Saudações caro visitante...

Vamos entre, não se acanhe. Não, melhor. Dê-me apenas um momento, vou escolher uma mesa especial.

Agora sim... Entre e fique a vontade, puxe uma cadeira e aprecie o melhor que a Toca do Baco pode lhe oferecer, se no fim quiser sair acompanhado, nós não nos responsabilizamos, porém tudo que rolar aqui dentro é de nossa humilde e inocente responsabilidade.

Como disse antes, as Crônicas de Amor e Confusão são algumas one-shorts sobre alguns casais que se encontraram aqui, por isso, permitam-me apresentar-lhes a casa.

A sua direita temos um modesto bar, onde normalmente ficam os solteiros e desesperados. À esquerda a pista de dança ao lado do restaurante onde normalmente os amigos e pessoas mais animadas ficam e por fim, seguindo em frente e subindo a escada em espiral, você estará no terraço, onde normalmente aqueles que apreciam um mistério e uma situação envolvente procuram abrigo.

Como é sua primeira vez aqui, aconselho a permanecer no restaurante e na pista, você descobrirá grandes coisas ali.

Antes de começarmos gostaria apenas de lhes avisar algo importante. Essa crônica relata como um dos mais lindos casais da "Saga de uma nova vida" se formou, para aqueles que desvendaram os mistérios da Troca Equivalente, espero que apreciem essa crônica, pois ela se passa entre o capitulo 8 e 9 dessa fic. Com cenas que, diga-se de passagem, vocês nunca veriam lá.

Agora sim podemos começar, aprecie sua estadia que no fim, eu volto pra lhe ver.

A todos os leitores desejo uma boa leitura!


Crônicas de Amor e Confusão.

Capitulo 1: Ciumento eu, jamais.

Parte I.

I - Uma folga nada comum.

O sol entrava pela grande janela do quarto, fazendo-a despertar. Aishi abriu os olhos com certa dificuldade e a sonolência ainda presente, o treino do dia anterior fora realmente pesado, ainda sentia o corpo todo reclamar pelo esforço excessivo. Observou de esguelha o pequeno relógio ao lado do criado constatando que ainda eram seis e meia da manhã. Tinha que treinar; ela pensou torcendo o nariz ao lembrar-se de que teria de agüentar o mau humor do aquariano por mais um dia, já que sábado era folga, mas só o era, graças a Saori que resolvera interferir e contrariar o 'mestre' dando folga nos finais de semana a todos os cavaleiros e por fim, lhe dando algumas horas de paz com isso.

Como tinha de treinar, resolveu levantar-se rápido senão acabaria ficando sem café. Arrumou-se, colocando novamente o uniforme de amazona e terminando de dar o laço da faixa preta que usava em volta da cintura e foi em direção a sala de jantar.

-Bom dia; ela falou entrando na sala de jantar do grande templo, já encontrando a mesa posta.

-Bom dia, Srta; uma das senhoras que trabalhavam lá a cumprimentou. –Ahn! Srta Aishi tem um recado para Srta; a Sra falou.

-Pra mim? –Aishi perguntou curiosa, tomando seu lugar a mesa.

-Isso mesmo, do mestre Kamus; ela lhe entregou um bilhete.

Aishi observou com desconfiança o papel, o ultimo dialogo que tivera com o 'mestre' fora inteiro a base de monossílabos, o que será que estava acontecendo?

-"Tenho alguns assuntos pra resolver hoje, tire o dia de folga, recomeçamos na segunda"; Aishi leu com atenção. –"Ele só pode estar brincando ou doente"; ela pensou incrédula, não era normal Kamus fazer isso, ela concluiu. –Ahn! Obrigada; Aishi respondeu para a Sra que parecia esperar uma resposta.

A Sra saiu, deixando Aishi terminar o café. A amazona parecia ainda descrente quanto à inocência daquele bilhete enviado pelo mestre, mas enfim, não era da sua conta, como ele fazia questão de ressaltar a cada nova briga. Aishi deu de ombros, levantando-se.

-"Uhn! Se eu to de folga, voltar a dormir é completamente impossível, acho que vou dar uma volta"; ela pensou, voltando para o quarto, trocar a roupa de treino por qualquer outra que encontrasse no guarda-roupa.

Desde que chegara ali, Saori resolvera que na primeira folga que ela tivesse fariam compras. Nossa, nem mesmo ela imaginava como a jovem deusa poderia ficar diante de uma vitrine, resultado guarda-roupas abarrotado de coisas que variavam entre vestidos, uniformes, sapatos e outros acessórios.

Aishi parou de frente ao local observando com atenção. O dia não demoraria a esquentar de mais, antes do meio dia já estaria a quase quarenta graus, precisava de algo leve. Encontrou bem ao fundo do armário um vestido azul claro que descia a um palmo abaixo dos joelhos com alças finas.

-"Esse vai servir"; ela pensou com um meio sorriso.

II – Dia de Treinamento.

Era exatamente seis da manhã quando todos os cavaleiros de ouro se reuniram no Coliseu para treinarem, esse era justamente o dia que ninguém iria usar a arena, por isso até mesmo Kamus dera folga a Aishi, a muito contra gosto, depois de ser ameaçado de ir parar em algum dos infernos de Virgem se não deixasse de ser irritante e mal humorado quando estivesse com a jovem.

-Vamos começar logo com isso; Mascara da Morte falou impaciente.

-Certo; todos concordaram.

-o-o-o-o-

-Finalmente resolveu dar folga a Srta Aishi, Kamus? –Milo perguntou com um sorriso maroto.

-Não me enche, sei o que estou fazendo; o aquariano falou enfezado, lembrando-se de como Afrodite e Shaka haviam lhe convencido a fazer isso, no melhor estilo chantagista que os dois encontraram, dizendo que falariam com Athena pra que deixasse o Escorpião treiná-la, pois seu mau humor poderia ser contagioso.

-Uhn! Se você diz; Milo falou com um sorriso malicioso. –Mas o que você acha, será que ela aceitaria se eu a chamasse para ir a Toca do Baco hoje à noite?

-O QUE? –Kamus praticamente berrou, enquanto investia com mais vigor sobre o adversário e literalmente 'rival'.

-o-o-o-o-

-Ahn! É impressão a minha ou o Kamus esta tentando mesmo matar o Milo? – Mú perguntou para Aldebaran e Kanon que estavam a seu lado, observando a luta dos dois.

-Parece que sim; Aldebaran respondeu.

-O que será que o Milo aprontou de novo? –Kanon perguntou.

-Diria que ele apenas esta provocando o Kamus; Afrodite falou, parando de lutar com Shaka e aproximando-se dos amigos.

-Provocar? –Shura perguntou, confuso. Também se aproximando.

Agora todos os cavaleiros haviam parando de lutar e apenas observavam Milo tentar fugir quase que inutilmente das investidas de Kamus, que parecia louco de vontade de mata-lo.

-Kamus não aprende; Shaka falou balançando a cabeça.

-Tipo, do que exatamente estamos falando? –Aiolia perguntou.

-De mais um dos ataques de ciúmes do Kamus; Saga respondeu com naturalidade, deixando todos espantados, apesar de ter voltado às boas com o aquariano ele ainda não perdia uma oportunidade de provocá-lo quando o assunto era uma certa amazona de cabelos dourados.

-Nossa! Essa deve ter doido; Shura falou fechando os olhos, ao ver o aquariano fazer uma porção de lanças de gelo surgir do chão quase atingindo uma área sensível do cavaleiro.

-Ahn! Acho melhor separa-los; Mú falou preocupado, todos assentiram encaminhando-se para onde eles estavam.

Segundos depois...

-Seus irresponsáveis, estavam querendo se matar? – Afrodite berrou com os dois que pareceram se encolher diante do olhar envenenado do pisciano.

-Afinal, porque essa briga toda? –Mascara da Morte perguntou, mas arqueou uma sobrancelha ao ver o aquariano corar furiosamente.

-Previsível; Saga falou balançando a cabeça. –Vamos encerrar o treino por aqui, porque se depender desses dois, alguém acaba morrendo antes do almoço; o geminiano censurou.

-Concordo com Saga, vamos embora; Shaka falou, lançando um olhar reprovador aos dois cavaleiros.

-Isso é culpa sua; Kamus falou enfezado, ficando um pouco para trás dos outros.

-Minha, eu só perguntei se a Srta Aishi gostaria de sair comigo hoje à noite; ele falou com a cara mais deslavada do mundo.

-AHHHHHHHHHHH; todos os cavaleiros pararam fora do Coliseu ao ouvirem um grito do Escorpião, vindo da arena. Só então eles notaram a falta de Kamus e Milo, mas isso não demorou muito, pois Kamus já saia do Coliseu com uma cara de poucos amigos.

-O que foi? –ele perguntou enfezado para os outros.

-Nada; todos responderam ao mesmo tempo, vendo ele se afastar e tomar o rumo dos templos.

-O Kamus assusta até a mim desse jeito; Aldebaran falou, enquanto os outros apenas assentiam.

III – Jardim dos Deuses.

Não levara nem quinze minutos para chegar ali, antes de sair do Tempo de Athena, Aishi não tinha destino certo, mas Saori lhe falara sobre o Jardim dos Deuses, um pequeno pedaço de Elíseos que ficava próximo ao vilarejo que fazia fronteira com o santuário, era um belo lugar, repleto de estatuas das antigas divindades e flores dos mais variados tipos. Curiosa para conhecer o lugar e aproveitando a repentina 'folga', Aishi resolvera ir lá.

Agora tinha certeza do quão belo era aquele jardim. Muitas e muitas flores formavam um belo e atraente tapete estendido pelo chão. Eram poucas árvores, mas davam um charme a mais.

Aishi caminhou por entre cada estatua do local, reconhecendo com um meio sorriso aqueles que por tanto tempo convivera. Apolo, Ares, Dionísio, Zeus... Afrodite; ela não pode reprimir um olhar triste ao deparar-se com a ultima estatua desviando o caminho em seguida.

Andou até uma das poucas árvores que tinham ali, não muito longe de onde a estatua de Eros estava, ela olhou com carinho as feições angelicais do Deus do Amor, podendo até visualizá-lo a sua frente. Os cabelos dourados caindo por sobre o ombro, os orbes dourados e o sorriso maroto de criança arteira; um meio sorriso surgiu em seus lábios, tinha saudade dos irmãos, mas nem por isso voltaria para lá.

Antes de sair do santuário, havia tomado a liberdade de fazer uma visitinha à preciosa biblioteca do Grande Mestre e pegar algo para ocupar-se enquanto estivesse ali, aparentemente sem nada para fazer.

Acomodou-se em baixo da árvore, respirando fundo, deixando que a essência das flores penetrasse por cada fibra do seu ser, renovando-lhe as energias. Esticou os braços, num leve alongamento, sorriu ternamente. Voltando total atenção ao livro que tinha em mãos.

-o-o-o-o-

Já passava das sete, isso tinha certeza. Como todos haviam resolvido terminar o treino mais cedo, por um motivo bem obvio por sinal, resolveu passar no Jardim dos Deuses ver como as coisas estavam, trazendo com sigo apenas algumas ferramentas que estava acostumado a usar em seu próprio jardim.

Fazia já algum tempo que Saori lhe pedira para manter em ordem o jardim, cuidando de vez em quando das flores e impedindo o crescimento de ervas daninhas. Claro que aceitara, era um dos seus passatempos preferidos, por isso não pensou duas vezes em aceitar.

Ao passar pelo pequeno arco que se formava com flores e trepadeiras na entrada do local, Afrodite serrou os orbes ao avistar ao longe uma jovem embaixo da árvore. Pelo cosmo já era capaz de identificar quem era. Aproximou-se com cautela, não querendo chamar atenção.

-Bom dia, Afrodite; Aishi falou, abandonando o olhar concentrado que tinha sobre o livro e voltando-se pra ele com um doce sorriso.

-Bom dia; ele respondeu intrigado, achando estranho o fato dela tê-lo reconhecido mesmo ocultando o cosmo, mas balançou a cabeça para afastar os possíveis pensamentos, sabia muito bem que Aishi era diferente da maioria das amazonas, mas não ficaria se preocupando com duvidas desnecessárias. –O que esta fazendo? –Afrodite perguntou curioso.

-Lendo; Aishi respondeu displicente, mostrando-lhe a capa do livro.

-O Conde de Monte Cristo; Afrodite leu em voz alta. –Literatura francesa, não sabia que gostava; ele comentou.

-Há muito tempo atrás "séculos" já havia lido esse livro, mas acabei por acha-lo na biblioteca e resolvi reler algumas partes; Aishi explicou. –Gosto muito de historias inteligentes e criativas como essa, apesar de não ser a favor de vinganças. Eu até concordo que uma retaliação de vez em quando é bom para manter o equilíbrio das coisas; ela falou empolgada com a leitura.

-Imagino que sim; Afrodite falou sorrindo. –Deveria conversar com Kamus sobre isso, ele adora esse livro; o pisciano comentou.

-Ah! Ele gosta; Aishi falou desanimada, abaixando os olhos para o livro, marcando a pagina antes de fechá-la.

-"Pelo visto as coisas não vão bem entre eles"; Afrodite pensou, mas logo concluiu, era facil saber qual o motivo daquilo tudo. –Quer conversar? –ele perguntou por fim, sentando-se ao lado da jovem.

-Adiantaria? –ela perguntou recostando-se melhor no tronco da árvore, acomodando-se melhor, semi-sentada sobre as próprias pernas, impedindo que a barra do vestido levantasse com o vento, enquanto os sapatos jaziam completamente esquecidos sobre a grama.

-Porque não tenta; ele incentivou.

-Sabe Afrodite, a única coisa que eu queria era conseguir entendê-lo, mas não dá; ela falou triste, fechando os olhos momentaneamente. –Kamus me detesta; a jovem declarou.

-Não, ele não detesta; Afrodite falou paciente. –Ele detesta a si mesmo por não saber o que sente; ele completou de forma enigmática.

-Como? –Aishi perguntou piscando confusa, voltando-se para o cavaleiro com ar curioso.

-Nada não, tava pensando alto; Afrodite se apressou em dizer. –Mas não esquenta com isso, ele não te detesta apenas não sabe lidar com situações que não foi treinado para isso, mas com o tempo melhora; ele esclareceu.

-Se você diz; ela deu de ombros, voltando seu olhar para algum ponto distante, onde podia vislumbrar os templos erguendo-se ao pé da montanha.

-Ahn! Aishi; ele chamou meio hesitante, depois de alguns minutos de silencio.

-Uh! –ela falou, voltando-se para ele.

-Gostaria de jantar comigo na 'Toca do Baco' hoje à noite? –ele perguntou de maneira casual, seria bom fazer com que a jovem, esquecesse um pouco que fosse toda aquela tristeza que ultimamente parecia nublar o brilho de seus olhos, porém que uns e outros não percebiam a fonte disso.

-Porque não, seria ótimo; ela falou sorrindo.

-Te pego ás oito, tudo bem pra você? –ele perguntou animado.

-Claro;

-Ta certo, vou dar uma olhada naquelas flores ali atrás, nos falamos depois; ele falou levantando-se. –Até;

-Até; ela respondeu, recomeçando a leitura.

-o-o-o-o-

O que dera em si para reagir daquela forma? – Kamus se perguntou, enquanto caminhava pelo santuário. Conhecia Milo o suficiente para saber que ele estava lhe provocando e que cairá direitinho nisso, mas era tão difícil controlar-se quando o assunto era ela.

Parecia ironia do destino que fosse parar justamente ali. Há anos não pisava naquele lugar.

Tudo a sua volta parecia em perfeita harmonia, olhou para todos os lados, inspirando profundamente, sentindo a essência das mais variadas espécies de flores invadir-lhe as narinas, lhe dando uma tenra sensação de paz.

Não muito longe de onde estava, obteve uma visão privilegiada de uma deidade adormecida em baixo de uma árvore. A barra do vestido azul esvoaçava levemente com o vento, os cabelos dourados caindo em fartas mexas pelos ombros. As delicadas mãos repousavam sobre um livro que jazia fechado no colo. O tempo parecia parado a sua volta, a única coisa que ouvia eram os sons do farfalhar das folhas de encontro ao vento, enquanto ela parecia alheia a tudo, dormindo como um anjo.

-Linda, não? – alguém perguntou atrás de si.

-É; Kamus respondeu inconscientemente, observando fascinado a jovem. Só então percebeu que não estava sozinho. –Afrodite; ele falou se dando conta do que havia falado, ao voltar-se para o lado e encontrar o pisciano lhe observando com um olhar divertido, fazendo-o corar furiosamente.

-Eu mesmo; o guardião de Peixes falou displicente. –O que faz por aqui, alem de observa-la? –ele falou inocentemente apontando para a jovem.

-Hei! Eu não...;

-Admita; Afrodite o cortou, com um olhar mortal. –Kamus. Kamus. Não sabe como deve ser difícil pra Aishi agüentar sua indiferença; ele falou com ar pensativo.

-Ela lhe disse algo? –ele perguntou engolindo em seco.

-Não foi preciso; Afrodite respondeu sério.

-Mas é preciso que seja assim; Kamus falou, voltando-se para o amigo com um olhar sério. –Somos muito diferentes.

-O problema Kamus não é a diferença e sim que você tem medo de confiar nas pessoas, tem medo de confiar em Aishi e acima de tudo, tem medo de confiar em seus próprios sentimentos por ela; Afrodite falou, colocando a mão sobre o ombro dele.

-Não sei; ele falou confuso. –Eu apenas...; As palavras morreram em meio a um suspiro cansado.

-Porque não se arrisca um pouco, afinal nada se tem a perder; ele falou com um olhar enigmático. –E algumas coisas simplesmente não podem ser explicadas.

-Talvez; ele respondeu vagamente, voltando-se para a jovem que parecia ainda dormir.

-Vai lá; Afrodite falou o empurrando.

-Aonde? – o aquariano perguntou espantado.

-Você não pensa em deixa-la ali o dia todo não é? –Afrodite perguntou estreitando perigosamente os orbes azuis. –Depois da canseira que você deu nela ontem, muito me admira que Aishi tenha conseguido levantar da cama hoje; ele falou num tom de censura.

-E o que quer que eu faça? –ele perguntou, mas engolindo em seco ao ver o cavaleiro mira-lo seriamente.

-Não vou falar de novo; Afrodite falou perdendo a paciência. –E vê se vai direitinho pro santuário, acabo com você se aprontar alguma com ela no caminho;

-Hei! Ta me confundindo com o Milo, é? –Kamus falou ofendido.

-Está avisado; Afrodite falou, dando as costas para ele e voltando ao lugar que estava cuidando das flores.

Kamus arqueou uma sobrancelha, vendo-o se afastar. Voltou-se novamente para a jovem, enfim, não faria mal algum; ele concluiu dando-se por vencido e caminhando até onde ela estava.

Apesar de inconsciente, sentia a presença de um cavaleiro de ouro por perto, mas isso não fora o suficiente para despertá-la daquele torpor em que se encontrava. Até sentar-se ali não imaginara o quão cansada poderia estar. O treino do dia anterior não fora nem um pouco leve, mas mesmo assim conseguira levantar pela manhã a tempo de treinar, ainda não conseguia entender aquela repentina folga, mas simplesmente limpou os pensamentos caindo rapidamente no sono.

Kamus parou em frente a jovem, puxando parcialmente as barras da calça, para que pudesse abaixar-se sem dificuldade. Retirou devagar o livro de baixo das mãos dela, ouviu um leve suspiro que fê-lo ponderar se não havia a acordado, mas ela ainda dormia, ele concluiu.

-"O Conde de Monte Cristo"; Kamus leu o titulo arqueando uma sobrancelha. –"Pensei que só eu gostasse de uma literatura decente por aqui"; ele pensou, balançando a cabeça em seguida, não era para isso que estava ali.

Voltou seu olhar para a jovem que ressonava baixinho, uma pequena mexa de fios dourados caia-lhe por sobre os olhos, fazendo com que instintivamente o cavaleiro levasse sua mão até a face da jovem, recolocando-a atrás da orelha. Recriminou-se mentalmente por não conseguir se afastar.

Sentia a face da jovem levemente aquecida pelos raios do sol. Tão delicada como a mais fina porcelana; ele concluiu. Balançou a cabeça, incomodado com o recente rumo que seus pensamentos tomaram.

Levantou-se novamente, parando ao lado da jovem, recolocou o livro sobre suas mãos e com vagar passou os braços pelas costas e por baixo das pernas dela, tendo assim o apoio necessário para suspende-la do chão.

Mal a suspendeu do chão engoliu em seco, ao senti-la aconchegar-se mais entre seus braços. Lembrou-se de quando a havia encontrado pela primeira vez.

--Lembrança—

-Você não me representa perigo algum, e por mais que tentasse, morreria antes de me tocar;

--Fim da Lembrança—

-"Como será que ela pretendia fazer isso?"; ele se perguntou intrigado, enquanto caminhava para fora do jardim com ela nos braços, rumo ao santuário.

IV – Beijo Roubado.

Kamus tivera a sorte de não encontrar com nenhum dos amigos pelo caminho, não estava nem um pouco disposto a ficar dando explicações desnecessárias sobre o que fazia ou deixava de fazer. Já estava passando pelo templo de Afrodite, quando encontrou Saori descendo as escadas.

-Kamus; Saori falou assustada ao ver Aishi com os orbes fechados nos braços do cavaleiro.

-Esta tudo bem Srta, Aishi está apenas dormindo; ele a acalmou.

-Entendo; Saori respondeu mais calma. –Vai levá-la até lá em cima? –ela perguntou, recebendo apenas um aceno afirmativo. –Então esta bem, agora tenho que ir, até mais; ela falou apressada, voltando a descer as escadas.

Kamus viu a jovem deusa sumir de suas vistas e balançou a cabeça, achando estranha aquela pressa, mas deu de ombros. Não era problema seu; ele concluiu.

O aquariano entrou no templo, encontrando uma das senhoras que ali trabalhava e que pode lhe informar aonde era o quarto da jovem.

-o-o-o-o-

Nada muito sofisticado era um quarto simples com moveis antigos e bem dispostos, leves cortinas brancas esvoaçando com o vento que invadia o cômodo pela janela aberta.

Kamus caminhou com calma até a beira da cama, abaixou-se com vagar para depositar a jovem no leito, porém parou de repente sentindo o corpo todo ficar tenso quando uma das mãos da jovem segurou-se a ele pela camisa. Olhou novamente para a jovem que dormia e ressonava baixinho. Colocou-a sobre a cama, ajoelhando-se na beira em seguida, não se esquecendo de colocar o livro sobre o criado.

Sentiu um vento gelado passar pelo corpo todo, olhou para a jovem e teve a certeza de que ela também sentira aquele vento frio, mas porque? Com suavidade, tocou a mão dela sobre sua camisa, fazendo-a soltar aos poucos os dedos dali.

Mal o fez, viu-a encolher-se na cama estremecendo. Olhou para os pés da cama encontrando uma fina colcha e a cobrindo em seguida. Aishi remexeu-se novamente, dando um suspiro relaxado.

Kamus engoliu em seco, vendo a jovem com os lábios entreabertos, num convite atrevido a aproximação, respirou fundo tentando evitar qualquer pensamento pouco racional. Caminhou até a porta, porém parou ao ouvir um chamado.

-Kamus; o nome escapou dos lábios da jovem com tamanha naturalidade que fê-lo estremecer.

Kamus voltou-se em direção a cama com um olhar curioso, ao constatar que ela ainda dormia. Estaria sonhando, e como ele? –ele se perguntou, caminhando de volta até ela, abaixando-se até quase tocar o chão com os joelhos, para em seguida, debruçar-se sobre o colchão, apoiando a cabeça entre os dois braços. Observando atentamente a jovem.

-"Isso não é certo"; ele pensou recriminando-se mentalmente, olhou mais uma vez para a jovem que parecia enrolar-se mais na colcha. –"Ha coisas que nós simplesmente não podemos explicar"; ele pensou, enquanto os olhos vagavam pela face serena da jovem, inconscientemente elevando sua mão até lá.

Deixou que os dedos corressem livremente, como se gravassem os mínimos detalhes. Ouviu um leve suspiro e viu-a remexer-se na cama, recolheu a mão, temendo que ela acordasse, levantando-se em seguida, mas não foi o que aconteceu. Fazendo-o recriminar-se mentalmente por estar pegando tão pesado com ela desde que começaram; lançou um olhar demorando a jovem adormecida.

À vontade de tocá-la sobrepujava a razão que tentava manter-se presente ao lhe gritar que aquilo não era certo. Abaixou-se com vagar, um leve roçar de lábios... Tão convidativos; ele concluiu, antes de permitir que um leve rastro de umidade se alojasse nos lábios da jovem fornecidos pelos seus de maneira tão gentil. Afastou-se em seguida o mais rápido que conseguiu, deixando o quarto sem ao menos voltar-se para trás. Imerso em pensamentos contraditórios e incompreensíveis até mesmo pra si.

V – Preparativos.

Por um longo momento sentiu frio, mas por mais ínfimo que fosse, uma onda de calor lhe assolou, era incrível a variação de temperatura. Aos poucos Aishi foi abrindo os olhos, notando que não estava mais no Jardim dos Deuses e sim em seu quarto no Templo de Athena.

Espreguiçou-se manhosamente, o sono que cairá fora realmente reparador. Sentia-se incrivelmente bem, resolveu por fim levantar, logo teria de arrumar-se para sair e não gostaria nem um pouco de deixar Afrodite esperando, antes de sair do quarto, parou por um segundo. Voltando-se com um olhar curioso para o quarto como se procurasse por algo.

-"Estranho, tive a impressão de sentir cheiro de hortelã"; ela pensou, apenas balançou a cabeça para afastar os pensamentos, tomando seu caminho.

-o-o-o-o-

Saori estava sentada na biblioteca, quando Aishi entrou com o livro nas mãos para devolver.

-Nossa, pensei que fosse dormir o dia todo; a deusa brincou, vendo que a jovem ainda demonstrava cansaço.

-Nem eu pensei que estivesse tão cansada; Aishi respondeu, colocando o livro de volta na prateleira que o havia pegado. –E ainda fico dando trabalho para o Afrodite de me trazer até aqui; ela comentou.

-Mas não foi o Afrodite que te trouxe; Saori falou visivelmente confusa.

-Não? –Aishi perguntou arqueando uma sobrancelha.

-Não, foi o Kamus; a jovem deusa respondeu displicente.

-Ahn! Você esta querendo me dizer que foi o Kamus que me trouxe até aqui? –ela perguntou meio descrente.

-Isso mesmo, encontrei com vocês na escada de Peixes; Saori respondeu enquanto remexia em alguns papeis sobre a mesa.

Inconscientemente a jovem levou uma das mãos aos lábios, lembrando-se da impressão que tivera de sentir o cheiro forte e ao mesmo tempo refrescante de hortelã antes de sair do quarto e só conhecia uma pessoa que tinha esse cheiro.

-Você está bem? –Saori perguntou, vendo a jovem encostar-se nas prateleiras com o olhar vago.

-Uhn! – Aishi murmurou voltando-se pra Deusa que a olhava curiosamente.

-Você, ficou quieta de repente, aconteceu alguma coisa? – a Deusa perguntou com um sorriso maroto.

-Não, não aconteceu nada; ela respondeu vagamente. –Nossa, já são quase sete horas, dormi praticamente o dia todo; ela falou desanimada, desviando rapidamente o assunto.

-Realmente; Saori falou, largando os papeis em cima da mesa e recostando-se na cadeira.

-Bom, tenho que ir me arrumar ainda; Aishi falou caminhando até a porta.

-Vai aonde? –Saori perguntou curiosa.

-Afrodite me convidou pra jantar na Toca do Baco hoje, se não me engano ele disse que me pegava as oito; Aishi respondeu.

-O Afrodite? –Saori perguntou descrente.

-É, porque? –a jovem perguntou, estranhando o ar descrente da deusa.

-Nada, não; Saori respondeu rapidamente, balançando a cabeça de maneira imperceptível. –Bom jantar para vocês; ela falou com um meio sorriso.

-Obrigada;

IV – Noite Sem fim.

Os orbes azuis fitavam severamente o espelho, procurando o mínimo de erro que fosse possível avistar. Deu de ombros, suspirando aliviado, tudo estava perfeito; Afrodite concluiu, antes de vestir o sobretudo que tinha nas mãos, apesar dos dias gregos serem quentes, já estavam no outono isso quer dizer, as noites por vezes poderiam ser frias, e o que ele menos queria era um resfriado.

Havia conversado com Shaka no dia anterior, ambos andavam realmente preocupados com a situação que o casal se encontrava, por isso mesmo ele resolvera tirar Aishi por pouco tempo que fosse do santuário. Espairecer não faria mal a ninguém e até mesmo Shaka concordava com isso.

Saiu as pressas do templo, faltavam alguns minutos para as oito e as estrelas já despontavam no límpido céu anil. Subiu com calma os últimos degraus, era incrível a diferença que algumas peças de roupa não causavam em alguém, os longos cabelos azuis jaziam penteados, porém o ar rebelde não lhes abandonava, sendo que os últimos fios formavam leves ondulações ao caírem pelas costas aumentando o volume. As roupas todas pretas, davam um ar mais enigmático ao cavaleiro, dificilmente ele seria reconhecido.

Afrodite parou com o pé suspenso no ultimo degrau, com um olhar meio aparvalhado para a jovem que saia do templo segurando nervosamente entre as mãos um sobretudo aparentemente um pouco mais curto que o seu.

-Aishi; ele chamou, caminhando até a jovem, era nessas horas que era obrigado a concordar com o pervertido do Escorpião, a beleza da jovem era singular, única. Que por mais que procurasse comparar com a de outra pessoa era impossível conseguir igualar uma parcela ínfima.

Aishi parou em frente ao cavaleiro sorrindo docemente. Os longos cabelos dourados caiam numa cascata cacheada pelas costas, diferente de como andavam normalmente, lisos. As delicadas alças do vestido transpassavam levemente as costas desnudas, já que o vestido cobria-lhe ate a lateral do corpo bem ao estilo de frente única, a saia descia até dois palmos abaixo dos joelhos e o tecido de seda esverdeado esvoaçando, dando um 'Q' a mais para aquela produção. Os lábios levemente rubros em contraste com a inebriante essência de rosas emanadas pelas madeixas. Incrível a mudança.

-Boa noite; Aishi falou por fim.

-Melhor agora; ele falou sorrindo galante ao estender-lhe o braço. –Me daria a honra?

-Mas é claro, gentil cavaleiro; ela falou sorrindo.

-Me permite um atrevimento, Srta? –Afrodite perguntou com um meio sorriso, recebendo um aceno afirmativo dela. –Para você; ele completou, fazendo surgir entre os dedos uma rosa vermelha, entregando-a em seguida para a jovem.

-Obrigada, é linda; Aishi falou, aceitando o pequeno agrado.

-Não tanto quanto você; ele respondeu, fazendo Aishi engolir em seco, não conhecia esse lado do cavaleiro e a julgar por uns e outros que conhecia, tinha até medo de descobrir o que mais desconhecia sobre ele.

-Obrigada; ela falou ruborizando. –Mas e você, mais lindo que a própria Afrodite; a amazona falou, de certa forma não estava errada, muito menos mentindo.

-Imagina, não é pra tanto; ele respondeu rindo. –Agora vamos indo, fiz reservas para nós num lugar que você vai gostar; ele falou misterioso.

Continua...


Meus caros amigos, mil perdões por ter permitido que o vinho acabasse justamente agora.

Longe de eu querer embebedá-los, porém existem alguns prazeres que por mais que o tempo passe são indispensáveis.

E então, como prometi estou aqui para saber o que acharam do capitulo e de tudo o mais.

Vocês sabem porque Aishi estava lendo o Conde de Monte Cristo? Não, que pena, particularmente eu acho uma obra excelente do Alexandre Dumas, que retrata um período interessante da França, a época em que Napoleão estava exilado em uma ilha, pobrezinho.

Mas caso alguém infelizmente não tenha tido a oportunidade de conhecer essa obra lhes adianto uma coisa. Ela é incrível, rica em detalhes, a época que se passa é maravilhosa e cá pra nós a historia toda é perfeita e criativa. Edmond o protagonista é um jovem sem instrução alguma que inocente, cai nas mãos perversas de um falso amigo inescrupuloso, porém majestosamente da à volta por cima, o resto só lendo pra saber.

Enfim, me perdoem se estou dando voltas de mais, mas não podia deixar de falar sobre isso.

Agora olha só, o Afrodite me surpreendendo e creio que a vocês também e o Kamus, realmente quando a Dama 9 me contou que eu poderia contar essas crônicas sem esquecer qualquer detalhe eu jurava que ela estava brincando, mas quando recebi o roteiro final sobre a fic, fiquei espantando, pois alguns detalhes até mesmo eu desconhecia. Mas, nossa, olha eu aqui esquecendo o vinho de novo.

Bom, vamos fazer uma pequena pausa enquanto o vinho não chega e logo continuamos.

Até mais...