Longe do Paraíso

Disclaimer: Personagens e lugares pertencem a J.K. Rowling e à Warner Brothers – exceptuando aqueles que foram criados por mim. Esta fanfic foi escrita sem quaisquer fins lucrativos e quaisquer semelhanças com outras histórias não passam de meras coincidências.

Spoilers: PF, CdS, PdA, CdF, OdF

Avisos: Fanfiction não apropriada para menores de 13 anos por conter algumas cenas de violência e vocabulário pouco apropriado.

Sumário: No cenário duro do pós-guerra foi cometido um horrível crime e um Devorador da Morte é preso e condenado, acusado de homicídio. Porém, existem pontas soltas que não se encaixam no puzzle e uma Auror tem agora a difícil tarefa de descobrir a verdade antes que seja tarde demais.


Capítulo IV

Batiam já as três da madrugada quando o grupo da missão à Rua Bativolta regressou ao quartel-general. Apesar da hora tardia e do cansaço que sentiam, todos os seus colegas se encontravam ainda no local à espera de notícias, deambulando por entre as secretárias.

- Ali estão eles! – avisou Jimmy, correndo até ao grupo que acabava de entrar. – E então? Têm boas notícias? Apanharam-no?

- Eh, Mr. Harris, deixe-os respirar! – Gordon puxou os jovens para um sofá, onde os sete se sentaram confortavelmente. – Ele está já em Azkaban, não é assim?

Harry retirou os óculos e passou a mão pelos olhos. Nos seus lábios desenhou-se um sorriso grande, um sorriso de vitória.

- Exacto! Levámo-lo para lá assim que o capturámos – explicou ele enquanto encavalitava de novo os óculos no nariz. – Tenho a certeza que ele será levado a julgamento o mais depressa possível!

- E o que é que aconteceu durante a captura dele? Disseram-me que estava tudo deserto...

Hermione acenou afirmativamente com a cabeça e deixou-a cair para trás. Estava esgotada! Vendo o cansaço dos colegas, Natalie começou a explicar resumidamente aquilo que se tinha passado desde que tinham abandonado o Quartel dos Aurors, numa voz arrastada e sonolenta.

- Potter levou-o a Azkaban, onde ele ficou e ficará para sempre, se existir alguma justiça neste mundo! – concluiu ela. – Se bem que Malfoy não chegou à prisão na mais perfeita saúde: partiu duas costelas ao ser desarmado pelo nosso grupo e teve de ser transportado até à enfermaria para ver se se encontra na mais perfeita saúde quando chegar a altura do julgamento!

- Só há nessa história algo que não bate certo! – Gordon começou a andar em redor dos seus pupilos, enquanto franzia o sobrolho e coçava o queixo. – Deserto! Aquilo que vocês descrevem que se encontra abaixo do alçapão parece-me ser um refúgio secreto de Devoradores da Morte e podem crer que daqui a umas horas irei enviar uma patrulha para revirar todos os cantos... Mas porque estariam todos eles fora quando vocês chegaram?

Apertou a mão e amarrotou a carta anónima que recebera com a morada do homem que mais procuravam naquele momento, a qual permanecia ainda por entre os seus dedos compridos. Só então entendeu a estupidez que acabara de dizer e bateu com a outra mão na testa com toda a força.

- Desculpem! – pediu o chefe, sacudindo a cabeça de desespero. – Deve ser do sono!

- A pessoa que nos enviou a carta deve ser um conhecido do tal refúgio – argumentou Hermione, que fechara os olhos para tentar diminuir a intensidade da sua dor de cabeça. – E das duas, uma: ou nos avisou no momento em que todos, excepto Malfoy, saíram do local ou foi tudo muito bem arquitectado para o apanharmos a ele e deixarmos escapar os outros. É claro que a segunda hipótese é muito mais plausível e aceitável; e é também por isso que eu penso que as nossas buscas ao local serão infrutíferas. Ninguém utilizaria um esconderijo que já foi denunciado às autoridades.

- A primeira hipótese implica demasiadas coincidências – opinou Harry de sua própria justiça. – Chegar no momento em que todos saem mas deixam para trás o homem que procuramos por mero acaso? Não dá para acreditar!

- Então, Malfoy foi traído pelos próprios companheiros. Fim da história! – Jimmy Harris bocejou, parecendo subitamente mais cansado que antes. – Bem, teremos de lhes agradecer.

- Talvez o caso de Isobel tenha sido isolado! – lembrou o rapaz de olhos verdes. – Talvez não tenha sido uma decisão de um grupo inteiro mas de apenas um homem e os colegas não aprovaram a conduta do outro!

Hermione abriu os olhos pela primeira vez desde que se sentara no sofá e torceu o nariz:

- Não acredito muito nisso! Os Devoradores da Morte são todos sedentos de sangue e terror e Isobel denunciara os planos deles. Era um alvo a abater com rapidez e Malfoy apenas cumpriu os desejos deles.

- Nós não sabemos se a razão da morte da jovem é essa, Miss Granger, tudo é apenas uma suposição! – falou Gordon, que cruzou os braços e olhou para a face de Harry. – Ainda não me contaram a reacção dele quando foi apanhado!

Ele bufou de desdém e falou numa voz trocista:

- A reacção que todos têm... ou pelo menos, a maioria! Primeiro, acho que pensou que éramos colegas dele, pois saiu descansado, feliz da vida, do seu refúgio secreto dentro da própria Ala Seis. Quando entendeu quem nós éramos e aquilo que íamos fazer tentou Atordoar-nos, mas fomos mais rápidos e desarmámo-lo. Foi atirado contra uma parede, partiu duas costelas e ficou lá a rebolar pelo chão com aquela lengalenga do "Eu dou cabo de ti, Potter, dou cabo de ti!". Mas o melhor foi, sem dúvida, quando eu lhe disse o porquê de ele estar a ser preso! – Harry não aguentou e soltou uma gargalhada. – Ficou furioso, desatou a berrar que era inocente, que nunca tocara num único cabelo de alguma miúda chamada Vance! Como se eu nunca tivesse ouvido essa cantiga antes...

- Se o pai dele fosse vivo, aposto que até se envergonhava de ter um filho com tamanha estupidez! – grunhiu Hermione.

- Aposta e deve ganhar! – o chefe bateu com as mãos uma na outra para todos tomarem atenção. – Ora bem, já são perto das três e meia. Foi um dia em grande para todos nós, com um desfecho maravilhoso e é por ver aqui tantos rostos ensonados que eu quero é que vão para casa, para a cama, dormir por um bocadinho, que amanhã também é dia. Vá, vamos todos embora e... Granger? – ela levantou-se rapidamente e aproximou-se de Gordon. –Quero que descanse muito esta noite, para estar apta para o julgamento quando este acontecer. Porque assim, tenho a certeza que irá simplesmente brilhar no momento em que mandar aquele cretino para Azkaban!


Jay entrou a correr na cozinha algo desarrumada e passou pela sua tigela de comida já preparada no canto habitual. Após se saciar, aproximou-se lentamente das pernas da dona e começou a esfregar o seu corpo contra elas, pedindo a atenção e os mimos que há muito não recebia.

- Que foi, fofa? – Hermione desviou os olhos do Profeta Diário e observou a gata que continuava a seu lado. – Não te tenho ligado nada nestes últimos tempos, não é?

Agarrou o seu animal de estimação e deitou-a no colo, afagando-lhe o pêlo negro com carinho. Com a mão livre, virou mais uma página do jornal e percorreu rapidamente a folha com o olhar. Não existiam ainda notícias sobre a captura de Draco Malfoy, mas não esperava outra coisa: tudo se passara a uma hora demasiado tardia do dia anterior para sair a tempo para aquela edição. Porém, tinha a certeza que a notícia iria "explodir" nos media do dia seguinte!

Olhou o relógio. Tinha ainda vinte minutos antes de partir para o Ministério, uma vez que o chefe passara o seu turno para as onze horas da manhã, dando-lhe tempo para poder descansar um pouco mais. Se bem que em nada lhe alterara a manhã: por mais que tentasse, não conseguiu adormecer após acordar às oito horas em ponto.

- Ele vai pagá-las, Jay! – murmurou ela à gata que ronronava de satisfação nos seus braços. – É apenas uma questão de tempo. Eu sabia que ele era mau e mesquinho, mas nunca o imaginei capaz de matar assim! Uma miúda tão nova... uma antiga colega... Como é que foi capaz?

Dobrando o Profeta e atirando-o para o seu cesto próprio, Hermione levantou-se e avançou até à sala. Sentou-se no sofá vermelho-escuro, colocou a gata no chão a seu lado e puxou até si uma caixa forrada de veludo encarnado e dourado. Era aí que guardava as suas fotografias dos tempos de Hogwarts, aqueles tempos inocentes e divertidos. Era com saudade que se relembrava deles, principalmente do momento em que entrou no colégio, assustada com tudo aquilo que conhecia e era novo para si. E foi numa dessas fotos que ela deixou cair o seu olhar e a sua atenção, pegando nela com todo o cuidado. Fora uma das poucas que tirara no sétimo ano, em conjunto com Harry e Ron, em tempos de guerra, negros e violentos. E por detrás deles os três, podia claramente ver a cabeleira loura de Isobel, naquela altura uma jovem de apenas 11 anos, que ria das palhaçadas das colegas.

Hermione sorriu tristemente e sentiu uma lágrima escorrer pela sua face. Pensar que aquela miúda, ali tão alegre e feliz, estaria morta daí a sete anos, assassinada por um dos seus colegas mais velhos, por alegadamente descobrir a verdade terrível que os Devoradores da Morte escondiam... Malfoy ia pagá-las; desta vez, pisara o risco em grande e não poderia sair impune da sua situação!

- Esta cozinha está um perfeito nojo! – observou ela ao penetrar de novo no lugar, reparando na loiça por lavar e nos pergaminhos espalhados pela mesa, bancadas e chão. Retirou a varinha do manto e tratou de a colocar a limpar-se sozinha. – Assim está melhor!

Compôs o manto, enrolou o cachecol em torno do pescoço, agarrou o dossier com as informações acerca de Hagrid para a reunião com o chefe Jake Ginger nessa tarde e, despendido-se de Jay com uma festa no corpo felpudo, materializou-se para mais um dia de trabalho no Ministério.

- Granger, ainda bem que te encontro! – chamou Fred Nicholson assim que ela apareceu no quartel-general, saindo do cubículo de Jimmy Harris em sua direcção. – O chefe Gordon pediu-me para te avisar assim que chegasses que ele precisa de falar contigo no gabinete dele. Mas não disse o porquê!

- Obrigada, Mr. Nicholson! – e mudou a sua rota para o local indicado.

Oliver Gordon era o único Auror que possuía um gabinete de tamanho razoável. A secretária, algo manchada e um pouco estragada por Gritadores que não haviam sido abertos a tempo, estava cheia de papelada e as paredes mostravam inúmeras imagens e notícias de Voldemort e seus seguidores. O velho feiticeiro estava sentado num belo e antigo cadeirão que se situava perto da única e alta janela.

- Disseram-me que queria falar comigo! – explicou Hermione após o chefe lhe dar permissão para entrar.

- Ah, sim! – Gordon levantou-se pesadamente e colocou a carta que lia em cima da secretária. – Acabo de receber a confirmação do próprio Ministro da Magia em como o nosso querido amigo Malfoy vai a julgamento já amanhã, no próximo dia 17 de Novembro, às dez horas da manhã.

- E você está realmente certo que deseja que seja eu a conduzir o julgamento? É só que... bom, perdoe-me duvidar de si, mas com tudo isto que se passou, a tão fácil captura de Malfoy pelo Harry, eu pensei...

- Não se preocupe! – Gordon agarrou numa prancheta e sentou-se atrás da secretária. – Tudo bem que, regra geral, é Mr. Potter quem nos apanha os feiticeiros que ocupam hoje as celas de Azkaban... mas lá por... que... o... diacho, onde é que eu meti a minha pena? – Hermione olhou em redor mas o chefe encontrou aquilo que precisava primeiro. – Accio pena! Obrigada, Miss Granger. Ora... onde ia eu?

- Que é sempre o Harry quem apanha os bandidos! – respondeu ela com um sorriso.

- Nem todos! Só que, apesar disso, há coisas que o Potter não tem, ou pelo menos, não brilham tanto nele como em si: capacidade de raciocínio sobre pressão e uma inteligência fora das medidas!

Os elogios do chefe não eram iguais aos outros e Hermione abandonou o gabinete uns minutos mais tarde com uma maior confiança e as faces ligeiramente coradas. Avançou em direcção ao seu cubículo, cumprimentando os colegas e tendo ainda a conversa com Gordon bem presente na sua mente quando, subitamente, parou.

Franzindo o sobrolho, olhou para um dos cantos do Quartel e deu de caras com uma estranha imagem: um homem corpulento, vestido com um manto branco e utilizando um gorro da mesma cor na cabeça, estava acocorado junto da porta, virado para a parede. Sabendo que ele não era dali, aproximou-se lentamente do homem, mas o seu percurso foi interrompido por alguém que lhe agarrou um braço e a afastou da meta.

- Que se passa, Granger? – questionou Jimmy Harris, sem a largar, com ar preocupado. – Estás estranha! Sentes-te bem?

- Quem é aquele homem?

- Quem, aquele? – Jimmy apontou o estranho com um dedo e Hermione confirmou. – Ah, não te preocupes! É somente um exterminador. Estávamos demasiado ocupados para andar a enfeitiçar todos os cantos do Ministério e chamámo-lo para nos ajudar.

E afastou-se, exibindo sempre um sorriso nos seus finos lábios. A morena viu-o regressar à confusão e decidiu também ela partir para o seu cubículo, no qual a esperava imenso trabalho, mas não sem antes dirigir um último olhar ao tão estranho homem que nada mais parecia fazer senão explorar a parede à sua frente, sem dirigir palavra a alguém.


- Tragam o prisioneiro!

As portas do tribunal abriram-se e entraram seis guardas de Azkaban (uma vez que os Dementors se haviam aliado a Voldemort durante a guerra), transportando no meio de si o suspeito Draco Malfoy. O seu aspecto melhorara bastante desde que fora preso: tomara um bom banho e o cabelo estava agora mais curto. O rosto fora limpo, apesar de continuar pálido e cansado. Era visível o seu esforço para escapar ao grupo que o escoltava, mas o facto de se encontrar muito fraco levava a que todas as tentativas fossem em vão. Por fim, foi sentado na cadeira frente ao banco mais alto da Sala de Audiências, cujos braços estavam repletos de correntes que o prenderam assim que ele as tocou.

- Bom – Hermione pigarreou, ajeitando o seu manto cor de ameixa para ocasiões especiais do Wizengamot, e encarou Malfoy de frente. – estamos hoje aqui reunidos para julgar Draco Marcus Malfoy, acusado de assassinar com uma Maldição Imperdoável Isobel Kristin Vance. Presentes nesta audiência: Gideon Maverick, Ministro da Magia; Oliver Gordon III, chefe do quartel-general de Aurors; Amelia Susan Bones, chefe do Departamento de Aplicação das Leis Mágicas; Hermione Jane Granger, Auror e presidente do julgamento; Harry James Potter, Auror; Natalie Frances Baker Franchise, Auror. Dia 17 de Novembro de 2004, dez horas da manhã e dá-se início à sessão.

Malfoy desviou o olhar dela e mirou as faces dos feiticeiros presentes no julgamento. Não eram muitos, mas todos eles o olhavam com ares de desprezo e raiva. Hugo Vance, pai de Isobel, apesar de aconselhado a não ir, marcava presença num dos primeiros bancos. Ron sentara-se exactamente atrás dele para poder controlar o ódio e a angústia que o homem sentia ao observar o assassino da filha.

- Miss Vance – falou Hermione numa voz clara e bem audível, tentando ocultar o seu nervosismo. – foi encontrada morta na sua própria casa no dia 10 de Novembro deste ano, algumas horas depois do seu homicídio, pelos pais, Hugo e Marianne Vance. Declarações de Mr. e Mrs. Vance ao grupo de Aurors responsável por este caso levaram a que fosse composta a cena do crime: o intruso entrou em casa da vítima durante a noite, assassinou-a de forma brutal e, de seguida, fugiu. Os pais encontraram o terrível cenário quando regressaram a casa de manhã, após uma viagem ao estrangeiro. Como primeira pergunta: como conseguiu o culpado entrar numa casa protegida contra semelhantes ataques? Importa-se de responder, Mr. Malfoy?

- Importo-me, sim! – respondeu ele de forma brusca. – Porque eu não sei a resposta á tua pergunta.

- Por mim, tudo bem... quanto menos contribuir, pior para si!

«Miss Vance foi vítima de um crime brutal. Existiam marcas de estrangulamento no seu pescoço e o seu olhar aterrorizado indicava-nos bem que Maldição a vitimara: Avada Kedavra, a maldição mortal! Tenho a certeza que qualquer membro do nosso júri poderá reparar que assim foi ao observar as fotografias tiradas ao corpo – Hermione passou as imagens imóveis ao júri, que acenaram em concordância. – E isso leva-nos a pensar: que fez ela para merecer este castigo? Que poderia ter feito uma miúda de 18 anos para levar a um crime assim?»

A morena esboçou a sua expressão mais dura para olhar o ex-colega preso na cadeira das correntes. Este fuzilou-a com o olhar, remexendo-se como se tentasse escapar aos olhares que todos os presentes lhe deitavam.

- A resposta à minha pergunta poderá ser encontrada folheando este objecto – a feiticeira levantou no ar o dossier recheado de informações acerca de Isobel. – onde encontramos todas as ligações que a vítima teve com a justiça. Entre elas, encontramos a novidade que Miss Vance avisou o Ministério de que um grupo de Devoradores da Morte planeava um ataque em pleno St. Mungus dentro de três semanas. Um ataque que não se realizou! – era agora o relatório de Jimmy e as fotografias dos três suspeitos que circulavam de mão em mão entre os membros do júri. – E qual a conclusão que se pode tirar deste caso, meus senhores e minhas senhoras? Vingança! Os Devoradores da Morte descobriram a jogada perigosa de Isobel e suspenderam o ataque já conhecido no Hospital... Ao invés desse, realizaram um outro na própria casa da jovem que lhes denunciara os planos e acabaram com a sua vida!

A jovem dos caracóis recebeu de novo as importantes peças daquele caso e, após colocar o relatório no seu lugar, aproximou-se lentamente de Malfoy e mostrou-lhe as fotografias do arquivo.

- Será que me pode confirmar se está aqui presente? – questionou ela, sem obter qualquer resposta. O loiro desviou a face, com ar culpado. – O seu silêncio diz-nos tudo, Mr. Malfoy! Bem, talvez queira então dizer-nos quem são os seus companheiros.

Mais uma vez, o silêncio falou mais alto em toda a sala do Tribunal. Draco olhou para Hermione como que a desafiá-la e cerrou duramente os lábios. Atrás dele, Hugo Vance tentava reprimir toda a sua fúria, controlando a enorme vontade que tinha de se levantar e abanar o jovem Devorador da Morte até ele confessar a verdade.

- Pois bem, Mr. Malfoy recusa-se a dar-nos a conhecer a identidade dos seus companheiros, mas penso que todos aqui, membros do júri e testemunhas, vimos o olhar culpado que ele demonstrou aquando da primeira pergunta. Apesar do seu silêncio, podemos entender claramente qual a resposta: Draco Malfoy é um dos Devoradores da Morte aqui presentes, no momento em que planeavam o ataque em St. Mungus!

- Nós não planeávamos qualquer ataque no vosso infectado hospital! – gritou ele subitamente, perdendo toda a sua postura.

- Ah, sempre era você que aqui estava! – concluiu Hermione por entre o burburinho geral. – Estamos a progredir muito bem! Explique-me lá então que estava um grupo – o seu grupo, Mr. Malfoy – a fazer aqui neste momento?

O prisioneiro não lhe respondeu uma vez mais. A sua explosão repentina fora totalmente fora do controlo e não desejava mais nenhuma. De preferência, o melhor seria mesmo não mais abrir a boca durante todo o julgamento, excepto sempre que fosse necessário expressar a sua inocência. Hermione exibiu um sorriso vitorioso e regressou ao seu lugar, no banco mais alto.

- Meus senhores, minhas senhoras, Draco Malfoy decidiu, ou foi escolhido pelos colegas para se vingar do facto de Miss Vance ter revelado a verdade às autoridades. Ele próprio confirmou que era um dos homens da fotografia e esta foi analisada de modo a comprovar que os homens presentes eram os responsáveis pelo ataque que não se chegou a realizar!

«Para além disso, os Aurors têm em seu poder provas que o suspeito esteve na casa de Isobel, muito provavelmente no dia do seu homicídio. Na verdade, este é o único objecto que possui impressões digitais que não as dos donos da casa. As impressões de Draco Malfoy!»

Enquanto falava, a jovem segurava uma bandeja na mão, que continha o copo de cristal que ela mesma encontrara no quarto da vítima, e apresentava-o aos membros do júri.

- Este copo de cristal estava no quarto de Isobel Vance e análises de peritos confirmam que esta impressão digital é sua, Mr. Malfoy! – comentou Hermione, encarando a face pálida do prisioneiro. – Se você está inocente, como é que isto aconteceu?

- ISSO NÃO PROVA NADA! – gritou ele, fazendo as correntes rangerem com os seus movimentos bruscos. – Eu já tinha estado na casa da Vance, sim... mas não...

- E que esteve o senhor a fazer na casa dos Vance? – a Auror decidiu avançar com a pergunta que mais lhe interessava ao ver que Malfoy não ia continuar. – Eu não o consigo entender! Diz-me que é inocente, mas não me dá motivos para eu confiar em si e cada vez se enterra mais...

- Eu sou INOCENTE! E isso é o que basta! Ninguém precisa de saber aquilo que eu faço ou deixo de fazer, simplesmente querem a verdade. E a verdade é que EU não sou o assassino da VANCE!

Ron segurou Hugo Vance, impedindo-o de se levantar do seu lugar, mas o homem estava a arder de fúria e tentava escapar-se dos braços fortes e firmes do Obliviator. Hermione notou nos dois e decidiu prosseguir com o julgamento. Com um ar cansado, virou-se para o júri.

- Chamo agora a testemunha de acusação: Katrina Vlaskova.

A imigrante russa levantou-se a medo do seu lugar e avançou até à rapariga que a esperava. Todos os olhares estavam caídos sobre si; até mesmo Draco a olhava com imensa desconfiança.

- Bom dia, Miss Vlaskova! – esta abanou a cabeça, como que a cumprimentar a outra de volta, observando com terror toda a sala de Audiências. – Será que nos pode contar tudo aquilo que viu na noite do homicídio?

- Sim! Ah... na noite... eu sair para uma voltinha... sozinha! – naquela mesma manhã, pouco antes do julgamento, Katrina melhorara o seu Inglês junto de Harry, para não originar confusões ao longo do discurso. – Ser tarde, mas eu não ter medo! Eu andar cedo, mas depois atrasar e... hum-hum!

Hermione viu-se obrigada a conjurar um copo de água para ver se Katrina se acalmava um pouco. E tal gesto teve os seus efeitos, bem positivos: em breve, a testemunha explicava aos seus ouvintes a sua breve e simples história. Ao entrar na rua onde os Vance viviam, deparou-se com um estranho homem à luz do candeeiro. Um homem que a mirara, olhos nos olhos, por uma fracção de segundo, antes de colocar algo na cara e fugir a sete pés.

- E esse homem... – questionou a presidente do julgamento, sentindo o doce sabor da vingança brotar-lhe do peito. – pode reconhecê-lo?

Katrina torceu as mãos enquanto a expectativa crescia por toda a sala do Tribunal. Por fim, acenou afirmativamente com a cabeça e apontou um dedo longo e branco à figura de Draco Malfoy.

- Foi ele!

- ESSA MULHER MENTE! – se não fossem as correntes, Malfoy era capaz de saltar da cadeira e agarrar a imigrante pelo pescoço. – MENTIROSA! EU NUNCA A VI EM TODA A MINHA VIDA!

- Que eu saiba, você nem álibi tem para a noite em questão! Muito obrigada, Miss Vlaskova – a jovem russa regressou ao seu lugar enquanto Hermione se aproximava do júri. – Para finalizar, a prova derradeira! Mrs. Franchise, poderá dizer-nos que revelaram as análises à varinha de Mr. Malfoy?

Natalie levantou-se do seu lugar e leu do pergaminho que tinha nas mãos:

- «A varinha do suspeito Draco Marcus Malfoy foi examinada pelo nosso grupo de peritos. Para além de apenas terem sido encontradas as suas impressões digitais, averiguou-se qual o último feitiço por ela executado. O resultado foi conclusivo... Avada Kedavra, a maldição mortal!»

- Pois bem – a voz agora clara de Hermione sobrepôs-se ao burburinho que se seguiu à declaração da Auror. – penso que está tudo dito! Da mesma maneira que penso que ninguém neste local tem dúvidas acerca da verdade sobre quem é o assassino de Isobel. É então por isso que vos peço que levantem a mão caso concordem comigo em como este homem merece cumprir uma pena de prisão perpétua em Azkaban!

E levantaram-se mãos. Um número enorme de mãos no ar; praticamente toda a totalidade de membros do júri concordava com a pena proposta pela jovem. Um sorriso cruel espelhou-se na face dos feiticeiros que haviam marcado presença no julgamento ao verem a decisão final.

Na cadeira das correntes, Draco Malfoy olhou desesperado para a quantidade de mãos que se elevava à sua frente e para o sorriso de Hermione, que, pela primeira vez, se sentia contente com o sofrimento dos outros; sentia-se feliz em ver Malfoy provar o veneno que já há tanto merecia.

- O júri do Wizengamot decidiu! – afirmou ela, sentindo subitamente todo o gelo que se fazia sentir naquele calabouço ser substituído por uma agradável sensação quente de vingança. – Draco Marcus Malfoy, está condenado a passar o resto da sua vida na prisão na qual você tanto gostou de ver os outros! Em breve um grupo de guardas o vai conduzir à sua nova moradia: uma cela bem apertadinha somente para si!

E sorriu uma vez mais. A morte da sua amiga estava vingada.

- E aqui, meus senhores, se encerra a sessão!

Continua...

N/A: Oh, meu Deus, eu só quero que me desculpem, desculpem, desculpem, desculpem... espero que realmente me perdoem a demora. Não sei o que me aconteceu (preguiça aguda, na certa...), mas vou tentar que não volte a acontecer!

Eu não entendo nada de leis, por isso, não sei se o julgamento ficou algo parecido com aquilo que é na realidade, mas espero sinceramente que gostem e que continuem a acompanhar os próximos capítulos. Eu não vou desistir dela, posso é demorar um pouco mais nas actualizações.

JanePotter (uh, vou considerar esse comentário de Alias como um grande elogio! E só agora é que reparo no nome da "minha" Auror), Miri (bom, o Draco é um Devorador da Morte que escapou da cadeia. Eu sou da opinião que os foragidos não têm exactamente as melhores condições de vida, daí o seu aspecto. A expressão do esqueleto andante não passou de uma utilizada pelo Harry, o grande inimigo de Malfoy na história, não tem nada que ver com aquilo que eu acho da personagem xD), Pandora (peço imensas desculpas por não ter enviado ainda nenhum mail, mas vou ver se me ponho actualizada em breve), Lina (fiquei muito contente com a tua mensagem, e mais ainda por saber que estás a gostar. Só espero que continues a pensar o mesmo daqui para a frente) e Marta (eu sei que não gostas que te chame assim, mas já estás contente agora? xD) – muito obrigada pelas vossas mensagens e comentários acerca desta fic, só espero que continuem a gostar tanto como até agora! X) Beijos a todos!