2ª Parte – Partida Forçada
Tomoyo não acreditou. Como podia ele estar ali, ao final de tanto tempo, sem uma palavra, sem um aviso sequer. Seus olhos expandiram-se de surpresa e de mágoa simultânea. Li estava tão mudado! O ano que passara, transformara seu magro e pequeno corpo em, praticamente, um jovem alto, elegante e masculino. Tinha agora 15 anos mas a sua altura aumentara bastante. Os seus cabelos castanhos também haviam crescido e de curtos, agora tocavam-lhe os ombros e estavam presos com um pequeno elástico atrás. Apenas os seus olhos não se tinham alterado. Castanhos e brilhantes, tais como Sakura o havia conhecido.
Mas Kero interrompeu esta percepção de Tomoyo, pois sem hesitar, atirou-se para o rapaz.
- Como foste capaz! Seu estúpido! SEU…
- Não Kero!
Tomoyo conseguir agarrar a criatura a tempo, antes que as consequências fossem piores. Nesse momento, Li sangrava da sua face com um arranhão que Kero lhe fizera, sem ele sequer se ter defendido.
- Kero! Pára já com isso! Deixa o Li em paz.
- Como é que queres que eu deixe este Ranhoso em paz! Ele tem de pagar pelo que fez à Sak… – Tomoyo tapou a boca do animal.
- Desculpa lá isto, Li.
- Não tem importância… Eu até merecia – disse o rapaz com a sua voz calma. Ele só usara esta voz quando uma vez confortara a Sakura, logo após o Yukito lhe ter negado o amor que ela desejava.
Li estava muito mudado, já nem parecia o mesmo. Tão arrogante que era e agora tão calmo… era esta a opinião da rapariga mas não era a de Kero. Para a criatura, aquele rapaz tinha sido o pior que acontecera na vida de Sakura. Ele magoara-a tanto, apanhara várias Cartas que "supostamente" pertenciam à Sakura e até mesmo agora estando longe, ainda a fazia sofrer mais.
- Voltaste Li! Eu bem sabia que ias regressar. Aposto que sentiste a falta do Japão!
- Nem por isso. – foi a resposta seca do rapaz. – Vim buscar todo o meu processo escolar para Hong Kong.
- Então isso quer dizer que não estás a pensar voltar ao Japão?
- Não Tomoyo. Esta deve ser a última vez que estou aqui.
- E a Sakura? – perguntou o Kero nervoso.
- Não a voltarei a ver! – respondeu o rapaz baixando a sua face e fitando o chão. – Acho que é melhor assim.
O escusado será dizer que se Li só tinha um arranhão, agora ficou com montes deles. Tomoyo teve de fechar o Kero na sua mala para que ele não matasse ali o rapaz.
- E a Sakura? Lembraste que lhe fizeste uma declaração e não esperaste pela reposta.
- Já não espero por ela! A Sakura não me merece. Ela tem tanto para dar e eu não tenho nada. Ela merece encontrar alguém bem melhor do que eu…
- Não digas tolices Li! A Sakura gosta de ti, eu sei que gosta! Senão porque teria sentido tanto a tua ausência durante este tempo todo? Ela tem estado tão deprimida…
Syaoran olhou para a rapariga. Seria aquilo possível?
- Vais ao menos ver a Sakura, não vais? Vais falar com ela…
- Não! É melhor ela não me ver. Não tenho nada para lhe oferecer… por favor, entrega-lhe esta carta. – Tomoyo notou que as mãos dele tremiam quando lhe entregou o envelope. – Está tudo aí explicado. Espero que a Sakura algum dia me perdoe…
A rapariga viu os olhos do rapaz começarem a brilhar. Lágrimas brevemente iriam escorrer pela sua cara.
- Partirei esta tarde no avião. Adeus Tomoyo… – e despedindo-se, virou-se para que ela não o visse a chorar e prosseguiu o seu caminho. Ele queria tanto ficar mas sua mãe obrigara-o a regressar. Amar Sakura não era opção, ele tinha que voltar.
Quando Li já se tinha afastado o suficiente, Tomoyo afrouxou a sua mala e Kero conseguiu libertar-se.
- Porque raio fizeste isto? – mas Tomoyo olhava para a carta que tinha na mão. Amachucou-a e desatou a correr. Aquilo não ia ficar assim! Correu até casa da Sakura e bateu à porta com tanta força que Touya ficou embasbacado a olhar para ela quando foi abrir. Mas sem dizer nada ou esperar mais um segundo, empurrou o jovem e correu escadas acima com o Kero voando atrás dela. Não bateu na porta do quarto da Sakura, apenas abriu-a com toda a força.
- Despacha-te Sakura! Tens de ir ao aeroporto IMEDIATAMENTE!
Sakura estava deitada na cama com a sua cara vermelha, o que evidenciava que estivera a chorar de novo. Nas suas mãos tinha uma Carta Sakura, era aquela mesmo que criara há um ano atrás, quando Li Syaoran partira.
- Deixa-me só Tomoyo! – murmurou, voltando as lágrimas a nascerem-lhe nos olhos. Se estava à espera que a sua amiga a confortasse ou se retirasse, não foi isto que aconteceu. Tomoyo agarrou-lhe no pulso e obrigou-a a levantar-se.
- O Li está na cidade e vai partir daqui a umas horas. Vais imediatamente ao aeroporto!
Os olhos de Sakura abriram-se todos repentinamente.
- O Syaoran?
- Sim. Ele vai regressar a Hong Kong e nunca mais voltará. Tens de ir vê-lo.
- Mas ele não me veio ver…
Kero, que estivera calado, gritou com ânimo:
- É isso mesmo Sakura! Manda o Ranhoso lixar-se…
- Vá lá Sakura… Ele não te veio ver porque não te queria magoar. E além disso ainda lhe deves uma resposta.
Sakura olhou para a Carta que tinha na mão e apertou-a contra o seu peito, enquanto as lágrimas molhavam a sua face. Syaoran tinha sido um bom amigo, sempre presente quando ela precisara dele e mesmo quando não tinha poderes para enfrentar os desafios. E além disso… ela amava-o! E agora sabia disso.
- Diz-lhe que não queres que ele parta… Diz-lhe o que realmente sentes…
Amor! Desta vez ele não lhe podia escapar por entre os dedos. Se Li partisse, ao menos que o fizesse sabendo a resposta que ela tinha guardada para ele. Um ano passara e o amor em vez de diminuir, ainda aumentara mais. Olhou de novo para a Carta e saiu do quarto a correr. Se Touya ficara admirado por ver o comportamento da primeira rapariga a entrar, então vocês conseguem imaginar como é que ele ficou ao ver a sua irmã descer as escadas numa correria doida, a abrir a porta, a sair e a fechá-la violentamente sem dizer mais nada.
Sakura correu, correu, correu. Nada a podia parar… tinha de chegar ao aeroporto antes que Syaoran partisse. Tinha de lhe dizer o quanto queria que ele ficasse…
Fim da 2ª Parte
