Retratação: como sempre, Saint Seiya e seus personagens não me pertencem. Porém, a idéia original desse fic sim e seus personagens originais. Portanto, se você resolver usar alguma coisa daqui, eu não me importo, contanto que os créditos sejam devidamente feitos.
Créditos: Saint Seiya pertence ao tio Kuramada, só uso os personagens pra me divertir. Em algum ponto do fic, usarei o nome Carlo di Angelis, e esse nome é totalmente creditado à Pipe.
Resumo: depois de sete anos longe do Santuário, Shaka volta à Grécia, onde pretende retomar a vida, mesmo que tudo tenha mudado à sua volta. Yaoi com flashback, lemon, um pouquinho de violência. Casais: Shaka/Mu; Miro/Kamus; Máscara da Morte/Afrodite
Aviso: esse fic vai ter cenas de flashback e sempre que uma ocorrer, o texto estará em itálico e negrito, só pra situar todo mundo.
Capítulo 5: Lembranças do Passado
Era domingo e, portanto, a Deusa gostava de reunir todos os cavaleiros, para um almoço formal. Naquele dia, porém, quatro cavaleiros não compareceram, deixando Athena preocupada. Ela pediu, mais tarde que Aioria, Saga e Shura procurassem pelos respectivos faltantes, para que pudessem se explicar.
-Mas senhorita, Áries não voltou de viagem ainda. –Saga disse, ajoelhado à frente da Deusa, que mantinha sua postura autoritária, tão criticada pelos outros cavaleiros.
-Mu voltou de Jamiel ontem, Gêmeos. Senti movimentação na casa de Áries ontem pela manhã. Por favor chame-o aqui. Temos muito o que conversar.
Saga saiu do templo do Grande Mestre murmurando, contrariado. Odiava quando a "mimadinha" começava com suas ordens. Detestava quando eles tinham que almoçar juntos, como se fossem uma família feliz. Abominava o fato de que ele sempre tinha que correr atrás dos fujões do almoço.
Esbarrou em Kamus no caminho, quase jogando o francês escada abaixo e nem ao menos pediu desculpas.
-Olha a boa educação, Saga! –ele disse, seco, com a mão na cabeça.
-Vai pro inferno você também, Kamus...e vê se não falta aos almoços, que droga! Eu não sou babá de vocês!
-Credo, que humor...eu que bebo e ele quem fica de ressaca. –o francês resmungou, antes de entrar no templo. Havia sido acordado por Aioria, que entrara sem nenhuma cerimônia em seus aposentos e aberto a porta, com um chute. Odiava como eram bárbaros ali no Santuário. "Talvez eu devesse voltar para a Sibéria..."
Máscara da Morte estava sentado no chão da sala, olhando para o teto. Ainda estava com as mesmas roupas do dia anterior, ou melhor, com a calça preta do dia anterior e não a mínima intenção de levantar-se dali. Dormira pouco, comparado ao que estava acostumado e só tinha uma explicação àquilo tudo. Uma explicação plausível e que se encontrava a oito casas dele.
Afrodite.
Agora com a cabeça mais fria, conseguia analisar bem o que havia feito ao pisciano. O tratara como propriedade, tentara abusar dele e revelara sua verdadeira personalidade, cruel, impiedosa e má a uma pessoa que sempre demonstrava querer apenas o seu bem. E aquilo doía. E como doía. Não sabia como desculpar-se, nunca havia feito aquilo. Mas sentia que tinha que fazer alguma coisa, se não fosse para se redimir, que fosse pelo menos para manter as coisas como eram antes de se envolverem.
-Máscara da Morte!
Nem notara que Shura já o chamava a alguns minutos, de tão absorto em pensamentos que estava. Virou-se lentamente na direção do amigo, tentando mostrar irritação por ter sido interrompido de seus pensamentos.
-Quê que você quer?
-A Deusa quer você no templo. Não foi ao almoço. O que aconteceu?
-Nada da sua conta. Ou da deusa. Não estava com fome.
-Mas você sabe...
-Que se dane, Shura! Não somos uma droga de família feliz, metade dos cavaleiros não se suporta, não entendo qual é a da Saori em manter todo mundo unido, nessa falsidade pura...
-Credo, Máscara...parece que chupou limão...não tá mais aqui quem falou...mas ela quer ver você. E ouvir suas explicações. –Shura disse, já saindo do templo. Parou no meio do caminho, virando-se para o canceriano, que permanecia na mesma posição. –Ah, e não vai falar pra ela o que você acabou de me dizer. É capaz de ela te mandar pra algum castigo, bem longe daqui. Sabe como ela é temperamental.
Máscara da Morte observou Shura sair do templo. Bufou. "Talvez seja bom sumir por uns tempos..."
Coube à Shaka chamar por Afrodite. Aioria havia cruzado com o virginiano quando este se dirigia para o templo de Escorpião e pediu pelo favor. Ele deu a desculpa de que precisava falar com Marin e fez aquela cara de leão que caiu do caminhão do circo. Shaka simplesmente não podia resistir àquilo, era como nos velhos tempos.
Adentrou a casa de Peixes, que estava, surpreendentemente, escura. As janelas que davam para o jardim de Afrodite estavam fechadas e ele estranhou aquilo, geralmente o sueco gostava da casa iluminada, dizia que o cheiro das rosas era levado lá pra dentro, deixando sua casa ainda mais bonita. Olhou à sua volta e nenhum sinal de movimentação. Sendo assim, foi ao único lugar que poderia encontrar o pisciano. No quarto dele.
A bela suíte de Afrodite era completamente branca, com tapetes macios e lustres de cristal. Era como sentir-se no meio de holofotes, subitamente. Era uma obra prima, Shaka tinha de admitir, ainda mais quando, em cima da cama, estava o dono do templo em questão, perdido no meio de inúmeros travesseiros e lençóis de seda, todos, obviamente, brancos, o que transformava Afrodite em uma escultura perfeita, os longos cabelos azuis, ali perdidos displicentemente na cama.
Aproximou-se lentamente do rapaz, sentando-se na ponta da cama. Só então percebeu que havia lágrimas secas, manchando a bela pele do sueco. Subitamente, Shaka preocupou-se. Sabia que Afrodite não era de chorar por qualquer motivo, por mais que sua aparência enganasse quem o conhecia em um primeiro instante.
-Dite... –ele chamou calmamente, tocando o ombro do pisciano de leve.
-Não...me deixa...eu não quero...eu vou gritar...
-Dite... –Shaka balançou o amigo com um pouco mais de força, finalmente fazendo-o acordar do pesadelo ou qualquer coisa parecida.
-Solta, seu monstro! –Afrodite gritou, levantando-se rapidamente da cama. Fitou um Shaka surpreso, que, piscando os olhos rapidamente, tentava adivinhar o que havia acontecido.
-Dite, você está bem?
-Eu...é, estou. O que você está fazendo aqui?
-Faltou ao almoço, a deusa ficou preocupada.
-Por Zeus, ela ainda insiste nisso? –Afrodite perguntou-se, passando ligeiramente as mãos pelos cabelos. Percebeu que Shaka subitamente ficara pálido, só então reparando em seus pulsos, marcados pelos dedos fortes de Máscara da Morte.
-O que foi isso no seu braço? –Shaka perguntou, tentando puxar os punhos de Afrodite para perto de si, o que o sueco não deixou.
-Não foi nada. –ele disse, rapidamente, levantando-se da cama, enrolado nos lençóis. –Bom, já levantei, já vou falar com a deusa.
-Mas, Dite...
-Ei, loiro! –ele sorriu. –Você não deveria deixar seu filho solto por aí. Zeus nos proteja se ele encontrar o Kiki.
-De alguma maneira, eu duvido que ele vá encontrar Kiki.
-Por que diz isso?
Shaka deu de ombros, caminhando para fora do quarto de Afrodite. Agora ele realmente havia conseguido chamar a atenção do sueco, que o seguiu.
-Shaka! –ele chamou e o loiro olhou-o por cima dos ombros, questinonando-o com o olhar.
-O que aconteceu?
-Áries está no Santuário.
Afrodite engoliu o seco, vendo o amigo sair de seu templo, caminhando lentamente, nenhuma expressão no rosto. Aquilo era estranho, Shaka nunca chamava Mu de Áries. "Zeus, vamos mesmo ter problemas...".
-Mu tá em casa?
-Ih, Saga...acho melhor você nem se aproximar.
-Por que não?
-Bom, ele passou a manhã toda martelando e quando eu fui até l�, depois do almoço, ele me expulsou aos gritos.
-Como se eu tivesse medo de um carneirinho metido a besta... –Saga disse, estufando o peito e Aldebaran começou a rir.
-Se você tem tendências suicidas, o problema é todo seu...eu vou lá pra cima, vão transmitir um jogo daqui a pouco.
-Isso...o serviço sujo sempre sobra pra mim mesmo... –Saga continuou reclamando, enquanto descia as escadarias, indo na direção da casa de Áries.
Mu estava em um dia particularmente ruim. Acordara atrasado para o almoço, tivera que consertar armaduras para alguns cavaleiros de prata e acima de tudo, não achava Kiki em nenhuma parte do Santuário. Já chamara o garoto por telepatia, mas conforme a idade, ele aprendia a ficar cada vez mais independente.
E isso tudo tinha uma única explicação. O encontro da noite anterior. Não que ele pudesse definir o que acontecera na frente de seu templo como sendo um encontro, mas somente a presença de Shaka ali, depois de longos sete anos, modificara totalmente seu dia-a-dia.
(FLASHBACK)
Olhos azuis nos verdes, um turbilhão de sentimentos, palavras não ditas, ações não tomadas. Tudo se resumia naquela breve troca de olhares. Depois da constatação de que a presença que sentira era de Mu, que camuflara seu cosmo, mas não seu poder psíquico, Shaka afastou-se lentamente. Não contava com a mão de Mu em seu ombro, impedindo-o de prosseguir.
Apesar do tempo afastados, o toque de Mu ainda causava arrepios em sua pele, fazia-a queimar, aquele tipo de calor gostoso, que dá vontade de se aproximar ainda mais, deixar-se queimar para sempre. Jurara a si mesmo que não mais se permitiria sentir daquele jeito, especialmente por aquele homem, mas era inevitável.
Mu estava depositando suas fichas naquele breve toque. Esperava dizer a Shaka o que não havia dito anos atrás, mas ao mesmo tempo, ainda mantinha resquícios de auto-proteção. Não sabia como o loiro à sua frente fizera durante aquele tempo, como estava. Por isso, esperava ir com calma. Mas as palavras, frias e tão distantes do virginiano, quebraram suas esperanças.
-Pensei que fosse um inimigo.
-Eu? Um inimigo?
-Nunca se sabe. –e Shaka fuzilou-o com os olhos azuis, puxando o braço, soltando-se de Mu, que ainda o olhava perplexo.
-Shaka.
-Boa noite, Áries.
(FIM DO FLASHBACK)
Foi tirado de suas reflexões por Saga, que entrava sem cerimônias em seu templo, sentando-se em seu sof�, colocando os pés em cima da mesa.
-O que você quer aqui?
-Olha só, alguém já te disse que se você quiser mesmo ser o novo Mestre, deve dar o exemplo?
-Ah, e você veio me ensinar isso, você, acima de todas as pessoas mais capacitadas? –Mu perguntou, o sarcasmo evidente em suas palavras.
-Não. Se me perguntarem, eu simplesmente voto contra você. –Saga disse, um sorriso nos lábios. –Mas não é um bom exemplo para seus fiéis eleitores saber que você falta aos almoços da Deusa.
-Não sabia que estávamos em campanha eleitoral.
-Não estamos. –Saga disse, levantando-se. –A Deusa te espera. É melhor ter uma boa desculpa para ter faltado ao almoço hoje.
-Eu...
-Não me deve nada. Explique-se a ela. Afinal, ela é sua admiradora mais profunda. –e Saga saiu do templo de Áries, com o mesmo sorrisinho maroto de antes.
Mu observou o cavaleiro de Gêmeos sair e voltou a trabalhar, dessa vez com muito mais raiva, raiva essa que nem ele sabia de onde estava vindo. Momentos depois, a realidade veio como uma bomba. Realmente devia explicações à Saori. Aquela garota lhe tirava do sério, especialmente quando se tratava das leis do Santuário e a nomeação do novo Mestre. Ela cismara que ele, por ser descendente direto de Shion, o antigo mestre, deveria tornar-se o novo responsável pelo Santuário. Mas ele não se sentia nem um pouco à vontade.
Aquilo lembrou-o uma conversa que teve com outro cavaleiro, há muito tempo atrás.
(FLASHBACK)
Shaka e Mu estavam deitados no Jardim das Árvores Gêmeas depois de um treinamento. Desde que travaram a última e maior de todas as batalhas, aquele belo jardim se tornara um refugio para os dois cavaleiros depois dos treinamentos.
-Não entendo por que você não aceita logo essa nomeação da Saori.
-Shaka...francamente. Eu...novo Mestre? Não tenho talento para isso.
-Não é questão de talento, será que você não percebe?
-Honestamente? –e Mu levantou-se, mirando os olhos do amigo, que continuava deitado.
-Ai...por que eu sempre tenho que ser a sua consciência? –Shaka disse, impaciente e Mu riu. Ele esperou por alguns segundos, enquanto o loiro postava-se à sua frente, cruzando as longas pernas em forma de borboleta.
-Vai, consciência. Pode falar...
-Não brinque com isso, que é coisa séria. Presta bem atenção, está prestando? –ele fitou os olhos de Mu intensamente, fazendo um arrepio estranho correr pela espinha do ariano.
-Humm –foi a única coisa que ele conseguiu dizer.
-Não é questão de talento. Ela apenas precisa de alguém dedicado, sério, compreensivo, forte, alguém capaz de colocar a própria vida abaixo da dos outros e ainda assim ser capaz de tomar decisões firmes, sem se deixar levar pela situação.
Mu estava chocado. Não esperava ouvir aquelas palavras de Shaka, não ditas daquele jeito, com tanta emoção, tanto entusiasmo, como se ele realmente falasse como a consciência dele. Nunca sentira tanto orgulho de ser daquele jeito. Mas ainda assim...
-A mesma coisa que você falou, eu penso de você. Pelo que sei, você poderia ser Mestre tanto quanto eu.
-Não, não poderia. –e os olhos de Shaka ficaram tristes, de uma hora para outra.
-Como assim?
Shaka suspirou e desviou os olhos para as árvores gêmeas, que balançavam ligeiramente com o vento.
-Eu não seria capaz de morrer e deixar coisas importantes para trás. Eu sei que é egoísmo, mas não conseguiria. Não teria forças para desistir disso aqui... –e Shaka apontou para si mesmo e para Mu. O ariano sorriu de maneira tão adorável que ele achou que teriam uma chance.
-Ah, Shaka...seria difícil pra mim também deixar a nossa amizade para trás...
E o virginiano sentiu suas emoções e sentimentos comprimirem mais uma vez em um canto escondido e escuro de seu coração. Não entendia como Mu não conseguia compreender o que ele estava falando. Resolveu deixar, mais uma vez, os sentimentos à parte.
Levantou-se de sopetão, estendendo um dos braços para Mu, que segurou-se nele. Com o impulso, os corpos ficaram próximos, milimetricamente distantes, incomodados. Shaka sorriu, sem jeito e soltou o amigo, caminhando para fora do jardim.
-Vamos ou então não chegamos para o almoço. –ele disse, recebendo um sorriso de Mu.
(FIM DO FLASHBACK)
Mu jogou as ferramentas longe, não conseguindo concentrar-se mais em sua função. Caminhou até o banheiro, lavando o rosto em seguida. Resolveu procurar logo a Deusa e resolver aquele mal entendido e depois sim fazer algo maior.
Ter uma conversa definitiva com Shaka. E ai dele se tentasse fugir mais uma vez.
Continua...
Bom, um capitulo chegando ao fim, eu mais uma vez agradeço a todas que esperaram pela chegada do Mu, aqui está ele, pronto pra meter-se em muitas confusões. Um agradecimento em especial à Vera, que me manda emails lindos falando sobre essa fic. Muito obrigada! Até semana que vem, eu acho!
