona Kuni disse jogando um punhado de peixes para ela limpar.

Enquanto isso o homem saiu da cozinha para resolver os problemas do restaurante.

A menina segurou aquele animal morto e pensou: "Lá vamos nós! E que os deuses me ajudem!" Pensava segurando um choro que teimava em tentar aparecer.

Ela começou a limpar os peixes quase que maquinalmente. Fazia aquilo todos os dias. Estava quase na veia. Ela limpava e limpava, mas a mente não estava mais naquele cheiro de peixe morto, estava no rapaz de olhos dourados.

Por causa do atraso de Rin, os tutores da criança a obrigaram a lavar toda a louça do restaurante e depois esfregar toda a cozinha. Já era uma hora da manhã e Rin ainda estava esfregando a cozinha.

"Tomara que me esqueçam aqui! Seria bom se eles me esquecessem pro resto da vida deles." Pensava ajoelhada com uma bucha na mão, esfregando o chão com toda a força.

A porta que era de arrastar se abriu e Rin levantou os olhos para ver quem era a pessoa que acabara de entrar. Deparou-se com seu tio, Hiko, a encarando com olhos de um assassino. Rin sentiu muito medo dele naquele momento. Este se aproximou dizendo:

'Você me paga por ter me feito limpar peixes! Sua ingrata! Criatura horrível! Você vai sentir o sabor da minha cinta.' Ele falou tirando um cinto da cintura. A gordura da barriga lhe caía por cima da calça preta. Os olhos da garota estavam amedrontadores.

Rin por alguns segundos ficou parada, sem reação. Ela iria apanhar de novo. A garota não agüentava mais apanhar. Estava cansada daquilo. Seria melhor que numa dessas surras ela morresse logo de uma vez. Mas ao ver o tio se aproximando ainda mais com aquela cinta de couro, a criança levantou e correu em direção a porta. Ela iria sair dali correndo, iria fugir. No entanto, a porta estava trancada por fora. Rin tentava puxar desesperadamente aquela porta como alucinada.

Sentiu uma mão pesada segurar seu pequeno e frágil braço. Ela começou a gritar. Não queria apanhar, mas esta não era uma escolha. Era um fato. Era algo que estava prestes a acontecer. Ela se encolheu como um feto, e segurou a cabeça, mas isso não foi o suficiente para sua proteção. Hiko a atacou como se ela fosse um animal a ser abatido. Ele estava fora de si.

Cada chicotada era seguida por um grito angustiante. O choro desesperado era ouvido por toda a vizinhança. O homem havia perdido a noção, ele não conseguia parar. Seu ódio crescia como um tumor, como um câncer que estava devorando sua alma. O choro da criança cessou. Mas o homem não parava de espancar a criança. A boca do homem gorducho espumava de ira e ódio. Ele havia perdido o juízo sobre si mesmo.

'Pare com isso!' Senhor Hiko pode ouvir a voz de um homem ordenando que cessasse com o que estava fazendo. 'Vai matar esta criança! Não vê que ela já está desacordada?'

'E quem o senhor pensa que é para me interromper?' Respondeu espumando de raia ainda de costas para aquele homem. E virou-se lentamente, tentando se recompor.

'Eu sou da polícia local! Eu e meu companheiro de vigilância recebemos um telefonema anônimo de que alguém espancava uma criança aqui dentro.' Mentiu sobre o telefonema anônimo.

'Estamos cercando esse restaurante desde hoje de manhã cedo!' O outro policial disse. Senhor Hiko ficou pálido. Ele, agora, já olhava em direção de onde vinham as vozes masculinas. Estavam lá o outro policial segurando uma arma e apontando para ele e sua mulher nervosa, com as mãos no peito em forma de súplica. Como faria se perdessem a guarda daquela criança? Mas os rapazes que estavam a sua frente não deram espaço ou tempo para que o homem ou sua esposa falassem qualquer coisa. Um dos policiais, aproximou-se da criança e a segurou no colo.

'Levarei a criança ao hospital.' O policial de cabelos negros e revoltados e olhos escuros disse.

'O senhor quem é? O pai da menina?' O outro alto de cabelos lisos muito curtos e olhos castanhos perguntou.

'Na-na... não!' Senhor Hiko gaguejou ao ver a menina toda ensangüentada e desacordada.

'Então quem é o senhor para tratar essa criança dessa forma?' O homem falou com desdém para o outro.

'Eu.... eu... eu sou o-o... tio dela.' Falou pálido.

'E onde estão os pais dessa criança?' O outro com a criança no colo disse.

'Mo... mo... rreram! Eu e minha esposa somos os tu-tutores!'

'Eram! O senhor quis dizer!' O homem que segurava a garota disse com uma certa ira nos olhos e começou a se dirigir para a porta. O outro que estava ainda com uma arma apontada para o gorducho disse:

'Os senhores estão presos por agressão e maus tratos a menores. Tem o direito de ficarem calados e tudo o que disserem poderá ser usado contra os senhores no tribunal. Tem o direito de um advogado.'

Disse algemando o homem e a mulher que estavam sem saber o que fazer. Ele olhava para a esposa como súplica. Saíram do restaurante com a criança nos braços. A única coisa que os tios pensavam era: "Quem poderia ter feito a denúncia?"

Ele chorava não se perdoando por ter perdido o controle, ao mesmo tempo que na sua cabeça a única pessoa capaz de fazer a tal denúncia era a própira Rin. Ou então, ela devia ter contado a alguém e estes os denunciaram. Ele teria que descobrir, depois que saísse daquela situação e tivesse a garota nas mãos novamente. Ela teria que falar, nem que fosse sob tortura.

Pobre senhor Hiko. Era, realmente, pobre de espírito.

O policial segurava o homem como um marginal. Começou a aglomerar de pessoas que moravam nas redondezas para ver o que estava acontecendo. Todas as pessoas sabiam que alguma coisa acontecia com a criança que o casal criava, mas ninguém nunca teve coragem de fazer nada.

O homem algemado foi empurrado para dentro do furgão pela parte de trás e depois trancado. Os policiais entraram no carro de polícia que estava estacionado em frente ao restaurante. Um deles colocou a criança deitada no banco de trás, entrou no carro e começou a dirigir, primeiramente para o hospital, com seu companheiro de trabalho e o outro na parte de traz do furgão.

Chegando lá, o rapaz moreno de cabelos revoltos segurou a criança e olhou para o outro policial:

'Não se preocupe! Eu tranco o velho na cela e imediatamente abro um processo contra ele e sua esposa! Eles vão ter o que merecem por ter maltratado tanto uma criança indefesa! Depois mando a patrulha mais perto te buscar! Você também precisará testemunhar!'

'Certo!'

Correu e entrou dentro da Clínica. Todos já estavam se movimentando para internar a criança. Como o policial não sabia nada a respeito dela, pediu para chamar o Doutor Suikotsu porque ele saberia o que fazer com a criança já que a esposa dele a conhecia.

O policial segurou o seu celular e digitou um número.

'Moshi, moshi!' Ouviu-se uma voz feminina do outro lado da linha.

'Kikyou? Você tinha razão! A família espancava a criança. Eu a trouxe para o hospital e agora seu marido a está tratando. Ela está em coma.'

'Mas que horror!!! O que aconteceu?' Kikyou perguntou petrificada.

'Pela manhã quando me ligou pedindo que vistoriasse o restaurante Kaiten pois achava que a família da sua aluna a espancava eu e Kohako ficamos patrulhando os arredores do restaurante assim que a garota voltou da escola. Então, a ouvi gritar desesperadamente e entrei para saber o que acontecia. Cheguei lá, o tio estava trancado espancando a criança com um cinto e ela estava desacordada. Eu tive que trazê-la ao hospital porque achei melhor. A coitadinha apanhou muito! A ponto de entrar em coma.'

'Pelos Deuses! Vou ligar para Kaede! Nossa irmã saberá o que fazer!'

'Ligue sim. Mas eu já te digo que teremos que arrumar outros tutures para essa menina. Ela não poderá mais morar com aquelas pessoas. Eu e Kohako vimos o que o homem faz com a criança e o estado que ela está agora. A esposa dele os trancava e tivemos que obriga-la a abrir a sala fatídica. O juizado de menores tirará a guarda da criança dos tios, certamente.'

'Quanto a isso fique tranqüilo. Eu tomarei a guarda dela. Como você sabe, eu era a melhor amiga da mãe de Rin. Kagome e ela sempre foram amigas e quando os pais morreram eu queria ficar com ela. Mas os tios tiveram preferência. Depois disso ninguém permitirá mais que ela viva com eles. E o tio que a espancava, o que acontecerá com ele?'

'Kohako e eu abriremos um processo contra a família. Eles terão que responder por agressão a menores.'

'Espero que tudo termine bem no final!'

'No fim tudo dá certo, se não der certo é porque ainda não chegou ao final! Agora tenho que trabalhar, minha irmã.'

Desligaram o telefone. Imediatamente, Kikyou já estava ligando para sua irmã mais velha, Kaede.

Elas conversaram e resolveram o que iriam fazer. O dia seguinte seria decisivo na vida da criança. Kaede era a diretora da escola em que Rin estudava. Ela foi professora dos pais da menina.

Antes de Kagome ir à escola, na mesa de café, Kikyou começou uma conversa com a única filha. Ela falou que a amiga estava doente e que não iria a escola por alguns dias. Disse que eles iriam a visitar assim que possível. E que talvez ela tivesse uma surpresa.

Kagome queria saber qual era a surpresa, no entanto, Kikyou terminou o assunto dizendo que se contasse, então, não seria surpresa.

A professora lecionava às tardes e ia a escola pela manhã somente auxiliar sua irmã com a secretaria. No entanto, naquele dia ela iria ficar em casa junto com o marido, Suikotsu. O médico que tratara da criança e a professora, deram entrada ao processo de adoção.

Eles ligaram para um advogado, amigo da família do jovem médico e agilisaram o processo jurídico que retiraria a guarda de Rin. Era certo. Os tios perderiam a tutela da menina. Não havia erro, Rin estava hospitalizada e havia dois policiais que haviam testemunhado toda a cena. Sem falar que toda a escola já havia visto a garota por vezes com o olho roxo, o rosto cortado, às vezes mancando. Ela nunca reclamara, mas era óbvio o que acontecia na família. Não havia mais volta. Os tios seriam avisados e o tio iria ter que responder perante a justiça por ter espancado Rin. Isso era contra lei.

'Mais cedo ou mais tarde o homem já estará sabendo que terá de ir a um juizado de menores. Enquanto isso não acontecer, Rin fica aqui em casa!' Disse ao marido.

'Acho que hoje mesmo posso ter uma audiência com o juizado de menores pedindo a guarda da pobre criança. Eu avisarei quando será a audiência, mas não tardará pois é importante que assim que a menina saia do coma tenha um lar legalmente reconhecido.'

'Mas a menina não poderá sair do hospital por pelo menos essa semana. Está muito debilitada e machucada. No hospital tenho melhores condições de tratá-la.'

'Hai, Suikotsu!' O advogado dizia. 'Direi isso ao juiz, mas assim que ela melhorar terá que testemunhar e contar o que acontecia dentro da antiga casa dela.'

'Com certeza!' O outro afirmou.

'Imagino que sim...' A esposa falou, continuando. 'Mas gostaria que ela não precisasse falar nada. Ela sofrerá. E ela já sofreu tanto! Parte meu coração. Se a mãe dela estivesse aqui morreria de desgosto!'

'Bem, então, assim que tiver alguma notícia nos avise! Agora precisamos trabalhar.' E assim os dois saíram para trabalhar e o advogado foi direto tratar de seus afazeres.

Rin já havia aberto os olhos e não entendia o que estava fazendo dentro do hospital. Havia uma agulha enterrada em uma veia de sua mão que era ligada a um líquido transparente por um cano de plástico. A criança sentia dores por todo o corpo. Havia curativos por todos os lados. Os olhos dela estavam roxos e as costas muito magoadas.

Ela tentou se virar de lado, mas a dor era tanta que não conseguiu. Acabou ficando de costas mesmo. Ficou um momento parada, olhando para o teto. Não sabia o que estava acontecendo mas pelo menos estava longe do tio.
Quando lembrou do tio, Rin sentiu uma dor no coração. Logo estaria fora daquele lugar e teria que voltar para trabalhar no maldito restaurante.

Seus pensamentos foram interrompidos por um homem que acabara de entrar no quarto em que ela estava. Ele era bem alto e usava uma roupa branca. Aproximou-se dela e ela o reconheceu.

'Está melhor, Rin?' Ela, com os olhos marejados de lágrimas, olhou para o homem que havia perguntado. E reconheceu o médico. "O pai de Kagome!!!"

'Ei! Não precisa chorar! Agora tudo vai ficar bem. Você não precisa mais voltar para aquela casa dos horrores!'

Quando ele falou isso os olhos da garota se arregalaram. Enfim, as suas preces haviam sido ouvidas? Será que ela havia morrido e aquilo era um sonho? Será que aquilo realmente era verdade?'

'Isso é verdade?' Ela perguntou num fio de voz.

'Acha que algum juiz irá deixar você voltar para morar com seu tio que a maltrata deste jeito?'

Ela não respondeu e agora as lágrimas que lhe caíam dos olhos não eram mais de tristeza e sim de alegria. Ninguém poderia saber como ela estava se sentindo só pela esperança de saber que não teria mais que olhar na cara dos tios e que não precisaria mais de limpar os peixes.

'Vamos fazer o exame!' O médico falou pegando um termômetro.

Passara uma semana e Rin ainda estava no hospital. Estava melhor, mas ainda debilitada e machucada. Era hora do almoço. A enfermeira tinha trazido uma comida para a garota e ela já havia comido tudo. Estava olhando para a janela quando alguém bateu à porta.

'Pode entrar!' A garota falou de dentro do quarto com a voz ainda fraca.

A porta se abriu e a menina abriu um sorriso de alegria ao ver Kagome segurando um buquê de flores amarelas, sendo acompanhada da mãe e de Kaede.

As três entraram. As duas mulheres sentaram-se num sofá que havia ao lado da menina. A amiga ficou em pé ao lado da cama. Kagome abraçou Rin.

'Por que nunca me contou sobre isso, minha amiga?' Kagome falou com a voz suave.

'Eu não podia ou eles me colocariam na rua!' Rin falou com um fio de lágrima que teimou em escorrer pela sua bochecha. Kagome limpou o molhado do rosto da amiga.

'Tudo bem, agora tudo ficará bem!'

'Minha filha...' Kaede falou 'Você precisará ir até o juizado de menores contar o que eles faziam com você!'

'Mas como eu ficarei, como eu vou viver sem casa?'

'Não se preocupe!' Kikyou dizia. 'Nós iremos ficar com você. O juiz permitiu que eu e Suikotsu fossemos seus tutores, mas o juiz pediu para que você fosse testemunhar.'

'Não pode negar, Rin!' Kagome disse com os olhos suplicantes.

'Bem! Se for assim eu vou!' A garota falou, enfim.

Depois de dois dias da visita, Rin estava de alta. Mas ela iria direto para a audiência que estava marcada para a tarde. Lá estaria os tios e a nova família dela. Mas Rin chegaria somente na hora de testemunhar e iria embora por ordens médicas. O sistema nervoso dela estava debilitado e o organismo estava muito frágil ainda. Ela estava em convalescença.

Ela chegou na cadeira de rodas porque não conseguia andar direito ainda. Estava com os pés machucados.

Ele a colocou numa cadeira que ficava ao lado do grupo de pessoas que estava ali para ajudá-la naquele momento. O advogado, o médico, a professora, todos falaram para ela não mentir e falar exatamente o que acontecia dentro do restaurante. E assim o homem sem cabelos perguntou:

'Rin, você jura dizer a verdade, somente a verdade?'

'SS-SSi... Sim, eu juro' Ela estava nervosa. Nem seu tio nem sua tia estavam dentro da sala. Ela achou que eles estivessem. Mas graças aos deuses ela não precisaria olhar para eles.

'Então, pode nos contar o que fez para que seu tio a tratasse como a tratou?'

'Eu me atrasei duas horas e quando cheguei no Kaiten ele estava limpando peixes no meu lugar!'

'E porque você limpava peixes?'

'Porque eu tinha que trabalhar para pagar a escola!'

Pode-se ouvir um som de espanto vindo de todos.

'Hum!' O homem balançando a cabeça. 'Poderia nos contar quantas vezes seu tio te bateu?'

Os olhos dela agora estavam marejados. Ela esfregou para não chorar, mas não conseguiu.

'Eu não lembro. Foram muitas vezes.'

'E pode nos contar alguma outra vez que ele te bateu?'

'Uma vez, eu acabei dormindo no banco da praça porque tinha estudado a noite toda. De noite era o único momento que eu tinha para estudar. Então estava muito cansada e pensei que poderia descansar por uma hora, mas acabei dormindo mais do que eu planejei. Quando eu acordei já era de noite. Fui correndo para o restaurante.' Agora lágrimas copiosas lhe caiam pelo rosto como uma correnteza mas a garota continuou falando e chorando.

'Ele me bateu na sola dos pés e disse que se contasse pra alguém eu iria apanhar muito mais.' As pessoas não conseguiam entender muita coisa porque ela falava baixo, o choro e os soluços eram mais altos que a voz debilitada e nervosa. Mas o juiz ouviu perfeitamente bem as palavras da menina.

O médico que estava assistindo levantou-se.

'Parem! Isso é uma tortura com a menina! A saúde dela está afetada. Ela acabou de sair de uma coma.'

'Está certo! Eu já tomei minha decisão.' O juiz falou.

'Os novos tutores da menina Rin serão a família Higurashi Kikyou e Suikotsu e quaisquer aproximação dos tios, Hiko e Kuni, será proibida. Se acaso isso acontecer, os novos tutores podem avisar a polícia para levá-los e prendê-los. Quanto aos tios Hiko e Kune, será aberto outro processo de abusos contra menores que será analisado um outro dia.

Rin, que estava ouvindo a proclamação do senhor sentado a sua frente, fechou os olhos e desmaiou. Muita emoção para ela.

O médico imediatamente levou Rin para casa para tratar da menina. Agora, sua tortura tinha chegado a um fim. Porém, um trauma com essa dimensão marcaria a criança para o resto de sua vida. Isso era um fato. Os novos tutores sabiam disso, mas por hora o melhor a fazer era deixar ela crescer e se tornar uma mulher.

Continua.....

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Oi pessoal.

Mais um capítulo de "Duas vidas, Um destino". Até que enfim, a tadinha da Rin vai parar de apanhar. Oba! Oba!

Espero que gostem.

Se acham que o capítulo está digno de comentários, por favor, não deixem de fazê-los.

Até o próximo capítulo

Kayene