Longe do Paraíso
Disclaimer: personagens e lugares pertencem a JK Rowling e à Warner Brothers, excepto aqueles que foram criados por mim. Esta fic foi escrita sem fins lucrativos e quaisquer semelhanças com outras histórias é mera coincidência.
Avisos: fanfiction não apropriada a menores de 13 anos.
Spoilers: PF, CdS, PdA, CdF, OdF
Sumário: No cenário duro do pós-guerra foi cometido um horrível crime e um Devorador da Morte é preso e condenado, acusado de homicídio. Porém, existem pontas soltas que não se encaixam no puzzle e uma Auror tem agora a difícil tarefa de descobrir a verdade antes que seja tarde demais.
Capítulo VI
Alguém bateu por três vezes na porta do seu gabinete, interrompendo a monotonia usual daquele lugar. Neville retirou os óculos que usava sempre que era necessário ler ou escrever algo, colocou de lado uns relatórios referentes a casos de má-educação por parte de um criminoso a um segurança da prisão e mirou o relógio em cima da sua secretária. Eram três horas em ponto e àquele momento da tarde apenas podia ser uma pessoa.
- Olá Hermione! – disse ele, dando de seguida dois beijos em cada face da amiga. – Entra, estava à tua espera!
- Mentiroso! Estavas a trabalhar e eu interrompi-te – gracejou a morena ao reparar nos pergaminhos espalhados pelo tampo da secretária. – "O prisioneiro chamou-me filho da…" … Oh, meu Deus, que bela educação!
- É, não é? Mas descansa, estava apenas a ler isso enquanto não vinhas – Neville arrumou tudo num instante e conjurou uma cadeira para a jovem. – Senta-te! Queres uma chávena de chá?
Hermione declinou a oferta e ocupou o assento que ele preparara para si. Em poucas palavras, explicou que o seu chefe, Oliver Gordon, havia-lhe dado aquela tarde livre para poder, por fim, descansar daquele caso. A mesma sorte não teve Harry, e muito menos Ron, que tiveram de continuar o seu trabalho no Ministério.
- É pena, teria todo o gosto em conversar com eles uma vez mais! Mas pronto, a gente logo se vê depois de amanhã no aniversário da Luna. Já arranjaste um presente? Eu ainda estou indeciso entre dois e estou a ver o tempo acabar sem me ver a decidir por nenhum…
Os dois acabaram por se deixar levar por uma conversa banal acerca deles e dos seus amigos, uma conversa tal como aquelas que tinham em Hogwarts, só que Neville não referia os seus receios e Hermione não abordava os seus programas de estudo.
Após alguns minutos, o jovem acabou por acender a lareira para aquecer o ambiente e a sua colega aceitou a chávena de chá de dente-de-leão, que foram bebendo aos golinhos durante a conversa. A determinado momento, Neville encaixou a chávena no pires e adoptou um ar mais sério.
- Aquela rapariga, a Vance… tu conhecias a miúda, não era?
- Porque dizes isso? – atirou Hermione, muito serena, pensando numa história para lhe contar caso ele lhe perguntasse mais alguma coisa. Apesar da sua descendência, o amigo não sabia de nada acerca da Ordem.
- Porque tu e os rapazes assistiram ao funeral dela! – Neville mostrou-lhe o jornal de há alguns dias atrás onde se viam os três amigos de faces tristes, junto à tia da vítima. – Como te reconheci, achei que teres ido porque estavas encarregue do caso não era uma justificação muito plausível. Hey, não fiques com essa cara! – apesar de não entender, a rapariga estava receosa com o rumo da conversa – Não tenho nada a ver com a vossa vida, apenas queria confirmar que a conhecias!
- Pois… bem, nós conhecíamos a Isobel de…. Hogwarts! Sim, é isso.
- Deve ter sido terrível para vocês. Saber que o Malfoy assassinou uma amiga vossa.
Ela assentiu com a cabeça e levou a chávena aos lábios. O silêncio dominou o ambiente no gabinete durante uns minutos até que Hermione o decidiu interromper, optando por atirar com a pergunta que trazia presa na garganta desde que pusera um pé em Azkaban.
- Achas que… achas que posso ir vê-lo? Ao Malfoy?
Neville olhou-a, com uma sombra escura nos seus olhos amendoados.
- Eu não pretendo armar zaragatas! Prometo-te. Mas é que eu precisava de entender o porquê, percebes? Preciso de perceber o porquê de ela ter de morrer, e como é que ele o conseguiu fazer! Juro-te, não quero mais nada.
O seu olhar passava o desespero em que ela se encontrava. E o rapaz sabia de que nada servia estar a dizer que não, pois conhecia Hermione demasiado bem para saber que ela não desistia às primeiras dificuldades. Malfoy não ia gostar da visita… mas que interessava aquilo que ele achava?
- Só uns minutos! – acabou por avisar Neville, levantando-se da cadeira. – E tens de ser supervisionada, não quero que aquele canalha te magoe!
Hermione exibiu um belíssimo sorriso, radiante. E enquanto saía do gabinete atrás do amigo, fartou-se de lhe agradecer por aceder ao seu pedido. Neville levou-a até ao corredor onde se encontrava o prisioneiro em poucos segundos, tentando ocultar a sua vontade de rir com a atitude da jovem.
- Eu não me quero intrometer nos vossos assuntos, por isso vou manter-me afastado de vocês os dois – avisou ele assim que colocou um pé no corredor que procurava. – Mas estarei aqui assim que precisares, caso o Malfoy se passe. Apenas não demores muito, OK? Estas visitas não são nada recomendadas…
- Percebo. Como te poderei agradecer?
- Dançar comigo no dia do aniversário da Luna. E não te esqueças que eu tenho dois pés esquerdos! – Neville ia afastar-se, mas achou que necessitava de dar um último aviso. – As barras da sua cela estão enfeitiçadas... se ele tentar fazer-te algo, elas encolhem e impedem que alguma parte do seu corpo saia dela.
Ela sorriu de novo, agradecida, e assim que o sentiu pelas costas, avançou em direcção à cela 139. Á medida que avançava pelo corredor iluminado por archotes, os prisioneiros das diversas divisões surgiam das sombras, rosnando-lhe pragas, palavrões ou comentários pouco educados. Alguns eram seus conhecidos: antigos colegas ou Devoradores da Morte que ajudara a prender; e também eles não esqueciam o seu rosto! Hermione tentava não ligar àquilo que eles diziam, mas naquele momento parecia tarefa impossível! O seu coração batia como louco no seu peito e uma gota de suor escorreu pela sua face.
- Olha, olha! – declarou uma voz masculina e sarcástica que ela tão bem conhecia. – Vejam quem ela é! Miss Granger faz uma visita ao lado negro da feitiçaria!
Os restantes prisioneiros bateram com as mãos nas grades das celas em uníssono, mantendo um ritmo constante ao longo de alguns segundos. Malfoy cruzou os braços com uma expressão deliciada.
- Estou a ver que já colocaste todos os teus amiguinhos a adorarem-te! – comentou Hermione, tentando ignorar o barulho que se fazia ouvir no corredor.
- É, sabes, tenho muito boa fama no seio desta grande família. Filho de quem sou, não é difícil!
- Não me digas... Deve ser uma honra ter-te aqui com eles, não? Prova que até os piores bandidos são apanhados nas malhas da justiça.
- Olha lá como falas, sua cabra! – gritou a voz rouca aprisionada na cela 137.
- Eu não estou a falar contigo, Zabini! A conversa é apenas entre mim e o Malfoy, não têm mais nada para fazer?
- Ouviram a Sangue de Lama – pediu Draco, sentando-se na cama. – Deixem-nos lá falar os dois a sós.
Hermione viu os diversos feiticeiros presos afastarem-se das suas respectivas barras e regressarem à monotonia das suas celas. Ela encarou o homem à sua frente; loiro, olhos azuis, roupa velha, corpo escanzelado – que monstro era aquele que se escondia por detrás de uma aparência tão frágil e delicada? Era isso que tentaria descobrir, esperando consegui-lo usando toda a sua perícia e sensatez. Seria capaz?
- Que queres tu, Granger? – começou ele, esticando o corpo suavemente pela cama, colocando as mãos bem atrás da cabeça. – Não virás na certa dizer-me que queres passar um dia comigo aqui, pois não? Já não existem Dementors, mas o ambiente continua horrível...
- Nota-se! És um pirralho comparado com alguns tipos que aqui estão e, no entanto, todos te obedecem!
- Tal como já disse antes, é tudo uma questão de sangue. Acontece que, ao matarem o meu pai, deixaram-me como o único Malfoy neste mundo triste e cruel. E actualmente, Malfoy é sinónimo de herói!
A jovem não resistiu a soltar um ruído de descrença.
- Os Malfoys, heróis! Ah, agora eu entendo como é que os Devoradores da Morte atingem distantes objectivos na vida.
- Mas que queres tu, Granger? – os olhos azuis de Malfoy pareciam estranhamente vivos no seu rosto de mau aspecto. – Vieste gozar comigo? Ou vieste tirar fotografias para dentro de uns anos mostrares aos teus netos de sangue sujo o que fizeste no passado?
- Como é que conseguiste? – perguntou ela, com uma nota de comoção na voz, aproximando-se das grades que a separavam do prisioneiro. – Ela era apenas uma miúda! 18 anos, Malfoy... quem é que já viveu tudo com 18 anos? Como é que foste capaz de fazer uma coisa destas?
Draco olhou-a nos olhos. O seu rosto adquirira uma expressão séria, deixando para trás a ironia de há pouco. Uma sombra escura tomou posse do seu olhar, mas ele nem uma palavra disse.
- Responde-me! – ordenou Hermione, aproximando mais o seu rosto da cela, com voz tremida. – Responde-me, assassino! Como foste capaz de matar alguém como Isobel?
O rapaz levantou-se da cama e foi-se aproximando-se lentamente das grades. Os seus olhos encontravam-se ao mesmo nível dos da jovem, e ambos brilhavam devido à fúria que tomava conta dos dois naquele preciso momento. Ele passou a língua pelos lábios antes de falar.
- Eu não tenho de te dar qualquer resposta! Se queres saber porque é que a Vance morreu, experimenta perguntar ao verdadeiro assassino a razão de o ter feito.
- Malfoy – avisou ela com uma expressão desafiadora. – eu já estou a ficar enjoada com essa tua conversa, ainda não entendeste? Pára de fazer de vítima, porque todos já sabemos aquilo que fizeste!
- Lá porque tu e os teus colegas são muito elogiados pelo vosso trabalho, não significa que tudo o que fazem esteja correcto! – cuspiu o loiro. – Não sei onde é que foste desencantar as "provas" que utilizaste no julgamento, mas estás redondamente enganada! Não me admira nada que tenhas organizado tudo aquilo somente para te vingares de mim.
- Eu não brinco com a justiça!
- Não! Eu fui condenado a prisão perpétua por um crime que não cometi e ainda tens o descaramento de vires aqui dizer-me que não brincas com a justiça? Céus, sempre pensei que fosses mais inteligente que isto!
- Então, tu não és o assassino de Isobel, pois não? – Hermione cruzou os braços com ar pensativo. – Então agora explica-me: que andavas tu a fazer na rua onde ela morreu horas antes do homicídio? Como é que há um copo com a tua impressão digital em casa dela se nunca lá entraste? Quem é o assassino?
- Se eu soubesse já to tinha dito, não achas? – gritou o outro, impaciente. – Eu não me lembro do que fiz naquela noite... mas eu não saí de casa!
A jovem morena apoiou a mão direita na parede de pedra a seu lado, com uma expressão irónica.
- Sabes que não saíste, mas não te lembras de nada. Que conveniente... Peço imensas desculpas, Malfoy, mas se não tens provas em como não saíste de casa na noite do 10 de Novembro nem me mostras provas em como tens um gémeo desconhecido à solta, nada feito! Esta cela continuará a ter o prazer da tua companhia.
- É pena. Mas sei que poderei dormir tranquilo: os meus amigos irão descobrir o verdadeiro culpado e, quando isso acontecer, irei obrigar-vos a ajoelharem-se a meus pés para eu vos perdoar! – Draco recuou e instalou-se no banco de madeira. – Essa é única razão pela qual me interessa que o culpado seja apanhado. Porque de resto... se a Vance morreu era porque o merecia! Em casos de homicídio, há sempre culpa de ambas as partes – ela fez algo que a conduziu a este fim. Olha para o meu pai...
Mas Hermione já não o ouvia. A sua afirmação provocara-lhe uma reacção totalmente inesperada; sentia um punhal cravar-se a fundo no seu peito. Em casos de homicídio, há sempre culpa de ambas as partes? Mas como é que ele podia dizer uma coisa tão estúpida, tão venenosa? Ali estava ele, aprisionado naquela cela até ao fim da vida, dissertando acerca da morte merecida do seu pai, sem reparar nela... sem pensar sequer naquilo que tinha acabado de sair da sua boca suja.
- Granger, sentes-te bem?
À voz de Malfoy juntaram-se gritos, choros, súplicas, rezas. Culpa de ambas as partes! Só mesmo ele para dizer algo assim! Na sua mente surgiam imagens de todos os amigos que vira morrer durante a guerra, que ela vira ser assassinados em seu redor... e a imagem dela. A sua face tão jovem ensanguentada, o seu corpo tão pequeno destruído. Ela não merecia o que teve! Não tivera culpa no que acontecera! Como é que poderia Draco Malfoy chegar ali e dizer que sim?
Uma mulher gritava ao longe, e Hermione ouvia-a tão bem... Em seu redor tudo ficou negro e a imagem dela desapareceu, tal como naquela horrorosa tarde de Julho. E só então se apercebeu que também ela fechara os olhos para fazer desaparecer as memórias daquele dia. Não conseguiu, porém.
- Granger? – tornou o prisioneiro, ligeiramente receoso.
- COMO TE ATREVES? – gritou ela, sem o ouvir. Começou a bater nas grades da cela com toda a violência, gritando o mais que podia, chorando um rio de lágrimas. – TU NÃO VISTE NADA DO QUE EU VI! NÃO SABES NADA! NÃO PASSAS DE UM IMBECIL SEM CORAÇÃO QUE PENSA SER DONO DA VERDADE DO MUNDO. Pois deixa-me dizer-te algo, Malfoy, tu não sabes... o quão errado estás. Totalmente E-R-R-A-D-O!
E dito isto, virou costas e fugiu. Fugir, fugir, fugir, só queria fugir dali. O choro turvava-lhe a vista e não conseguiu sequer distinguir Neville à sua frente, que fora atraído pela sua gritaria selvagem. Os prisioneiros riram-se dela e apontavam-lhe o dedo enquanto ela corria pelo corredor fora da prisão. Todos a gozavam; todos, excepto Malfoy, que, ainda incrédulo com a sua explosão, somente a observava a afastar-se de si.
- Hermione! – chamava Neville, tentando segurá-la. – Hermione, que se passa?
Mas não obteve resposta. Limpando os olhos, ela apressou o passo e correu para a liberdade, longe dali.
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- Tem a certeza que se encontra bem, Miss Granger? Parece-me um pouco estranha... desolada, para ser mais concreta!
- Não, a sério, estou óptima! – Hermione descruzou as pernas e ajeitou a saia, com um sorriso pouco convincente nos seus lábios. – Mas obrigada pela preocupação!
Emmeline serviu-se de mais um pouco de chá e levou a chávena de porcelana aos lábios. Tornou a perguntar à convidada se não desejava mais nada, mas a jovem confirmou a resposta negativa, argumentando que não tinha qualquer fome. O que era verdade... a conversa que tivera naquela tarde com Malfoy em Azkaban estava ainda bem viva em si, sendo assim a principal causadora do seu mal-estar naquele exacto momento. Mas achava que não seria bom contar tal coisa a Emmeline, que já sofria muito por outras razões.
- Como está? – perguntou Hermione, tentando ser simpática e, ao mesmo tempo, desviar o tema da conversa.
- Como deveria eu estar? – a mulher mais velha encaixou a chávena no pires, de novo com uma expressão triste. – Estou a tentar habituar-me à falta que Isobel me faz. Não é fácil, como deve entender, mas tem de ser assim. Uns vão, outros ficam – é a lei! Pelo menos, o culpado já está a pagar pelo que fez.
Emmeline agarrou a mão da colega e apertou-a com força, com um sorriso de gratidão no seu rosto.
- Hugo viu-a no julgamento e contou-nos tudo. Não imagina o quanto lhe agradecemos por tudo o que fez por nós... e por Isobel, claro.
- Não era somente uma questão de descobrir o assassino da afilhada de uma colega; era descobrir quem tinha feito tal coisa a uma amiga! Malfoy nunca mereceu bondade por parte de ninguém e então depois daquilo que ele fez... Foi um prazer presidir àquele julgamento.
Emmeline desviou o olhar e regressou ao chá que esfriava sobre a mesinha do café. Hermione mordeu delicadamente o lábio inferior e deu uma vista de olhos à sua volta. As estantes das salas onde as duas mulheres se encontravam naquele preciso momento estavam totalmente vazias. Os napperons brancos haviam desaparecido das mesas e as duas cómodas tinham sido recentemente envernizadas. Os outros dois cadeirões estavam cobertos por lençóis já velhos, rotos e sujos; a lareira da sala, que ficava bem junto ao armário da loiça de jantar, fora limpa sem cuidado, tendo ainda cinzas espalhadas.
- Não vai ser fácil encontrar quem pague por esta casa. Ninguém irá querer viver numa casa onde alguém foi assassinado! – suspirou a feiticeira ao ver o olhar perdido da jovem a seu lado. – Mas achar comprador não interessa, queremos é deixar este sítio para trás o mais depressa possível. Demasiadas recordações... Hugo e Marianne foram viver para casa dos pais dela até acharem outro local para viver. Penso que preferem ficar por lá. Cambridge, já lá foi?
Hermione acenou negativamente com a cabeça.
- Bem, é lá que eles irão ficar. Partiram assim que não foram necessários mais relatórios dos Aurors. Eu por cá fiquei... A minha vida é em Londres, Hermione, não posso partir assim! Deixar a Ordem para trás neste momento está fora de questão!
- Você sabe que nos terá aqui assim que precisar de companhia! – observou a jovem.
Emmeline sorriu.
- Claro que sei! E essa é outra das razões pelo qual eu sei que serei capaz de sobreviver nesta cidade.
Prendeu o cabelo liso que começava já a ficar grisalho atrás da orelha e levantou-se do sofá, pousando a chávena em cima da mesinha do café.
- O meu irmão saiu tão depressa desta casa que deixou tudo pelo caminho. Os móveis ficarão, mas as roupas, os objectos... O sogro de Hugo veio buscar tudo aquilo que lhe fora pedido, mas eu sei que tudo o que era de Isobel permaneceu intocado.
- Emmeline – murmurou Hermione, colocando-se de pé junto a ela. – você pediu-me para a ajudar a arrumar o quarto dela e é isso que vou fazer. Mas se ainda lhe custa, não precisa vir comigo!
- Não! Quero entrar uma última vez naquele sítio. Uma última vez...
Um pouco hesitante, Hermione acenou e ambas se dirigiram ao local em vista.
O quarto de Isobel mantinha-se totalmente igual àquilo que ela vira no dia em que ali entrara pela última vez, apenas com a diferença que o corpo já não se encontrava atado à cama. Emmeline suspirou e, tentando ignorar tudo o resto, dirigiu-se até ao armário, abrindo as duas portas.
- Ofereci-lhe este manto quando fez 16 anos! – murmurou a mulher, retirando um belíssimo manto de cerimónia de um dos cabides. – "Já és uma mulherzinha, Isobel, bem mereces um", foi o que eu lhe disse. Só teve oportunidade de o vestir uma vez, nos dois anos que ainda tinha para viver...
Pressentindo o que se iria seguir, a jovem aproximou-se da colega e deixou-a pousar a cabeça no seu ombro. Os seus joelhos cederam e as duas caíram ao chão, abraçadas. Segurando o manto numa mão, Emmeline chorou e não foram precisas as palavras para aquele momento. Porém, o seu desabafo terminou tão depressa como começara. Limpando as lágrimas à palma da mão, ela esticou um braço até ao armário e retirou uma pequena caixa de cores amarela e preta. No centro estava o símbolo de Hogwarts.
- Ela tinha orgulho de onde vinha! – sorriu tristemente e estendeu a caixa para Hermione. – São fotos de Isobel. Eu quero que fique com elas.
- O quê! – perguntou a jovem, surpreendida. – Emmeline, eu não posso aceitar!
- Pode sim. Isobel era sua amiga e é aqui que vocês pertencem: são as recordações das suas amizades. Acho que isto fica melhor consigo, aceite!
Hermione recebeu a caixa nas suas mãos, sem saber bem o que dizer. No entanto, também não foi necessário: alguém tocou à campainha com força e Emmeline consultou o relógio de pulso.
- Deve ser o director do centro para o qual vamos doar estas roupas. Pedi-lhe para vir às seis e meia e ainda não arrumei nada!
- Não se preocupe, eu vou lá!
Pousando a caixa das fotografias sobre a cama, Hermione levantou-se e avançou pelo corredor até à porta de entrada. Assim que a abriu, viu um homem de idade avançada que possuía uma farta cabeleira branca como a neve.
- Boa tarde! – cumprimentou ele. – Vim buscar uma encomenda de Miss Emmeline Vance.
- Pois claro, entre, por favor – indicou Hermione, fazendo sinal. – Nós estamos um pouco atrasadas, mas verá que em breve tudo estará pronto para poder levar.
Continua...
N/A: em primeiro lugar: desculpem todos estes meses sem actualizações. A preguiça é mesmo um pecado mortal, não é? É por isso que eu quero agradecer à JanePotter, por me ajudar a passá-lo e permitir que este capítulo estivesse aqui hoje e não no fim do ano. Em segundo lugar: desculpem também se a sexta parte não vos trouxe revelações ou o adensamento que esperavam, mas este capítulo será necessário mais para a frente. Em terceiro lugar: vou tentar não levar outros três meses a postar, apesar de agora ser Verão, o que significa "férias". E em quarto lugar: obrigada a todos aqueles que fazem com que esta fic não permaneça incompleta – Pandora, JanePotter, Lina, Wicked, Marta e todos aqueles que lêem e não deixam mensagem.
