CAPÍTULO QUATRO – PLANO B
O DIA de sábado começou da pior maneira possível. Caí da cama, literalmente. Por pouco não bato a cabeça exatamente no lugar que nem tinha acabado de sarar. Mas fiquei com um galo novo exatamente do lado do antigo.
'- Pontas?
A cabeça descabelada do Almofadinhas apareceu por trás do sofá, que ficava de costas pra cama.
'- O que você esta fazendo aqui?- pensei que ele tivesse passado a noite na casa de outra pessoa, se é que vocês me entendem.
'- Eu moro aqui, lembra? Tá, eu não moro, mas... ah, você me entendeu.
'- Você não deveria estar dormindo na casa da Quel hoje?- perguntei me levantando e indo sentar no sofá.
'- Nem me fala nisso, cara.- ele abriu um espaço pra eu me sentar.
'- Ah, não vai me dizer que o grande Sirius Black...- a parte suja da minha mente começou a funcionar.
'- Potter!- levei um soco no braço.- Nem te ocorra terminar esse pensamento.- ele apontou ofendido ao extremo.
'- Bem, se não foi isso o que foi?
'- Tava tudo numa boa ontem na boate até eu ir pegar umas bebidas pra gente. Só que no caminho eu encontrei uma das amigas da Lily.
'- Você ficou com outra na frente dela?- me assombrei.- Se ia fazer isso poderia ter esperado ela ir embora! Pelo menos era o que você fazia antes...
'- O pior é que eu não tava fazendo nada!- depois do meu olhar cético sobre ele, acrescentou:- Eu cheguei, me apresentei, perguntei "Você é a Clarissa, né?", aí a gente começou a conversar, eu tentei ir levando a conversa pro lado que eu queria. Falei que eu morava com o "Tiago Potter, lá dos Aurores". Ela perguntou se era o antigo namorado da Lily.- opa! Sinal de que ela falou de mim para as amigas, se não a Clarissa não saberia.- Eu confirmei que era esse mesmo. Ela confessou que apesar de não te conhecer, te preferia ao namorado atual dela.- anotei mentalmente o fato de que estou devendo uma a essa mulher.- Então foi só falar da fama do cara e me fazer de surpreso quanto a ela ainda não saber.
'- E o que tem a ver a Raquel com essa história?- perguntei sabendo que ele estava querendo mudar de assunto.
'- Ela chegou bem depois disso, me acusando de estar chegando na outra. A Clarissa saiu desnorteada sem perceber nada disso, deve ter ido falar com a Lily. A Raquel virou uma fera, disse pra eu rasgar o telefone dela e ainda me deu um arranhão quando eu puxei o braço dela pra tentar explicar.- mostrou quatro marcas de unha perfeitas na mão esquerda.
'- Se deu mal, ein... Vai ter que partir pra outra.
'- Claro que não, eu quero ela!- parecia uma criança caprichosa que quisesse um brinquedo e não abriria mão.
'- Mas pelo jeito ela é uma fera mesmo, Almofadinhas, você pode terminar mal e com um chute naquele lugar.
'- E daí? As mulheres selvagens são as melhores.
'- Você é masoquista, só pode ser...- falei sem crer.
'- Olha quem me diz... Não sou eu quem passou perseguindo a mesma garota por três anos com tapas semanais.- ele alfinetou.- Já era normal ver você com aqueles cinco dedinhos marcados na cara.
'- Como você disse, as selvagens são as melhores.- usei suas palavras para me esquivar da provocação.
'- Mas me diz, Pontas, como foi com a Lily? Eu a vi discutindo feio com aquele cara e saindo de lá feito um foguete.
'- Quando ela chegou aqui não parecia estar com raiva.- eu disse preocupado, estranhando, o que meu amigo não pareceu notar.
'- Ah, claro, devia estar cheia de amor pra dar.
Enviei-lhe um olhar repreensivo.
'- Chegou aqui chorando.- retorqui, ao que sua expressão marota se fechou.
'- Como é?
'- Acho que ela não ficou com raiva em si. Estava se fazendo de forte, ela sempre faz isso. Saiu de lá aparentando raiva, mas chegou aqui e se desmanchou. E ela ter ficado triste só pode significar uma coisa: ela gosta mesmo dele.- sentenciei, me sentindo a pior pessoa que pode existir.
'- Isso quer dizer que você não beijou ela?- perguntou falsamente inocente, tentando me animar.
Não me dispus a responder tal pergunta.
'- Não sei não, Pontas, essa história é meio estranha.- ele disse voltando à seriedade, com seu olhar-detetive.
'- Eu que o diga.- suspirei- Precisamos de um Plano B.
DEVIDO à época que estávamos vivendo, sábado não era mais dia de folga. Muito pelo contrario. Era o dia preferido dos Comensais da Morte. Decididamente alguém precisa levar eles em algum bom Pub, para acabarem com esse passatempo de infernizar a vida alheia e se divertirem um pouco.
Aparatamos no estranhamente vazio Térreo do Ministério, em seguida pegando o elevador até o nosso andar. Parecia ainda mais cheio do que o normal. Fui para a sala Dois e Almofadinhas para a Dez.
'- Potter!- a voz do Moody encheu o corredor. Lá vem bomba.
'- Pois não?- perguntei ainda com a mão na maçaneta da porta, no lado de fora.
'- Eu tenho uma tarefa pra você.
'- Pode falar.
'- Como estamos tendo baixas no nosso pessoal, decidi que os alunos que mais se destacassem na Academia de Aurores fariam um estágio aqui para ajudar.
'- O que mais?- pra que ele estava me contando isso? Por acaso queria algum tipo de conselho ou algo assim? Se bem que não seria mal pôr os estagiários para mexerem na parte burocrática.
'- Você vai mostrar o que tem que ser feito para os novos membros da Equipe Dois.- ele sorriu, o que não o fazia menos assustador, como se estivesse me parabelisando.
'- Por que eu?- quando ele falou tarefa, eu pensei que era alguma coisa de verdade, como uma missão de apurar fatos, ou algo pra tratar com a Agência de Informações, mas não aquilo.
'- Porque eu também decidi que as Equipes precisam de Líderes, e você é Líder da Equipe Dois.
'- Ah... Obrigado.- vamos ser positivos e encarar isso como uma promoção, certo?
'- Sua Co-Líder é Samantha Jensy. Avise a ela, por favor, porque eu ainda tenho muito que fazer por aqui.- e saiu mancando.
'- Certo.- fiquei parado no meio do corredor, a mão na maçaneta da porta, pensando no fato de isso me fazer um dos dez Aurores mais importantes do país, onze com Moody.
Por estar meio apoiado na porta, caí em cima da pessoa que a abriu por dentro. Felizmente fazia frio, portanto a pessoa não deve ter se machucado, devido ao grande número de casacos que todos usavam.
'- Tiago?- preocupado em repor meus óculos, não reparei em cima de quem havia caído, só quando a voz feminina veio desde embaixo de mim.- É melhor você sair de cima de mim, se não o que estão dizendo por aí vai parecer verdade.
Rolei para o lado e depois ajudei Samantha Jensy a levantar. Quem nos visse lado a lado pensaria que éramos irmãos (a menos que nos conhecesse, ai ouviria os boatos e pensaria que estávamos saindo juntos). Ela tinha os cabelos pretos como os meus sempre meio despenteados, mas isso dava um ar meio misterioso, como se ela tivesse recém-saído de uma sessão de agarramento num armário de vassouras. Era da minha altura, tinha os olhos da mesma cor que os meus, e até nossos óculos eram igualmente redondos e nossas bocas identicamente finas.
Mas as diferenças paravam no físico.
'- Ahn... Licença.- eu impedia a passagem da porta sem perceber. Ela estava olhando pra baixo muito corada. Diferença gritante: eu nunca coro.
'- Ah, desculpa. E desculpa pelo tombo, eu estava distraído.- eu falava sem problema nenhum, como se fossemos muito amigos.
'- Tudo bem, não tem problema.- ela deu um passo pra frente, pois eu ainda impedia a passagem, mas não me movi, o que a deixou ainda mais encabulada com a proximidade.
'- O Moody veio me falar que agora as Equipes têm Líder e Co-Líder, e eu sou Líder da Equipe Dois —
'- Sério? Parabéns!- ela parecia sinceramente feliz por mim.
'- E você é minha Co-Líder.- eu sorri simpaticamente.
'- O que?- ela ficou bastante confusa.- Moody disse isso?- eu confirmei, e ela sorriu de um modo que demonstrava que ela nunca pensaria ocupar um cargo dessa importância. Completamente ao contrário de mim: o primeiro que eu faria ao saber que um título desse havia sido criado seria me imaginar como a escolha lógica, afinal eu sou mesmo o melhor.
'- Parabéns!- tentei animá-la e fazê-la voltar à realidade ao mesmo tempo. Eis aí uma pessoa que precisa de autoconfiança.
'- Obrigada.- respondeu ficando sem graça, de novo.
'- Olha, que tal se remarcássemos aquele jantar do outro dia para hoje à noite, aproveitamos e comemoramos a nomeação?- dei um passo para o lado, para ela ficar mais calma e menos vermelha. Achei que ia explodir a qualquer momento.
'- Ah, claro, depois você me avisa a hora e o lugar. Agora tenho que... tomar ar.- falou de pressa e saiu quase correndo da minha frente.
Entrei na sala rindo do jeito da mulher. Parecia uma garotinha frágil, com todo essa timidez. Era meio engraçado, dava um medo de quebrar o coração dela. Mas apesar disso, não faz meu tipo. Acho que vou sair com ela hoje e depois "remanejar". É o que eu e meus amigos fazíamos. Não é tão cafajeste quanto vocês podem estar imaginando. Mas é que se um de nós não combina com a garota, porque outro de nós não tenta?
A questão é: quem? Pedrinho nem pensar, tenho muito carinho por ela para submetê-la a isso. Sirius é efusivo e galanteador demais, ela desmaiaria no primeiro "Oi" com sorriso sedutor.
È claro! É perfeito! Remo é a pessoa ideal. Não vai matá-la de vergonha com olhares indiscretos, mas felizmente já passou da fase de perder a fala nos encontros. Ele não tem um desde... muito tempo. Não sei se vai topar, porque segundo o próprio ele está em 'Fase de Preparação'. O que quer dizer que ele estuda sem parar e faz todos os Cursos existentes sobre Defesa Contra as Artes das Trevas. Bem, se todos os meus problemas fossem esse eu seria alguém feliz.
Mas agora tenho um muito maior e com uma horrorosa cara de cobra. Voltando a cabeça ao trabalho, fui até minha nova mesa, no fundo da sala, onde dava pra ver tudo, que já detinha um enorme número de relatórios a serem assinados.
Bem, é melhor começar.
HORÁRIO do almoço. As três palavras que salvaram minha sanidade mental naquele dia. Dar ordens definitivamente não é a minha. Pessoas toda hora me perguntando o que fazer me irritam. Elas não poderiam ser um pouco mais independentes? A maioria tá mais perdido que a tartaruga cega da minha avó, a Gertrudes. Uma vez ela mordeu meu dedo pensando que fosse algum pedaço de comida. E desde então eu tenho uma estranha fobia de tartarugas.
Mas enfim, foi um alívio me livrar daquelas pessoas desorientadas.
Andei sozinho até um restaurante pouco movimentado, localizado em uma ruazinha lateral. Pedi a primeira coisa que vi no cardápio. Enquanto esperava, olhava pela janela, já que tinha pegado uma mesa do lado desta. Ao longe, virando a rua vinha uma cabeleira laranja. Depois de ficar um tempo hipnotizado, olhei de novo para dentro fingindo naturalidade.
Momentos depois a dona daqueles cabelos entrou pela porta com um semblante sério. Olhou em volta e me viu. De imediato tentou forçar um sorriso, no que falhou miseravelmente. Puxou a cadeira da minha frente e se sentou.
'- Não sabia que você gostava desse lugar. Quase ninguém vem aqui.- ela tirou o cachecol e colocou-o junto à bolsa.
'- Que cara é essa?- perguntei sério.
'- Você percebeu né?- olhou para baixo desistindo de tentar parecer natural.- Que droga, Tiago, eu nunca consigo de enganar!
'- É, eu sei disso. Mas vai me responder ou vai continuar tentando fugir do assunto?
'- Ah, você sabe... Aliás, obrigada por me ajudar ontem.
'- É por causa disso que você ainda está assim.- olhou pro lado como uma menininha que não quer responder.- Você vai ficar triste por causa daquele cara?
'- E se eu quiser ficar?- respondeu, birrenta.
'- Se você não vai ficar feliz por si própria, pelo menos fique pelas pessoas que preferem te ver sorrindo.
'- Muita gente já me viu sorrindo hoje, obrigada.
'- Esse sorriso forçado que não vale. Ah, Li, quanto tempo que eu não te vejo sorrindo de verdade! Há quanto tempo você não tem um acesso de riso, não se sente feliz de verdade...
'- O que você quer que eu diga?- suspirou.- Você sabe que eu não fico assim desde que a gente namorou.- travamos uma batalha de olhares. Não era isso que eu queria dizer.- Eram outros tempos.
'- Li, você não entende? Qualquer que fosse o motivo que te prendia àquele idiota, acabou! Alegre-se, você se livrou dele.- passei dos limites, eu sei. A bomba estava lançada, agora era esperar ela explodir.
'- Não, Tiago, eu não me livrei dele.- "ahn?".- E mesmo que o tivesse feito, isso não seria da sua conta.- encostou-se à cadeira e soltou:- Nós reatamos.
'- Vocês O QUE?- bati os punhos na mesa. Algumas pessoas olharam.
'- Isso mesmo que ouviu.- sibilou, talvez para que os desconhecidos que ali se encontravam parassem de nos prestar atenção.
'- Mas, Li, ele... ele te traiu!- disso como se isso encerrasse a questão.
'- Tiago, eu simplesmente não posso largá-lo.- explicou com os olhos suplicantes.- Não tem como eu fazer você entender...- voltou à expressão assassina.- Mas e daí se ele me traiu ou me foi fiel? É a minha vida se você ainda não percebeu, embora se esforce ao máximo em se meter nela. Além de que eu duvido que você nunca tenha me traído, e apesar disso...- sua voz foi morrendo.
'- Apesar disso...?- falei baixo.
'- Esquece, Tiago.
'- Só pra você saber, Li: eu nunca te traí. E se vivesse o mesmo momento novamente, não teria te traído novamente.- olhei para a janela para conseguir continuar falando.- A gente se gostava muito, não sei se você se lembra... Lembra?- voltei meu olhar para dentro, para ver sua reação.
'- Olha só a hora, meu horário de almoço acabou!- se levantou depressa, enrolou o cachecol no pescoço de qualquer maneira. Lançou um último olhar de "Da minha vida cuido eu" e saiu sem dar tchau, batendo a porta do restaurante com força.
E é por isso que a gente briga. Já caiu na rotina. Sempre pelo mesmo motivo.
Mas Lily, com o gênio que tem, seria a última pessoa do mundo que eu suporia agüentar traição. Ela disse que não tinha como me fazer entender. E realmente não tem. Eu sei reconhecer quando algo está correndo por trás. E algo definitivamente está correndo por trás agora.
E eu vou descobrir o que é.
LA SPIAGGIA, nove da noite. Samy escolheu o lugar, que eu ainda não conhecia. Cheguei na porta exatamente na hora, e não tive que esperar mais do que dois minutos. Entramos.
O ambiente era bem não-bruxo, situado no meio da Londres trouxa. Era muito aconchegante, tinha uma decoração meio tropical. Senti o efeito do aquecedor interno, tendo que tirar imediatamente os dois casacos.
Pegamos uma mesa para dois no centro. Duas cadeiras e mesa redonda de plástico, um guarda-sol no meio com uma luz na parte de dentro. Tinha uns coqueiros decorativos em alguns lugares. Um garçom uniformizado com uma bermuda, camiseta e chinelo de dedo, sem dispensar a gravata borboleta (o que dava um toque cômico) veio nos atender.
Mal acabáramos de fazer o pedido, um grupo entrou pela porta atraindo a atenção geral.
Uma dezena de pessoas, vestidas de preto dos pés à cabeça, entrava no restaurante.
LA SPIAGGIA, do italiano, A PRAIA. Gostaram do lugar?
Bem, acho que deu pra perceber que essa semana uma crise de criatividade me atingiu em cheio. Preferi deixar esse capítulo mais curto a ficar sem atualizar nesse fim de semana. E algumas coisas começam a ficar mais claras nesse cap. Desculpem pelo teor de humor zero e o de drama dez, mas essa crise tá demais. Obrigada pelas reviews, grandes contribuintes para que esse capitulo saísse (mesmo que esteja tão ruim!):
Pikena: eu morri de ri escrevendo aquela cena também! Que bom que gostou! Com um Tiaguito pra consolar da até vontade de ficar triste hahahha. Beijos!
JhU Radcliffe: ainda não foi dessa vez que ela ficou com o par perfeito pra ela, mas já parou de chorar pelo outrozinho. Que bom que gostou do último! Beijos!
Jullie Black: eu escrevo bem? Obrigada, era tudo que eu precisava ouvir/ler. Espero que continue gostando da fic! Beijos!
Mademoiselle Rouge: É, ninguém pode ser forte o tempo todo, nem nossa querida heroína Lily. E o Tiago joga essas indiretas mas não dá o braço a torcer mesmo. Eu adoro aquela musica, você conhecia? Beijos!
Flavinha Greeneye: a pergunta da vez é: quem nunca chorou por um idiota, né? É uma sina feminina. Mas ela tem suas razoes. E ele terá seu castigo. Beijos!
Paty Evans: adorei aquela parte também hahaha. Foi muito boa de escrever. Eu tento sempre atualizar a cada semana, quando dá eu vou mais rápido. Beijos!
Bia Black: espero que tenha 'matado' sua ansiedade. O próximo capitulo promete, eu prometo hahaha. Brigada pela review, beijos!
Mah Clarinha: toda nação do mundo das fics faz gosto desse casal lindo! Não acho que sinta remorso pelo fim do casal (quando ele achava que tinha posto fim no casal). Eu não sentiria remorso hahaha. Beijos!
.Miss.H.Granger.: eu estou botando meus instintos assassinos pra funcionar pra pensar num castigo à altura pra dar pro Del Rio. Prometo que vai ser algo bem doloroso. Beijos!
Bi Radcliffe: você gosta tanto assim? Nossa, brigada mesmo! Espero que esse capítulo tenha agradado! Ainda não fuá la na sua fic, mas não foi por falta de vontade. Assim que der um tempinho passo lá ; ) ! Beijos!
É isso gente, beijooooooos!
