Deixe–me cuidar de você

por Nina Neviani

Coliseu Graad...

Seus grandes olhos negros observavam as pessoas que, assim como ela, estavam assistindo a Guerra Galáctica. Ainda não tinha perdido a esperança de encontrá-lo ali. Analisou novamente as arquibancadas e... nada. Era estranho que ela o sentia ali. Ou talvez estivesse ficando louca. O que era bem possível, por sinal.

Nunca se conformaria com a provável realidade de nunca mais vê-lo. Assustou-se ao ouvir a gritaria das pessoas. Iniciaria-se mais uma luta. Seiya lutara no confronto anterior. Por um momento, ela pensara que não veria mais o amigo, mas Seiya demonstrou que estava mais preparado do que Geki. Porém, vendo o nível das lutas começou a ficar um pouco preocupada, afinal fora ela quem insistira para que Seiya participasse do torneio, já que assim Seika, a irmã dele, poderia vê-lo pela tv. Agora, essa parecia uma idéia estúpida. Era provável que o amigo pudesse encontrar a irmã de um modo em que sua vida não precisasse correr perigo.

Repreendeu Makoto e Akira que estavam começando a brigar. Makoto obedeceu imediatamente. Já havia levado uma bronca recentemente por ter insinuado que ela sentia algo a mais por Seiya. Ridículo. Seiya sempre foi seu amigo. O que sentia por ele era algo fraternal.

A gritaria novamente a trouxe para a realidade. Esse era o lado ruim de ver o torneio no Coliseu Graad. Preferia ficar em casa vendo pela tv. Tornou a olhar feio para os garotos. Se eles não tivessem fugido, ela poderia estar assistindo o torneio pela tv. Contudo, assim poderia procurar por ele...

Desistiu de ficar pensando e começou a prestar atenção na luta.


Horas depois, no hospital...

– Shiyu? – Seiya perguntou.

A chegada de Shiryu e Shunrei cessou os risos que até instantes ecoavam no quarto do hospital da Fundação Graad.

– Como se sente, Seiya? – o cavaleiro de dragão perguntou calmamente.

– Bom, eu já estou bem, agora.

– Que bom. – Shunrei disse. Parecia contente em ver Seiya bem. E Shiryu completou.

– Shunrei me contou tudo, e eu queria agradecer a você por ter salvado a minha vida.

– Ah, não foi nada. – Seiya disse modestamente.

Minu percebeu que os garotos faziam caretas atrás de Shunrei e Shiryu. Fez alguns gestos discretos para que eles parassem. Não adiantou muito.

– Nós vamos voltar para a nossa terra hoje. – Shiryu informou.

Shunrei nesse instante se encaminhou até a mesa. E Shiryu continuou.

– Mas antes de irmos, queria falar sobre uma coisa que me preocupa.

– O que é que te preocupa? – Seiya perguntou e gemeu ao final, sua cabeça continuava a doer.

– Desde que nossa luta terminou tenho a sensação de que alguém vem observando a todos nós, os nove cavaleiros.

– Han? – Seiya esqueceu a dor por um momento, porém não conseguiu entender o que o outro cavaleiro tinha dito.

Minu começou a prestar atenção na conversa dos dois cavaleiros, algo lhe dizia que eles estavam falando de Ikki.

– E esse alguém estava lá no Coliseu. – acrescentou, Shiryu.

– Você acha que é o cavaleiro de Fênix? – Seiya fez a pergunta que Minu desejava fazer.

Então ela não estava ficando louca, Shiryu também sentira a presença de Ikki.

A voz de Shunrei interrompeu seus pensamentos.

– Aqui está! – ela disse abrindo uma caixa que estava cheia de doces – Comam. – ofereceu para as crianças.

Minu forçou um sorriso. Sim, Shunrei, sem dúvida, era muito amável, mas ela estava mais naquele momento com Ikki. Na verdade nunca deixara de se preocupar com ele. Lembrou-se da curta despedida deles no orfanato.


Desde que Ikki contara para ela que iria ser um dos garotos treinados para ser digno de usar uma armadura sagrada, ela não falara mais com ele. Mas, agora suas pernas pareciam ter vontade própria e a levavam para aquela mesma árvore.

Chegou e foi direto ao assunto.

– Você vai mesmo, Ikki?

– Já disse que vou.

Ela suspirou e abandonou a máscara de "durona".

– Ikki, não vá! Por favor.

– Eu não tenho escolha, Minu – um nó se formou na garganta dela. Ela disse alguma coisa incompreensível e ele continuou.

– Mas eu te prometo que não vou morrer.

Ela tentou afastar as lágrimas dos olhos.

– Promete?

– Prometo.


– Minu, você não ia buscar umas roupas para o Seiya? – Makoto perguntou.

– Sim, eu vou. – ela disse distraidamente, ainda estava um pouco abalada com a notícia de que Ikki estava no Coliseu.

– Nós vamos com você. – Shunrei ofereceu-se para ajudar. Perceptiva como era, sabia que o cavaleiro de Dragão queria conversar em particular com o de Pégaso. Minu, Shunrei e os três garotos saíram do quarto.


Minutos depois...

"Shunrei era, com certeza, uma companhia muito agradável." Minu pensou. Ela e os garotos fizeram-na esquecer por um momento o retorno do cavaleiro de Fênix.

Estavam rindo quando retornaram ao quarto que Seiya ocupava. O quarto, porém, estava vazio.

– O Seiya não está aqui!

– Nem o Shiryu! – Shunrei pensou e rapidamente concluiu. – Eles devem ter ido no Coliseu.

A situação era pior do que ela imaginara. Para Seiya ter ido mesmo machucado ao Coliseu. "Ela tinha que ir também! Mas como?" Teve uma idéia. Disse com a voz mais assustada que conseguiu.

– Mas não pode ser! Ele está ferido! – Sentiu uma pontinha de remorso. Contudo, Seiya já era crescido o bastante para saber dos riscos que corria.

– Não se preocupe, Minu. – Shunrei tentou acalmá-la.

– Você não conhece o Seiya, Shunrei. Ele é muito impulsivo. Chega a ser irresponsável, às vezes. – olhou-a ainda tentando parecer muito preocupada com Seiya. – Você pode me fazer um favor?


No Coliseu...

Arfava quando chegou. Nunca mentira tão descaradamente. Assim como nunca correra tão rápido. Mas precisava ver com seus próprios olhos. Queria pelo menos assegurar-se de que ele estava realmente vivo, como prometera. E não seria um sacrifício para Shunrei ficar alguns minutos com os garotos.

Somente quando as luzes se acenderam é que ela percebeu que algo de estranho estava acontecendo. Os feixes de luz apontavam para o lugar onde estava a armadura de ouro.

E lá estava um homem. Não um homem qualquer. Lá estava ele. Ikki.

Vamos aplaudir o décimo cavaleiro que acaba de chegar! O cavaleiro de Fênix!

Se não estivesse tão chocada faria o que o locutor mandara e seguiria a multidão que gritava. Mas estava chocada. Por um momento não tinha mais certeza se aquele homem era Ikki. Desse homem emanava ódio. Puro ódio. O Ikki que ela conhecera era um menino rebelde, mas nunca odiou ninguém. E ela que acreditava conhecê-lo bom, sabia que ele tinha um bom coração.

Ikki é meu irmão!

Minu não conseguiu impedir um gritinho quando viu Ikki atacar o seu próprio irmão. Deu a volta e com lágrimas nos olhos começou a sair do Coliseu. Não suportaria ver Ikki machucando o irmão que ele tanto protegeu. E ela saiu assim como entrou, sem que ninguém percebesse. Assim como estava feliz por ele ter cumprido a sua promessa e voltado com vida, também estava arrasada por ver no que ele se transformou.

Continua...


Nota da autora: Aleluia! Eu pensei que esse capítulo não fosse sair. Eu tava tão sem criatividade e esse capítulo foi complicado de escrever, mas saiu. Gostaram? Ou não?

Duas considerações. A primeira é que eu já não tenho certeza se Ikki e Shun viviam no mesmo orfanato que Seiya e Minu. Se não for, por favor relevem. A segunda é: eu sei que a Minu via a Guerra Galáctica pela tv, mas... uma mudança mínima.

Acho que é isso. Agradeço imensamente aos que tiveram a paciência e a bondade de deixar reviews no capítulo passado. Espero que tenham gostado desse.

Um abraço e estou esperando as reviews!

Nina Neviani