Capítulo II – Depois de tudo
Mey-enn acordou tarde. Já passava das nove horas da manhã, e ela ainda não começara a trabalhar. Seria punida pelos servos de Sesshoumaru; eram as regras do castelo.
Ela se levantou, silenciosamente, vestindo o quimono tranqüilamente. Sesshoumaru estava à janela observando as montanhas ao longe. A garota se aproximou por trás e o abraçou. Ele segurou a mão dela, sério como sempre.
— Se vista – disse ele. – De verdade. Vou te levar para sua casa.
Mey-enn pôs a roupa toda, levemente zonza. Chegou perto do youkai e se encostou nele.
— Já vamos? – perguntou.
— É, vamos – disse Sesshoumaru, a pegando no colo e pulando a janela.
Era incrível como Sesshoumaru confiava nela. Não trazia espada ou arma, qualquer que fosse, a não ser as com as quais nascera. Mey-enn tinha uma adaga e arco e flechas, podia acertá-lo quando quisesse. Mas ela não queria.
— Vamos nos ver de novo? – perguntou ela, andando junto ao youkai.
— Não depende de mim – disse ele. – Depende do destino.
— E você sabe o que ele diz?
— Ninguém sabe, até ser vítima dele.
Mey-enn sorriu e tocou a adaga. Muitas vezes fora advertida a usá-la assim que algum youkai se aproximasse. E agora ela andava ao lado de um. Apaixonada.
— Você não sabe como é estranho para mim ter-me entregue a um youkai.
— Arrependida?
— Feliz – ela aspirou suave e normalmente o cheiro de Sesshoumaru. – Como nunca estive antes.
— E garanto que não tens idéia do que é para mim conversar, sem o ímpeto de matar, com uma humana.
— Eu sei – murmurou ela, já perto do lago ao lado do vilarejo. – Não quero ir embora, mas sei que, no fundo, preciso ver meus pais, as outras pessoas que eu amo. Eu prometo que volto – ela olhou para o lago, plácido apesar da brisa leve. – No máximo em três meses, senhor.
— Estarei te esperando – ele olhou para o vilarejo e então para a cicatriz no pulso dela. – Não se esqueça que ninguém pode saber o que aconteceu, Mey-enn. – Ele se calou abruptamente, surpreso por chamar a menina pelo nome que tinha.
— Ninguém saberá, Sesshoumaru – ela o beijou, rápida porém languidamente. – Prometo.
Mey-enn andou até o vilarejo, e, pouco antes de ser vista pelos aldeões, se virou. Sesshoumaru já havia ido. Ela se virou novamente e sorriu. Voltara ao local em que nascera. Ao local em que fora concebida. Ao local onde descobrira a existência do castelo do Senhor do Oeste, e de onde fugira para encontrar o seu destino, escondido entre sedas finas e cabelos argênteos.
Entrou no vilarejo sob um horda de comentários. Ouvia os homens do vilarejo murmurarem:
— Olhe a marca.
— Que marca?
— A Lua Crescente, símbolo do Senhor do Oeste.
— Quem é ela?
— Filha do hanyou.
— Explicado, é a filha de um bastardo do antigo senhor do Oeste.
— Mas o Senhor Inu-Yasha não usa esse símbolo.
Mey-enn não se preocupou com eles. Andou até a cabana de seu pai, chefe atual do vilarejo, e o chamou. Inu-Yasha foi, junto a Kagome, ver a filha fugida. Os três tinham rostos radiantes.
— Filha! – exclamou Kagome.
— Olá mamãe. – O sorriso satisfeito no rosto da menina denunciava algo de bom acontecido.
— Mey-enn, aonde esteve? – perguntou Inu-Yasha.
— Andando, papai.
— Por um ano?
— É, qual é o problema?
— Nenhum. Tome um banho e venha jantar.
Mey-enn foi até o lago, frio naquela noite quente. Tirou o quimono e o dobrou, pondo-o sobre uma pedra. Nos seus cabelos, o cheiro de sândalo se mesclava ao cheiro provocante de Sesshoumaru.
"Sesshoumaru..." – ela desfez a trança. – "Meu amor. Só meu."
A garota mergulhou no lago, uma sensação prazerosa se espalhando pelo corpo. A água lavava, lentamente, o cheiro do youkai de seu corpo. Isso ela não queria, mas era necessário. Inu-Yasha tinha um bom faro, podia sentir o cheiro de Sesshoumaru. Se o fizesse, ela estaria morta.
"Sesshoumaru..." – ela tocou a cicatriz em forma de Lua. – "E se nos descobrirem? Não, eles não podem, ninguém pode nos descobrir. Seria o seu fim, meu amor... Não quero que se sinta mal."
Mey-enn mergulhou novamente e ficou se lembrando da noite perfeita que tivera.
