Disclaimer: Inuyasha não me pertence, esse fic não tem nenhum fim lucrativo, e todos os direitos estão no nome de Rumiko-sensei.
Fantasma Negro
Capítulo Dois: Revelações
Para: Mitsuki Nakao
O sol nasceu fazendo sua luz adentrar as janelas do quarto de Rin, já era manhã e provavelmente Sesshoumaru já acordara, ele sempre acordava antes do próprio sol em geral, e deveria estar a esperá-la para que pudessem tomar seu café da manhã e irem para o treinamento matinal.
Rin rapidamente trocou a roupa e seguiu para preparar o café deles. Certamente que ele deveria estar do lado de fora da casa, meditando como em geral, ou apenas descansando ao som da leve brisa da manhã e do calor que o sol emanava. Tão pouco tempo que ela estava ali e já conhecia uma boa parte do Sesshoumaru 'pessoa'.
O Sesshoumaru 'samurai' e sua história eram conhecidos em todo o Japão. Ele lutara para o imperador numa grande guerra e suas tropas saíram vitoriosas, recebera condecorações e depois disso aquietou sua vida e voltou para sua mulher e seu filho, desse dia em diante ocupou-se em ensinar a arte de espadas que aprendera ainda jovem e que tanto prezava. Seu filho foi seu aprendiz também, assim como aprendiz de sua esposa que também era uma das poucas mulheres em todo o Japão que conheciam com destreza cada passo e golpe desferido por um samurai. Quando ele tinha 31 anos a sua esposa faleceu com seus 29 anos de idade, seu filho tinha 11 anos na época. Exatamente um ano depois seu filho se metera em uma disputa samurai e acabara morrendo também. Desde tal tragédia ele decidira não mais ensinar aquele estilo de luta, se todos os seus aprendizes fossem acabar assim, se aquela luta levasse seus aprendizes ao mesmo caminho que levara seu filho então ele não iria jamais querer passá-la adiante novamente. Mas isso mudou com a chegada dela e sua confusão. E agora ele parecia reviver a cada dia que a ensinava novos passos e instruía que ela jamais lutasse caso não fosse de necessidade extrema.
A vida estava voltando para as veias dele mais uma vez. E derramado em seus pensamentos como costumava fazer todas as manhãs antes de começar o dia realmente, ele escutou a voz dela perto de si, um passo atrás do local onde ele estivera ajoelhado. Tão perdido estivera em seus pensamentos que ao menos percebera a sua chegada.
– Sesshoumaru-sama, o café da manhã está pronto. – ela disse ainda de pé atrás dele. – Deseja tomá-lo agora?
– Sim. – ele levantou-se e passou direto por ela tentando ignorar o aroma adocicado que invadia as suas narinas, o aroma que emanava dela.
Era aquele aroma que ele costumava sentir todas as vezes que tocava aquele lenço branco de seda, embora não fosse o qual realmente desejasse inspirar, talvez o desejasse tão internamente que nem ele mesmo se dava conta.
Ambos seguiram até a sala para poder tomar seu desjejum, e como sempre num silêncio incômodo. Aquela casa era sempre tão monótona, tão silenciosa. Às vezes Rin desejava ter alguém com quem pudesse conversar, alguém para trazer mais vida àquele lugar. Os sons da floresta ao redor eram realmente tranqüilizantes, mas mesmo assim eram silenciosos demais. Eles não conversavam entre si. Todas as vezes que Rin tentara puxar algum tipo de conversa com ele fora cortada, ele sempre tinha respostas curtas e rápidas para tudo, ou até mesmo deixava que seu silêncio agisse como resposta para as perguntas dela. No começo ele ainda a encarava direito, de uns tempos até lá, ele parecia evitar olhá-la nos olhos, até parecia que ele não queria vê-la ou então tinha alguma coisa que o incomodava na face dela, na voz dela, na aproximação dela. Enquanto ela desejava aproximar-se dele, ele parecia desejar afastar-se mais e mais dela. Mas ela tentava ao menos viver sem perceber isso.
Ela percebeu quando ele finalmente terminou sua comida e encarou-a enquanto ela levava o par de hashi's para a boca, também terminando de comer.
– Arrume-se, iremos sair agora. – ele disse já se levantando.
– Sim, Sesshoumaru-sama. – ela respondeu, como sempre, era o mesmo diálogo entre eles. Ele ordenava alguma coisa e ela simplesmente assentia, nunca houvera realmente um diálogo entre eles.
Ela também se levantou para poder ir para seu quarto, trocar-se para irem treinar, até que ele voltou a falar.
– Não iremos treinar. – disse simplesmente.
– Não? – ela questionou. Então para onde iriam?
– Iremos até o vilarejo. – ele respondeu como se lesse os pensamentos dela.
– Até o vilarejo? Mas… – eles a perseguiram uma vez e não fazia tanto tempo assim, certamente o rosto dela não era de se esquecer facilmente.
– Você agora é minha aprendiz. – Sesshoumaru tornou a falar. – Não precisa ficar se escondendo para o resto da vida, eles não irão levá-la para lugar nenhum agora. Precisamos ir até a vila, os mantimentos não durarão muito.
– Tudo bem então, Sesshoumaru-sama. – ela disse indo até o quarto.
Ele observou-a se retirar até seu quarto e um pensamento perpassou a sua cabeça sem que ele mesmo percebesse.
– "Não vão tirá-la de mim…"
Repreendeu-se mentalmente por ter pensado aquilo. Mas mesmo assim não poderia negar para sua mente que era aquilo que queria, era a ela que queria.
Não demorou muito até que Rin vestisse seu kimono para poder seguir com Sesshoumaru à vila. Ele também já estava pronto e seguiram juntos pelo caminho mais curto já conhecido por Sesshoumaru. Ela sempre andava um passo atrás dele, era como uma forma de respeito e talvez também a submissão das mulheres de sua época.
Logo eles chegaram até os limites da vila. Rin hesitou em entrar no lugar, Sesshoumaru percebeu a hesitação dela e virou-se para fitá-la de frente.
– Jamais hesite. – ele disse voltando a virar-se para continuar o caminho.
Rin acatou a dica dele e continuou seguindo para dentro da aldeia. Tinham muitas pessoas que iam e vinham, pessoas que eventualmente lançavam olhares a Sesshoumaru e a mulher que o acompanhava, alguns mais velhos prestavam respeito à Sesshoumaru quando ele passava e faziam uma breve reverência. No passado já fora senhor daquelas terras. Mas mesmo prestando respeito a ele, não havia como evitar as costumeiras perguntas que acabavam por vir, sobre quem seria a dama a acompanhá-lo por todo o caminho, de cabeça erguida e olhando sempre para frente.
Rin olhava pelo canto do olho a todos os que estavam na rua naquele momento, todos eles lhe lançavam olhares desconfiados, talvez ainda tivessem em mente aquele episódio de três meses atrás.
– "E que memória…" – ela pensava consigo mesma.
Mas também havia aqueles que olhavam para Sesshoumaru e em seguida para ela, não sabia exatamente como definir as expressões que surgiam em seu rosto, talvez, surpresa?
– Venha. – ela pôde ouvir a voz de Sesshoumaru conduzindo-a a entrar no estabelecimento que ele acabava de entrar.
Rin o seguiu e fechou as portas atrás de si. Quando Sesshoumaru entrou dirigiu-se logo para o balcão, onde um senhor de idade estava parado.
– Ah, Sesshoumaru-sama, estava esperando mesmo por você. – disse o senhor idoso. – Já tenho suas compras aqui.
Ele colocou uma sacola de pano cheia do que seriam os novos mantimentos de Sesshoumaru e Rin, em cima do balcão entre eles.
– Hoje eu precisarei do dobro. – Sesshoumaru disse e nesse momento o homem lançou um olhar à Rin que estava ali parada observando as coisas que estavam à venda.
Tinham vários tipos de comidas que Rin não tinha provado ainda, distribuídos em várias prateleiras no meio do local. Tinham uns poucos corredores dessas prateleiras, dois, três no máximo. Além de Sesshoumaru e dela, tinham mais umas duas ou três pessoas ali dentro observando os produtos para poder comprar. Rin deu uma passada pelos corredores observando os produtos, enquanto Sesshoumaru esperava pelo senhor que fora reabastecer as compras como havia mandado minutos atrás.
Depois de dar uma olhada em quase tudo, viu o senhor aparecer atrás do balcão com o resto do pedido de Sesshoumaru, agora tinha duas sacolas.
– Pronto. – o senhor disse entregando as sacolas em cada mão de Sesshoumaru. Sem esforço ele segurou ambas com uma única mão. – Já coloquei tudo Sesshoumaru-sama.
Sesshoumaru apenas fez um leve sinal positivo com a cabeça, era sempre assim, nenhuma palavra de agradecimento, nenhuma palavra de desculpas, nenhuma palavra saía de sua boca praticamente, mas Rin conseguia entender cada mínimo movimento dele mesmo que ele nada falasse. Ele então se virou para chamar Rin, mas antes que ele pudesse falar seu nome, o senhor chamou-o mais uma vez.
– Er… Sesshoumaru-sama, se me permite… quem seria a jovem mulher? – ele perguntou.
Sesshoumaru pareceu analisar o rosto do homem por um instante, talvez considerando a questão dele.
– Ela é minha nova aprendiz. – ele explicou.
O rosto do homem pareceu iluminar-se com aquilo.
– Quer dizer que o senhor voltou a ensinar! – ele perguntou parecendo feliz com a notícia.
– Não exatamente. – Sesshoumaru respondeu virando-se para Rin finalmente. – Rin, vamos agora.
– Sim, Sesshoumaru-sama. – ela respondeu desviando os olhos das comidas que estivera observando, que pareceram realmente deliciosas.
Eles saíram do estabelecimento e voltaram a percorrer o mesmo caminho. De volta para a floresta.
– Já vamos voltar Sesshoumaru-sama? – Rin perguntou, como sempre um passo atrás dele.
– Ainda não Rin. – ele respondeu sem fitá-la, continuando a andar.
– Ah… tá. – ela ia perguntar para onde estavam indo, mas ele certamente não responderia.
Continuaram a andar sem que Rin soubesse o exato destino deles. Eles ainda continuaram andando pelas ruas da vila até que pararam de frente a uma taverna. Rin arqueou as sobrancelhas ao ver o lugar onde estavam, nunca imaginaria que Sesshoumaru entraria num lugar imundo daquele. Mas mesmo assim resolveu não contrariar. Teria preferido ficar do lado de fora, mas não o ouviu falar nada quando entrou, dando a idéia de que ela deveria acompanhá-lo também.
Rin pôde ver um emaranhado de olhos caindo sobre o corpo dela de forma indecente, não havia uma mulher sequer ali dentro, apenas homens que pareciam não tomar banho há um certo tempo, deles partia um fedor insuportável, Rin conteve-se para não levar a mão até o rosto tampando as narinas, perdendo desse jeito a compostura. Poderia ter desafiado cada olhar daqueles que se lançavam sobre si, olhares de samurais e lutadores sem um pingo de honra, mas isso poderia implicar em confusão, e já não mais podia se dar ao luxo de tentar desafiar aos outros, essa não era mais ela.
Rin não pôde ver ao fundo da taverna, numa parte escura, uma conversa que se formava em torno de um homem que estava escoltado e escondido pelas sombras.
– Aquele é o tal do Sesshoumaru? – perguntou o homem centro das atenções.
– Sim, mas dizem que ele não luta mais nada. – disse um dos capangas que tomava um gole de algum líquido claro.
– E quem é a pequena jovem ao lado dele? – perguntou o outro mais uma vez.
– Hm? – o homem que respondera a primeira pergunta virou-se para poder enxergar melhor a acompanhante dele. – Eu não sei… talvez uma vagabunda qualquer que ele arrumou na primeira esquina.
– Ha! – outro homem riu do comentário, ao lado do que estava sentado no meio, ainda encoberto pelas sombras. – Sesshoumaru o ex-grande senhor destas terras andando para todos os lados com uma vadia? Isso é meio improvável… dizem que ele nunca mais apareceu com uma mulher desde que a sua esposa morreu.
– Então quem seria essa? – perguntou o mesmo homem que parecia bem mais são que os outros dois.
– Hm… não faço idéia. – respondeu o que rira do comentário.
– Pff… imprestáveis. – disse o outro tomando um gole de sua bebida.
Sesshoumaru chegara até o balcão e Rin parara ao seu lado. Ela fitava apenas a sua frente, mas seus olhos vasculhavam o local em cada milímetro, e encaravam discretamente cada figura imunda naquele local.
– "O que Sesshoumaru-sama teria vindo buscar num lugar desses?" – perguntava para si mesma.
Sesshoumaru e o homem atrás do balcão apenas trocaram olhares e o homem pareceu saber do que se tratava, fez um breve sinal positivo coma cabeça e saiu.
Rin ainda continha-se para não perguntar o que ele fazia ali afinal, ou o que procurava, mas logo o homem do balcão voltou, falando com Sesshoumaru.
– Ele está na outra sala, disse que pode ir até lá. – disse o homem, lançando um olhar de esguelha para Rin ao lado de Sesshoumaru.
– Rin… – Sesshoumaru chamou-a e ela seguiu-o circulando o balcão até alcançar uma porta ao lado deste.
Eles entraram e chegaram até um cômodo pouco iluminado, tinham mais algumas mesas lá, e alguns homens jogavam e apostavam. Sesshoumaru foi até a mesa do canto da sala, onde tinha apenas um velho senhor idoso sentado. Rin poderia jurar que ele tinha mais de cem anos, mas não era hora para julgamentos desnecessários.
– Ora, ora… – o senhor iniciou o diálogo. – Há quanto tempo não o vejo Sesshoumaru-sama. O que o traz aqui? A lâmina de sua espada quebrou?
– Toutosai, eu quero uma nova espada. – ele disse. – Tal como aquela que fez para que eu lutasse para o imperador.
– Você quer uma nova toukujin? – perguntou o velho parecendo confuso. – Mas onde está a sua?
– Apenas faça uma nova. – ele disse frio como de costume. – Virei buscá-la em breve.
– Mas… com que direito vem aqui e me manda fazer uma nova espada? – perguntou Toutosai parecendo irritado.
– Ainda está em divida comigo velho… – disse Sesshoumaru de maneira baixa e ameaçadora. – Lembre-se que salvei sua vida. Só quero uma espada nova, nada mais.
– Mas por que quer uma nova espada? Você não luta mais, não vai ter mais utilidade pra você. – Toutosai rebateu de forma mais tranqüila, já confirmando que faria a nova espada.
– Eu não lutava. – Sesshoumaru corrigiu virando-se logo em seguida para sair do local. – Virei logo buscá-la e espero que esteja pronta. Rin, vamos embora.
– Hey… quem é a mulher? – perguntou Toutosai já chamando a atenção dos outros em volta. – É sua nova esposa Sesshoumaru-sama?
Sesshoumaru não respondeu nada, apenas lançou um olhar cortante para o velho atrás de si. Seu olhar colocou um ponto final na conversa entre ele e o senhor e também permitiu que os curiosos retornassem sua atenção para os seus jogos e conversas.
Ele saiu da sala andando normalmente, até alcançar a porta de saída, Rin apenas seguiu-o sem relutar, era bom sair daquele lugar finalmente. O ar puro era uma coisa realmente apreciável. Tinha certeza que em todos os passos que dera os olhares daqueles homens caíam sobre si, tinha mais certeza ainda que se não estivesse acompanhada de Sesshoumaru eles não teriam ficado apenas olhando-a. Agora parecia que finalmente voltariam para casa, estava feliz de saber que Sesshoumaru fora obrigado a entrar naquele lugar apenas em busca de um ferreiro para sua espada, o que queria dizer que ele voltaria a lutar de verdade.
Eles tinham finalmente alcançado os limites da vila e entraram na floresta pelo mesmo caminho que tinham vindo, durante a caminhada uma pergunta veio à cabeça de Rin, sobre Sesshoumaru ter ido buscar um ferreiro para forjar-lhe uma nova espada, onde estaria a antiga? Será que ele responderia… ou apenas continuaria em seu eterno silêncio? Ela arriscou começar uma conversa com ele.
– Er… Sesshoumaru-sama? – ela chamou a atenção dele para si.
– O que foi Rin? – ele perguntou em seu habitual tom , o que não significava exatamente que estava ignorando a pergunta.
– Se me permite perguntar, onde está a sua espada antiga? – ela foi direto ao ponto, ele não gostava de enrolações.
Ele ficou em silêncio por um instante, apenas continuando a andar, o que deu a entender que ela não deveria ter feito tal pergunta, provavelmente ele não gostava de falar no assunto. Rapidamente tentou reparar o erro.
– Sinto muito, não devia ter perguntado. – disse ela às pressas, mas antes que mais alguma coisa saísse de sua boca ele falou num tom de voz calmo.
– Está no túmulo de meu filho. – ele disse rápido e simples, parecia pensativo.
Rin permaneceu calada. Ele nunca mencionara seu filho ou esposa antes. Ela pensou que ali mesmo a conversa havia se encerrado, até ele voltar a falar.
– Ele queria herdá-la um dia, quando completasse seu treinamento. Sempre almejou o fio de minha espada. – disse Sesshoumaru. – Mas não teve tempo suficiente para manuseá-la. E eu não tive tempo suficiente para ensiná-lo a não lutar quando não fosse necessário. Agora ela pertencerá a ele para sempre.
Rin permaneceu calada diante das palavras dele, jamais imaginaria que um dia Sesshoumaru falaria tão abertamente sobre seu passado e sua família. Preferiu não falar mais nada naquele momento, talvez fosse demais para uma só conversa. Continuou a segui-lo pela trilha acidentada.
Sesshoumaru estava pensativo, fitava apenas o caminho a sua frente. Estava ainda tentando descobrir como conseguira ser tão direto com ela. Nunca falara antes sobre seu passado, sua família, e agora em vista de uma simples pergunta revelava verdades que ele nem imaginara estarem ainda presentes em sua mente. Mas tinha que admitir para si mesmo que era tão fácil simplesmente falar com ela. Era tão fácil conviver com ela. Era tão fácil desejá-la. Repreendeu-se mais uma vez ao perceber esses pensamentos invadindo sua mente. Não queria manchar a memória de sua esposa que ainda pairava em sua mente, mas não podia negar os desejos que afloravam em sua pele toda vez que estava perto dela, toda vez que ouvia a voz dela, toda vez que via o sorriso dela.
Ele continuou a caminhar e agradeceu por ela não ter perguntado mais nada, possivelmente estava surpresa com a reação dele e com a confissão dele. Mas logo eles estavam finalmente chegando em casa, antes mesmo de entrarem ele ouviu a doce voz dela soar atrás dele mais uma vez.
– Sesshoumaru-sama, iremos treinar hoje? – ela perguntou.
– Não, hoje não Rin. – respondeu ele subindo os poucos degraus da escada.
Rin entrou na casa também, estava aliviada que não treinaria naquele dia, poderia simplesmente descansar, seria relaxante.
Enquanto eles acabavam de chegar em casa, na mesma taverna onde passaram em busca do ferreiro, o homem que estava nas sombras indagando sobre Sesshoumaru e sua acompanhante recebera uma visita. Um novo capanga aparecera e passando por trás da mesa e das cadeiras, chegou até o lado do seu chefe.
– Mestre Hakudoushi… – ele chamou, já ao lado do dito cujo.
– O que conseguiu? – Hakudoushi perguntou sem sair das sombras.
– Nós conseguimos a localização exata dele… ou melhor… dela. – o homem falou.
– O que você disse? – Hakudoushi ressaltou pensando não ter ouvido o comentário dele direito.
O homem aproximou-se do patrão e sussurrou-lhe algo ao ouvido.
– Como! – Hakudoushi pareceu duvidar da informação que acabara de receber.
– Está certo senhor… nós temos certeza que é ele. – confirmou o homem.
– MALDIÇÃO! – toda a taverna pôde ouvir o grito de Hakudoushi pouco antes de ele virar a mesa onde estavam os copos dele e de seus parceiros. – Eu não acredito numa coisa dessas!
– Mestre… acalme-se. – disse o homem que passara a informação.
– Achem a porcaria desse lugar! Amanhã mesmo eu vou atrás dele! – bradou Hakudoushi.
– Mas mestre… ele está com o… – ele não pôde terminar de falar pois fora interrompido mais uma vez por Hakudoushi.
– Não me interessa se ele está ou não com o imperador ou com a mãe dele, dane-se o idiota que ousar se meter no meu caminho! Achem esse lugar infernal até amanhã, ou mato todos vocês. – ele dessa vez puxou a katana, presa a sua cintura e apontando a ponta dela para o olho esquerdo do homem que recuou assustado.
– S-sim, mestre. – o outro disse ainda recuando.
Num breve movimento Hakudoushi guardou a espada novamente na sua bainha e virou-se para sair do local.
– Venham! – ordenou aos homens que estiveram acompanhando-o, excerto o que acabara de lhe trazer a informação.
Todos os outros homens que estavam no caminho se retiravam para que ele passasse, logo ele tinha alcançado as ruas. Não podia acreditar no que acabara de ouvir, aquilo era simplesmente inaceitável. Ele passava praticamente atropelando a todos que estavam transitando calmamente no local.
Enquanto ele tentava atropelar a toda a cidade, Sesshoumaru estava em sua casa, cortando toras de madeira calmamente, quando Rin apareceu por trás dele evitando se machucar com algum dos pedaços de madeira que voavam para todos os lados.
– Sesshoumaru-sama? – ela o chamou e ele deteve o próximo golpe que daria na tora de madeira. Sem esperar por resposta dele Rin continuou a falar. – Eu vim avisar que vou dar uma saída, tudo bem? Como avisou que não vamos treinar hoje eu pensei que poderia…
– Pode ir, Rin. – ele avisou voltando-se para terminar de cortar os pedaços de madeira, antes que Rin se virasse para sair ele desferiu mais um golpe com o machado em mãos e partiu mais uma tora ao meio.
Alguns pedaços de madeira voaram ameaçadoramente em todas as direções, até mesmo na direção de Rin, ela já tinha dado as costas e provavelmente a atingiria embora não fosse fazer o mínimo estrago com aquele tamanho, Sesshoumaru virou-se na hora que o pedaço alcançou a mulher e sem que ela soubesse, ele viu quando ela desviou dele mesmo de costas. Rin continuou apenas a andar como se nada tivesse acontecido, crente de que Sesshoumaru estava no momento de costas preparando-se para partir ao meio mais uma das toras de madeira. Sesshoumaru encarou-a por um tempo observando-a desaparecer ao entrar mais uma vez na casa, como ela conseguira fazer aquilo? Como conseguira simplesmente desviar de um ataque vindo das costas, sem ao menos ver o objeto? É claro, poderia simplesmente ter ouvido o som do pequeno pedaço de madeira cortando o ar, mas aquilo era praticamente impossível para uma simples principiante.
Ele voltou a atenção para as toras de madeira restantes à sua frente, devia esquecer aquilo, não podia se tratar de nada muito importante pelo visto, ou pelo menos assim tentava se convencer.
Rin saiu pela frente da casa adentrando a floresta por uma trilha já conhecida muito bem por ela e por seu mestre, queria descansar e não tinha idéia melhor para isso do que um belo banho de rio. As águas do rio perto dali eram tão cristalinas e tão convidativas que ela não negava a chance de relaxar entre suas águas. E além do que parecia que ninguém ia até lá além dela mesma e de seu mestre, quando precisava de mais água. Demorou um certo tempo para que chegasse até lá. A casa de Sesshoumaru realmente ficava longe de tudo e de todos, mesmo estando no meio da floresta parecia ficar longe desta também. Mas depois da longa caminhada ela sorriu ao ver as águas correntes e cristalinas mais uma vez. Correu até a margem do rio, tirou o laço que prendia seus longos cabelos e despiu as numerosas camadas de seu kimono, até estar totalmente desprovida de roupas para poder finalmente entrar na água.
Ela nadava de um lado a outro do rio, sendo levada eventualmente pela fraca correnteza, aproveitando aquele passatempo relaxante. Enquanto estava nadando lembrou-se que esquecera a sua katana em casa, mas provavelmente nada lhe aconteceria, não era a primeira vez que ia até lá sozinha. Obviamente que Sesshoumaru jamais a seguia quando ela ia banhar-se.
O tempo passava tão rápido quanto o vento numa tempestade, ela sequer percebeu que estava na hora de voltar, o sol já estava alto no céu, era hora do almoço, mas não ligou muito para isso, ou sequer percebeu que o tempo passara tão rápido. Ao contrário dela, Sesshoumaru sabia exatamente que horas eram, e sabia que Rin deveria ter voltado para casa algum tempo atrás, a demora da mulher o preocupou, talvez algo lhe tivesse acontecido e ele não saberia o quê.
Rapidamente armou-se de sua katana e seguiu floresta adentro em busca da jovem. Andou por várias trilhas pensando onde ela poderia ter se metido afinal. Não deveria ter voltado para a cidade, ela mesma relutava em fazê-lo, então poderia estar perdida na floresta, machucada talvez. Esse pensamento apenas o deixou mais apreensivo, o porquê ele nem sequer imaginava, mas não queria que nada acontecesse a ela, era difícil de admitir para si mesmo, mas agora ela era a sua família… e por vezes pensava que poderia realmente ser mais que uma aprendiz. Praguejou mais uma vez por seus pensamentos inadequados para dado momento, ele deveria apenas zelar pela proteção de sua aprendiz onde quer que ela estivesse naquele momento.
Depois de certo tempo andando sem direção certa ele ouviu… jurou ter ouvido a voz dela, mas aquele breve momento não demonstrava nenhum medo, pânico ou nada do gênero, ao contrário, a voz dela estava ecoando fracamente pela floresta com um tom acalmador e tranqüilo. Ele parou para ouvir melhor e ter certeza de que a floresta não queria pregar-lhe nenhuma peça, tão pouco seus ouvidos, e dessa vez teve certeza, era a voz dela. Ele aproximou-se cautelosamente do lugar de onde provinha a voz que ouvia, aguçando sua audição para qualquer som a mais. Ao se aproximar mais e mais começou a escutar melhor aquela doce voz, e ela estava cantando… uma voz que se espalhava por todos os lados ao som de uma linda melodia. Ele finalmente chegou ao lugar de onde se originava tal voz, e usando de uma árvore próxima como escudo ele observou o lugar onde ela estava.
Estava nadando na direção oposta da margem onde ele estava. De costas para os olhos dele. Ele parou para observá-la, a voz dela estava mais audível agora, e parecia encantá-lo. Não tinha como negar sua atração por ela. A voz dela o atraía, os olhos dela o atraíam, o sorriso dela o atraía, a beleza dela o atraía… agora mais presente que nunca. Não podia negar o que estava sentindo ao vê-la daquele jeito, parcialmente escondida pelas águas do rio, os cabelos espalhados pela superfície da água, dançando junto ao som da correnteza. Viu-a levantar-se em meio às águas, ainda de costas para ele. A água atingia um ponto mais baixo que a sua cintura, os cabelos estavam agora junto ao corpo todo molhado e atingiam o meio das costas, observou-a levantar os braços e passar as mãos pelos cabelos, juntando-os e enrolando-os como se quisesse fazer um coque. Ele pôde observar as curvas bem definidas de sua cintura, ainda de costas fez um breve movimento a fim de virar-se, tinha que atingir a outra margem, onde estavam suas roupas e onde ficava a trilha para voltar para casa. Quando ela fez apenas a menção de virar-se Sesshoumaru voltou a esconder-se atrás da árvore e dos arbustos, negando a si mesmo a visão que desejava ter tido.
Ele permaneceu parado encostado ao tronco da árvore, fechou os olhos tentando controlar à seus próprios instintos e impulsos. Ela deveria estar agora nadando até a margem onde ele estava e vestindo as roupas mais uma vez, sem olhar para trás e antes mesmo que ela pudesse alcançar a margem e sair da água ele tinha partido dali voltando para sua casa. Afinal, ela não parecia estar em perigo.
– "Não pode pensar nela desse jeito…" – durante a caminhada de volta, ele tentava convencer a si mesmo de que o que estava sentindo era errado. – "Não pode…"
Por que não? Era uma outra voz que se pronunciava em sua mente, por que não poderia desejá-la? Vivera durante anos à sombra do pensamento de sua esposa falecida, por que não poderia voltar a viver? Ele reencontrara o que precisava, ela o incentivara a voltar a ensinar, ela o incentivara a voltar a lutar, ela o incentivara a voltar a viver, por que não poderia desejá-la como um homem deseja a uma mulher? Não, não tinha nada de errado nisso, mas mesmo assim não se sentia bem para tal. Talvez apenas seu ego estivesse no caminho… nada mais… pois ela estava ali diante dele durante esse tempo e ele não fizera nada… precisava pensar um pouco, precisava espairecer…
Quando menos esperou já estava em sua casa, tirou a katana presa à cintura e seguiu para seu quarto, tentando deixar a sua mente vazia, era melhor não pensar em nada por enquanto… deixaria as coisas se acalmarem, como sempre fazia.
Antes mesmo que ele esperasse, ela já estava chegando em casa, anunciando sua volta ao abrir a porta de entrada.
– Sesshoumaru-sama, estou de volta. – ela disse para o vento, imaginando que ele estivesse dentro de casa.
Ele saiu do quarto aparecendo no corredor, diante dela, a uns três metros de distância. Ele não falou nada, apenas observou-a de cima a baixo, notando os cabelos ainda soltos, provavelmente para que secassem mais rápido.
– Desculpe pela demora, Sesshoumaru-sama, perdi a noção do tempo. – disse Rin sorrindo como sempre fazia.
Aquele sorriso mais uma vez… aquela voz… aquele corpo…
– Deveria ter voltado antes do meio-dia. – ele disse dando as costas para ela, tentando evitar que certas imagens retornassem a sua mente.
– Eu sei, sinto muito… – ela disse. – Mas não se preocupe, vou preparar a comida para o almoço.
– Eu não vou querer… – ele disse. – Almoce sozinha, vou sair agora, devo voltar antes do anoitecer.
– Ahn… sim, Sesshoumaru-sama. – ela disse estranhando a atitude dele, mas logo percebeu que ele carregava consigo a sua katana. Provavelmente planejava treinar sozinho.
Ele costumava fazer isso muitas vezes, principalmente no começo do treinamento dela, mas à medida que o tempo ia passando ele parecia querer ficar mais tempo perto dela, embora quanto mais tempo eles passassem juntos, mais ele parecia querer se afastar, Rin não entendia o porquê de tais atitudes, mas não questionava, mesmo querendo que ele se aproximasse mais ao invés de afastar-se. Aquele dia tivera sido um belo passo pelo que ela imaginava, ele falara com ela sobre seu filho, e não costumava fazer muito isso, na verdade, nunca fizera antes, nenhuma palavra sobre o filho ou a falecida esposa. Ela sorriu indo preparar a sua comida enquanto ele saía pelos fundos da casa.
A voz dela ainda ecoava em sua cabeça, a cada passo que dava floresta adentro ele podia lembrar-se dela cantando enquanto nadava no rio momentos atrás, podia lembrar-se de cada curva e cada movimento do corpo dela. Ele não podia negar que ela não saía de sua cabeça, não tinha como evitar aquilo, era mais forte que ele… de certa forma pareceu irônico, ele, um dos grandes samurais de sua época se dando por vencido por pensamentos e desejos que não lhe saíam da cabeça. Sorriu consigo mesmo e de sua ironia. Andou por um bom tempo pela floresta, até embrenhar-se o suficiente para não ser achado, e era o que menos queria naquele momento, ser perturbado. Precisava colocar as coisas em sua cabeça em ordem. Precisava recuperar o seu autocontrole. Achou que se ficasse mais algum tempo dentro daquela casa olhando-a degustar a sua refeição, não suportaria ficar mais tempo longe dela, e antes que algo acontecesse achou melhor parar e refletir, como fazia grande parte das vezes.
O dia ia passando lentamente, o sol parecia não querer sair do lugar no céu, isso só costumava acontecer quando ela desejava revê-lo o quanto antes, o tempo parecia jogar contra eles, ou pelo menos contra ela, já que não sabia o que se passava na cabeça dele. Ela passou grande parte do tempo livre deitada em seu quarto, apenas observando o teto de madeira deste e percebendo que a casa sendo dele parecia emanar a mesma fragrância que ele quando estavam próximos, tudo ali o lembrava, devia admitir que parecia ter o estilo dele, simplesmente silenciosa e monótona. Respirou findo ainda fitando intensamente o teto, sabia que ele voltaria perto do pôr do sol, ele nunca voltava depois de anoitecer.
Quando ela finalmente se deu conta do passar do tempo, o sol já estava se preparando para desaparecer no horizonte, sem conter sua ansiedade resolveu esperar por ele na entrada da casa, ajoelhou-se na madeira fria e dura da varanda e esperou apenas ouvindo os sons silenciosos da floresta.
O sol finalmente desaparecera e a lua brilhava forte sobre o manto negro da noite, mas não havia nenhum sinal de Sesshoumaru ainda. Rin já estava ficando cansada de esperar, mas não jantaria antes que ele retornasse. Ela já havia preparado a comida deles algum tempo atrás, estava tudo posto na mesa, mas ele parecia não querer voltar, ou alguma coisa poderia ter acontecido a ele. Ela riu do próprio pensamento.
– Sesshoumaru-sama em perigo? – comentou consigo mesma. – Realmente ele deve não querer voltar ainda.
A possibilidade de ele ter se perdido na floresta era simplesmente inadmissível, ele conhecia aquelas trilhas com a palma da mão, e um pouco mais. Estava ficando mais tarde, mas não tinha nenhum sinal dele ainda. Ela devia admitir que estava realmente preocupada, mesmo não havendo precisão disso, tendo ele saído com sua katana.
Ele já passara realmente muito tempo longe de sua casa, já estava tarde demais, a lua já se erguia alto no céu indicando o tempo que passara rápido demais e tarde demais. Deveria ter voltado antes do sol se pôr, mas não conseguira, não conseguira organizar seus pensamentos direito, então, imaginando que se voltasse tarde demais ela estaria dormindo, o que o impediria de vê-la e complicar ainda mais a sua cabeça, ou talvez concertar tudo de uma vez, ele parecia só não perceber isso. Andava pelas trilhas já há muito conhecidas, até mesmo se fosse cego saberia por onde ir sem precisar guiar-se por lugar algum, dificilmente as trilhava durante a noite, mas naquele dia fora preciso, fora imposto por ele, como sempre. A cada passo que dava desejava recuar, não queria correr o risco de encontrar com ela, mesmo estando certo de que ela estaria dormindo.
Não demorou muito mais até finalmente avistar a sua casa no meio das árvores, mas certamente não desejava ter encontrado-a nem tão cedo. Pudera ver de longe que Rin estava deitada no chão da entrada, encoberta por um fino lençol branco, com os longos cabelos negros soltos, caindo por cima do rosto. Presumira que ela deveria ter esperado por ele ali mesmo.
Tudo que tinha decidido acabara de ir por água abaixo, mas pelo menos agora decidiria de uma vez o que queria para si… uma vida antiga, ou uma nova vida…
Aproximou-se cauteloso dela, ela não poderia ficar dormindo ali o resto da noite ou provavelmente ficaria doente, teria que arrumar algum jeito de levá-la para dentro de casa, decidiu por chamá-la para que ela mesma o pudesse fazer. Subiu os pequenos degraus da entrada e aproximou-se do pequeno corpo dela, ajoelhando-se ao seu lado. Ele fitou cada detalhe do rosto dela, os olhos fechados tranquilamente, a boca ligeiramente entreaberta, e uns fios de cabelo que insistiam em atrapalhar-lhe a visão. Sem conter mais os próprios impulsos, levou uma das mãos até o rosto dela, tirando os fios de cabelo da frente com um movimento leve. Com esse simples toque percebera a maciez da pele clara dela. Depois de reter os fios de cabelos atrás da orelha dela, deslizou os dedos levemente por sua pequena e delicada face até alcançar-lhe o queixo, subiu a mão até que seus dedos pudessem delinear os finos lábios rosados. Ela parecia tão calma dormindo, realmente assemelhava-se a um anjo, não era alguém que deveria estar aprendendo a lutar com espadas, era um ser que para ele fora simplesmente intocável durante meses… e agora percebera o quanto aquele anjo estivera tão perto de suas mãos sem que ele percebesse… não poderia ficar mais tanto tempo longe dela, permaneceu observando seu rosto com a expressão serena, e sua mão sobre a face dela, sentindo-a… quando menos esperou ou sequer percebeu, os olhos dela se abriram vagarosamente, indicando a sonolência. Ela encarou-o e percebeu que ele acariciava seu rosto, a cor rubra tomou conta de sua face e ela rapidamente se levantou, fazendo a mão dele sair de seu rosto. Ela permaneceu sentada na frente dele, começando a falar sem parar, parecia achar que ela fizera algo errado.
– Ah! Sesshoumaru-sama…! Gomen nasai! Eu… eu… eu estava o esperando e acabei dormindo aqui mesmo. – ela explicou-se rapidamente e corava mais ao perceber que os olhos dourados e penetrantes dele centravam-se nos movimentos de sua boca. – Eu… sinto muito por isso…
Sesshoumaru não ouvia uma só palavra dela de forma coerente, a medida a boca dela se movimentava podia apenas ouvir a canção que ela entoara sem saber de sua presença, seus olhos não conseguiam desviar dos lábios dela, pareciam tão atraentes a cada movimento para proferir a próxima palavra. Esquecendo-se completamente do autocontrole no qual treinara toda a tarde e até mesmo a noite, aproximou-se lentamente dela, percebeu que a garota ficara sem reação, mas ela não hesitava, e tão pouco ele hesitaria naquele momento.
Apenas fechou os olhos ao sentir o gosto doce dos lábios rosados dela. Ela parecera meio assustada de início, mas fechou os próprios olhos pensando que aquilo poderia ser um sonho e ela preferiria não acordar nem tão cedo, ele percebeu quando ela entreabriu os lábios para poder aprofundar o beijo, e fez o que o convite mandava. Não soube como pudera resistir por tanto tempo, enganando a si mesmo e a seus sentimentos, os quais pensava não mais existir, ela o fizera ver que apenas estavam escondidos demais para serem achados. Ele não podia mais controlar-se, estava lançado à sorte, ela era tudo que ele estivera desejando por todos aqueles anos e simplesmente não percebera. Rin não podia esconder sua ânsia por aquele momento, estava retribuindo o beijo da mesma forma, parecia que a falta de ar não importava para eles, apenas as bocas um do outro eram suficientes para suprir suas vidas. Sesshoumaru levou sua mão direita até o pescoço dela, puxando-a cuidadosamente para junto de si, ele sentia o toque de ambas as mãos dela em cada lado de seu rosto, abandonou a boca sedenta dela para beijar-lhe o pescoço e descer até a curva entre este e o ombro direito. Cada parte do corpo dela parecia exalar um cheiro e um gosto diferente, ele teria que tê-la por completo, queria conhecer cada ponto e cada curva de seu corpo, levantou a mão esquerda até o ombro dela, colocando-a por baixo do pano do kimono simples que ela usava, começou a escorregar a mão pela extensão de seu ombro, afim de despir aquele lado do corpo, mas de repente ele pôde sentir algo marcado no corpo dela, parecia uma cicatriz… uma cicatriz. Ele parou de beijá-la no pescoço para poder observar melhor a tal cicatriz, era realmente muito grande, devia ter uns 20 cm, inclinada, bem acima do peito direito. Por um momento ele pareceu estarrecer…
– Rin, que cicatriz é essa? – ele perguntou.
Ela rapidamente percebeu o porquê de ele ter parado do nada e afastou-se, cobrindo a cicatriz com o kimono.
– Não é nada Sesshoumaru-sama! – ela disse levantando-se, parecia assustada.
Pela primeira vez ela se viu encarando o olhar frio de Sesshoumaru, ele levantou-se também, ela havia dado uns cinco passos para trás na direção da porta, Sesshoumaru continuava parado, ou quase isso… mas não se movida do lugar.
– Tem certeza de que não é nada? – ele perguntou mais uma vez.
– Tenho sim. – respondeu ela.
De repente Sesshoumaru fez um movimento rápido com a mão direita, e quando Rin menos percebeu estava segurando entre as duas mãos uma adaga que fora lançada exatamente no meio do seu peito esquerdo.
– Mas o que… – ela percebeu o erro que cometera, ainda segurava a adaga entre ambas as mãos.
– Vai dizer-me que foi sorte de principiante? – dessa vez ele foi sarcástico com ela. E aproximava-se dela.
– Sesshoumaru-sama, eu posso explicar… – ela tentou falar com ele.
– Vai explicar-me por que mentiu dizendo que nada sabia da arte com espadas? Fantasma Negro? – ele foi mais irônico ainda e aproximava-se mais.
Dessa vez ele parecia realmente ameaçador, Rin encostou-se na parede.
– Meu nome é Rin! – ela insistiu e lágrimas se formaram em seus olhos.
– Você é o Fantasma… você é o samurai assassino… – ele acusou-a.
– Por favor, Sesshoumaru-sa… – ela não teve chance de terminar a frase.
– Você mentiu pra mim! – ele foi ríspido e fez questão de frisar bem a palavra "mentiu". – Todo esse tempo, eu achava que você tinha habilidade… mas na verdade você deveria estar me dando algumas dicas, não é mesmo, Fantasma? Vi seus passos três meses atrás, vi seus golpes de sorte, eu a aceitei depois de cinco anos sem aprendizes… e você mentiu pra mim…! Eu a aceitei na minha casa!
– Sesshoumaru… – ela não continha mais as lágrimas.
– Quero você fora da minha casa antes do meio dia de amanhã, entendeu? – ele passou direto por ela e foi até a porta, Rin tentou segurá-lo.
– Deixe-me explicar… – ela tentou convencê-lo, e mais uma vez ele lhe lançava aquele olhar frio e sem vida.
– Não me toque. – ele foi direto.
Rin soltou a manga do kimono dele e ele entrou em casa batendo com força a porta corrente. Quando estava no meio do corredor, ouviu a voz dela falar do lado de fora, praticamente gritando para que ele a ouvisse.
– Eu queria ser apenas Rin! Só Rin, não um assassino que as pessoas estão atrás, ou para disputas ou para matar-me! Eu queria apagar isso do meu passado! Será que foi um erro tentar esconder alguém que eu não queria ser! – ela estava agora sentada encolhida no chão, com o queixo apoiado nos joelhos junto ao corpo. – Eu nunca queria ter sido esse de quem estão atrás… mas foi o único modo que achei de fazer justiça! Naraku matou toda a minha família quando eu tinha só 12 anos… eu jurei vingar-me dele, ele não devia ter feito aquilo… ele matou a minha mãe que estava grávida, meu pai e meu irmão mais novo… o que esperaria de mim! EU OS VI MORRER! EU TINHA QUE FAZER ALGUMA COISA! E fiz… mas agora eu não quero mais ser essa pessoa… eu não quero essa vida… eu queria ser apenas como qualquer outra mulher, com uma família, uma casa e filhos… mas essa marca maldita vai sempre me fazer lembrar de meu passado e do que eu não posso deixar de ser… você não pode me culpar. Pelo menos eu tive coragem para tentar mudar… eu não quero mais ser o Fantasma, eu quero voltar a ser apenas Rin… será que é pedir muito! O fato de eu ter sido o Fantasma não muda o fato de eu ser Rin.
Ela calou-se, permitindo-se chorar descontroladamente, escondendo o rosto entre os joelhos. Sesshoumaru estivera parado à porta de seu quarto escutando cada palavra proferida por ela… ela queria ser apenas Rin. Mas mesmo assim um passado não se apaga tão facilmente, ainda teriam aqueles que a admirariam e aqueles que a odiariam pelo que ela fizera, mas mesmo assim, ela tivera coragem para tentar mudar, ele tinha certeza de que aquela frase fora unicamente para ele, e tinha de admitir que estava certa, ela tivera coragem… ela tivera coragem… ela tivera… ela mentira para ele e uma mentira não se apaga tão fácil, ela o fizera de bobo ensinado-a coisas que ela deveria saber muito bem… ela era um dos melhores samurais de todo o Japão. Ele fechou a porta de seu quarto e seguiu até seu futon. Deitou-se tentando dormir, mas não conseguia, tinha alguma coisa perturbando-o, e ele sabia exatamente o que era… quem era.
Ele passou metade da noite apenas pensando no que deveria fazer… quando ele finalmente decidira mudar a sua vida, ficar com ela para sempre, descobriu a mentira na qual estava vivendo… deveria ser algum tipo de punição ou de aviso… não deveria ter mudado seu jeito. Fechou finalmente os olhos tentando por fim dormir, o cansaço falara mais alto, e a decepção também. Ele finalmente conseguiu embarcar no seu mundo escuro… no lugar onde ele não poderia ser perturbado, onde não poderia ser machucado.
"O fato de eu ter sido o Fantasma não muda o fato de eu ser Rin"
Fim do Capítulo Dois
Domo minna-san!
Cá estou eu com o penúltimo cap desse fic… bom, vcs já sabem mas vou lembrar mais uma vez, esse fic está sendo dedicado à minha amiga Mitsuki Nakao, que eu adoro muito mesmo… bjs pra vc amiga e espero q esteja gostando do fic.
Aos demais leitores, tbm espero que estejam gostando do fic, o prox e ultimo cap sairá apenas no niver dela… q eu por acaso esqueci o dia… ah… dia 8 de abril… podem esperar pra ver...
E mais uma vez, caso achem que eu mereço um review, ficarei feliz em receber e saber o que vocês estaum achando.
Kissus da Mitz-chan! Ja Ne!
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