A Sombra e a Escuridão
Capítulo 11
I don't know what to do with myself
planning everything for two
doing everything with you
and now that were through
I just don't know what to do
Suspirou, sem parar de tocar-se, sabendo do olhar intenso resvalando por seu corpo, mesmo na escuridão. Akizuki tinha todas as chances do mundo para ir embora, naquele momento. Eriol percebeu que ele estava muito próximo, escutava sua respiração e o farfalhar de suas roupas, tinha certeza de que ele estava tão trêmulo de medo quanto no dia em que deitou-o à força em sua cama, apenas para intimidá-lo. Ele mesmo tinha medo, estava apavorado, e tinha chego perto demais do fogo, e não tinha medo de queimar-se como sabia que ia acontecer.
Percebeu-o muito mais próximo de si do que imaginara. Akizuki estava praticamente sobre ele, ofegando. Atreveu-se a tocá-lo, como nunca havia feito antes. Passou a ponta dos dedos por sua boca, e ela estava aberta, tocou com o dorso dos dedos o rosto dele, encontrou-o quente e salpicado de suor.
"Tire a roupa..." – Engasgou frente a sua ousadia, sentia-se um estranho falando aquilo, sua voz foi quase irreconhecível, muito parecida com o tom que usou quando o ameaçou.
Akizuki o beijou, encostando-se todo em seu corpo, tirando com gestos tímidos as próprias roupas.
"Eu tenho vergonha..." – Ele queixou-se, hesitando em despir-se. Eriol não veria nada, de qualquer maneira, tão escuro era aquele cômodo.
Eriol respirou pesadamente, parando de tocar-se para abraçar o corpo de Akizuki.
"Eu tenho medo... Alguém pode vir." – Akizuki gemeu, empurrando-o.
"Agora quem tem medo é você..."
"Eu não tenho medo de nada!" – Esmurrou seus ombros, subitamente furioso, e afastou-se. – "Não! Eu vou gritar!" – Mas não gritou, e suspirou quando Eriol o puxou de volta e deitou-o no chão, com força. Tirou seu colete de lã e sua camisa aos puxões, mas não escutou protesto algum. – "Eu quero parar..." – E envolveu o pescoço de Eriol com os braços, trazendo-o para muito perto, respirando ambos o mesmo ar, compartilhando a mesma excitação. – "Eu quero parar... Você vai me machucar..."
"Você tem tanto medo assim que eu o violente? Por que está aqui então? Por que você veio naquela noite? Por que ainda veio ao meu quarto? Por que está me provocando se tem tanto medo? Você disse que eu é quem tinha medo..."
"Eu vou gritar... Eu vou gritar!" – Fez menção de afastar-se, quando Eriol tirou o resto de suas roupas, puxando-o de volta pelos tornozelos, e deitando-se sobre ele, entre suas pernas longas e macias. – "Eriol!"
"Então grite!"
"..." – Akizuki agarrou-se a ele, quando agora as mãos de Eriol estavam entre suas pernas. – "Ah... Está me machucando!"
Eriol havia experimentado-o com a ponta de um único dedo, e Akizuki soltou um gemido alto. Ninguém o escutaria mesmo se ele arrebentasse os pulmões de tanto gritar.
"Você disse... Que não tinha medo de nada!" – Disse, transtornado de desejo, soltando seu peso sobre Akizuki.
Ele recebeu um empurrão e uma seqüência de tentativas de tapas em seu rosto. Debateram-se um com o outro pelo escuro, Akizuki empurrando-o e ele trazendo-o para perto, até que percebeu que Akizuki estava rindo, estava querendo enlouquecê-lo. Agarrou-o pelos braços, sem saber bem como mantê-lo perto de si. Respiraram ruidosamente, ofegando. Estava rindo, vencendo, fazendo-o aproximar-se tanto do fogo que queimaria-se, ele próprio brincando também com fogo.
"Não brinque comigo!" – Sacudiu violentamente Akizuki, cujo corpo amoleceu, havia um sorriso malicioso em seus lábios, que Eriol mais intuiu do que reconheceu. Sua cabeça pendeu para trás, a boca aberta, mas a ponta da língua à espreita.
Deixou que ele tombasse para o chão. Passou as mãos por seu corpo inteiro, percebendo onde estava, como estava. E não precisou fazer nada para que Akizuki afastasse as pernas por vontade própria, recebesse-o entre elas. Ele estava rindo. Eriol imaginou que estava abraçado, envolvido agora, por algo terrível, que o estava amaldiçoando, mas Akizuki era apenas um menino... Talvez justamente por ser apenas um menino. Queria de todo o coração que ele houvesse gritado agora, debatido-se, para Eriol sentir-se mais sujo ainda, para realmente crer que ele o estava corrompendo, e não sendo seduzido por Akizuki.
"Eu quero... Eriol! Eu quero..." – Agarrou-lhe o sexo, apertando-o, movendo as mãos nele, que estava tão ereto, quente e deliciosamente úmido e escorregadio como quando o tocara pela primeira vez... – "Eu quero aprender com você... Eu quero agora..."
Eriol sentiu-se puxado para cima de seu corpo, sem poder resistir. Teria dado sua alma para que Akizuki houvesse resistido ou gritado, para que ele houvesse chorado, ou xingado-o. Não imaginava se era possível assim. Sabia um pouco melhor o que deveria fazer, e lutava contra toda sua excitação para seguir o mais lentamente possível. Suspendeu os quadris de Akizuki, adivinhando os contornos de seu corpo, e debruçou-se sobre ele. Parecia mais simples assim, muito mais parecido com o que (quase) houvera entre ele e a criada Julie. Meteu uma mão entre as pernas de Akizuki e tocou-o ali de novo... Experimentou com a ponta de um dedo úmido de suor o calor daquela parte mais secreta de seu corpo, que ninguém havia tocado antes.
"Eu quero agora..." – Ele gemeu, somente, afastando mais as pernas.
Ele também estava ereto e muito trêmulo, o suor descendo em filetes por sua pele. Segurou-se nos ombros de Eriol e não deu um único suspiro, quando recebeu o primeiro golpe, que ainda não o havia penetrado. Simplesmente não deixou escapar som algum, de dor ou de prazer. Ele era um menino corajoso. Não gritara e nem fugira, e quando tentara escapar, apenas era uma artimanha para despertar em Eriol um desejo incontrolável. Recebeu o segundo golpe em completo silêncio, apenas fechando os olhos com força. O sexo dele começava a abrir caminho por seu corpo. Eriol sentia-se estrangulado, parecia impossível penetrá-lo, e golpeou uma terceira vez, que arrancou um suspiro de Akizuki. Com mais uma investida, já começava a entrar nele, com muita dificuldade, apenas o início de tudo. Precisou de mais três golpes muito fortes, para encravar-se nele completamente.
"Eu quero...!" – Akizuki gemeu em desespero, sob o peso de Eriol em seu corpo, e dentro dele. Estava absolutamente imóvel sob ele, apenas ofegando, e Eriol tinha quase certeza que ele chorava, que o havia machucado. Mas por que não gritara? Por que não escapara de algum modo? Agora era tarde demais, estavam unidos um ao outro, de maneira que era impossível voltar atrás.
Eriol obedeceu o movimento involuntário de seu próprio corpo, golpeando, possuindo-o desajeitadamente, reconhecendo com delícia o prazer de sentir-se apertado até a dor no meio da carne de outra pessoa. Tentava manter-se lúcido, em silêncio, mas a boca de Akizuki o acariciava, não tocava a sua, mas beijava o seu queixo, a sua orelha, e nela, também sentia esbarrar-se aquela língua acetinada, úmida de saliva. Estava tão escuro que não conseguia ver seu corpo, queria muito vê-lo inteiro, conhecer toda sua nudez, seu corpo entregue, e sua boca... Não escutava mais do que os suspiros dele, suportando com coragem as investidas em seu interior virgem e estreito.
"Akizuki..." – A voz de Eriol era rouca quando ele disse seu nome. Arremeteu com força, possuindo-o como se estivesse agarrado ao pedaço de carne mais saborosa que já tivera para matar sua fome. Sentia-se cheio de desejo, capaz de tudo para tê-lo, e estremeceu violentamente dentro dele, cedendo no interior do seu corpo, gozando de repente, com pequenos gemidos, e abraçando-o com mais força ainda, desfazendo-se num gozo cheio, que inundou Akizuki, transbordou-o, tornou o caminho escorregadio, impregnou seu corpo com o cheiro de suor, sêmem e sexo, que exalavam.
Eriol saiu de dentro de seu corpo de maneira desajeitada. Era completamente inexperiente, e esperava que aquilo pudesse ser dito algo que deu certo. Foi muito bom, mas não tão bom quanto achava que deveria ter sido. Mas nada mau para uma primeira vez... Sentia-se febril, o corpo todo cortado de arrepios, e sentia dores em seus joelhos, câimbras e tensões por todo seu corpo. Sentia-se verdadeiramente exaurido até o limite. Ficou ajoelhado entre as pernas afastadas de Akizuki. Queria muito vê-lo como o imaginava agora. Acariciou o interior de suas coxas e novamente tocou-o ali, penetrando-o com a ponta de seu dedo, e até mesmo fazer isso com o caminho escorregadio de seu sêmem, foi difícil. Parecia ter sido uma tarefa impossível a de possuí-lo, no entanto havia feito. Estava feito. Havia despejado todo seu prazer dentro dele, havia possuído-o, fodido-o, havia gozado dentro dele, Eriol havia...
Violentado Akizuki.
Não existia outra forma de dizer o que havia acontecido. Cuidadosamente, fez com que Akizuki unisse novamente as pernas. Ele estava largado no chão, do mesmo jeito que antes. Não soltara um único gemido que acusasse seu prazer. Deitou-se ao lado dele no chão, sem tornar a tocá-lo. Não disse nada. Havia corrompido-o, queimou-se no seu fogo, e havia queimado-o na fogueira de seu desejo. Avisara-o para que não brincasse com ele. Estava tudo perdido. Um menino o seduzira a ponto de cometer uma loucura.
Eriol tomou coragem de levantar-se. Tateou pelo chão e encontrou suas calças, enfiou-se nelas e procurou por sua camisa. Encontrou-a e cobriu o corpo de Akizuki, que encolheu-se com um longo suspiro, e seu corpo torceu-se para o lado, vestindo-a e espremendo-se de encontro a Eriol, procurando por seus lábios. Ele afastou-se e levantou. O branco do tecido da camisa ajudava a perceber os contornos de Akizuki, languidamente solto no chão, apoiado em um braço, e mesmo que não fosse por isso, teria reconhecido o vermelho de seus olhos, perigosos como os olhos de um réptil, de um monstro. Não sabia dizer o que sentira de diferente em Akizuki quando o possuíra, mas todo seu corpo parecia diferente, senão pouco humano, ou ainda... Ele não parecera-lhe em nada humano quando entregara-se, apesar das formas de seu corpo, do calor e da maciez de sua pele. Atônito pelo absurdo dos próprios pensamentos, e perturbado pelo que havia acabado de acontecer, Eriol não pensou se deveria fazer isto, mas levou sua mão num gesto ao acaso, para a chave da parede, acendendo assim as lâmpadas incandescentes do teto, que os iluminou... E Eriol viu...
Akizuki era o mesmo de antes, e não era... Seu cabelo estava completamente diferente, muito longo, muito liso, espalhado em seus ombros, quando ele virou-se para Eriol, o rosto transformado da doçura de sempre numa máscara de ira. Seu cabelo estava exatamente do mesmo vermelho dos seus olhos, que mostravam-se em toda sua cor, sua íris muito contraída, inumana, sob as luzes elétricas... E sua pele, toda branca, mais branca com que nunca Eriol havia visto, e ele também lhe parecera mais alto, mesmo sendo ainda só um menino. Ele estremeceu como uma fera que daria o bote, e Eriol recuou.
"Apague essa luz!" – Berrou, com uma voz que não pertencia-lhe, e tão forte que quase perfurou seus ouvidos, e a lâmpada do teto estourou num som de estalo violento.
Os finos cacos de vidro da lâmpada espalharam-se pelo chão, mas então Eriol encontrou apenas sua camisa largada onde estava Akizuki um segundo atrás. Então era aquele? Aquela era a sua verdadeira forma de Akizuki? Era aquela a sua verdadeira natureza? Seu cabelo era da cor dos olhos, aquele vermelho tão intenso... Eriol escorregou para o chão e pensou no prazer que tivera em seu corpo, imaginou o êxtase de possuí-lo mais uma vez encarando firmemente aqueles olhos que não eram humanos, e mergulhar o rosto em cabelos cor de rubi, até que tudo o que tivesse frente a seus olhos, quando o prazer viesse fosse aquele vermelho infinito... Vermelho... E foi com o vermelho que descobrira dos cabelos e dos olhos do verdadeiro aspecto de Akizuki, que Eriol sonhou pelo resto daquela noite e em muitas outras depois.
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No dia seguinte, eles encararam-se sem dizer nada à mesa do café, pela manhã. Eriol levou-o para a escola de bicicleta. Ele fora sentado de atravessado na barra, e sua nuca quase propositalmente oferecia-se para os lábios de Eriol. Ele atreveu-se a esbarrar a boca na pele fina de seu pescoço, e não houve resistência. Ainda no caminho para a escola, Eriol tocou com um beijo leve a curva de seu maxilar, logo debaixo de sua orelha. Havia passado a noite quase toda em claro, jurando a si mesmo não voltar a tocá-lo, nunca mais beijá-lo, e evitar a todo custo voltar a tomá-lo sob seu corpo.
"Pare." – Akizuki pediu. Atravessavam o caminho que cruzava o bosque, longe da casa e mais longe ainda da escola. – "Pare a bicicleta."
Quando parou, Akizuki saltou e afastou-se, correndo, para o meio das árvores. Os dias estavam escuros, e aquela manhã quase de inverno além de vazia e escura, estava gelada. Todas as árvores do bosque estavam queimadas e secas. Eriol deixou a bicicleta tombar sobre o chão coberto de folhas enegrecidas e seguiu-o, sem saber o que iria encontrar, e toda sua mente agitada do que havia acontecido na noite anterior. Sentiu-se subitamente excitado, porque no fundo sabia o que ia acontecer.
Encontrou Akizuki no meio de uma parte mais escura daquele bosque, mas não longe do caminho. Ele estava encostado a uma árvore, como se quisesse abraçá-la, de frente para o tronco. Estava vestido em sua pelerine azul escura, que cobria seus joelhos. Eriol olhou ao redor, seu hálito fumegando no ar da manhã.
"Eriol..."
Ele estremeceu. Olhou ao redor e algo chamou sua atenção. No chão, perto de onde ele estava, sobre as folhas, estavam as peças do uniforme de escola de Akizuki, e quando voltou a ele um olhar perplexo, e tendo certeza de que era impossível fugir daquele demônio feito menino, o viu erguer a beirada da pelerine. Estava nu sob ela, completamente nu. Estava apenas em seus sapatos e meias escuras que cobriam suas pernas, sua pele toda estava arrepiada de frio e seu queixo tremia, quando olhou para trás, apenas para baixar a cabeça novamente. Não era possível saber se seu queixo tremia de medo, frio ou excitação. Ele definitivamente não parecia ter onze anos, mas tinha. Suas pernas longas eram belíssimas, torneadas de maneira impecável, e sua carne era de tal firmeza que a sensação de tocá-la era única. Suas nádegas eram da mesma firmeza, e suas costas esguias, arrepiadas como agora.
Eriol aproximou-se, e seu sexo respondia obediente ao apelo de Akizuki, que não precisava dar uma única palavra para dizer o que desejava. Eriol abriu os botões do casaco e soltou a fivela de seu cinto, abriu os botões das calças e sem aviso algum, agarrou-o pela cintura, fazendo seu corpo inclinar-se para frente, e Akizuki agarrou-se ao tronco da árvore, e em silêncio, deixou-se penetrar, recebeu uma primeira estocada impetuosa e desajeitada, que o penetrou quase imediatamente, e foi possuído com paixão e ardor, no meio de um bosque enegrecido pelo frio.
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Assim que separou-se dele, Eriol usou seu próprio lenço para limpar o sêmem que escorria do interior de Akizuki, manchando suas pernas arrepiadas de frio e prazer. Não acreditava que isto estava acontecendo. Não fazia a mínima idéia se deveria considerar que era algo bom ou algo ruim. Seu coração estava agitado quando abraçou Akizuki, beijando-o, apertando suas costas contra o tronco. Ele afastou-se de Eriol e vestiu-se, tomando cuidado para que não mostrasse muito de seu corpo que estava oculto pela pelerine. Tinha vergonha. Quando terminou de vestir-se, Eriol percebeu nele um olhar distante e pensativo.
"Você vai se atrasar para a escola."
Akizuki lançou-lhe um meio-sorriso cheio de atrevimento e não respondeu. Pegaram a bicicleta caída e seguiram o rumo de antes. Mais uma vez, ele deixava, sem dizer nada, que Eriol beijasse seu pescoço e esbarrasse o rosto em seu cabelo curto e liso, enquanto pedalava, notando assim, que aquele olhar pensativo e até perdido, perdurava. Não deixara escapar som algum, ele se deixava possuir sem dar uma palavra, e sem nenhum gemido ou suspiro mais notável. Fechava os olhos e recebia-o em seu corpo.
"Seja um bom menino." – Eriol disse quando deixou-o à frente de sua escola, reconhecendo que tanto seu tom quanto o que dissera havia sido cínico demais. Mas se estava perdido porque estava apaixonado, e corrompera aquele menino quando o penetrou... Não havia mais nada a perder, porque o juízo certamente Eriol já havia perdido há muito tempo.
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Eles passaram a encontrar-se sempre as pressas, sem tempo para mais nada, apenas para amarem-se com desespero e medo de serem vistos.
Nos breves momentos quando estavam sozinhos pela casa, um ia para o quarto do outro. O quarto de Eriol ainda era o lugar mais seguro, quando trancavam-se no quarto de vestir, mas mesmo assim, podiam ouvir os passos no corredor, as vezes alguém batia na porta do quarto, chamando por Eriol. Um dia uma criada batera na porta do quarto de vestir, perguntando se ele estava lá. Um dia a governanta quase os viu beijando-se na biblioteca. Ela não chegou a ver nada, mas Spinel Sun os viu quando estavam abraçados, beijando-se, escondidos entre as árvores de perto da casa.
"Eu sabia! Vocês são namorados! Que nojo!" – Ele disse com desprezo, fazendo uma careta.
"Não amole, Spinel Sun!" – Eriol riu, porque não adiantava tentar esconder nada de Spinel Sun, e agora envergonhava-se de ser pego tão gratuitamente.
"Nojo! Eu sabia que vocês iam fazer essas coisas! Nem quero saber o que mais fazem!" – Spinel Sun aproximou-se, enfiado em uma camisa de adulto, franzindo o nariz. – "Deve ser pior do que aquilo que eu vi as ovelhas fazendo no pasto..."
Akizuki afastou-se de Eriol e amassou com a ponta do dedo o nariz de Spinel Sun, aproveitando-se de seu tamanho:
"Eu fiz com Eriol aquilo que os adultos fazem!" – Contou, em tom de vantagem.
"Akizuki!" – Era a sua vez de ficar constrangido em ouvir, mas não era mentira alguma.
"Hã? Isso é verdade, Eriol? Não posso acreditar..."
Eriol não teve ação de responder. Corou violentamente e virou-se de costas para aqueles dois garotos de boca-suja, antes que ele mesmo falasse demais, e não deveriam estar falando destas coisas assim.
"Argh! Que horror!" – Spinel Sun soltou um barulho de falsa náusea. – "Não quero mais dormir na mesma cama que o Akizuki! Estou com nojo de você, Akizuki!"
"Mas eu tomei banho depois!" – Ele tirou o boné e o colocou na cabeça de Spinel Sun.
"Ah... Mas você beijou o Eriol! Eu preferiria comer um sapo vivo a beijar o Eriol!"
"Vamos apostar! Vou ao brejo pegar um sapo, se você não comê-lo, vai beijar o Eriol!"
"Se eu comer o sapo, você vai ter de comer um também!"
"Apostado!"
"Parem com isso agora, seus moleques!" – Eriol estourou, furioso com os rumos daquela conversa sem pé nem cabeça. – "Ninguém vai comer sapos e ninguém vai me beijar! Vocês não tem nada melhor a fazer? Spinel Sun, você terminou de copiar a lição que eu lhe dei?"
"O Akizuki não fez a dele também!"
"Eu não gosto de Literatura Inglesa..." – Akizuki resmungou, aproximando-se de Eriol, para tentar chantageá-lo.
"Vão para dentro os dois e façam de uma vez esta lição! E não fique andando por aí assim, Spinel Sun! Você vai acabar matando as criadas!"
"O Eriol está vermelho..." – Spinel Sun riu, apontando para ele (porém, de uma distância segura). – "O que há? Eu não queria beijar você mesmo! Você beija até cachorros! Nojo!"
"Está!" – Akizuki estava rindo também. – "Parece um tomate..."
"Spinel Sun, a máquina de fazer salsichas está lá no celeiro, esperando por você."
A graça acabou-se imediatamente e os dois correram de volta para casa, principalmente Spinel Sun, que já fora ao celeiro ver com seus próprios olhos que o tamanho da boca da máquina de fazer salsichas parecia feito sob medida para seu tamanho de gato. Quando ficou sozinho, entre as árvores desfolhadas, Eriol acabou rindo sozinho de tudo aquilo. O que poderia esperar? Akizuki tinha apenas onze anos, embora parecesse quatorze por sua altura... Ele ainda brincava de bola com Spinel Sun, ainda infernizava as criadas, esquecia-se de fazer os deveres, ou simplesmente não fazia porque não queria. Eles ainda estavam lendo As Viagens de Gulliver... O que esperar?
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Haviam passado-se meses que Eriol começara a relacionar-se com Akizuki. Era um segredo mantido a duras penas. Nunca mais tocara sequer em assunto parecido com seu pai, e muito menos com sua mãe, cujo olhar parecia capaz de desvendar até os pensamentos que não tivera ainda.
Nas primeiras semanas, Akizuki pedia-lhe, deixava que Eriol o penetrasse quantas vezes quisesse, e não eram poucas... Ele viciara-se em seu corpo, queria tocá-lo de todas as maneiras, todas as carícias ousadas que imaginara... Mas Akizuki recusava. E com o tempo, cada vez mais, negando até mesmo as liberdades que tiveram no início. E mais intrigante era o silêncio de Akizuki, quando tinham relações, mesmo que não (muito) às pressas, como de costume. A verdade era que até Eriol já não sentia o ardor do início. Ficava tão apreensivo de alguém os escutar que ele também ocultava até o som de sua respiração, e quando encontravam-se precipitadamente na biblioteca ou no quarto de Akizuki, não conseguia desviar os olhos da porta, atento a qualquer som. Até quando o beijava percebia uma tensão mútua que beirava o insuportável. Evitavam trocar qualquer olhar na hora do chá, porque era quase certo que um deles coraria, ou o olhar se prolongaria demais, e qualquer atrevimento destes seria visto há léguas, e viriam as perguntas, e talvez as perguntas arrancassem respostas, que pareciam estar sempre querendo meter-se nas conversas, verdades sinceras que pareciam sempre na ponta da língua deles, pronta a ser dita, porque era difícil manter silêncio sobre algo tão forte. Era como guardar um elefante dentro da despensa da cozinha. E em alguns momentos, principalmente depois de terem feito amor – nas raras vezes de então – precipitadamente e sem satisfazerem-se, que ambos tinham a impressão de que todos sabiam.
Akizuki estava à pouco tempo, algumas semanas, de completar doze anos.
Evitavam estar à sos, agora, Akizuki não se mostrava mais como no início, sem dúvida e chegava mesmo a fugir. Dizia que Eriol o machucava, mas estava mentindo claramente. Nem mesmo ia dormir na cama dele, como antes.
"Eriol!"
Ele deixou a pena escapar dos dedos, e ela rolou sobre o caderno. Estava em seu quarto, terminando uma redação para o colégio, quando Quincey entrou. Ele estava em roupas de viagem e com sua pelerine cinza sobre os ombros. O mordomo estava logo atrás dele, na porta, terminando de escovar seu chapéu. Não havia motivo de susto, se Akizuki também não estivesse no quarto de Eriol, mas deitado em sua cama, ao lado de Spinel Sun, folheando um semanário. E mesmo assim, não havia motivo algum de susto, pensando bem.
"Está ocupado?"
"Estou terminando uma redação, mas é apenas isso..." – Na verdade teria de copiá-la de novo, pelo estrago que a pena deixou.
"Vai viajar, pai?" – Akizuki mexeu-se na cama, levantando, e Spinel Sun correu para a ponta, apoiando-se somente nas patas traseiras para chamar sua atenção.
"Oxford, mas somente uma semana." – Ele beijou a cabeça de Akizuki e pegou Spinel Sun no colo.
"Sr.! Seu costume ficará repleto de pêlos de gato!" – O mordomo terminou de escovar o chapéu, e olhou de perto para Spinel Sun, que chiou, ameaçador demais para seu tamanho.
Quincey sorriu.
"Eriol, sua mãe ficará um pouco ocupada por aqui. Você irá cuidar da propriedade, e ver se está tudo em ordem. Leve Akizuki com você para ele aprender."
Fez que sim e aproximou-se de seu pai, também recebendo um beijo no topo da cabeça. Depois ele saiu e os três viram, da janela do quarto de Eriol, o coche afastando-se, quando Quincey partiu.
"Onde é Oxford?" – Spinel Sun perguntou, tirando de debaixo do travesseiro de Eriol uma camisa de adulto para vestir, uma camisa que por sinal, era de Quincey.
"É onde papai estudou antes de ir para a América! Fica um pouco ao norte e um pouco a oeste de onde nós moramos."
"É longe?" – Akizuki afastou-se da janela, jogando-se na cama e deixando os sapatos caírem.
"Acho que sim. Nunca estive lá." – Eriol pensou em voltar para a redação, mas desistiu. Largou-se na cadeira.
"Você vai estudar lá, Eriol?"
"Não sei!" – No ano seguinte iria para a universidade, e nem decidira qual. – "Mas eu não queria ter de ir para tão longe. Londres é mais perto daqui do que Oxford."
"Eu vou poder ir para uma universidade, Eriol? Quando eu crescer..." – Spinel Sun tornou a perguntar, pulando da cama e indo na sua direção.
"Para assombrar os professores?" – Akizuki sorriu.
"Porque não? Posso entrar a hora que quiser e ver as aulas que eu quiser, não posso? Como na escola de Akizuki, e na sua..."
"Acho que sim. Não vejo problema algum." – Eriol tinha a impressão que Spinel Sun tinha muita razão em sua lógica.
"Você vai para a universidade como um gato ou como um menino, Spinel Sun?" – Akizuki perguntou, atrevido, querendo zombar dele.
"E você, Akizuki, vai como um menino ou como uma menina?" – Devolveu, no mesmo tom e na mesma moeda, sem sequer hesitar.
"Cale a boca, saco de pulgas!"
Eriol com um olhar fez Akizuki silenciar. Spinel Sun virou-se e recuou, quando deu com tal expressão tão séria.
"Do quê vocês estão falando?"
"... Se abrir a boca eu te mato!" – Akizuki sussurrou.
"..."
"Do quê estavam falando?" – Tornou.
"Akizuki pode ser o quê quiser, você sabe..."
"Cale a boca!" – Seu rosto ficou corado de vergonha e raiva.
"Um dia ele enganou o Sr. Sullivan! Nós apostamos se ele seria capaz de enganar alguém com uma aparência diferente e ele conseguiu!"
"..." – Eriol estava estarrecido. Aqueles dois estavam arriscando-se muito.
"E Akizuki apareceu fazendo-se passar por uma garota! Ninguém desconfiou!"
"Isso é verdade?"
"É." – Resmungou, a contragosto.
"Eu quero ver isso!" – Eriol realmente duvidava que Akizuki pudesse adquirir tal aspecto, porque muitos de seus talentos ele não dominava ainda.
"Vão para o inferno os dois!"
E saiu do quarto, batendo a porta de tanta raiva.
Spinel Sun arranhou a cabeça.
"Esqueceu seus sapatos, espantalho!" – Disse ainda, rindo maldosamente.
"E como ele fica quando está usando a forma de uma garota?" – Eriol sentiu-se curioso e intrigado...
"Fica igual a uma garota de verdade... Mas assim..." – Passou a mão pelo peito, como a dizer que as formas de Akizuki não eram tão generosas quanto Eriol poderia imaginar, e estava mesmo imaginando. – "E ele roubou uma roupa do varal de uma das criadas, para vestir-se adequadamente."
"E o que aconteceu?"
"O ajudante do Sr. Sullivan assoviou para Akizuki quando o viu..."
"Mesmo?"
"Mesmo!" – Empolgou-se. – "Nunca vi uma mulher bater em alguém! Foi incrível!"
Eriol não conseguia manter-se sério ao ouvir as histórias que Spinel Sun contava. Mas realmente deveria ter sido incrível... Não Akizuki bater em alguém, mas usar de uma forma feminina e conseguir passar-se por uma garota. Esperava poder ver isto com seus próprios olhos, um dia.
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No dia seguinte, Eriol encontrou Akizuki na mesa da cozinha, tomando café com as criadas, ele não parecia que iria para a escola, e quando Eriol perguntou, disse que não teria aula naquele dia. A governanta confirmou suas palavras, enquanto servia o café para ele também.
"E você? Não terá aulas hoje?"
"Não vou hoje. Meu pai pediu que eu saísse para ver como estava a propriedade."
"Ah, sim... Não volte tarde."
"Akizuki irá comigo."
"Não quero ir."
"Não comece, Akizuki."
A governanta lançou um olhar de desaprovação na direção de Akizuki. Ele por sua vez levantou a cabeça e encarou-a tão intensamente que a mulher recuou um passo, e mais outro quando ele passou por ela. Akizuki não a suportava, mas a respeitava um mínimo para não dar-lhe nenhuma resposta atravessada, e esperava ansioso o dia que vingaria-se dela por ter dado a sugestão de uma surra de cinto, como corretivo para sua rebeldia, embora nem Quincey e nem Eloise tenham levado em consideração esta idéia.
Seguiu Eriol para fora e pegaram a bicicleta, mas ao invés de irem para o caminho de sempre, seguiram pelo campo, pela grama seca, para o norte da propriedade, onde estavam as criações, os pomares e os estábulos. Por sorte, Eriol não ouviu nenhuma ofensa pelo caminho.
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"Está com fome?" – Eriol perguntou.
"Não."
Já haviam encontrado os pomares desfolhados, visto as ninhadas que nasceram antes do inverno, e escolhido um carneiro para ser morto e repartido, e descoberto que uma das vacas leiteiras estava doente, o que diminuía a quantidade de leite que seria vendida à leiteria. Mas havia queijos novos, e o Sr. Sullivan contou a Akizuki como os gansos órfãos que moravam no estábulo recusaram-se a sair dali. O celeiro estava bem vedado, precisando apenas de um reparo no telhado, que seria cuidado naquele dia mesmo.
Quando voltavam para casa, perto da hora do almoço, Akizuki apontou uma construção enegrecida pelo tempo, perdida no meio das árvores, no alto de uma pequena colina.
"Aquele moinho ainda funciona?"
"Não."
"Eu me lembro que ele funcionava. Eu era pequeno quando papai nos trouxe aqui e disse como funcionava..."
"Quer olhar de perto? Não sei se ele ainda tem alguma serventia."
E virou a bicicleta naquela direção, o mato estava alto e amarelado naquela parte da propriedade, aquele normalmente era o pasto dos cavalos. Desceram e foram olhar de perto, em torno do grande moinho. As janelas e a construção estavam inteiras. Um empurrão na porta a fez ceder, e o interior revelou-se um pequeno depósito de ferramentas e lonas.
"Não mora ninguém aqui?"
"Não."
"Mas parece uma casa!" – Entraram timidamente. As paredes de dentro estavam com a cal manchada de umidade e infiltrações, e os caibros aparentes de madeira estavam escuros, com uma aparência de início de apodrecer.
Olharam pelas janelas embaçadas de sujeira. O lugar estava quieto e vazio. O único som era dos pássaros do lado de fora e um rangido ou outro das velhas pás do moinho, que cediam com o vento e já não moviam nenhuma das complicadas engrenagens de madeira do eixo.
"Você moraria aqui?" – Eriol perguntou.
"Sim... É pequeno, parece uma casa de bonecas. Mas é frio..." – Riu, mexendo num feixe de ripas que servia para fazer o apoio de consertos em telhados. Um rato correu de detrás das ripas e foi para o lado de fora. – "Eu não sinto tanto frio assim, mas você sente, não?"
"Sinto."
Akizuki aproximou-se de Eriol, fazendo menção de irem embora.
"Espere."
Tomou as mãos de Akizuki, estavam delicadamente mornas, e colocou as suas entre elas, tentando esquentar-se. Sorriram juntos e assopraram. De repente Akizuki parou, e afastou-se.
"Aqui não..." – Ele não precisara mais do que sentir a mudança do toque das mãos de Eriol para perceber seu desejo, aceso pela proximidade, pela oportunidade.
"Está vazio. Ninguém vem aqui."
"Nós viemos."
"..."
Eriol puxou Akizuki pelo braço, precisou fazer força para trazê-lo para perto, porque ele parecia querer evitá-lo, evitar seu toque, evitar o que ele queria. O que ambos queriam, em verdade, mas evitavam, porque nunca era como queriam que fosse, como acreditavam que deveria ser... Disse que queria voltar para casa, era mentira, mas era uma boa mentira, e Eriol não conseguia compreender um motivo para ela. Abraçou-o com força, fechando os olhos para escutar sua respiração tensa.
"Eu não quero, Eriol..." - Akizuki encostou a cabeça em seu ombro e não correspondeu ao seu abraço, como sempre fazia. Também não virou a cabeça para beijar Eriol, que tocava seu pescoço, num ensaio de carícia tímido e desajeitado.
"..."
"Não quero mais..."
"Por que?" - Afrouxou o abraço e bastou isso para Akizuki se afastar para o outro lado do depósito do moinho, em passadas largas e apressadas. Ele ficou meio de costas, fingindo olhar pela janela de vidro empoeirado e baço, os ombros um pouco curvados, ele mesmo todo um tanto encolhido.
Akizuki deu de ombros ao ouvir a pergunta.
"Não quero mais, Eriol."
"Você não gosta?"
"Não é isso..."
"Você acha que é errado?"
"Não..." - E definitivamente, Akizuki não imaginava que fosse, e queria acreditar que Eriol também pensasse assim. - "Apenas não quero mais. Não se aborreça comigo..."
Voltou-se o bastante para encarar Eriol por um momento. Seus olhos pareceram brilhar, mas não pareceram castanhos quando isto aconteceu. Ele pareceu consciente do olhar de Eriol sobre si, do que dizia este olhar e corou como o menino que era. Desta feita, pareceu totalmente indefeso, com medo de irritá-lo. Eriol disse-lhe com suavidade que não estava aborrecido, chamou-o pelo nome, várias vezes, com doçura, até que Akizuki aproximou-se mais uma vez, de cabeça baixa, um pouco trêmulo. Sentou-se com ele sobre as lonas que estavam dobradas no chão, num monte alto e um pouco duro, empoeirado. Estavam muito próximos, mas não se tocavam, e mesmo assim, um era completamente consciente do outro, de cada movimento, e até da respiração. Ficaram um longo tempo calados, sem se encararem. Aproximaram-se apenas quando Eriol tocou sua mão.
"Vamos fazer o que você quiser." - E estava falando a verdade. Estava um pouco magoado pelo que escutara, principalmente por não ter escutado uma razão que justificasse aquilo, mas faria tudo o que Akizuki pedisse.
De certa forma, entendia que Akizuki estivesse magoado. Desde a primeira vez, ele não se mostrara talvez a mínima parte do que achava que deveria mostrar-se a ele, tal sua inexperiência, e secretamente assim desenterrava, a cada vez que estava com Akizuki, um arrependimento que ele próprio julgara enterrado dentro de um bordel em Paris. Era amargo admitir que seu pai tinha toda a razão...
"..." – Akizuki respirou um pouco mais fundo, talvez dolorosamente, e por um segundo seu olhar encontrou-se com o de Eriol. Eles eram apenas meninos. Crianças em um jogo perigoso.
"... Apenas desta vez..."
"Apenas desta vez!" - Parecia um pouco desesperado, um tanto temeroso por isso, mas aceitou, como isso diminuísse sua culpa, ou diminuísse a dor que vira nos olhos escuros de Eriol, que para ele eram absolutamente transparentes, como ele todo. Apertou a mão dele como a ter certeza de obter uma resposta, e sustentou seu olhar com firmeza. Novamente Eriol viu no fundo dos olhos de Akizuki, uma sombra vermelha, como uma estria, como surge pela água em espirais a florescência de uma gota de sangue que nela se dissolve. Estremeceu, e não sabia se de medo ou excitação. Akizuki insistiu: - "Apenas!"
"Vamos parar quando você quiser." - Apertou a mão de Akizuki a sua. Também desejava apertar o corpo dele no seu, mas era um pensamento tão natural, que fluía por sua mente e mesmo por sua pele como um torpor quente e súbito, que não conseguia aceitá-lo e por vezes reprimia-o, como agora. Afastava aquele impulso por puro medo, porque era uma emoção forte demais, e que não conhecia, e nem achava, apesar de tudo, que devesse conhecer, porque... Isso só faria as coisas trilharem um rumo mais perigoso ainda. Ofegante, sentiu-se preso naquela promessa e não sentiu-se mal por isso, era um prazer maior do que qualquer coisa fazer o que Akizuki queria, fosse o que fosse.
Fechou os olhos, tentando pensar se conseguiria manter sua promessa, e sua respiração tornou-se agitada e ruidosa quando abraçou-o, lentamente, de maneira tímida, muito distante de como exigia o apelo de seu corpo, de sua consciência do desejo que os unia, sobre as lonas, quando sua boca inesperadamente encontrou a dele. Era um beijo menos desajeitado do que os outros, e também ainda não era um beijo adulto, mas para o momento, para eles, era melhor do nunca havia sido. Akizuki ajoelhou-se com custo, afastando-se, tirando o casaco de Eriol, tentando evitar que ele o tocasse muito, e evitando tocá-lo também – a cada momento que a pele de um esbarrava a pele do outro, o mesmo desespero, o mesmo impulso que havia em Eriol de estar com ele, unir-se a ele num abraço cheio de segredos que apenas os adultos conheciam, se apoderava dele, e o enchia de pavor, mais do que qualquer coisa.
O maior mistério, o segredo mais terrível, não morava nos livros de magia negra e nem nos círculos dos iniciados, ou nos sussurros dos rituais mais sangrentos, e eles já conhecia todos, com a mesma naturalidade que conheciam seus livros de escola. O que havia de mais assustador não estava ali, do lado obscuro do mundo, no fundo dos abismos, ou atrás de espelhos. Estava bem em frente um do outro, estava naquele coração acelerado, pupilas dilatadas, e na inquietação que fazia-os estar assim, um perto do outro, um junto ao outro, como se sempre houvesse sido assim, como se não houvesse nada mais natural do que isso.
Com mãos trêmulas, Akizuki também tirou as próprias roupas, mas não teve tempo de tirar as meias e nem a camisa. Desejava ardentemente corar de vergonha, encolher-se de pudor, mas nem isso conseguia. De uma maneira que ele mesmo considerava despudorada, sabia que não precisava ter vergonha de nada, que Eriol conhecia seu corpo como o seu próprio. E desta vez corou de vergonha de seus pensamentos, conhecia o corpo de Eriol na mesma medida, e quase arrependeu-se por ter pedido que aquela fosse a última vez que eles se unissem daquela maneira.
"Apenas desta vez... Você vai parar quando eu pedir?"
"..." - Eriol fez que sim. Era uma promessa difícil.
Não havia ninguém por perto, o moinho não era como a casa, que estava sempre cheia de gente, sempre com alguém batendo nas portas, com o perigo constante de alguém entrar no quarto ou na biblioteca, ou escutar algum suspiro mais alto.
"Estou com medo..." - Foi mais um gemido do que um sussurro, mas apesar do que disse, Akizuki deitou-se sobre as lonas dobradas. Ele dificilmente admitia quando sentia medo. Era áspero, suas unhas passaram pela superfície das lonas, com um ruído de arranhar tão áspero quanto aquela sensação. Não sabia porque ainda ia fazer aquilo de novo, porque seu coração parecia que ia explodir, e sentia-se sufocado, antecipando não sabia o quê, vendo Eriol, de rosto afogueado e ofegante, ajoelhar-se ao seu lado, deixando os sapatos caírem pelo chão, e afrouxando as roupas, como se sentisse um calor insuportável. Ele também estava tremendo, mas por outros motivos.
"Estou com medo..." – Suspirou, quando Eriol deitou-se ao seu lado, muito próximo, um braço em torno de sua cintura, e sem querer, Akizuki acabou retribuindo aquilo, passando os braços sobre os ombros de Eriol. Também o beijou, do modo que agora era entre eles, em nada parecido como quando eram crianças. E também em nada parecido com o jeito que havia sido até então. Eriol sentiu que a boca de Akizuki se entreabria para ele, e não pensou e nem sabia o que estava fazendo, mas também abriu a boca, no meio daquele beijo que começara tímido e agora era melhor do que qualquer coisa que já haviam feito antes, e notou que a mão dele se fechava no seu cabelo, sem deixar que se afastasse mais do que o bastante para tentar, sem sucesso, recuperar o fôlego.
"Eu também..." – Gemeu, e não era mentira, estava muito assustado. Havia algo de diferente desta vez, também notava. E estava com medo, estava tremendo de prazer apenas por estar abraçado a Akizuki, por ver como sua boca estava brilhante, avermelhada e úmida de saliva.
Mesmo assim, sentiu a mão de Eriol em seu joelho, pressionando, subindo, encontrando sua coxa, e eles tremiam, respiravam dolorosamente, detinham-se a cada movimento. Era a última vez. A mão de Eriol escorregou para entre suas pernas e Akizuki fechou os olhos, sentindo-se estremecer e arrepiar. Não era a primeira vez, mas nunca havia sido assim. Não sabia dizer a diferença, mas havia alguma... Talvez porque não estivessem em casa, porque tinham certeza de que não havia ninguém mais ali. Sem querer, aproximou mais as pernas, sentindo a mão de Eriol ser pressionada entre elas e o medo que sentia antes não diminuiu, muitíssimo pelo contrário.
"Quer que eu pare agora?"
CONTINUA
