Uma vez nua, frente a frente com o homem que amava, Mey-enn temia se revelar por completo. Estava encolhida contra o corpo do youkai, os cabelos até o quadril a cobrindo quase em sua totalidade. Ele, sem pudores, a descobriu. Ela não se desvencilhou dele. Tinha medo. Sonhara demais com aquele momento, mas era só sonho... Sonhos não a tornavam pior.
— Vamos, menina, você pediu por isso, e agora vai me negar o que conseguiu fazer despertar?
— Perdão, senhor. Eu nunca fiz isso.
— Pensa que não sei? Conheço você, Mey-enn. Te vi nascer. Acompanho todos os seus passos, desde seus treze anos. Eu sei que você nunca se entregou a um homem. – ele beijou o pescoço da menina, descendo suavemente até os ombros e a olhando em seguida. – E há certos atos dos quais nos arrependemos, mas não sem realizá-los. Você quer, e eu também. Qual é o seu problema com relação a isso?
— A sua honra.
Ele riu, acariciando os longos cabelos dela. Ela o olhou com curiosidade.
— Se eu me preocupasse com minha honra, já te teria matado, há muito tempo. Quando você começou a despertar esse sentimento, esse desejo, em mim.
— Então... Não está preocupado?
— Não, não estou. E esperar é sempre bom, mas essa espera já está me cansando. Não há mais como voltar atrás.
Ela sorriu, da mesma maneira que sorria todos os dias. Ele tocou os ombros dela e sentiu a maciez daquela pele sob seus dedos, aparentemente em efervescência. Ela estava tão quente... E tão atraente... Não mais como uma garota de dezesseis anos, mas como uma mulher, de verdade, pronta para se deixar levar por um sentimento que ele próprio, Sesshoumaru, considerava indigno.
— Não se preocupe – murmurou ele, ao ouvido dela. – Você se acostumará com isso. Vamos, me mostre o que você tem sob os cabelos. Eu não consigo enxergar coisa alguma.
Mey-enn se desvencilhou dos braços dele e, sentindo a pele queimar, a garota afastou os cabelos dos seios e das costas, enrolando-os em um coque improvisado que ficou segurando, no alto da cabeça. Ele a observou longamente. Era muito bonita. Os contornos delicados, bem definidos, quase irreais. Ele se aproximou e tocou a cintura dela, fazendo-a estremecer e arrepiar-se toda.
— Não tão rápido – murmurou ela, soltando os cabelos.
— Rápido? – ele subia a mão pelas costas dela, com delicadeza e levemente, e sentia os arrepios convulsivos que percorriam o corpo da menina. – Rápido, Mey-enn? Não, não é rápido. Está sendo até lento. Estou cansado de esperar. Eu já tenho em minha mente a imagem de seu corpo, você já sabe os caminhos do meu. Por que esperar?
Mey-enn resolveu não insistir. Deixou que a mão esguia dele percorresse cada curva de seu corpo. Ela quisera aquilo. Ela pedira. Ele apenas cedera. E ela aceitara a concessão.
Sesshoumaru sentia a respiração ofegante e rasa de Mey-enn, e ansiava por um pouco mais. Mas a garota era humana, ele podia feri-la, e isso, ele podia sentir, era uma coisa que não estava em seus planos. Ele chegou próximo a ela, fazendo os dois corpos se colarem. A janela fechada tinha as cortinas também cerradas, e nenhum som entrava ou saía.
Os dois se beijaram, não como namorados, mas de um jeito mais ávido, como amantes de verdade. Ele sentia seu corpo pedir por mais, mas, e ela? Tinha medo por ela, por ele próprio, pelo provável prazer que ela lhe proporcionaria. E se ele gostasse? Como ia sair depois de perto dela? Essas perguntas não eram muito adequadas ao momento, mas ele não podia deixar de fazê-las.
— Sesshoumaru – Mey-enn o enlaçou e colou seu rosto ao corpo do youkai. – Eu acho que estou pronta...
Ele concordou com a cabeça, deitando-a no futon que preparara para aquela noite. Deitou-se ao lado dela e perguntou, enquanto cobria-se e a ela com a colcha:
— Você tem certeza disso?
— Mais do que nunca – murmurou ela firmemente.
— Então...
Ele tocou a face dela, as mãos firmes, o corpo gritando por algo mais. Ele tinha que, porém, ser calmo, gentil, até. Se deixasse o desejo controlá-lo, seria como condená-la. E ele não queria isso. Afinal, era primeira vez dela. Ele a encarou e ela retribuiu o olhar, firme. Ele parou de hesitar.
Uma vez sobre ela, deixou que a garota se acostumasse com o pouco peso do corpo do youkai sobre o seu. Ela o enlaçou, puxando o rosto dele para perto. No momento em que os lábios se tocaram, ele rompeu a barreira. Sentiu o corpo da menina quente se esfriar repentinamente e o grito de dor dela saiu abafado por causa dos lábios de Sesshoumaru pressionando os seus. Duas lágrimas escorreram pelo rosto dela, e ele parou de beijá-la.
— Me desculpe – murmurou ele. – Não quis te machucar.
— Não se preocupe – respondeu ela, os cabelos do youkai caindo sobre seus seios e pescoço. – A dor vale a pena. – Ele a abraçou, compadecido, de certa forma, o corpo agora fervente dele entrando em choque com a temperatura levemente baixa de Mey-enn. – Sempre valerá.
Ela apertou o abraço, comprimindo o taiyoukai contra si, deixando-o ir mais fundo, fingindo não sentir o pouco de dor que a incomodava. Mas não era assim, tão incômodo. Uma vez acostumada, não teria problemas.
— Mey-enn, humana, por que você virou minha cabeça desse jeito? – ele ainda estava ávido, mas ia devagar para não machucá-la.
— Não sei... – ela estava totalmente entregue, lânguida, voluptuosa, mais bela que nunca. E nua. – Eu acho que foi sua culpa... Eu nunca tinha me apaixonado assim. Nunca pensaria em fazer algo assim.
Ele foi mais fundo, dessa vez sem a preocupação de sempre. Seu corpo já comandava a maior parte das reações. Ela cerrou os olhos por um momento e segurou o youkai com força.
— Dói... – balbuciou ela, beijando o peito definido de Sesshoumaru, sentindo os batimentos do seu próprio coração se acelerarem, e os dele também.
— Me desculpe – murmurava ele sem parar. – Eu não posso controlar... Se acostume com isso. Por favor, se acostume.
Bom, doía um pouco, mas agora ela já sentia o prazer daquele momento. Ele parou de se aprofundar. Ela ansiava por isso. Foi o ponto máximo, e durou muito pouco. Mas foram segundos dos que mais marcaram a vida dos dois.
Sesshoumaru mal conseguia acreditar que tinha-se deixado levar por aquela garota. Mas era verdade, e ele ainda estava sendo levado, conduzido, por ela. A garota tinha um corpo que conflitava a total inexperiência de uma virgem com toda a languidez de uma amante de longa data. E esse corpo ainda não estava totalmente explorado.
— Mey-enn, Mey-enn – ele murmurava o nome dela enquanto beijava o pescoço da menina, fazendo-a se arrepiar.
— Meu amor... – ela estava tão lânguida quanto possível, mais entregue do que nunca. – Sesshoumaru...
Ele começou a descer os lábios, beijando-a até próximo à cintura, a boca ávida por mais. Ele era sempre ávido, mas nunca tanto. Talvez fosse porque ela era apenas humana. Porque sempre fora vista como uma criança que o servia. E agora já não era mais. Nem criança e nem serva. Era uma mulher, uma amante. Não a primeira, e provavelmente não a única, mas a melhor. Com certeza, a melhor.
Mey-enn tocou os ombros dele e acariciou então as costas do taiyoukai.
— No que você está pensando? - perguntou ela.
— Em você – murmurou ele, beijando-a, as presas mais pontiagudas um pouco. – Em tudo o que você me causou. No fascínio, no desejo, tudo – ele a beijou com um pouco mais de paixão. – E também pensei no que era estar finalmente aqui, com você, tornando-a minha, para sempre.
— É o que eu sempre sonhei, e agora você está tornando tudo real – ela estava ainda abraçada a ele.
Ele se deixou levar mais uma vez por aquele cheiro envolvente. Sesshoumaru tinha alguns arranhões nada profundos nas costas, e acariciava cada centímetro da garota como se esta fosse um ser raro. E, para ele, ela era.
Mey-enn, de repente, aproveitando-se da distração do youkai, virou o corpo dela, junto ao dele, se pondo em cima dele, e se sentou. Tocava o peito do taiyoukai calmamente, e, pedindo desculpas, se levantou, deixando Sesshoumaru ali, no futon, totalmente pasmo. Ela foi até suas roupas e mexeu em algum bolso dali, tirando dele um cordão de prata muito fino, tanto quanto uma linha. Era simples e muito bonito, minuciosamente trabalhado se o observador fosse capaz de enxergar.
Ela andou até o futon e pôs o colar em Sesshoumaru, que já estava sentado. Ele tocou a jóia com carinho e abraçou Mey-enn, agradecendo-a. E o mais estranho era que ele nunca agradecera tão espontaneamente uma pessoa. Ela falou, ao ouvido do youkai:
— É um presente pelo presente que me deu. Estive guardando-o há muito tempo.
— Então... Você planejava, de verdade, deitar-se comigo? – perguntou ele, pegando-a no colo.
— Sim, planejava. Mas não pensei que um dia daria certo.
— Não posso acreditar que fui vítima de um plano... – ele a olhou, se perdendo momentaneamente no sorriso que ela exibia. – Mas, se quer mesmo saber, eu já nem me importo. A única coisa que interessa aqui – ele a deitou e se pôs sobre ela, novamente – é você.
Ela sorriu enquanto sentia o youkai repetir o ritual de há pouco tempo atrás, mas sem tanta preocupação, sem tanto receio. Estava mais solto, mais belo, mais atraente. Os olhos avermelhados não lhe tiravam a beleza. Mal interferiam. Os cabelos longos se misturavam aos dela, numa mescla de prata e negro que só podia ser comparada à lua crescente num céu escuro, num lugar isolado, selvagem, inexplorado. As presas salientes mal eram entrevistas, mas Mey-enn as sentia sempre que o beijava. E não a incomodava nem um pouco saber que o ser que ela amava tinha instintos assassinos e podia matá-la assim que se desse conta que dormira com uma humana. Ela só não sabia que ele tinha plena consciência disso.
— Não saia mais de perto de mim – implorou ela para ele. – Por favor.
— A acompanharei porquanto você existir, desde que prometa ser sempre minha.
— Serei – disse ela. – Nunca conseguiria me entregar a outro, ainda que este fosse como você.
— E, mesmo que você não prometesse, eu não a deixaria – ele beijou-a no meio do seios. – Nunca.
E, pela primeira vez, de fato ele reparou nos seios da menina. Eram tão delicados quanto flores orvalhadas, e estavam arrepiados, como todo o corpo dela. Ele os tocou, com o cuidado com o qual se toca uma pétala de uma magnífica flor. Sentiu-a estremecer, e mais ainda quando ele os beijou, amando-a, perfeita, sensual, dele.
Ela o envolveu pelo pescoço, acariciando a nuca dele, uma ansiosidade quase infantil. Ele tirou os braços dela dali e, beijando-os, os pôs para baixo.
— Não me toque ali – pediu ele, deslizando a mão pelo corpo macio dela. – Há certas surpresas que eu prefiro que não presencie.
Mey-enn entendeu na hora. Era a transformação que ele temia. E ela não queria fazer o lado cão dele despertar. Fechou os olhos e deixou que a presença de Sesshoumaru a guiasse. Sentia cada toque, cada carícia, cada beijo. Já não sentia sequer um traço de medo, apenas de amor, de prazer. Ele a abraçou firme e foi mais fundo. Ela respirou bruscamente e sentiu pela segunda vez o ponto máximo do prazer que tinha a experimentar.
Sesshoumaru estava ofegante, mas ainda a beijava, num gesto quase compulsivo, roçando sua pele no corpo ligeiramente mais frio de Mey-enn. Ele ainda não explorara todo o corpo da menina, tinha muito tempo pela frente. Poderia ficar eternamente procurando todo o tipo de curva e saliência dela, e seria capaz de acariciá-los, um a um, várias vezes. E ela mal conhecia o contorno do corpo dele. Disso, ambos sabiam, mas ela não queria que ele se separasse dela. Estava tão bom como estava...
Pela terceira vez, eles chegaram ao clímax. Dessa vez, um murmúrio abafado de negação acompanhou o momento.
— Que foi, Sesshoumaru? – perguntou Mey-enn, beijando o tórax e peito dele, apreciando cada músculo em contato com seus lábios.
Ele balançou a cabeça em negação, sabendo, sim, o que acontecera. Se ele tinha alguma esperança de que ela saísse daquela noite sem alguma grande surpresa, era melhor se conformar. As chances de ele ganhar um herdeiro, agora, eram muito grandes. O controle que ele exercia sobre o próprio corpo tinha falhado.
— Não houve nada, Mey-enn – ele falou, como se nada tivesse acontecido.
Eles se beijaram mais uma vez e exaustos, caíram, um para cada lado, aninhados nos braços um do outro. O último ato de Sesshoumaru antes de adormecer foi puxar a colcha, para que cobrisse agora por completo os dois amantes.
