CAPÍTULO VI
Instantes depois...
"Promotoria, Promotoria" dizia Clark procurando o endereço numa lista dentro de uma cabine telefônica nas proximidades do centro de Gotham. "Aqui!" exclamou ao encontrá-lo.
Ao ver que estava próximo a um bar chamado My Alibi, Clark entrou, aproximou-se do barman, e perguntou onde ficava Robinson Park.
"Você segue por esta mesma rua, depois que passar pelo Relógio da Torre e ver a Lady Gotham, siga mais duas quadras à esquerda" explicou ele.
"Obrigado!" exclamou Clark, afastando-se.
"Espere!" chamou o barman.
Clark se viu para vê-lo.
"Você não é daqui, não é mesmo?" perguntou.
Confuso, Clark olhou ao redor, e notou um segurança que emergia de um canto escuro do lugar e se aproximava dele. Do outro lado, também vinha mais um em sua direção. Viu então dois policiais fardados sentados a uma mesa aos fundos do bar, que apenas riam, enquanto bebiam seus drinques e observavam a cena. Imaginou então que o que estava por vir não era nada bom.
"Pois todos sabem que, em Gotham, toda informação tem um preço -" disse ele.
"Como?" indagou Clark, perplexo.
"Isso mesmo que você ouviu, garotão" disse ele, sorrindo, e saindo de trás do balcão com um bastão de baseball.
Clark sorriu, incrédulo.
"Isso é um absurdo" disse, dando-lhe as costas.
Só podia ser uma piada, pensou ele. Nem mesmo em Suicide Slum, por mais terríveis que as coisas fossem por lá, não chegava àquele ponto.
Foi então que os seguranças agarraram Clark pelos braços e o fizeram se voltar para o barman, que continuou:
"Ninguém sai do meu bar sem abrir a carteira!" exclamou ele.
Clark olhou para a mesa onde viu os policiais conversando, mas eles simplesmente ignoravam a situação, e continuavam a conversar entre si, e olhar de vez em quando para o bar, para ver o que estava acontecendo, sem nada fazer a respeito.
"Que lugar é esse?" perguntou ele.
E o barman apenas sorria, tentando intimida-lo com o bastão.
"Gotham City" respondeu ele.
Clark então arremessou os seguranças para os lados com sua força. Chocado, o barman apenas largou o bastão ao chão. Os policiais finalmente se levantaram e se prontificaram, segurando seus cassetetes de borracha, sem, porém, tirá-los do cinto.
O barman olhou para onde os seguranças foram arremessados, e eles estavam um tanto desnorteados, caídos aos chão, tentando se recuperar. Ele então sorriu para Clark, impressionado:
"Garoto, você é muito bom! Preciso de alguém como você pra trabalhar pra mim!" exclamou.
Clark apenas enrugou a testa, incrédulo, e lhe deu as costas.
Enquanto saía do bar e caminhava pela calçada, escutava o sujeito vir atrás, chamando-o e pedindo para conversar sobre o assunto. Ignorando-o completamente, porém, Clark seguiu o caminho indicado, e quando chegou à próxima esquina, onde estava longe do alcance dos olhos dele e de quaisquer pessoas que estavam pelas redondezas, usou sua super velocidade.
Segundos depois, no prédio da Promotoria...
Após ver o andar do Gabinete da Promotoria Criminal no hall de entrada, tão logo entrou velozmente pelo edifício onde ficava referido órgão, Clark simplesmente subiu pelas escadas com sua super velocidade, passando completamente despercebido pela vigilância.
Como já era final de expediente, o prédio estava praticamente vazio, exceto por uma sala e outra. E quando chegou ao gabinete do Promotor Criminal, viu, pela porta de vidro, que havia uma luz acesa na sala ao lado. Usou sua visão de raio-x e viu que se tratava de Rachel Dawes, sentada à uma mesa com vários livros e processos à sua frente.
Silenciosamente, Clark entrou na sala ao lado, e procurou nos arquivos a ficha de Joe Chill. Não a tendo encontrado onde devia estar pela ordem alfabética, imaginou que devia estar com Rachel, na sala ao lado. Ela devia estar analisando o caso, já que a audiência era na manhã seguinte, e ela era a assistente do Promotor.
Clark suspirou, e quando achou que nada mais havia a fazer, ouviu um ruído. Usou sua visão de raio-x novamente, e viu que Rachel estava se preparando para ir embora, ajeitando as pastas e fechando os livros. Acompanhando seus movimentos, viu que ela vestiu o casaco, pegou todas as pastas e abriu a porta e deu a volta da sala onde ele estava. Mais do que depressa, Clark se escondeu atrás de um armário de arquivos.
Rachel colocou as pastas sobre a mesa do seu chefe e saiu, sem ao menos perceber que havia mais alguém ali. Apagou todas as luzes, e caminhou lentamente em direção ao elevador. Assim que desceu, Clark foi até a mesa, acendeu a iluminária que ficava ao lado do telefone, e viu a primeira pasta da pilha. Dizia "Documentos Joe Chill". Não poderia ser mais fácil, pensou. Clark se sentou e abriu o documento. Procurou entre todos aqueles papéis de depoimentos e termos de acordo, até que, finalmente, encontrou os registros da prisão. Havia relatórios de visita e de telefonemas.
Checou inicialmente, os relatórios de visitas, e não parecia haver nada de interessantes, já que a única visita que constava era da mãe dele. Quanto ao relatório de telefonemas, porém, algo lhe chamou a atenção.
Chloe tinha razão, pensou ele.
Havia duas ligações para Metrópolis nos dois últimos meses, justo quando começaram as tratativas de acordo entre Chill e a Promotoria, a julgar pelos documentos que tinha visto antes. E enquanto olhava aquele relatório ficou pensando que nada daquilo fazia sentido. Ainda não havia motivo algum para a morte encomendada de Bruce Wayne.
Foi então que o telefone celular de Clark começou a tocar no vibra call. Pelo visor, viu que se tratava de Chloe:
"Chloe?" sussurrou ele, cauteloso. "Eu disse que ligava!"
"E você acha que eu ia agüentar esperar tanto tempo assim? Pelos meus cálculos você já devia ter encontrado tudo o que precisávamos" disse ela, visivelmente ansiosa, falando do Planeta Diário.
Clark continuava a examinar a papelada.
"E então?"
"Tem dois números de telefone de Metrópolis" respondeu ele.
"Muito bem. Quais são?"
Clark disse a Chloe os números, e ao mesmo tempo em que ele continuava com ela ao telefone, examinando os demais documentos, do outro lado da extensão, ela procurava descobrir em nome de quem estavam registradas as linhas.
"Hum. Um dos números está instalado no endereço de um dos depósitos dos Lucchesi em Suicide Slum. Provavelmente o mesmo onde você e Lois se meteram naquela enrascada -"
"E o outro?"
Chloe ficou em silêncio por um tempo, enquanto fazia a busca.
"Estranho" disse ela.
"O quê?"
"É o telefone de um escritório de advocacia na Glenmorgan Square"
"Em nome de quem?"
"De um tal de Maxwell Jensen" respondeu ela, confusa.
"Está ficando cada vez melhor -" ironizou ele, já que as informações não pareciam ter ajudado muito, e muito provavelmente ele teria que ir a Metrópolis verificar o tal Maxwell Jensen.
"Espere um pouco" disse ela, sorrindo, após fazer uma rápida busca no site do Tribunal de Justiça de Metrópolis. "Esse cara não é de muitos clientes -"
"Como assim?"
"Ele trabalha exclusivamente para Bruno Mannheim" respondeu ela ao ver quem o advogado patrocinava.
"Espere um pouco. Você quer dizer Bruno 'Ugly' Mannheim?" perguntou ele.
"Exatamente" respondeu Chloe, sorridente. "Filho de Boss Moxie -"
"- Chefe da Intergang" completou Clark.
Houve então um silêncio.
"Ainda tem uma coisa que não faz sentido, Chloe -"
"Eu sei" interrompeu ela. "O quê Bruce Wayne tem a ver com tudo isso?"
"Pois é" concordou ele.
"Não sei, Clark" disse ela. "Vou continuar procurando por mais alguma coisa"
"Não acha que eu devia ir a Metropolis encontrar esse tal de Maxwell Jensen?" sugeriu ele.
"Acho que não vamos precisar. Vou ver o que eu posso fazer por minha coisa. Qualquer coisa eu ligo. Como você vai contar tudo isso a Lois?"
De repente, Clark ouviu passos pelo corredor, e desligou a luz da iluminaria.
"Chloe, tenho que desligar" sussurrou ele.
"Tudo bem. Falamos depois"
Foi então que o vigia abriu a porta da sala, e acendeu a luz. Mas nada viu, exceto a janela aberta.
Segundos depois, na mansão Wayne...
"Alfred" disse Clark com um pequeno sorriso no canto dos lábios, imaginando o que o mordomo teria pensado da sua saída brusca naquela tarde.
"Sr. Kent" respondeu ele.
E Clark imaginou se devia dizer alguma coisa sobre o episódio daquela tarde, até que o mordomo disse, sem nada comentar a respeito do incidente, embora ainda estivesse visivelmente confuso:
"Eles estão na sala de estar. Eu o acompanho"
Clark apenas arqueou as sobrancelhas, imaginando o que ele teria dito a Lois e Bruce.
"Não é necessário" disse ele. "Apenas me mostre onde fica -"
Alfred o encarou, confuso, mas consentiu.
"Siga esse corredor e vire a direita. Depois siga em frente" explicou.
Clark sorriu, e lhe deu as costas, quando o mordomo o chamou:
"A propósito, a Srta. Lane decidiu que vão passar a noite aqui ao invés de irem a um hotel"
Clark então arregalou os olhos, chocado com a idéia de ter que passar a noite da mansão Wayne, e pensando no quê poderia ter feito Lois mudar de idéia.
"Preparei seu quarto, ao lado do dela" e Clark então se virou para vê-lo. "É o terceiro do corredor da direita, subindo as escadas no lado oeste" completou Alfred, apontando a direção.
"Obrigado... Alfred" disse ele, completamente desnorteado.
Alfred sorriu, e se retirou.
Enquanto caminhava pelo longo corredor, Clark percebeu que ainda não conhecia aquela parte da mansão, e ficou imaginando quantas salas e quartos devia ter, até que, finalmente, viu uma sala iluminada por uma lareira. Ele então suspirou. Muitas coisas provavelmente ainda estavam para acontecer, e ele nem sabia o quê podia fazer para ajudar. Ao menos, tinha Chloe que estava investigando as ligações entre Chill e Mannheim e o que poderia estar relacionado entre Bruce e Falcone.
Ao se aproximar da porta da sala de estar, Clark ouviu vozes, e hesitou.
"Você não entende, Lois" disse Bruce. "Eu preciso ir a essa audiência -"
Pelo visto, Lois não tinha sido muito bem sucedida na sua missão em convencer Wayne a ir à audiência de Chill, pensou Clark, que começava a ter certeza de que aquilo tudo estava tomando proporções gigantescas demais até mesmo para ele resolver. Sequer sabia ainda o envolvimento de Bruce naquilo tudo, quanto menos quando e onde, especificamente, estará o matador supostamente contratado por Mannheim!
"Eu entendo -" retrucou Lois, com uma voz suave e amável. "Mas isso não irá trazê-los de volta, Bruce. Isso só vai aumentar essa ferida enorme no seu coração, e que custa a cicatrizar"
"Lois, você é uma boa amiga. Sempre foi" disse ele, e Clark ouvia com atenção do outro lado, no corredor, pensativo acerca daquelas últimas palavras. "E me conhece melhor do que ninguém" continuou ele. "Talvez até mais do que o Alfred -"
Sentada ao sofá com Bruce, em frente à lareira, Lois apenas sorriu. Talvez desejasse não conhecê-lo tão bem.
"E sabe porque eu tenho que ir -" disse ele, então, encarando-a com seus olhos escuros e sem brilho.
Lois enrugou a testa, e se aproximou.
"Eu só espero que você não esteja pensando fazer o que eu acho que está -" disse ela, imaginando, de súbito, alguma coisa terrível, embora não pudesse acreditar que Bruce fosse capaz de tal.
Bruce tocou sua mão, apoiada ao sofá.
"Eu quero ver mais uma vez o assassino dos meus pais" interrompeu ele. "Só isso. Por mais que você, Rachel, e mesmo Alfred pensem que é loucura, e até mesmo doentio ver aquele monstro depois de tantos anos, eu preciso. Acredito que só assim vou me livrar dos fantasmas do passado. E é só isso -"
Lois sorriu um sorriso amável e compreensivo, e continuou:
"Que bom, porque você estava me deixando preocupada -"
"Não fique" disse ele, sorrindo. "Eu acredito na justiça" completou, sombriamente.
Lois enrugou a testa, confusa.
"Sabe que há uma diferença muito significativa entre justiça e... vingança, não é mesmo?"
Bruce sorriu, e colocou sua mão na face de Lois, que fechou os olhos com o carinho e inclinou a cabeça para o lado. Ele definitivamente não estava mais interessado em falar no assunto.
"Se lhe faz tão mal assim, prometo então que não vou à audiência. E mudamos de assunto a partir de então. O que me diz?"
Lois abriu os olhos e o encarou com um pequeno sorriso.
"Faria isso?" indagou ela, aos sussurros. "Por mim?"
"Claro!" exclamou ele, aproximando-se dela.
Lois também se aproximou dele, e o abraçou, carinhosamente. Bruce retribuiu o abraço, e quando se desvencilharam lentamente, seus olhares se cruzaram, bastante próximos. Olharam para os lábios um do outro, e se beijaram.
Confuso com o súbito silêncio, Clark decidiu entrar na sala. Ao vê-los se beijando, alguma coisa ferveu dentro dele. Algo que ele não sabia o que era. E uma fúria imensa se apossou dele. Não podia acreditar no que via, embora imaginasse que, a julgar por todos aqueles flertes que presenciou naquela tarde entre Lois e Bruce, era praticamente inevitável que as coisas terminassem de outra forma.
Sem pestanejar, ele os interrompeu:
"Desculpem pelo sumiço!"
Lois e Bruce saltaram no sofá, e se afastaram abruptamente, virando-se, surpresos, para ver Clark, acompanhando seus passos pela sala e tentando entender do que ele estava falando.
"Mas eu estava ansioso pra conhecer a tal estátua da Lady Gotham" continuou ele, aproximando-se de um sofá ao lado, e sentando-se, sem tirar os olhos dos dois. "Ouvi dizer que se parecia com a estátua da Liberdade em Nova York!"
Lois enrugou a testa e num momento em que Clark que lhe lançou um olhar, ela perguntou com um movimento de lábios: O quê você está fazendo? Mas ele a ignorou por completo, e continuou a falar incessantemente:
"E qual foi minha surpresa ao descobrir que era mesmo parecida, embora tenha uma venda nos olhos, e um escudo -" explicou Clark, mostrando onde. "Aliás, você já viu a estátua, Lois? É muito bonita, não é?"
Confusa, Lois olhou para Clark e depois para Bruce:
"Bem, er... É claro... Já vi sim -" disse ela, desnorteada.
"É muito bonita mesmo" repetiu ele, balançando a cabeça, encarando-a firmemente, como se a tivesse surpreendido praticando um crime horrendo.
Lois sorriu um pouco, confusa e nervosa, e enrugou a testa.
"Você resolveu assim, do nada, sair por Gotham?" perguntou ela, na tentativa de desviar a situação por demais de embaraçosa, para todos. "Sem nos chamar? Podíamos ter saído nós três -"
"Ela tem razão" concordou Bruce olhando para Clark, ainda surpreso por vê-lo tão falante. "Eu podia tê-los levados aos melhores lugares de Gotham. Podíamos ter feito um passeio de trem pelo centro -"
"Ah, não!" exclamou Clark, olhando para ela e depois para Bruce. "Eu não queria incomodar! Vocês deviam ter muita coisa pra conversar e, além do mais, sem querer desmerecer a companhia e a hospitalidade -" disse ele, sorrindo, olhando novamente para ambos. "Eu prefiro desbravar sozinho novos lugares, e o centro é mesmo um lugar ótimo para se andar à pé!"
Bruce sorriu, com as mãos apoiadas nos joelhos, olhando fixamente para o fogo da lareira. Talvez, mais do que para ele do que para Lois, era bastante óbvio o que estava acontecendo ali. Ele então sorriu para Lois e para Clark.
"Espero que não se zanguem, mas estou muito cansado" disse, levantando-se, achando que aqueles dois precisavam ficar um momento a sós, já que era quase possível ver as faíscas no ar.
"É cedo, Bruce" disse Lois. "Além do mais, está ficando divertido por aqui -" completou, fitando friamente Clark, que apenas lhe sorriu, debochado.
Bruce sorriu, virando-se para Clark.
"Eu percebi" comentou. "Mas quero mesmo acordar cedo. Por que não vamos ao haras amanhã? Podemos andar a cavalo. O que acham?"
"Vai ser ótimo" assentiu Lois, sorrindo, sem tirar os olhos de Clark.
"Qualquer coisa, pode me chamar, ou o Alfred" disse Bruce, beijando-a na face. "Você sabe onde ficam os aposentos, não é mesmo? São os de sempre"
"Claro" respondeu ela, sorrindo.
Bruce se moveu em direção à porta:
"Clark" disse, virando-se para vê-lo e depois a Lois. "Boa noite"
"Boa noite, Bruce" respondeu ele, sem tirar os olhos de Lois.
Sozinhos, Lois e Clark trocaram olhares cheios de faíscas. Havia muito o que conversarem...
Continua...
