Retratação: como sempre, Saint Seiya e seus personagens não me pertencem. Porém, a idéia original desse fic sim e seus personagens originais. Portanto, se você resolver usar alguma coisa daqui, eu não me importo, contanto que os créditos sejam devidamente feitos.

Créditos: Saint Seiya pertence ao tio Kuramada, só uso os personagens pra me divertir. Em algum ponto do fic, usarei o nome Carlo di Angelis, e esse nome é totalmente creditado à Pipe.

Resumo: depois de sete anos longe do Santuário, Shaka volta à Grécia, onde pretende retomar a vida, mesmo que tudo tenha mudado à sua volta. Yaoi com flashback, lemon, um pouquinho de violência. Casais: Shaka/Mu; Miro/Kamus; Máscara da Morte/Afrodite


Capítulo 4: O que acontece quando os cavaleiros saem para uma noitada

Amanheceu no Santuário. Shaka ainda sentia os efeitos da longa viagem, mas mesmo assim lembrava-se do treino que havia combinado com Miro. Levantou-se ainda sonolento, deixando Eric dormindo profundamente ao seu lado.

Enquanto tomava um banho rápido, não pôde deixar de lembrar dos sonhos constantes, os quais ele tinha a ligeira impressão serem fruto de todas as lembranças. Mas também parecia que tentavam falar com ele através de seu cosmo. E só havia uma pessoa que o fazia.

(FLASHBACK)

-Não posso acreditar que esqueceu de nós Shaka... –a voz suave dizia, tentando adentrar seu templo.

Shaka fazia uma força mental descomunal para manter o outro do lado de fora, mas sentia suas forças se esvaírem. Sentia-se caindo de uma altura enorme e sabia que no final não teria ninguém para aparar sua queda. Gritava, mas a voz não saía.

-Nunca houve um nós, me deixa em paz! –ele gritou, por fim, acordando de mais um pesadelo.

( FIM DO FLASHBACK)

E havia sido daquele jeito durante toda a noite. Alguém sempre tentava entrar em seu templo, nos seus sonhos, mas ele não permitia que aquilo acontecesse. Aliás, não permitiria que aquela voz conhecida adentrasse em sua vida, seu coração, mais uma vez.

Saiu do banho enrolado em um belo roupão branco e já podia sentir o cheiro de perfume no ar. Miro, vaidoso como sempre, não perdia uma oportunidade de mostrar-se mais que belo, mesmo que fosse para um simples treino.

-Camufla o cosmo, mas esse perfume caro te denuncia, Escorpião. –Shaka disse, saindo do banheiro, antes de entrar no quarto novamente. Recebeu em troca uma risada safada de Miro.

-Sabe como é...tenho que manter os fãs... –Miro justificou-se, sentando em uma das poltronas confortáveis da sala de estar do templo de Virgem.

Shaka balançou a cabeça, os fios loiros, mesmo molhados, seguiram o movimento negativo que ele fazia, enquanto ele caminhava para o quarto, na intenção de se trocar. Pediu que Miro ficasse à vontade para comer o que quisesse, antes do treino. Não havia inspecionado a geladeira, mas tinha quase certeza de que Ikki havia abastecido-a de tudo o que precisariam.

Voltou minutos mais tarde, vestido com uma calça de moletom preta e regata da mesma cor. Nos pés tênis confortáveis e os cabelos presos em um rabo de cavalo apertado. Miro quase engasgou com a visão, por demais bela e diferente.

-Aonde pensa que vai assim? –ele indagou, colocando o copo de suco de laranja que tomava em cima da mesa de centro da sala.

-Treinar. Aonde mais?

-Vestido assim?

-Ué, não é assim que você e os outros costumam treinar? –Shaka parecia realmente admirado com aquelas perguntas de Miro.

-É, mas...bem, quando você falou em treinar, eu achei que era algo como você costumava fazer antigamente.

Shaka sorriu, só então percebendo a confusão do escorpiano. Sentou-se ao lado dele, pegando o copo de suco e tomando o restante de uma só vez.

-Mudei. Vamos treinar, Miro...eu não faço treinamento físico desde que saí da Índia.

"Shaka faz treinamento físico?", Miro pensou, ainda confuso, mas seguindo o amigo até a saída.

-E o Eric?

-Deixei um bilhete. Ele é esperto, Miro...você vai aprender isso com o tempo. –Shaka respondeu, mais misterioso que nunca.

Desceram as escadarias rapidamente, brincando de apostar corrida. Miro achava que Shaka não seria capaz de correr tanto, mas o loiro mostrava que estava em sua melhor forma física, correndo com desenvoltura pelos degraus, esquivando-se das servas e de alguns cavaleiros que, àquela hora da manhã ou estavam acabando de acordar ou começavam a buscar seus afazeres.

-Shaka de Virgem volta aqui, seu abusado! –Saga gritou, quando o cavaleiro em questão passou por ele correndo, quase o derrubando. Miro, que estava em seu encalço riu descaradamente, mas logo ficou sério ao ver o olhar mortal do geminiano.

Quando Miro alcançou Shaka, este já estava na arena, tirando a regata preta, soltando os cabelos, que agora, um pouco molhados de suor, começavam a grudar nas costas bem talhadas. Estranhamente o escorpiano ficou com a boca seca, reparando por demais no virginiano, que era o mesmo, mas tão diferente ao mesmo tempo. Reparou na delicadeza dele em tratar dos cabelos, prendendo-o agora em um coque alto, prevenindo que os fios o atrapalhassem. "Por Zeus, a falta de sexo está afetando meu cérebro...esse é o Shaka!", ele pensou.

Shaka virou-se abruptamente, pegando um corado escorpiano o observando. Sorriu abertamente, ao mesmo tempo surpreso e encantado com aquele olhar.

-Gosta do que vê, Escorpião?

-Sem graça. Nem pense em usar essas táticas comigo. Não vão funcionar, Virgem. –Miro disse, colocando-se em posição de luta.

Shaka riu mais ainda, deliciando-se com a falta de habilidade de Miro em fugir de alguém que mostrava algum interesse por ele. Especialmente se a pessoa era sua amiga. Resolveu não pensar naquilo e começar o treino. Posicionou-se como Miro, ambos agora estudando os movimentos. Era engraçado, porque Miro sempre achou que Shaka não sabia como lutar, não uma luta física, mas o virginiano mostrava-se tão hábil quanto ele.

Trocaram alguns golpes, até que num dado momento, Miro encurralou Shaka com golpes tão rápidos que até o virginiano não conseguia se esquivar. Partiu para uma última tática, que ele sabia que não seria bem recebida depois que a usasse.

Miro estava prestes a desferir um soco no ombro de Shaka quando de repente, socou o ar. Segundos depois, Shaka aparecia atrás dele, em uma distância considerável, sorrindo ingenuamente.

-Sabe muito bem que isso é trapaça, Virgem. E desde quando aprendeu a teletransportar?

-Você fala demais e percebe muito pouco, Escorpião. Numa luta vale tudo. Coloque apenas uma coisa na sua cabeça. Sorte sua que eu apenas me teletransportei, eu poderia muito bem tê-lo beijado.

-Você não ousaria... –Miro parecia incrédulo.

-Não? –Shaka perguntou, encurtando a distância entre os dois, um sorriso de pura sensualidade nos lábios.

Shaka percebeu a reação de Miro e caiu na gargalhada, não agüentando mais aquele joguinho. Podiam cham�-lo de tolo, mas ele não conseguia fazer aquele estilo fatal, não combinava com ele. Definitivamente. Afastou-se de Miro, pegando a regata que estava em uma das fileiras da arena e começou a subir as escadas.

-Que diabos foi aquilo, Shaka? –Miro perguntou, finalmente saindo do transe daquele universo paralelo que se encontrou momentaneamente, onde Shaka de Virgem, um de seus melhores amigos, o cavaleiro mais próximo de Deus estava dando em cima dele.

Ainda rindo, Shaka continuou subindo as escadas.

-Uma brincadeirinha, Miro...nada demais. E antes que você me pergunte de novo, eu ampliei minhas técnicas e agora consigo me teletransportar também. Não é legal?

-Mas o que foi aquilo? Você ia me beijar?

-Ah, Escorpião...você não saca mesmo quando alguém brinca com você, é?

-Mas...mas...

-Brincadeira, Miro...sabe o que isso significa? Você costumava fazer isso sempre...o que aconteceu?

E os olhos de Miro ficaram estranhamente tristes, o azul sempre tão vibrante daquelas orbes, tornaram-se melancolicamente escuros. Ele suspirou profundamente.

-É uma longa história, Shaka...

-Teremos muito tempo então...hoje à noite, na boate.

E pela terceira ou quarta vez no dia, Shaka de Virgem surpreendia Miro de Escorpião.

Um pouco mais tarde, no mesmo dia

-Sair com o Afrodite dá nisso...eu já disse que temos que avisar com quatro horas de antecedência. –Miro disse, olhando para o relógio pela quarta vez.

-Filho, se cuida, hein. Não quero ouvir nenhuma reclamação dos outros quando voltar.

-Vai tranqüilo, Shaka, vamos cuidar direitnho dele. Aliás, ele toma mamadeira? –Seiya perguntou, olhando para o garoto que franzia o cenho, não entendendo aquela pergunta. Shun e Hyoga já caíam na gargalhada.

-Eric, querido, venha aqui... –Ikki chamou o garoto em um canto afastado, Shaka só observando. –Fica longe do moleque de calça jeans e blusa vermelha. Ele é perigo.

-Pode deixar, Fênix. –o menino disse, usando um tom de voz muito similar ao de Shaka, o que arrancou risadas do loiro e um aceno negativo de cabeça de Ikki.

-Aonde se meteu o Afrodite? –Miro perguntou novamente, dessa vez prestes a subir os degraus da escadaria.

Nem bem começou a subir, sentiram o cheiro de rosas, característico de Afrodite. Como sempre, ele mantinha a postura altiva e bela de cavaleiro, mesmo não usando sua armadura. Vestido de maneira simples, mas magnificamente perfeito. Calça jeans com pequenos cortes nos joelhos e blusa marfim de gola alta. Um blazer preto que ele segurava nos braços completava o visual. Por um momento, todos ficaram atônitos.

-O que foi? –Afrodite perguntou, notando que todos reparavam nele e principalmente Máscara da Morte, que, mesmo disfarçando, não conseguia tirar os olhos dele.

-Miro estava preocupado com a sua demora. Só isso.

-Saga tem razão. Você é pior que uma noiva...tira toda a graça da balada. Vamos logo...

-O Saga tem razão...humph... –Shaka fingiu não ter ouvido Kamus murmurar contrariado, caminhando até um dos carros que os levaria até a boate.

-Credo, Miro...é por isso que teu cabelo tá uma porcaria...você anda muito estressado. Aliás, anda estressado desde que...

-Afrodite...deixa eu te perguntar uma coisa! –Aioria surgiu do nada, puxando o pisciano pelo braço, impedindo-o de tocar no assunto do término do namoro de Miro e Kamus.

Fizeram o trajeto em silêncio, nas duas picapes que a Fundação havia deixado para os cavaleiros de ouro, uma em nome de Kamus e uma em nome de Aioria, considerados por Saori como os mais responsáveis, juntamente com Mu, que não gostava de dirigir.

A boate, escolhida a dedo por Miro, estava cheia àquela hora. Ficaram alguns minutos na fila, mas conseguiram lugares na área VIP, que nem era tão VIP assim. Aliás, aquele havia sido o único lugar que conseguiram encontrar para todos os cavaleiros.

Logo que se acomodaram, alguns foram deixando os lugares vazios. Afrodite foi o primeiro a puxar Shaka para a pista de dança, que alternava hits da moda com sucessos antigos. O virginiano, para surpresa de todos, deixou-se levar pelo sueco. "As coisas estão realmente diferentes", Saga pensou, coçando a cabeça levemente, observando os dois descendo as escadas, enquanto Miro pedia a Kamus para que o ajudasse a pegar as bebidas. Mesmo reclamando baixinho, dizendo que ele não era barman nem garçom, ele percebeu que o francês ficou grato pelo escorpiano tê-lo escolhido para fazer aquilo e não outra pessoa. "Como esse francês é tolo...mas ainda assim a culpa é toda minha...", ele pensou, lembrando-se vividamente do dia em que ele e Miro tomaram uma decisão drástica que mudou totalmente o rumo de um dos casais mais admirados do Santuário.

(FLASHBACK)

-Como é que é? Diz de novo...

-Que saco, Miro...eu sabia que não podia contar com você...

-Mas é claro que pode...quer dizer... –o escorpiano ficou ligeiramente corado. –Mas eu queria ouvir seus motivos primeiro.

-Credo...eu mereço...t�, eu estou curioso, ok? Meu irmão e o Julian ficam se agarrando cada vez que eles aparecem aqui e eu fiquei curioso.

-Como seria beijar um homem, é isso?

-Basicamente.

-Por que eu, senhor, por que eu?

-Quer que eu responda?

-Shh, fica quieto. Zeus está me mandando respostas... –Miro disse, enquanto Saga revirava os olhos. –Tudo bem, mas isso não vai mudar nada. Eu amo meu Kamus, não quero que isso mude.

-Ah, medo de se apaixonar por mim? –Saga perguntou, divertido.

-Isso é impossível de acontecer. Eu amo o meu francês...

-Então tá...

-Caraca, vamos acabar com isso logo... –Miro disse, aproximando-se de Saga, puxando-o pela gola da camisa. Mal colou os lábios nos do amigo, ouviu um barulho estranho, como se algum objeto tivesse sido derrubado. Virou-se para trás, uma sensação de que sabia o que estava por vir.

Kamus estava parado na porta da frente da casa de Escorpião, os olhos friamente fitando o "casal", um embrulho com algo quebrado, espatifado no chão. Naquele momento Miro sabia que algo de errado havia acontecido, que Kamus provavelmente havia entendido as coisas de maneira errada. Aproximou-se dele, pronto para falar-lhe a verdade, quando a voz cortante e indiferente do francês o assustou pela primeira vez.

-Não se aproxime.

-Mas...

E Kamus havia sumido, sem ao menos ouvi-lo falar alguma coisa. Instantaneamente, sentiu algo dentro de si romper, algo estava fora do lugar e foi preciso Saga aproximar-se para que ele soubesse o que era.

-Vá até ele, Miro. E se precisar de ajuda, me chame.

Miro saiu de seu templo correndo, só encontrando Kamus quando este saía da casa de Shura. O capricorniano, percebendo a gravidade da situação, ofereceu seu templo para que os dois conversassem, ele mesmo saindo discretamente para o templo de Peixes.

-Kamus.

-Fica longe de mim, Escorpião. Fique longe ou eu serei capaz de te matar.

-Você entendeu tudo errado.

-É, eu realmente posso ter entendido errado, já que a imagem do meu namorado beijando um dos amigos dele na boca estava por demais confusa, turva e tudo o mais.

-Não é nada disso! Ele estava curioso para saber como era beijar outro cara.

-E claro, o Escorpião mais atirado do Santuário estava disposto a mostrar a ele como se fazia.

-Por Zeus como você é tolo, Kamus!

-Tolo! É, tolo sim! Tolo por ficar esse tempo todo me iludindo diante das suas palavras bonitas. Me poupe Miro, faça um favor a nós dois, desapareça da minha vida. Só se dirija a mim para assuntos do Santuário, nada mais.

-Kamus, por favor...

-Poupe-me das suas palavras, Escorpião. Elas não vão surtir nenhum efeito.

-Kamus, eu te amo...

-Sei...eu também achava isso. Agora acho que não vale mais nada. –Kamus disse, passando por Miro, tencionando voltar para sua casa. Miro segurou o braço dele, impedindo-o de prosseguir.

-Solte-me. Agora.

E Miro o fez, sentindo o cosmo de Kamus aumentar de maneira fenomenal, da maneira que ele fazia quando se preparava para uma batalha. Sentiu-se perdido. Sem rumo. Sem vida. Alguns segundos depois da saída de Kamus, o templo de Shura foi invadido por Aioria, Saga e Mu, que já sabiam o que havia acontecido e corriam no auxílio do grego, já que também haviam sentido o cosmo de Kamus.

Encontraram Miro travado no mesmo lugar que estava, por um momento acharam que Kamus o havia congelado, mas as lágrimas nos olhos dele provavam o contrário. Ele estava bem vivo. E sangrando por dentro.

-Miro... –Mu começou

-Está tudo acabado. –foram as palavras ditas por ele, sem fixar-se em nenhum dos rostos que estavam à sua frente.

(FIM DO FLASHBACK)

-Pela madrugada, que cara de enterro é essa? –Shaka perguntou, sentando-se ao lado de Saga, que ainda tinha os olhos fixados no andar de baixo, onde Miro e Kamus pegavam as bebidas.

-No passado, numa época que você havia saído do Santuário. Meu amigo, eu sempre ferro tudo...

-Do que você está falando?

-Acho que ele está falando da contribuição do término do romance entre o Kamus e o Miro...

-Muito obrigado, Afrodite, você é ótimo em me colocar como culpado.

-E você é ótimo para bancar o mártir. Pelo amor de Zeus, ninguém nunca te culpou. Foi uma fatalidade.

-Alguém pode me explicar o que aconteceu? –Shaka perguntou, mas foi interrompido por Miro, que chegava sorridente.

-Alguém pediu tequila? Eu trouxe a garrafa.

Fez-se um silêncio pesado na mesa quando o escorpiano se aproximou, mas ele não notou aquilo, continuou a servir as doses de tequila entre os presentes. Kamus, por sua vez, mais observador, fitou Saga por alguns segundos, logo preocupando-se em conversar com um rapaz atraente que estava perto deles.

-Afrodite, você vai me contar o que aconteceu nesses últimos anos...e vai ser agora. –Shaka disse, segurando o braço do sueco firmemente.

Mas a atenção de Afrodite estava discretamente em Máscara da Morte, que descera as escadas com seu copo de bebida e agora precipitava-se para a pista de dança. Ele levantou-se em um pulo, beijando o rosto de Shaka e dizendo que ia dançar um pouco. O virginiano pouco entendeu aquele comentário, mas tratou de esquecer aquilo, puxando a cadeira para mais perto de Miro.

-Cara de pau... –Miro resmungou, observando Kamus sorrir de maneira sensual para o rapaz de cabelos ruivos que estava na mesa ao lado.

-Se controla, Escorpião. –Aioria disse, acompanhando o olhar de Miro.

Shaka balançou a cabeça, aqueles segredinhos entre os cavaleiros estavam se tornando atordoantes para ele. Ficar longe do Santuário não implicara apenas ficar longe de Mu e de toda a agitação, mas também o impossibilitara de vivenciar momentos importantes das vidas dos amigos, momentos que agora ele começava a entender que sentiria falta.

Desviou os olhos para a pista de dança, onde as luzes coloridas e intensas o impediam de ver Afrodite com clareza. Aquele com certeza sabia de todos os detalhes de tudo o que havia acontecido e era a pessoa mais indicada para contar-lhe tudo.

-Vamos dançar? –Afrodite perguntou, chegando lentamente por trás de Máscara da Morte, que estava em um canto afastado, dançando. Nunca foi muito fã de ficar se mostrando pela pista de dança.

-Tá maluco, Afrodite? E se nos vêem? –o italiano perguntou, quase derrubando o resto da tequila no chão.

-Qual o problema? Somos dois amigos, dançando. –Afrodite na verdade queria justificar aquilo de outro jeito, algo como "Somos dois adultos que dormem juntos, qual problema em dançarmos?", mas sabia que aquilo seria o fim.

Máscara da Morte começou a rir. Era nervosismo misturado a desejo. Um eterno conflito interno. E a melhor maneira de se livrar era a única que conhecia.

-Você pirou de vez, Peixes. –e ele saiu de perto de Afrodite, ainda rindo.

Afrodite fechou as mãos em punho, uma das coisas que mais odiava era quando alguém o chamava pelo nome de sua constelação. Ele não sabia o porquê, mas aquilo soava estranhamente pejorativo. E vindo de Máscara da Morte era ainda pior.

Teve vontade de lançar uma de suas rosas mais mortais quando viu que o italiano aproximou-se de uma morena de beleza e classe duvidosas, rapidamente enlaçando-a pela cintura e começando a dançar. Olhou-os com fúria, as orbes azuis ficando estranhamente molhadas e só então percebeu que algumas pequenas lágrimas caíam.

-Não seja patético, Afrodite. Aja. –ele disse a si mesmo, olhando-se no espelho, recompondo-se rapidamente.

Seguiu novamente para o segundo andar da boate, vendo os amigos se divertindo. Aparentemente Aioria começava a rodada de piadas, muitas delas conhecidas por ele. Hesitou por um momento. Quem seria a vítima perfeita? Pensou em Saga, mas aquele lá era mais hetero que o leonino, que trocara um beijo com Marin naquele exato momento. Miro...coitado...o escorpiano estava na pior há muito tempo, não seria justo usa-lo daquela maneira e o motivo daquilo tudo estava se esbanjando na mesa ao lado, um ruivo sentado em seu colo, acariciando seu peito de maneira suspeita. Shaka. Shaka era uma boa opção.

-Vamos dançar. Agora, Virgem.

-Mas eu ainda estou bebendo... –Shaka ponderou, olhando para seu copo de tequila. A garrafa, aliás, já estava na metade.

Afrodite nem bem deixou o loiro acabar a frase, tomou o copo da mão de Shaka e virou o conteúdo de uma única vez, sentindo-se um pouquinho tonto, mas ignorando aquilo. Segurou a mão do amigo, puxando-o pela escada.

-O que deu em você? –Shaka perguntou.

-Vontade de dançar...eu adoro essa música. –Afrodite disse, prático, colocando-se estrategicamente em um ponto onde Máscara da Morte poderia ver sua performance.

-Música? Chama esse troco de música? –Shaka argumentou, quando as primeiras notas de Hot In Heere de Nelly começavam a tocar e os presentes gritavam, apoiando aquela escolha.

-Vamos seu chato, mais pra perto. –Afrodite gritou, puxando Shaka pela ponta do cinto preto de couro.

Os dois estavam incomodamente, na opinião de Shaka, agarrados, os dois pares de pernas entrelaçados, e eles rebolando de maneira sensual, atraindo alguns olhares curiosos. Depois dos segundos iniciais de desconforto, Shaka começou a acostumar-se com as batidas da música e com o corpo de Afrodite.

Passou as mãos delicadas pela cintura do sueco, puxando-o para mais perto. Estavam se divertindo e aproveitavam o barulho para colocarem as conversas em dia. Shaka estava ansiando por aquele momento com Afrodite, queria saber o que estava acontecendo, porque parecia que alguém sempre estava escondendo alguma coisa.

Mas Afrodite, por outro lado, mal prestava a atenção no que Shaka lhe perguntava. Seu objetivo era o rapaz de cabelos azuis e rebeldes não muito longe dali, que já partia para beijos mais ousados com a mesma morena de outrora. O sueco engoliu o seco, suprimindo a vontade de ir até lá e partir a cara da mulher ao meio. Controlou-se, seu plano era bom e o loiro em seus braços parecia não ter desconfiado, o que tornava tudo muito mais fácil.

-Dança bem, Shaka.

-As coisas mudam...mas você não muda de assunto. Me conte o que está acontecendo.

-Depois. Agora deixe-me aproveitar do novo Shaka de Virgem. –Afrodite disse, sorrindo, recebendo um largo sorriso de volta. O virginiano soltou-se então de Afrodite, virando-o, colocando as costas do sueco imprensadas em seu peito, enlaçando então sua cintura novamente.

-Fica bem melhor assim, não fica? –Shaka perguntou, malicioso, movimentando-se sensualmente com o sueco, que sorria. Por um segundo deixou-se perder naquela dança, ignorando seus planos iniciais.

-Com certeza, você sabe a maneira certa de se pegar em alguém. –Afrodite respondeu num tom tão malicioso quando o do virginiano.

Sorriram, ainda dançando, sem trocar palavras, acostumando-se com a proximidade dos corpos entre amigos. Não percebiam que finalmente Máscara da Morte parecia estar tomando consciência do que estava acontecendo.

Seus olhos faiscaram ao ver seu Afrodite nos braços de Shaka, logo do virginiano misterioso, que possuía a beleza que todos ali no Santuário um dia quiseram para si. Eles pareciam muito à vontade e por um momento, Máscara da Morte pensou se o sueco e o indiano estariam relacionados de alguma maneira que não apenas amizade.

-Não...ele não faria isso... –ele disse, em voz alta, inconscientemente caminhando na direção de Afrodite e Shaka. Foi parado rapidamente pela mão da morena que estava em sua companhia, estranhamente aquele parecendo um elo entre o que queria e o que podia fazer.

-Fugindo de mim? –ela perguntou, num tom de voz irritante, tão diferente da voz decidida e quente, sempre tão cheia de desejo de Afrodite. "Desde quando eu faço comparações e incluo o Peixe?" , ele pensou, olhando para a morena novamente e sorrindo, contra a vontade.

Do outro lado da pista, Afrodite rebolava até o chão, serpenteando o corpo definido em busca do de Shaka, que mais discretamente tentava acompanhar os movimentos do amigo. Achava que aquele súbito jogo de sedução era para conquistar alguém, mas vindo do imprevisível sueco tudo era novidade. Ele estava até gostando daquilo tudo, tinha que admitir que sentia falta das loucuras que os cavaleiros aprontavam durante as madrugadas. Ele nunca foi de sair com eles, preferia ficar no Santuário conversando e tomando chá com Mu, mas as histórias que ouvia depois sempre eram interessantes. "Por Buda...preciso parar de pensar nele..."

Enquanto a ação rolava solta entre Afrodite e Shaka, Máscara da Morte já estava chegando ao limite de sua paciência. Tinha certeza de que ela estava sendo testada aos extremos, especialmente ao ver o momento em que o virginiano puxou seu Afrodite para mais perto, os braços à mostra, devido à camisa vinho sem mangas que usava, segurando-o pelo pescoço, afastando os cabelos azuis claríssimos, pronto para beijar-lhe.

E foi aí que ele deixou-se levar. Largou imediatamente da morena, que ainda falava com ele e caminhou decididamente a terminar com aquele espetáculo, em sua opinião, de muito mal gosto. Embora sabendo o que teria de fazer, o caminho até o "casal" era um tanto longo e ele refletia o que estava para fazer. No último minuto, mudou de opinião.

Passou por Shaka e Afrodite, esbarrando propositalmente no ombro desse, deixando pelo menos o sueco a par do que ele havia presenciado. Seguiu no mesmo instante para a área VIP, e, para não ser incomodado, sentou-se à uma certa distância dos outros cavaleiros, ao lado de Miro, que não parecia muito satisfeito com o que presenciava.

Kamus estava aos beijos intensos com o tal ruivo, que à essa hora já havia perdido a jaqueta que usava e correspondia avidamente aos toques suaves porém precisos do francês.

-Essa noite está uma droga...podíamos ir pra casa... –Miro murmurou e surpreendentemente ouviu a resposta de Máscara da Morte, na mesma hora.

-Concordo plenamente com você, Escorpião.

-Ah, então vamos...o que estamos esperando?

-Que tal pelo Fred Astaire e Ginger Rogers ali no meio do salão? –Máscara da Morte perguntou, ironicamente, olhando vagamente para a pista da dança, não querendo ver Afrodite e Shaka.

-Vou cham�-los, só um minuto.

Máscara da Morte acompanhou Miro com o olhar, vendo ele trocar algumas palavras com Afrodite. Logo em seguida, os três voltaram para a mesa, Shaka sentando-se ao lado de Saga e Afrodite ao lado de Aioria.

-Vamos ou não embora? –Afrodite perguntou, evitando olhar para Máscara da Morte, sabendo que o outro o estava observando. Seu plano havia dado certo, de uma maneira estranha, mas havia conseguido afasta-lo da tal morena intrometida. Porém, esperava que o outro tomasse uma atitude diferente, que o tirasse dos braços de Shaka e o levasse embora, que pelo menos mostrasse algum sentimento por ele. Mas como sempre, aquilo não acontecera. "Acorda, Afrodite, isso não é um conto de fadas. Você não é uma princesa e definitivamente ele não é um príncipe.".

-Vamos sim...já está ficando tarde... –Aioria disse, olhando displicentemente para o relógio em seu pulso e constatando que já passava das três da manhã.

Levantaram-se ao mesmo tempo, e já precipitavam-se para a saída quando Shaka alertou-os sobre Kamus, que nem ao menos ouvira alguma coisa da conversa que os cavaleiros estava tendo.

-Alguém vai falar com ele?

-Ele sabe o caminho para o Santuário, Shaka...e pode ter certeza de que essa não é a primeira, muito menos a última vez que ele sai com a gente e volta sozinho. –Aioria explicou-lhe, sem ao menos olhar para o francês.

-Mas...Miro... –ele começou a falar, mas foi interrompido por Afrodite e seu jeito nada discreto.

-Anjinho, já te disse que adorei que você voltou? –ele disse em tom espalhafatoso e logo corrigiu-se, murmurando aos ouvidos do loiro. –Mais tarde te conto tudo, agora deixe o Miro em paz.

Shaka assentiu, observando que Miro parecia agir mecanicamente com todos. Cada vez mais queria saber tudo o que estava acontecendo, sentia que tinha meio que uma obrigação em resolver os problemas dos amigos, como se o tempo que ficara longe tivesse feito com que eles se colocassem em situações ruins e que somente ele, Shaka, poderia ajudar.

Caminharam para a saída da boate, deixando Kamus para trás. Afrodite deixou-os alguns minutos para trás, dizendo que precisava ir ao banheiro antes de voltarem para o Santuário. Discretamente, Máscara da Morte também deixou-os a sós, seguindo o sueco pelo caminho.

Não deixou que ele entrasse no banheiro, puxou-o rudemente pelo braço, ambos sendo escondidos por uma pilastra em um canto escuro. Afrodite assustou-se por um segundo, mas sabendo, pelo perfume, de quem se tratava, relaxou o corpo. Porém, quando cruzou os olhos com Máscara da Morte, um arrepio nada prazeroso subiu por sua espinha. O que via ali não era desejo, mas sim, ódio. Mortal, feroz. Pela primeira vez, desde que começara seu "relacionamento" com o italiano, temeu por sua vida.

-O...o que você quer?

-Que palhaçada foi aquela, Afrodite. Diga-me! –Máscara da Morte disse, pontuando sua raiva batendo as costas do sueco contra a pilastra. Percebeu que ele ficou um pouco tonto, mas mesmo assim não mudou sua postura.

-Do que você está falando?

-Não brinque comigo, Afrodite. Não brinque.

E Máscara da Morte soltou-o, de repente. Afrodite sentiu o sangue voltar a correr lentamente por seu corpo novamente e só então respirou. Sabia que tinha ultrapassado um limite, mas não que havia sido tão grave.

Entrou no banheiro e lavou o rosto. Quando voltou-se para o espelho, deu de cara novamente com Máscara da Morte. Eles trocaram olhares ameaçadores, desafiadores, e o italiano foi o primeiro a falar.

-Nos vemos mais tarde. No seu templo.

Continua...


Bom, meninas, esse capítulo demorou mais saiu, desculpem pelo atraso. Obrigada pelas reviews e mesmo por quem lê e não comenta, ainda assim é importante pra mim. Meninas que querem ser a mãe do Eric, tirem seus olhinhos de cima de pai e filho...eu cheguei primeiro! Hahahahaha

Até a próxima!