CAPÍTULO V
Mais tarde, após o almoço...
"Bruce, tem uma coisa que eu preciso falar com você" disse Lois, subitamente, enquanto eles tomavam um café sentados à uma mesa próxima dos jardins.
Clark enrugou a testa, imaginando se finalmente ela revelaria a ele toda a estória dos Lucchesi e da tal Condessa, dando fim de uma vez por todas àquela mórbida e enfastiante aventura em Gotham City.
"E o quê é?" indagou ele, após um gole de café.
"Bom" disse ela, olhando para Clark, que a encarava com desconfiança. "Eu não acho que seja uma boa idéia você ir á audiência do Joe Chill amanhã"
Bruce arqueou as sobrancelhas, e sorriu.
"Então é isso" disse ele. "Rachel também andou colocando coisas na sua cabeça?"
Nesse momento, Alfred aparecia para recolher a louça suja com uma bandeja.
"Ou teria sido Alfred?" indagou, olhando para o mordomo.
"Senhor?" perguntou ele, confuso.
Bruce sorriu.
"Nada, Alfred"
"Não. Não foi Rachel, e nem Alfred" respondeu Lois assim que o mordomo se retirou.
Bruce a encarou nos olhos, enquanto brincava com uma colher de café.
Foi então que o celular de Clark começou a tocar, o que foi um alívio para ele, pois já não estava mais agüentando toda aquela conversa na qual ele era mero espectador. Viu então pelo visor que era Chloe. Olhou para Bruce e para Lois, e disse:
"Com licença, é minha mãe"
Clark se levantou e foi para um lugar mais reservado entre os jardins.
"Chloe? O quê houve?" perguntou quando já estava bem longe.
"Como andam as coisas com o playboy mais cobiçado do momento?"
Clark deu um sorriso desdenhoso. Como se não bastasse Lois se derretendo para Bruce, agora teria que ouvir piadinhas de Chloe.
"Só tenho uma coisa a dizer: eu não sei como deixei vocês me convencerem a vir"
Chloe sorriu do outro lado da linha:
"Clark, ninguém o convenceu" disse ela. "Eu apenas sugeri que vocês poderiam trabalhar juntos, já que conseguiram sobreviver a 'Uma Noite de Muitas Aventuras' em Suicide Slum"
Clark suspirou.
"Mas me diga uma coisa... está tão ruim assim?" indagou ela.
Clark se virou para ver Bruce e Lois que estavam à alguns metros, e a viu tocando a mão dele sobre a superfície da mesa.
"Você não faz nem idéia" respondeu ele.
"Puxa. Sinto muito" disse Chloe.
Clark apenas balançou a cabeça. Afinal, nada mais tinha a fazer.
"Mas tenho uma boa notícia" disse ela, então. "Na verdade, não tão boa assim. Aliás, pode-se dizer que é uma notícia boa e uma má -"
"Chloe, o quê é?" perguntou ele, impaciente.
"Bom, parece que Carmine Falcone tem inimigos em Metrópolis, o que leva a coisa toda a Joe Chill" respondeu ela.
"Como?"
"Isso mesmo que você ouviu" disse ela. "Há cerca de um mês veio um carregamento de contrabando supostamente do Falcone para Metrópolis. Só que toda a mercadoria foi despejada na Baía Hobb. Saiu em todos os jornais. A polícia nem desconfia quem pode ter sido. Nunca provaram que o contrabando era do Falcone, mas há fortes indícios que apontem para isso. Eu andei vasculhando a coisa mais a fundo, e descobri outras coisas -"
"Por exemplo?"
"Que no ano passado aconteceu algo parecido, só que em Gotham. Um caminhão com registro em Metrópolis foi encontrado no Narrows, vazio e depenado. Dois dias depois, encontraram dois corpos não identificados no Rio Finger -"
"Não vejo a relação"
"Simples. O caminhão estava registrado no nome de uma pessoa morta há mais de dois anos. Um laranja para ocultar o verdadeiro responsável pelo carregamento. Nas semanas que se seguiram, houve o maior número de casos de trafico de drogas em Gotham. Há registros de que a Promotoria distrital tentou conciliar o caminhão proveniente de Metrópolis com a grande quantidade de drogas que chegou a ser apreendida, e que provavelmente não foi nem a metade do que realmente acabou sendo passada para frente. A polícia de Gotham nunca concluiu coisa alguma, o que só prova que Falcone estaria por trás de tudo -"
"Isso não prova nada, Chloe"
"Clark, a Promotoria simplesmente abriu mão da investigação da noite para o dia. Será que você não pressente ameaça no meio disso tudo? O mais forte contra o mais fraco? O poder do dinheiro?"
Clark sorriu.
"Nenhum lugar pode ser assim tão dominado pela criminalidade"
"Mas Gotham é" insistiu ela.
"Vamos direto ao ponto. Quem é o tal inimigo do Falcone em Metrópolis. Os Lucchesi?" arriscou Clark.
"Não. Eles são apenas intermediários"
"Então quem?"
"Hum, bem, não fica furioso, Clark, mas eu ainda não sei -"
Clark suspirou, e imaginou que Chloe não teria ligado se não tivesse alguma coisa concreta.
"Muito bem, qual é a boa notícia?" indagou ele.
"Era essa" disse ela.
Incrédulo, Clark enrugou a testa.
"Mas espere!" exclamou ela do outro lado da linha. "Antes de desligar o telefone na minha cara, embora eu sabia que você jamais faria isso, afinal, Clark Kent é a pessoa mais complacente que eu conheço no mundo, tem uma coisa que pode ser que ajude -"
"E é ai que entra a má notícia -" completou ele.
"Mais ou menos. Digamos que é algo que apenas você pode fazer" disse ela, então.
Houve um pequeno silêncio da parte de Clark, e antes que Chloe perguntasse se ainda estava na linha, ele perguntou:
"E o quê é?"
Chloe sorriu, vitoriosa.
"Bom, é o seguinte: a Promotoria de Gotham tem um relatório com todas as ligações feitas por Joe Chill para fora da prisão -" disse ela, animada.
"Não, não, não. Espere um pouco, Chloe" interrompeu ele. "Não vou fazer isso de jeito algum. Invadir a Luthorcorp é uma coisa, agora entrar numa repartição pública, ainda mais do Judiciário -"
"Clark!" exclamou ela. "É o único jeito de sabermos quem é o contato dele em Metrópolis. Eu tenho quase certeza que ele fez um acerto com alguém daqui para entregar o Falcone, o que nos leva aos Lucchesi. Só que os Lucchesi não são, portanto, só com acesso às ligações dele poderemos saber quem está por trás de toda essa sujeira!"
"Chloe, se os Lucchesi são os intermediários dessa operação, só vamos encontrar ligações do Chill para eles" deduziu Clark.
Houve um pequeno silêncio, até que Chloe finalmente disse:
"Só vamos ter certeza quando vermos essa lista de telefonemas"
Pensativo, Clark imaginou que não tinha opção. Virou-se e novamente viu Lois e Bruce conversando, bastante próximos. Chloe estava certa. Não havia outro modo de ajudar Bruce.
"Tudo bem" disse ele. "Falo com você depois"
Clark desligou o celular, e sem ser percebido, deixou os jardins e foi até a cozinha. Atravessou apressadamente a grande sala de estar da mansão Wayne em direção à porta da entrada principal, quando, subitamente, Alfred surgiu à sua frente, saindo de uma sala.
"Sr. Kent?" indagou ele. "Precisa de alguma coisa?"
"Hum, er... Bem, pode dizer que eu volto daqui a alguns minutos? Surgiu algo que eu devo resolver com certa urgência -" disse, afastando-se.
"Mas o Sr. não conhece Gotham -"
"Eu realmente preciso ir" insistiu Clark.
"Tem alguma coisa a ver com o Bruce, não é mesmo?"
Clark não respondeu, e tentando desvencilhar-se de uma vez, disse:
"Apenas diga a Lois para não se preocupar"
"Espere" disse Alfred, virando-se para pegar as chaves da limusine na gaveta da mesinha que ficava bem atrás dele. "Eu o levo -"
Quando Alfred se virou, Clark já não estava mais lá. Confuso, o mordomo olhou para todos os lados, imaginando como ele havia simplesmente desaparecido em tão pouco tempo.
Continua...
