3º Capítulo – Surpresas
Kai ficou ainda alguns minutos paralisado naquele lugar. Não sabia se estava na realidade ou se aquilo já era sobrenatural. Aquela sensação de se estar a tocar a ele próprio… a sensação de se estar a ver no lugar da rapariga… como poderia ser?
Só voltou para casa do Tyson, quando a noite já ia longa. Estavam todos reunidos no quarto do Tyson a discutir. Pelos vistos iam ficar todos a dormir ali. Pelo menos o dojo era grande e espaço não faltava. Discutiam sobre o começo do torneio no dia seguinte e Kai conseguiu perceber que o tema era a sua participação. A conclusão que tirava dali era a que ainda não tinha chegado a sua autorização e o mais certo era não chegar. Se embarcasse imediatamente num avião, ainda podia chegar a tempo do torneio russo, mas limitou-se a sentar-se na divisão onde se viam 6 camas feitas no chão. Era ali que iam todos dormir, no mesmo quarto que Kai e Tyson partilhavam no dia a dia. Passados alguns minutos a pensar no que iria fazer da vida, decidiu-se deitar. Tirou o lenço e o seu casaco e deitou-se. Manteve-se com os olhos abertos até que ouviu os seus amigos a entrarem no quarto.
- O Kai já chegou! – disse o Tyson.
- O que terá ele decidido? – questionou-se o Max.
- Perguntamos-lhe… – o Kenny impediu o Tyson de avançar.
- Deixa-o dormir! Amanhã vai ser um dia difícil.
O Kai fechou os olhos, fingindo que estava a dormir. Naquele momento não queria falar com mais ninguém. Apenas queria pensar… pensar… mas acabou por passar a noite a pensar naquela rapariga.
……….
- Sejam bem vindos ao torneio de BEYBLADE japonês! Hoje vamos descobrir quem vão ser os novos representantes da Ásia que irão participar no campeonato.
- É isso mesmo DJ. Toper! Mas não será muito complicado de prever quem vão ser os novos representantes… Eu até diria mesmo os antigos representantes!
- E será que o Tyson vai ser pela quinta vez campeão?
- Se assim for, será um feito inalcançável até agora!
……….
- Kai!
O pensamento em que Kai estava envolvido foi quebrado.
- Ei meu! Estás ainda mais calado do que o costume! Vais ver que o Sr. Dickson consegue fazer algo! – tentou acalmá-lo o Tyson.
E dito isto o velho homem entrou na sala.
- Então? – perguntou o Ray.
O Sr. Dickson abanou negativamente a cabeça.
- Ainda não há a inscrição do Kai. E as inscrições vão fechar exactamente daqui a 15 minutos!
- Deve haver algo que possamos fazer! – insistiu o Max.
- Não Max, acabou… A não ser que aconteça um milagre, o Kai está fora deste campeonato!
- Não…
Os rapazes olharam desolados para o seu antigo capitão de equipa. Seria este o fim do mestre Kai? Assim parecia.
……….
- E as inscrições terminaram! O TORNEIO ÁSIÁTICO VAI COMEÇAR! VAMOS VER OS MELHORES BLADERS EM ACÇÃO E APENAS OS MELHORES VÃO FAZER PARTE DAS EQUIPAS QUE IRÃO PARTICIPAR NO CAMPEONATO!
- ESTÁS CERTO! E AGORA ESTOU MORTO PARA SABER QUEM VÃO SER OS PARTICIPANTES…
- É ISSO MESMO QUE AGORA VAMOS VER. Em primeiro lugar temos o nosso campeão, o TYSON! Temos o MAX, o RAY, o CLAUDE, o MARK, a RIKA, …
Uma extensa lista de nomes foi anunciada. As esperanças estavam a esgotarem-se. O nome do Kai não era prenunciado. Os Bladebreakers levaram as mãos à cabeça, era o fim…
- E AGORA OS ÚLTIMOS PARTICIPANTES, O MAURE, O TENSHI E O… JOE!
- Parece-me que a tua lista não está completa!
- PEÇO DECULPA A TODOS! INDA FALTAM MAIS UNS PARTICIPANTES QUE FORAM INSCRITOS NA ÚLTIMA HORA… o JOSH, … a MAYLENE… e o……………………………. KAI!
O espírito dos rapazes foi logo desperto. Tiraram as mãos da cabeça e olharam para o Kai. Este não manifestava nada. Estava quieto, soberbo encostado à parede a olhar para o grupo de participantes que subia à arena.
Estava com o olhar fixo em alguém que acaba de descer as escadas e subia até ao estádio. Eles seguiram o seu olhar, percepcionando uma rapariga de cabelos negros, presos em dois totós no cimo da cabeça, com o resto do cabelo a cair em cada lado numa cascata bem lisa. As ondulações que apresentara no dia anterior pareciam não existir. Trajava um top vermelho que apenas lhe segurava o peito, ficando com o abdómen destapado, com as alças a caírem-lhe pelos ombros e uma saia curta também vermelha. Dava-lhe um ar provocante, sexy e estimulante, mas acima de tudo ficava-lhe muito bem.
- Foi ela que vimos ontem! – notou o Kenny.
Mas Tyson pareceu nem reparar, virou-se para os companheiros e convidou-os a descerem até junto dos outros. Os combates iam começar e o melhor de tudo é que tinham ficado exactamente em escalões diferentes, logo não iriam ter de combater uns com os outros.
……….
Os combates foram fáceis demais. Em apenas 10 combates, o Tyson conquistou o seu lugar na velha equipa, o mesmo aconteceu com o Max, o Ray e o Kai. Mas havia uma surpresa dentro dos restantes Bladers. Maylene também derrotara os seus adversários sem uma gota de suor e ainda um outro participante, Josh, que fora o último a conquistar o lugar na equipa que representaria a Ásia.
- E JÁ TEMOS OS NOSSOS VENCEDORES! VAMOS APLAUDIR O… TYSON… O RAY… O MAX… O KAI… O JOSH… E A… PRIMEIRA RAPARIGA EM COMPETIÇÃO ASIÁTICA… A MAYLENE!
Um forte aplauso ouviu-se e quase arrebentou com o estádio. Estava terminado o torneio. Tyson acenava para a multidão, Ray e Max falavam entre si, o Josh estava numa das extremidades do estádio e o Kai encontrava-se mesmo ao lado da Maylene. Separados uns 2 metros, não conseguiam e deixar de sentir uma química entre ambos.
Uma figura ergueu-se no meio da multidão e Kai pode distinguir o seu avô. Talvez ele se enganara a respeito dele, afinal tinha o inscrito no torneio, mas não se ia deixar dominar tão facilmente. Não daquela vez… nunca mais cooperaria nos terríveis planos do seu avô fossem eles quais fossem.
……….
- Afinal tudo correu bem! – disse o Tyson com a sua boca a arrebentar de comida.
- Que porco! Não fales com a boca cheia… – avisou-o a Hillary.
- E agora o que se vai suceder? – perguntou o Ray ao Kenny.
O Kenny tirou o seu portátil e estendeu-o em cima da mesa do restaurante e ligou-o. Uma luz agradável envolveu a mesa dos Bladebreakers e uma voz saiu de dentro do PC.
- Olá pessoal! O que há para comer?
- Lamento Dizzi mas já não está a sobrar nada! – respondeu o Max.
- Pois… Mas daqui a pouco esse puto vai-se engasgar…
E não foi que logo no segundo seguinte o Tyson engasgou-se e já não conseguiu comer mais nada.
- Mas não se iam formar duas equipas? – lembrou-se a Hillary.
- Foi o que disse o Sr. Dickson. – confirmou o Kenny olhando para o velho homem que os acompanhava na refeição.
- Exactamente.
- E qual é o problema? – perguntou o Tyson assim que conseguiu falar.
- Ó seu idiota! – irritou-se a Hillary. – Se são duas equipas e só há 6 participantes, acho que é óbvio…
O Ray e o Max poisaram logo os garfos que levavam à boca. Ainda não se tinham apercebido disso e olharam suplicantes para o Sr. Dickson.
- Penso que este é um assunto para falarmos na associação e não aqui… – mas o Sr. Dickson não acabou a frase pois nesse instante entrou no restaurante alguém que lhe era bastante familiar, juntamente com a rapariga que tanto queriam conhecer.
Voltaire e Maylene, que desta vez vestia um vestido branco bordado, sentaram-se numa mesa a uns escassos metros da dos Bladebreakers.
- Voltaire! – exclamou o Tyson.
- E com aquela rapariga! – ficou chocado o Ray.
Os olhos deles não podiam acreditar no que viam. Aquilo não estava a acontecer… A rapariga por quem se estavam a apaixonar não podia ser companheira do homem que tanto detestavam.
- Ele está a usá-la! – Tsyon ergueu-se da sua cadeira e arregaçou as mangas do casaco vermelho que sempre usava, mas foi detido pela Hillary que o obrigou a sentar-se.
- Está quieto, não faças asneiras!
Kai permaneceu imóvel a olhar para a cena na mesa oposta. Com aquilo é que ele não contava…
……….
- Foi um óptimo torneio, minha querida! Estou orgulhoso.
- É muito amável senhor Voltaire.
- Espero que em breve possamos ter o meu neto aqui connosco! – sorriu, servindo-se de um copo de vinho.
- Uhm… – encolheu-se a rapariga ao olhar para a mesa mais à frente.
- Não te importes com eles, vais ver que tudo correrá conforme planeado.
……….
- ENTÃO É VERDADE?
- Afirmativo! E isso perfaz a formação de duas equipas com três elementos cada.
- MAS NÓS SOMOS QUATRO!
- Correcção Tyson, vocês eram quatro. Agora apenas aceitam equipas com três elementos cada.
- GRR…
Tyson estava fora de si. Aquilo significava… bem… ele nem queria pensar.
- Apenas três deles constituíram uma equipa, mas continuarão a lutar pelo mesmo país certo?
- Exactamente Hillary.
- Mas isso é fácil! Se são quatro dividem-se em grupos de dois e cada grupo faz par com os outros dois escolhidos. – sugeriu a Dizzi.
- Pois é! – uma luz iluminou o Tyson. – Já agora, eu fico na equipa daquela beleza.
- A rapariga? – questionou o Ray.
- É tão linda…
- Cuidado rapazes, o que é belo também é muito perigoso… – avisou a Dizzi. – A beleza esconde por vezes coisas horríveis.
- Sim sim, Dizzi. Xauzinho! – e dizendo isto, o Tyson fechou a tampa do portátil.
Porém o Sr. Dickson mostrou-se inquieto. Havia algo ainda por dizer e não era uma boa notícia.
- Não me parece malta. Após o torneio, foi oficializado uma união. A Maylene fez equipa com o Josh e agora aguardam que um de vocês se junte à equipa.
Todos olharam para o homem embasbacados e até o Kai, que tinha permanecido calado no seu habitual canto do gabinete, abriu os olhos.
- Eles já formaram equipa? Como? Como é que ela fez equipa com aquele ranhoso? – Tyson não estava em si, via a oportunidade de ter a rapariga perto de si desvanecer-se e logo com o rapaz bastante alto, de cabelos castanhos claro curtos e espigados saindo-lhe da testa como uma leve cascata e olhos igualmente castanhos.
- E ainda há mais!
- Mais?
- Sim. Ontem foi-me feita uma proposta e um convite, se é que se pode chamar assim! Em troca de termos uma boa empresa como sócia da BBA, teremos de ceder um dos nossos Bladers.
- QUEM? – as vozes saíram em uníssono.
- O Kai!
Montes de olhos viraram-se simultaneamente para o rapaz.
- A Maylene quer o Kai na sua equipa em troca do contrato.
Kai virou a sua cara para a janela e tentou ignorar os olhares dos seus companheiros e os murmúrios que começavam a ouvir-se.
- Ela prefere o Kai a qualquer um de nós? A mim, que sou o campeão!
- Mas estás a esquecer-te que ela está às ordens do Voltaire. E isso é um problema. – relembrou o Max.
- Pois…
- Qual será o plano que o Voltaire está a planear desta vez? – Ray voltou-se para o Kai. – Esse tal contrato e ainda mais o Kai. Teremos também de enfrentar de novo a Bio-Volt?
O Kai deixou de conseguir suportar os olhares que lhe eram dirigidos a todo o momento. Virou as costas e saiu do gabinete sem dizer uma única palavra. Sabia o que tinha a fazer e ia fazê-lo. E ao sair do edifício, não se espantou de ver a limusina preta que vira no dia em que encontrara a Maylene pela primeira vez. O vidro abriu-se e do outro lado viu a cara da rapariga. O motorista veio abrir a porta e o Kai entrou, ficando de frente para a Maylene.
- Eu sabia que aceitarias o convite! Sê bem-vindo à nossa equipa, Kai… Voltaire!
Fim do 3º Capítulo
