"Uma dezena de pessoas, vestidas de preto dos pés à cabeça, entrava no restaurante".

CAPÍTULO CINCO

AQUILO já estava ficando repetitivo. Quer dizer, já não bastava eles tomarem metade do meu dia, também tinham que atrapalhar meu tempo livre!

Eu e Samantha nos levantamos imediatamente, fazendo com que as cadeiras caíssem.

Eles começaram as jogar azarações para todos os lados, e os trouxas começaram a correr para a porta, mas alguns foram atingidos na tentativa.

Era uma tarefa difícil tentar acertar os comensais sem acertar as pessoas, então tivemos que lançar apenas alguns feitiços idiotas que não machucassem. Lutando com cinco comensais de uma vez só, olhei de relance para a porta. E lá estava ele, com mais cara de cobra do que de humano. Não posso dizer exatamente que foi um prazer vê-lo.

Conforme os mascarados viam seu mestre, paravam de lutar e formavam um círculo em nossa volta, próximo às paredes. Apenas um pareceu não se importar com a pausa na batalha, e continuava tentando me atingir de qualquer forma.

Algo dentro de mim mandou atacá-lo com todas as forças, lançar azarações e maldições até ele cair. De repente, algo estranho aconteceu. Não era a minha intenção lançar um feitiço mais forte, e todas as vezes que eu vasculhei minha memória após o acontecido eu lembrei de ter dito apenas "Estupefaça". Para falar a verdade, não lembro nem de ter dito o encantamento inteiro, porque em meio ao pronunciar da palavra o meu combatente arregalou os olhos e caiu com um baque para o lado.

No meio da batalha, não dei muita importância a isso, e me virei para ver se Samy precisava de ajuda. Primeiro vi dois Comensais desmaiados no chão, nocauteados, e quase sorri. Depois vi aquilo.

Samantha Jensy estava amarrada e amordaçada. Flutuava no meio do salão com um feitiço de Voldemort. Não tentava gritar nem se contorcer, embora seu olhar fosse desafiante.

'- Solta.- falei apenas isso, apontando a varinha para ele.

'- Você é rápido ein, Potter.- aí ele deve ter assimilado minha cara de indagação.- A Sangue-Ruim foi bem fácil de esquecer, pelo que parece.- indicou a garota. Os Comensais que nos cercavam riram com vontade.

Depois de entender o que ele queria dizer, eu ri.

'- Achei que o grande Lorde de que todos falam fosse mais inteligente.- não era possível! Ele achou mesmo que só porque eu estava jantando com a Samy eu tinha me apaixonado por ela!

'- E eu achei que aqueles que o Ministério chama de Aurores fossem mais competentes. Estou me sentindo até ofendido. Se seu Ministério acha que vocês são páreo para os meus Comensais estão me menosprezando.

'- Qualquer um que visse esses dois idiotas derrubados por feitiços tão simples não acharia o mesmo.- indiquei os dois caras que a mulher derrubou.

Ele respirou para falar algo, mas foi impedido pela Equipe Cinco, que aparatou toda no restaurante, deixando os sete Comensais que sobraram inconscientes. Inverteram a situação.

Agora os Aurores formaram uma roda. Dentro dela eu, Voldemort e Samy, ainda levitando.

'- O que ia dizendo sobre os Aurores? Incompetentes? Foi disso que os chamou?

O clima no local, se possível, piorou. A Equipe Cinco era conhecida por ser a mais pavio curto.

'- Ei! Ninguém chama minha Equipe de incompetente!- não sei porquê me surpreendi quando a dona dessa voz entrou na minha frente. Quem poderia ser melhor Líder da 'Equipe Pavio Curto' do que a nossa ruivinha favorita?- E solte já a garota!- ela mandou, autoritária, apontando para a Samy, que continuava no ar.

'- Nenhuma Sangue-Ruim insolente me dá ordens, Evans.- ele pareceu se enfurecer nessa hora. Um raio vermelho saiu de sua varinha na direção dela, que estava na minha frente.

A ruiva se esquivou pra direita. Meus reflexos falharam, o raio me atingiu em cheio.

Era a Maldição Cruciatus.

No momento senti como se facas estivessem perfurando cada milímetro do meu corpo. Apesar da dor lancinante, não gritei.

'- Pára!- Lily gritou, meio desnorteada.

Não é preciso dizer que ele não parou, certo?

Ela então lançou algum feitiço nele. Não pude ouvir qual, foi um feitiço mudo. De qualquer forma, não o atingiu. Ele girou com a capa e aparatou.

Fugiu covardemente. Foi a primeira cosia que pensei quando a dor parou. Samy caiu no chão.

'- Tudo bem?- uma cabeça ruiva tomou todo meu campo de visão.

'- É, na medida do possível...

'- Vem.- me estendeu a mão para que eu me levantasse. Aceitei a ajuda, indo parar a dois centímetros do rosto dela. Sim, foi um daqueles momentos de 'quase beijo'.

Pois é, 'quase' por causa do grito de um Auror da Equipe dela ela não ensinou nada a eles? Não se interrompe um momento de 'quase beijo' da sua chefe com o amor de sua vida!).

'- Ei, Evans! É melhor vir ver isso.- tinham amarrado os Comensais com cordas mágicas. Estavam tirando as máscaras de um por um.

Fui atrás dela até o mascarado que eu tinha derrubado. A Equipe toda estava em volta dele. Abriram espaço para ela passar, e eu fui atrás.

Paramos. Meio queixo foi ao chão quando vi quem era. Aquele cabelo escorrido só poderia significar uma coisa: Leonardo Del Rio.

Fez-se um silêncio sepulcral, todos pararam para ver a reação da Líder.

Lily parecia levemente surpresa – para aqueles que não a conheciam. Mas eu pude perceber que por dentro ela estava sem saber o que fazer. Mesmo assim, respirou fundo e falou:

'- Podem mandar para Azkaban. E digam ao Departamento de Cooperação Internacional em Magia que perderam um funcionário.- deu uma olhada mais sevara quando viu que todos ainda a observavam e falou, enérgica:- O que estão esperando? Mexam-se!- Virou pra mim e disse em voz baixa:- Tiago, tenho que sair daqui. Você pode cuidar de tudo pra mim?

'- Claro, o que você precisar.

'- Podemos conversar? É muito importante! Seu apartamento tá vazio? Me encontra lá depois de resolver tudo aqui?- perguntou rápido.

'- Sim, sim e sim.

'- Obrigada, Tiago!- me abraçou tão de repente que nem tive reação.

Ela ia girar para aparatar, quando eu lembrei.

'- Li!

'- Tiago?- ela, que ia olhando para baixo, levantou o rosto. Aqueles olhos verdes olharam pra mim curiosamente, os cabelos laranjas foram jogados graciosamente para trás, e meu nome foi pronunciado da forma mais doce que eu já ouvi. Céus, que minha memória seja capaz de lembrar esse momento para sempre.

'- Eh...- quase me esqueço do que ia falar.- Tem sopa de cebola na geladeira.

Sorriu, balançou a cabeça pra cima e pra baixo. No momento seguinte não estava mais lá.

'- Potter!

Um auror me chamava, curvado sobre um corpo. Quando me aproximei vi que era Samy.

'- O que houve com ela?- perguntei preocupado.

'- Nada grave. Alguns arranhões e cortes, como sempre. Mas bateu a cabeça quando caiu, e desmaiou.

'- Chame alguém do St. Mungus pra levá-la. Mais alguém precisa ir pra lá?

'- Aham. Aqueles dois caras que ela nocauteou.- apontou-os e eu sorri por dentro. Não era à toa que ela estava entre as vinte melhores auror do Ministério.- E aquele ali que estava duelando contigo. O que você fez com ele? Combinou um estuporamento com algo mais?

Não achei muito prudente falar que eu não sabia o que tinha feito, então apenas concordei.

'- É, foi isso.

'- Quem diria, ein?- ele disse tentando puxar conversa.- Leonardo Del Rio, funcionário modelo da Cooperação Internacional: Comensal da Morte! Ele poderia ser Chefe do Departamento daqui a uns dois meses!

'- Pois é, quem diria...

Um dos itens que mais me preocupavam era que quando Lily viu o rosto do ex-namorado (que talvez não seja ex. Não me olhe assim, quando ela reatou depois de saber das traições eu soube que poderia esperar qualquer coisa dessa relação), ela não ficou exatamente surpresa, embora fosse isso que estava tentando passar para os que estavam ali.

Tentei me concentrar no trabalho que ainda havia de ser feito ali (tudo bem, na verdade era só pra acabar logo aquilo e eu poder ir falar com a Lily).

'- Equipe!- chamei a atenção de todos.- Duas pessoas ficam aqui esperando o pessoal do St. Mungus chegar. O resto vem comigo levar esses Comensais – apontei para os que não precisavam de hospital.- para fichar. Vocês dois, me encontrem no Ministério assim que possível para dizer o estado dos hospitalizados.

Fizemos uma Aparatação Acompanhada com os comensais que restaram. Tiramos fotos, preenchemos fichas e todas essas coisas de burocracia. Os dois aurores que estavam no hospital chegaram, e então pude mandar todos para casa. E ir para a minha.


APARATEI perto da porta. Lily estava sentada no sofá. Uma tigela de sopa e uma colher jaziam vazias na minha mesa. Não levantou o olhar.

Tirei o casaco e me sentei ao seu lado. Ela me abraçou pela cintura, e eu a abracei pelos ombros. Nunca me senti tão bem e tão mal. Bem pela proximidade que mantínhamos no momento. E mal por me sentir bem com isso. Quer dizer, ela provavelmente estava sofrendo! Deve ser horrível amar alguém que no final não é aquilo que você pensa (não que eu saiba como é, porque ela sempre tudo que eu queria e muito mais, mas mesmo assim deve ser horrível).

'- O que vai fazer agora, Li?

'- O que eu vou fazer agora, Tiago?

Perguntamos ao mesmo tempo. Minha vontade era responder que agora tudo que ela precisava era esquecer o mundo e ficar comigo. Mas achei que não seria muito apropriado pro momento, nem tampouco sensível.

'- Onde ele está? Foi preso? Está em Askaban?- perguntou após o tempo em que ficamos em silêncio.

'- Hospital. Está em coma e os Curandeiros disseram que não há previsão para melhora.

Não estávamos nos olhando, de modo que eu não pude ver sua reação.

'- Por que, Li? Tantos homens de bem por aí, tantas opções! Você é linda, inteligente, divertida, poderia ter quem quisesse... Por que ele?

'- Eu fui obrigada, Tiago, eu não queira...- soluçou e começou a chorar.

'- Ninguém te obriga a nada, Li, você sabe disso, todo mundo sabe.- não era a coisa mais legal e consolativa que podia falar, mas eu precisava chegar ao fundo daquela estranha história.

'- É que foi... chantagem.

Chantagem? Não tinha com o que ela ser chantageada! Seus pais foram mortos há dois anos por Comensais, e eu não creio que ela se importe muito se vão fazer algo com a irmã, até porque elas romperam laços familiares mais ou menos na ocasião da morte de seus pais. Ele poderia saber algum podre dela, mas como eu mesmo já disse: elas não os tem. Só havia uma opção restante.

'- Ele ameaçou te...- engoli em seco.- te matar se você não ficasse com ele? Foi isso?

'- Não!- soluçou mais e mais.- Foi pior, muito pior...

'- O que pode ser pior do que isso?

'- Ele ameaçou TE matar.- ela chorou mais.

Um furacão de informações entrou na minha mente. Ela tinha agüentado tudo aquilo por causa de mim? As traições, as chatices daquele idiota, aquele cabelo boi lambeu! Ele fez ela cozinhar!

'- Li!- a fiz levantar, mas evitou me olhar. Parecia estar morrendo de vergonha.- Por que você não me falou? A gente poderia encurralá-lo e mandá-lo para Azkaban!

'- Alegando o que? Chantagem emocional?- me encarou.- Eu não sabia que ele era Comensal! Não o achava a mais bondosa das pessoas, mas também não imaginava que era mesquinho a esse ponto!

'- Mesmo assim! Eu podia dar um jeito nele, eu sei me defender sozinho! Poderia ter dado uma surra nele e ele nunca mais ia se meter a fazer esse tipo de coisa.

'- Ele disse que tinha mais alguém. E esse alguém sabia desse 'trato'. Se algo acontecesse a ele eu e você já éramos.

'- E você acha que essa pessoa é...?- perguntei, apesar de já imaginar a resposta.

'- Voldemort.

Momento de silêncio.

Abracei-a forte.

'- Nada disso. Eu não vou deixar nenhum idiota com mania de grandeza acabar com a gente.

'- Mas é esse idiota que está dizimando todos que se põe em seu caminho.

'- Eu não tô nem aí se ele for o maior bruxo das trevas de todos os tempos!- achei que era hora de descontrair.- Nós dois estamos entre os melhores dez aurores da Inglaterra, e isso deve significar alguma coisa, certo?

Consegui fazê-la rir. Uma risada fraca, mas pelo menos isso.

'- Eu sabia que você ia raciocinar desse modo quando soube que você também era Líder.

Essa era a hora perfeita para um beijo. Mas lembrei que, para ela, éramos apenas melhores amigos. Para ela e para todos. É melhor abordar esse assunto de um outro ponto.

'- Por que a gente não seguiu juntos depois da escola?-perguntei. Ainda estávamos abraçados.

Ela pareceu pensar um instante.

'- Acho que não teve um motivo. Deve ter sido porque saímos de casa, passamos a morar sozinhos, estudar para ser Auror e trabalhar para pagar os aluguéis. Um tempo depois aconteceu aquilo com meus pais, minha irmã cortou relações comigo... Foi tanta coisa ao mesmo tempo em que ninguém tinha cabeça pra fazer mais nada.- ficou um tempo calada, como se pensasse se deveria continuar a falar.- E por que ainda não voltamos?- levantou o rosto para ver minha reação. Devo ter feito uma cara de extrema surpresa se for ver pelo tempo que ela ficou rindo.

'- Boa pergunta.- escapou antes que eu pudesse pensar.

Mas parece que uma vez na vida eu falei a coisa certa.

Ela sorriu e me abraçou pela cintura. Não sei como ela fez, mas só sei que me puxou e no instante seguinte eu estava caindo de costas no chão com ela em cima. Não será exagero se eu disser que nem senti a dor da queda.

'- Isso quer dizer que não tem motivo pra gente ainda não ter voltado?- não sei porque, mas não consegui traduzir a cara dela. E isso quase nunca aconteceu.

'- Não...

Eu não esperava que ela me beijasse imediatamente, embora quisesse. Quer dizer, ela está em cima de mim, não é?

Mas não o fez. Imediatamente. Na verdade, demorou uns sete ou oito segundos. Sim, me chame de idiota,mas eu contei.

E quando aconteceu foi uma das melhores coisas que já senti. Como um dia de sol depois de dois meses de temporal (na verdade foi melhor...). Ou comer uma barra de chocolate depois de três meses de dieta (comparação que a Lily certamente faria). Ou como achar um tesouro depois de anos de busca. É, foi exatamente isso.

Com os olhos ainda muito abertos de surpresa, vi uma pessoa se materializar perto da porta. Gelei por dentro. QUEM OUSA INTERROMPER ESSE MOMENTO MÁGICO? Olhei pra cara da pessoa então vi quem era. Só podia ser o Pulguento! Aparecendo como sempre nas horas mais inoportunas! Fiz um sinal com a mão pra ele se mandar, e assim o fez, desaparecendo com um "Plac". E tudo isso em dois segundos.

Lily se afastou nesse exato momento, apesar de ainda manter a distância mínima.

'- Ouviu alguma coisa?- perguntou levantando levemente.

'- Eu não.- menti convincentemente. Ela me puxou pela gola da camisa, para manter o escasso espaço entre nós.

'- O Sirius vem dormir aqui hoje?- estávamos de pé e andávamos pela sala, ela me puxando pela blusa ainda.

'- Não, foi pra casa do Remo.- eu não podia acreditar. Lílian Evans me conduzia até a minha cama.

'- Ótimo!- deu um sorriso maroto que lhe dava um toque sexy. No instante seguinte estava em cima de mim novamente praticamente arrancando os botões da minha blusa.

O resto vou deixar à escolha de suas inocentes mentes, presados leitores!


Miiiiiiiiil desculpas pela demora na postagem! Estou com uma mega pressa! Próximo capítulo: EPÍLOGO. Explicações e respostas as reviews desse capítulo no próximo!

beeeeeeeeeeeeeeeijos!